terça-feira, março 29, 2011

Autor de BD como personagem da sua banda desenhada (XIII) Fernando Bento






O facto de um ilustrador se imiscuir na sua própria banda desenhada pode simplesmente fazer parte da lógica do argumento, o que sucede com muita frequência.


É exactamente essa a ilação que se tira dos dois gags que ilustram a presente postagem: Fernando Bento, autor das curtas [bd] em quatro vinhetas, é também intérprete juntamente com dois dos seus filhos, Anita (Ana Maria Bento) e Filipim (Filipe Bento).


Autor de grande prestígio na área da banda desenhada clássica portuguesa - desenhador realista, essencialmente, mas também cultor dos géneros humorístico e infantil -, Bento foi focado na postagem anterior, datada de 28/3, devido a ter sido alvo de homenagem no Centro Nacional de Cultura naquela data.


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(Nota: As bandas desenhadas em questão foram publicadas no suplemento Pajem nºs 206 e 250 (década de 1950)


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Os interessados em ver as anteriores 12 postagens poderão fazê-lo clicando no item Autor de BD como personagem da sua banda desenhada que se vê aqui por baixo, no rodapé

segunda-feira, março 28, 2011

Palestras sobre BD







 
É um facto que o Centro Nacional de Cultura tem consideração pela banda desenhada desde que, na década de 1980, lançou um concurso da especialidade, até hoje, dia em que resolveu homenagear um dos autores mais importantes da BD portuguesa. Fernando Bento, com obra extensíssima e de qualidade superlativa, vai ser apresentado naquela instituição nesta 2ª feira, 28 de Março, pelas 18h30, por um trio formado por José Ruy, João Paulo de Paiva Boléo e Geraldes Lino. 
A sessão será iniciada por Guilherme de Oliveira Martins, presidente do CNC.

Fernando Trindade Carvalho Bento nasceu em Lisboa, a 26 de Outubro de 1910, e na mesma cidade faleceu a 14 de Setembro de 1996.

As assinaturas F.Bento ou Fernando Bento surgem como identificação das suas bandas desenhadas, tendo aparecido as primeiras na secção infantil do jornal República, entre 1938 e 1939.

Mas, verdadeiramente, o seu talento multifacetado iria revelar-se de forma brilhante na revista Diabrete (1941-1951), onde adaptou em figuração sequencial várias obras prestigiadas da literatura mundial, designadamente "O Príncipe e o Pobre", de Mark Twain, "A Volta ao Mundo em 80 dias", "Miguel Strogoff", "Viagem ao Centro da Terra", "Da Terra à Lua", "Vinte Mil Léguas Submarinas", estas cinco obras de Júlio (Jules) Verne; "A Ilha do Tesouro", de Robert Louis Stevenson; "O Príncipe Feliz", de Óscar Wilde; "As Minas de Salomão", de Rider Haggard, e ainda muitas mais obras, de alguns destes autores e também de outros, quase sempre sob adaptação literária de Adolfo Simões Müller.

Na revista Cavaleiro Andante (1952-1962) manteve-se no mesmo género de BD, sempre com o apoio do escritor Adolfo Simões Müller, também director da publicação. Desta dupla sairia mais uma copiosa fornada de adaptações de obras literárias para o género de quadradinhos sequenciais, tais como "Beau Geste", de P.C.Wren; "O Anel da Rainha de Sabá", de Rider Haggard; "Quintino Durward", de Walter Scott; "A Abóbada", de Alexandre Herculano; "A Ilha Perdida", de Fenimore Cooper; "Emílio e os Detectives", de Erich Kästner; "A Liga dos Ruivos", de Conan Doyle, sendo que estes elementos constituem mera síntese da extensíssima colaboração do ilustrador autor de BD naquelas duas populares revistas.

Fernando Bento espalhou talento por variadas publicações, num trabalho constante e de inquestionável qualidade, apesar de toda a vida ter mantido um emprego de horário fixo, a certa altura como director publicitário da empresa BP.

A sua carreira suscitou a admiração de diversas entidades, que o distinguiram com variadas distinções, ficando aqui uma lista por ordem cronológica (com falha de alguns pormenores, que tentarei colmatar com a ajuda dos visados):

1984 - 3º Festival de Banda Desenhada de Lisboa - Troféu "O Mosquito"(criado em honra da homónima revista portuguesa), atribuído pelo Clube Português de Banda Desenhada;

1985 - Jornadas de Banda Desenhada de Sobreda (posteriormente, Salão Internacional de Banda Desenhada de Sobreda) - Sem qualquer troféu, ainda não tinham criado o Sobredão;

1986 - Tertúlia BD de Lisboa - Diploma de Honra;

1991 - 3º Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto - Troféu "Prancha", onde também foi realizado um vídeo de homenagem a Fernando Bento, com a participação de Carlos Pessoa, Ferreira da Silva, Geraldes Lino, João Artur [Jartur] Mamede, Jorge Magalhães, Luiz Beira e Vasco Granja;

1991 - Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu (sem troféu ainda);

1995 - Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora - Troféu de Honra "Zé Pacóvio e Grilinho"(personagens criadas pelo ilustrador autor de BD amadorense "Tiotónio");

1996 - Salão de Banda Desenhada de Moura (em Novembro, portanto homenagem póstuma)

1999 - Foi atribuído o seu nome a uma rua de Lisboa; .

2002 - Foi atribuído o seu nome a uma rua de Sobreda (Almada)
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Os textos anteriores desta rubrica podem ser vistas clicando no item Etiquetas: Palestras sobre BD visível em rodapé

sábado, março 19, 2011

Críticas e notícias sobre BD na Imprensa (XXII) - Expresso - A banda de cá


Está prestes a chegar à data de fecho (27 Março) a exposição de banda desenhada portuguesa no Centro Cultural de Belém, intitulada "Tinta nos Nervos", comissariada por Pedro Vieira de Moura.
Merece destaque o evento que dignifica a BD lusa, mesmo que se discorde, em casos pontuais, da inclusão ou exclusão de alguns autores.
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Celso Martins, jornalista, nome desconhecido na área da BD, mas que se vê que gosta dela (com uma ressalva: porquê usar o vocábulo 'quadrinhos', à brasileira, e não "quadradinhos", à portuguesa?), escreveu na edição do semanário Expresso de 29 de Janeiro, na revista/suplemento Atual (o Expresso já adoptou o novo Acordo Ortográfico) um excelente artigo, tendo por fulcro a citada exposição, ainda patente no Museu Colecção Berardo (e de que aqui falei, em 18 Janeiro, na rubrica "Exposições BD avulsas").
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Reproduzo (com a devida vénia ao articulista e ao jornal) a página do artigo a ilustrar este "post", visto que inclui a imagem de uma bd de Jucifer (aliás, Joana Figueiredo), e copio o texto na íntegra, a fim de facilitar a sua leitura.
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E acrescento um conselho, dirigido em especial aos que ainda não foram até agora ao CCB/MCB: vale a pena ver esta exposição de BD..
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EXPOSIÇÕES
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A banda de cá
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Um panorama alargado da banda desenhada portuguesa: revelação e balanço
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Texto Celso Moreira
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Se a encararmos como um campo alargado, que inclua a caricatura e a ilustração, a banda desenhada é, sem dúvida, e ao lado do cinema, um dos produtos culturais mais paradigmáticos da modernidade. Filho da vida urbana, do divertimento, mas também das sociedades abertas com suas liberdades públicas, o mundo dos 'quadrinhos' passaria dos jornais para os livros, gerando ao longo do século XX um novo género de narrativa gráfico-literária que se exprime quase sempre numa linguagem popular mas capaz de abrir todo um novo território de experimentações visuais.
..... Como todas as existências icónicas da sociedade de massas, a BD disseminou-se por todo o Ocidente, ganhando fortíssimas e singulares tradições na Bélgica, na França, ou nos EUA, criando mercados alargados em países como a Itália e a Espanha e gerando especificidades importantes no Leste da Europa.
Portugal não foi exceção (*) a esta contaminação, ainda que, como noutros domínios artísticos, a produção portuguesa conheça as dificuldades inerentes a um mercado estreito e demasiado condicionado pela visão 'infanto-juvenil' da BD e pela supremacia franco-belga na oferta e na procura.
.... Estas condições não impediram, porém, o florescimento nas últimas décadas de uma banda desenhada de autor, exigente do ponto de vista gráfico e, em alguns casos, com um arrojo experimental.
.... "Tinta nos Nervos", uma exposição comissariada por Pedro Vieira de Moura, que revisita a produção lusa recente nesta área, mostra precisamente este panorama, construindo uma visão de conjunto largamente satisfatória.
.... Seja pela diversidade de abordagem e sensibilidades estéticas, seja pela real valia de alguns dos participantes, a BD portuguesa aproxima-se nesse particular das restantes artes visuais locais: na ausência de escolas dominantes, ela vive sobretudo da dissonância estética entre as suas personalidades mais vivas.
.... Mostrando pranchas e sequências que salvaguardam as condições narrativas da BD, mas também livros seminais, revistas e fanzines historicamente marcantes e objetos que se aproximam da linguagem gráfica, a exposição tem a enorme vantagem de mostrar esta diversidade através do trabalho de 40 autores.
.... Lado a lado, coexistem trabalhos que valorizam a dimensão social e política (Teresa Câmara Pestana, Miguel Rocha), ou vincam visões da cidade (António Jorge Gonçalves, José Carlos Fernandes), caracterizam os costumes (Pepedelrey) ou comentam a cultura local (Janus, Nuno Sousa, Miguel Carneiro), exibem estilos mais realistas (Marco Mendes), aproximam-se do fantástico (Victor Mesquita, João Maio Pinto), do onírico (Luís Henriques), da abstração (Cátia Serrão) ou especulam sobre as próprias condições gráficas (Jucifer), adotam visões mais literárias (Diniz Conefrey), tiram partido da cor em visões pop (Nuno Saraiva) ou da tonalidade expressionista (Ana Cortesão, André Lemos, Pedro Zamith), com humor (Alice Geirinhas, Carlos Zíngaro) ou pela exploração de subgéneros como a autobiografia (Marcos Farrajota, Paulo Monteiro). Entretanto, há ainda espaço para sinalizar algumas zonas de fronteira com a pintura, pelo campo comum do desenho (Isabel Baraona, Mauro Cerqueira), pela partilha de uma mesma cultura pop e vocação satírica (Eduardo Batarda), ao mesmo tempo que se incluem dois antecedentes (Rafael Bordalo Pinheiro e Carlos Botelho) que ajudam a dar profundidade histórica ao campo.
.... Como imagem de fundo de uma nebulosa tão heteróclita fica uma genérica capacidade de infiltração temática nos mais diversos assuntos e contextos sociais, com uma variedade de abordagens que pode oscilar entre o humor e a metafísica.
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TINTA NOS NERVOS
- BANDA DESENHADA PORTUGUESA
Museu Colecção Berardo
Lisboa, até 27 de março
Tel. 213 612 878

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(*) Volto a chamar a atenção para o facto de o Expresso já estar a cumprir o novo Acordo Ortográfico. Esta e outras palavras, ao longo do texto, já não incluem as consoantes mudas, ou seja, as não pronunciadas pelos falantes portugueses.

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Quem estiver interessado em ver as 21 postagens anteriores deste mesmo tema, em que se inclui um outro recorte de imprensa acerca da exposição de BD sob apreciação, poderá fazê-lo se clicar no item Etiquetas: Críticas e notícias sobre BD na Imprensa, visível aqui por baixo,no rodapé.

quinta-feira, março 17, 2011

Comic Jam (Especial Odemira) - (Não entra na numeração)




Uma banda desenhada feita de improviso no formato A3 julgo ser coisa totalmente inédita. Isto porque o conceito de "comic jam" é concretizado, habitualmente, numa qualquer folha de papel em tamanho A4 ou semelhante.
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Mas qual o motivo da feitura em tamanho fora do habitual neste tipo de brincadeira gráfica? Simplesmente pelo facto de a prancha se destinar a ser incluída na exposição da 5ª BDteca - Mostra de Banda Desenhada de Odemira/2011 (realizada entre 1/1 e 12/3), constituída pelas pranchas do concurso de BD, todas efectuadas em formato A3, por exigência do regulamento.


Tendo conhecimento, através do presente blogue, do conceito de "comic jam" (que habitualmente é realizado na Tertúlia BD de Lisboa), os organizadores do evento odemirense convidaram este bloguista para estar em Odemira no dia da entrega dos prémios aos vencedores do concurso de BD por eles organizado, a fim de realizar um "comic jam" com a colaboração dos que estivessem presentes para receberem os seus prémios.
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Devido a serem oriundos de locais distantes de Odemira, raros foram os que compareceram, pelo que o improviso não pôde ter as seis vinhetas habituais, e entre os participantes foi necessário incluir um dos organizadores da Mostra, Idálio Loução, além de uma concorrente do ano anterior, Jacqueline Atkinson.



Com o chamado "desenrascanço à portuguesa" (é no que realmente somos bons...), o "comic jam" fez-se, e a prancha lá ficou em exposição, sendo que passará a pertencer ao acervo da Biblioteca Municipal de Odemira, entidade responsável pela anual Mostra de Banda Desenhada.

No cartaz feito expressamente para ficar junto do "comic jam" podem ver-se os nomes dos autores:

1ª vinheta: Philippe Peseux
2ª vinheta: Idálio Loução
3ª vinheta: César Évora
4ª vinheta: Jacqueline Atkinson
5ª vinheta (panorâmica): Philippe Peseux


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Quem estiver interessado em ver as 28 pranchas anteriores, poderá fazê-lo clicando no item "Comic Jam", que se vê em baixo no rodapé

terça-feira, março 15, 2011

Premiados nos concursos de BD em Odemira/2008 e 2009 e Catálogo


A forma mais útil e compensatória para os participantes num concurso de banda desenhada é organizar uma exposição com as bedês premiadas (pelo menos essas) e publicá-las num catálogo. .
Assim foi feito em relação aos concursos das 3ª e 4ª BDteca - Mostras de Banda Desenhada de Odemira, das bedês premiadas nos anos de 2009 e 2010, respectivamente, com direito a reprodução no Odemira-te Nº 2 - Catálogo de banda desenhada de Odemira/2011.
Teremos de esperar para ver publicadas as que foram premiadas no corrente ano na 5ª BDteca.

Ano de 2009 - 4º Concurso de BD de Odemira
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1º Prémio - "Ai esta máfia, esta máfia" - Autor: Carlos Rocha (Olhão)
2º ----"-- - "A Boleia" - Autora: Joana Afonso (Porto Salvo)
3º---- "-- - "Um dia alguém lhe disse" - Autora: Ana Cristina Silva Nunes (Barcelos)

BANDAS DESENHADAS PREMIADAS EM 2009
(Aqui por baixo, em reprodução parcial) (*)

1º Prémio



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2º Prémio
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3º Prémio


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Ano de 2008 - 3º Concurso de BD de Odemira
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1º Prémio - "Untitled XXIst Century" - Autor: José Joaquim Vaz Ferreira (Porto)
2º----"--- - "Civil" - Autor: Luís Lourenço Lopes (Lisboa)
3º----"--- - " 'Stás Fora" - Autores: Miguel Marreiros, desenho e João Pinto, argumento (Barreiro)
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BANDAS DESENHADAS PREMIADAS EM 2008
(Aqui por baixo, em reprodução parcial) (*)

1º Prémio


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2º Prémio

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3º Prémio

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ODEMIRA-TE Nº2
Catálogo de banda desenhada de Odemira 2011
Organização: Município de Odemira
Direcção do Projecto/Coordenação: Biblioteca Municipal "José Saramago" de Odemira
Grafismo e paginação: DCI - Município de Odemira
Formato: 20x27cm
Nº de páginas: 75
Tiragem: 200 exemplares
Edição: Município de Odemira
Morada: Praça da República
7630-139 Odemira
Telefone: 283320900
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(*) Os interessados em ver as bandas desenhadas completas terão de obter um exemplar deste óptimo catálogo. Para isso podem enviar um e-mail para os seguintes endereços electrónicos:
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PREMIADOS DO CONCURSO DE 2011
Por agora, deles apenas poderei registar aqui os seus nomes, sem poder mostrar imagens das respectivas bandas desenhadas.
Por conseguinte, teremos todos, eu, os autores e os visitantes deste blogue, de esperar por imagens das bedês ou, na pior das hipóteses, pelo próximo catálogo :-(
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1º Prémio: César Évora (Caldas da Rainha)
2º Prémio: José Joaquim Vaz Ferreira (Porto)
3º Prémio: António Pedro Monteiro Ribeiro (Óbidos)
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Já se sabe que para se poderem ver as pranchas em formato maior, de forma a poder apreciá-las e até ver o nome do autor, há que clicar-se-lhes em cima duas vezes: uma para a primeira ampliação; a segunda, já com o cursor em forma de lente, para aumentar ainda mais. Peço desculpa a quem está farto de saber isto. ------------------------------------------------
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Para ver os regulamentos e resultados de concursos anteriores bastará clicar no item "Etiquetas: Concursos de Banda Desenhada" visível aqui por baixo no rodapé

quinta-feira, março 10, 2011

Revistas BD (IX) - Estrangeiras


Chega agora a vez de falar da revista Casemate, continuando na onda de analisar publicações de banda desenhada que se editam em França, e que comprei logo à chegada a Angoulême - aquela revistaria/jornalaria na gare é uma perdição para quem chega de um país periférico chamado Portugal, praticamente um deserto no que se refere a revistas de BD.
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Casemate é uma revista que, por acaso, até chega com regularidade a Lisboa - não sei se ao resto do país . Costumo comprá-la num quiosque do Areeiro, mas outras vezes vou à baixa e compro-a na livraria Tema. Por isso, não há nesta postagem qualquer frisson de novidade. Apenas lhe faço referência para simplesmente completar, o mais possível, o panorama actual da especialidade em França - e para, sadicamente, pôr os aficionados portugueses a rangerem os dentes comparando-o com o que (não) há entre nós. Mas também para esmiuçar uma parte do seu conteúdo.
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Estamos em presença do nº 33, referente a Janeiro (deste ano, claro), que alguns portugueses já terão comprado (Quantos exemplares virão para Portugal? Talvez através da distribuidora se possa saber).
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A ilustrar a capa, em grande destaque, uma figura de mulher nua desenhada por Juillard que está, na actualidade, ligado a um estilo bem diferente, como se sabe, a de desenhar a série Blake et Mortimer.
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Mas desiluda-se quem não conhecer ainda a a revista, se pensa que nela vai encontrar muitas bandas desenhadas no seu miolo: na realidade, o conceito que prevalece é o da apresentação das obras em estreia ou em publicação, através de entrevistas com os respectivos autores (identificados por uma pequena foto), e mostrando-se com abundância imagens a elas respeitantes.
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Assim é com François Boucq, envolvido recentemente num trabalho hercúleo, o de desenhar cerca de duzentas capas para a obra San Antonio, muito popular em França, tanto em BD (através de tiras diárias no jornal France Soir), como em filmes.
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Boucq já esteve a ser tentado para realizar um álbum com a personagem, mas resistiu à tentação devido aos seus múltiplos compromissos: entre outros, fez mais de vinte pranchas para "XIII Mistery, Colonel Amos", e estava a fazer (estamos a falar do mês de Janeiro) o terceiro episódio de Janitor, do qual, além de o desenhar, é co-argumentista.


Assim é, também, com Gerry Alanguilan, filipino, autor de uma novela gráfica em que um galo tem o papel principal. Como justificação, o articulista traz à baila o facto de, em Alice, haver um coelho como personagem. E eu acrescentaria que, na BD, há uma enorme galeria de personagens antropomórficas, estou a lembrar-me de uma das mais recentes, chamada Blacksad...
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Gerry, na entrevista, teria forçosamente de falar desta sua obra intitulada Elmer, em edição de Ça et lá, uma das chancelas que teve destaque nos prémios de Angoulême.

Jimmy Beaulieu, canadiano do Quebec, fala da sua Comédie sentimentale pornographique, um tema ousado, com personagens adultas e permissivas, onde a homossexualidade feminina (lesbianismo, se preferirem) parece fascinar o autor.


Juillard tem direito, na sua entrevista, a sete páginas da revista. Ressalta, entre muitas das suas respostas, a que revela o ambiente em que se desenrolará o próximo Blake et Mortimer: na universidade inglesa de Oxford.
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E a terminar a longa conversa com os seus dois entrevistadores, Juillard confessa o seu desejo de vir a criar um mundo de ficção científica.
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Não por acaso, a capa da Casemate é essencialmente baseada em imagens desenhadas por Juillard.


Os argumentistas/guionistas não são, geralmente,entrevistados com a frequência com que são os desenhadores, mas na revista Casemate a situação altera-se e quase que se inverte.
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Yann, chefe de redacção da revista Spirou, responde aqui às perguntas acerca da obra Grand Duc, cuja componente gráfica (de boa qualidade no estilo realista) é da autoria de Romain Hugault e que já vai no terceiro episódio, em edição da Paquet (editora bem nossa conhecida por ter sido por ela publicado o português Rui Lacas).
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A personagem principal de Gran Duc é o ás da aviação Wulf, um alemão que, num contexto de pós-guerra, fará parte de um grupo de pilotos aviadores que se exilam em África. Wulf,segundo Yann, foi baseado no ás da aviação Ernst Schäffer, o qual, apesar de alemão, era anti-nazi convicto. Tanto assim, que recusava a cruz suástica no avião que pilotasse, e exigia que fosse todo pintado de negro.
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Yann demonstra, nesta entrevista, o seu entusiasmo pelo tema, tanto que tenciona pedir a Romain para acrescentar algumas pranchas ao terceiro tomo, já que o seu parceiro desenhador não está interessado em continuar a "viver" com os nazis.
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Aliás, neste último episódio, Yann descreve o ambiente em que os alemães viviam na Primavera de 1945, quando a derrota nazi era já previsível, mostrando muitos pilotos a recorrerem às anfetaminas para levarem a bom termo as missões desesperadas de que os encarregavam. Mas falar deste uso imoderado de drogas (o chamado "dopping") causou a Yann e a Romain alguns aborrecimentos com especialistas da aviação (ou até mesmo aviadores, digo eu), que os acusaram de destruir a boa imagem dos pilotos...




Acerca de Wollodrïn - outra obra escolhida para ser analisada na Casemate - eis de novo um argumentista em foco, David Chauvel, conhecido pelo contestado (classificado de soporífico) enredo ficcional de Arthur, e que desta vez fez duo com o desenhador Jérôme Lereculey, criando uma história medieval, de cariz fantástico, em que as personagens são sete condenados à morte, contratados para salvar uma princesa em território orc.
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Chauvel tenta agora realizar uma saga com maior vivacidade das peripécias, e sem os recitativos que sobrecarregavam Arthur, embora continuem a respeitar um ambiente eivado de classicismo.



Yves Swolfs é um artista ecléctico, bem conhecido pela série de género "western" Durango, mas está igualmente à vontade a criar (argumento e desenho) obra em ambiente medieval, Légende, que atingiu agora o quinto volume, intitulado Hauteterres.
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De resto, Swolfs deu-se conta, ao escrever o argumento, que a sua extensão dava para cinco álbuns e meio, embora tenha decidido que iria sintetizar um pouco, de forma a que a obra coubesse nos cinco volumes previstos.
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Será por isso que, neste quinto episódio, terá lugar o duelo final entre Tristan, o cavaleiro solitário, e Eol, o terrível filho de Shaggan.
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Dada a categoria do autor e a relevância da sua obra, a entrevista que lhe é feita e as respectivas ilustrações ocupam dez páginas da Casemate.




Marzena Sowa, polaca, argumentista, a trabalhar em duo com o desenhador Sylvain Savoia, participou na criação da personagem Marzi, jovem que vive numa Polónia em situação ainda indefinida após a queda do comunismo. Nas páginas da Casemate, ela e o desenhador, seu companheiro, são entrevistados e, nesta entrevista, após uma resposta de Marzena, observam-lhe que a obra acaba por dar a impressão de que "era melhor antes", e ela esclarece o que pensa, dizendo:
"A queda do comunismo não significava que, de um só golpe, tudo iria ser maravilhoso "(...) Mas,na verdade, a queda do Muro significou que todo o trabalho começava! Que era necessário pensar em recriar o país, utilizar esta liberdade para fazer algo de belo".
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Mazi atingiu agora o 6º volume, com o sub-título "Tout va mieux", em edição da Dupuis.
Sylvain Savoia, à pergunta habitual "Como é que trabalham os dois?", responde: "Como todos os duos de desenhador/argumentista, mas tendo em conta que nós formamos um casal na vida real. Esse facto traz ao nosso trabalho uma sensibilidade e uma emoção que dificilmente existiria se fossemos apenas colegas."
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Em 2009, Marzi serviu de base a um filme de desenhos animados, deu azo a uma exposição e a um documentário fílmico, o que é representativo do êxito desta série.

A série Makabi teve início na editora Dupuis, mas está actualmente a ser publicada pelas Éditions Bamboo, e já atingiu o volume de seis álbuns, embora dois ainda inéditos. Lloyd Singer, personagem da série, é o director financeiro de uma agência do FBI, em Richmond, Estados Unidos.
Luc Brunschwig, argumentista (co-autor da série com o desenhador Olivier Neuray), é aqui o entrevistado.
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À pergunta "Como é que Makabi está agora com a Bamboo, sob um novo título?", Luc responde:

"Em dez anos, a série conheceu quatro directores de colecção diferentes na Dupuis. O último deles, ao aperceber-se das vendas em queda, decidiu publicar um integral do segundo ciclo, em Junho de 2010. O primeiro tomo deste ciclo tinha saído em 2007, e Olivier Neuray desenhara os dois seguintes, ainda inéditos até então.
Mas os serviços comerciais apresentaram este relançamento como se fosse apenas um simples integral dos volumes já editados, e não como uma novidade. Donde as encomendas de apenas 3000 exemplares, e a esperança de vendas se reduzir a 1500. A série estava morta."
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Esta amarga resposta de Luc, baseada em factos concretos, dá bem a ideia de como os problemas podem surgir por deficiente gestão das editoras, mesmo num mercado bem vasto como é o francês.



Le Chanteur sans nom (na vida real, de apelido Avellis) deu azo a uma banda desenhada que se baseia em episódios verdadeiros,cujo desenvolvimento se deve ao argumentista, romancista, cantor e bloguista (viva, confrade!) Arnaud Le Gouefflec, coadjuvado pelo desenhador Olivier Balez.
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Mais uma vez, os responsáveis da revista Casemate começaram por entrevistar o argumentista, e é ele que conta como lhe surgiu a ideia de criar uma banda desenhada em que a personagem principal fosse um cantor mascarado, caído no esquecimento.
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Obviamente, sendo Arnaud também cantor, a ideia de desenvolver a história fascinou-o. Quanto a Olivier Balez, seu cúmplice, afirma ter mergulhado em cinco documentações diferentes, entre as quais alguns filmes aconselhados pelo categorizado argumentista Pierre Christin, longas conversas com Françoise Avellis, filha do "cantor sem nome", que acedeu a mostrar o seu acervo pessoal, constituído por discos de 78 rotações da época, fotos de seu pai junto a Charles Aznavour e também na companhia de Edith Piaf.


Não tanto como nos Estados Unidos da América, mas também na Europa os Super-Heróis têm uma enorme falange de admiradores, e Batman é indubitavelmente um desses heróis sobredotados.
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Essa admiração contamina tanto os simples leitores, sem qualquer jeito para o desenho, como aqueles que já nascem com a capacidade inata da criatividade gráfica. Tony Daniel (Antonio Salvador Daniel, americano apesar do nome com som português, nascido em 1963) está entre estes últimos.
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Battle for the Cowl é uma mini-série que, após ter sido sucesso nos States (o que surpreendeu a própria DC Comics), teve também publicação em França. Aliás, a DC queria que se fizesse um episódio com este título, mas com Dick Grayson, ex-Robin, que aparece agora com o vestuário de Batman. Todavia, Mike Marts, editor da personagem, após conversa com Tony Daniel, propôs-lhe que fosse ele a escrever também o argumento, partindo de uma ideia invulgar: cada episódio será contado por um Robin diferente, e em consequência disso sob uma perspectiva diversa, sempre no conceito de "one shot".
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É de tudo isto que fala Tony Daniel em quatro páginas da Casemate, e do seu grande prazer em desenhar mulheres (por exemplo Catwoman, o grande amor de Bruce Wayne), e do seu trabalho para Batman com o argumentista Grant Morrison, que o influenciou na forma de ele próprio escrever, quando lhe calha também a componente ficcional: primeiro, organizar as ideias mestras; em seguida, fazer avançar a história, episódio a episódio; e, por fim, quando o conjunto lhe parece estar bem definido, ele relê tudo e burila os diálogos, os detalhes da acção.

Tanquerelle, artista da Banda Desenhada, admira, desde a adolescência, Munch (Edvard Munch, 1863-1944), artista norueguês da Pintura, em especial a obra "Le Cri", cuja reprodução Hervé Tanquerelle tinha pendurada na parede do seu quarto.
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Na entrevista que lhe é feita na Casemate para a rubrica "Un auteur, un peintre, un tableau", o autor de BD lembrou-se de Munch e daquele seu famoso quadro, e não deixou de sublinhar quanto a imagem do rosto a soltar um grito lancinante tem a ver com as vivências dele, que ainda muito jovem se viu confrontado com a morte da mãe e da irmã, vítimas de tuberculose.
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Algo coincidentemente, a admiração de Tanquerelle pelo pintor norueguês teve agora reflexo na sua obra que acaba de ser editada, Les Racontars Arctiques, cujo texto foi adaptado por Gwen de Bonneval do romance de Jorn Riel passado na Groenlândia, embora alguns dos caçadores que participam sejam noruegueses.


"As técnicas secretas dos grandes mestres da banda desenhada" é uma rubrica interessante e didáctica, que mostra os layouts preparatórios das pranchas, acompanhados de notas a lápis do próprio desenhador, o que nos permite sentir como que o arfar do criativo, as suas hesitações, ou seja, sermos testemunhas, a posteriori, do acto de criação de uma figuração narrativa. O que constitui, sem dúvida, uma autêntica lição - neste caso a 33ª, tantas quantas os números já editados da Casemate até Janeiro, exemplar que comprei em Angoulême.
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Conheci esta revista logo no seu início, e quando vi a rubrica e respectivo conteúdo, de imediato tive a noção de estar em presença da concretização de uma brilhante ideia.
Nela colaboraram já - mostrando as suas techniques secrètes - alguns dos grands maîtres de la bande dessinée, nomeadamente Lewis Trondheim (iniciador e permanente coordenador da rubrica), Guy Delisle, Mathieu Sapin, Jason, Manu Larcenet, Killofer, Cyril Pedrosa, Charles Berberian, Florence Cestac, entre outros.
Coube neste número a vez de Fabrice Tarrin, admirador confesso do enorme Franquin, desde os 14 anos, idade com que enviou uma prancha ao seu ídolo, e de quem recebeu vários conselhos dentro de balões de BD, como se pode ver (razoavelmente) na página da revista, mas melhor no blogue de Fabrice (por exemplo: num dos balões consegue ler-se: "as raparigas são difíceis de desenhar, faz esboços de raparigas").
Se Franquin o disse...

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Entretanto, quem quiser ver as oito postagens anteriores, poderá fazê-lo clicando no item que está visível aqui por baixo no rodapé, e que tem a legenda "Etiquetas: Revistas BD"

terça-feira, março 08, 2011

Banda Desenhada portuguesa nos jornais (CXXVI)





fazmbik é um clone do facebook, criado por obra e graça de Nuno Saraiva, autor da série de banda desenhada Na Terra como no Céu, que se apresenta semanalmente na revista-suplemento Tabu, do hebdomadário Sol (neste caso, na edição de 14 Janeiro 2011).

Nesta apócrifa rede social fazmbik, tal como na verdadeira e famosíssima facebook, fazem-se milhentos "amigos" que, laconicamente, vão repetindo "gosto" a cada frase ou imagem que alguém afixa.

Como se lê na legenda da 4ª vinheta da 2ª prancha do episódio Social Search, "no fazmbik até descobrimos na mais tímida e doce internauta as mais pesadas das perversidades".

Uma banda desenhada prenhe de actualidade e ironia, em que o talento gráfico de Nuno Saraiva emparelha com o seu acutilante sentido crítico.

post scriptum: esta bd foi também reproduzida, então a preto e branco, no fanzine "folha volante" nº 262 - 1 Março 2011, distribuído no encontro dessa mesma data da Tertúlia BD de Lisboa

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Para ver as anteriores 124 postagens bastará aos meus amigos visitantes clicarem no item "Etiquetas: Banda Desenhada portuguesa nos jornais" que se encontra aqui por baixo no rodapé

sexta-feira, março 04, 2011

Comic Jam (28ª prancha)


Apesar de ser autor com grande prestígio na banda desenhada portuguesa, Victor Mesquita não hesitou em ser um dos participantes no improviso gráfico comic jam realizado, mais uma vez, na Tertúlia BD de Lisboa. E mais: aceitou ser ele a iniciá-lo, auto-retratando-se.
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Foi um bom começo para uma tertúlia especial em que, pouco tempo depois, os restantes quarenta e um participantes da TBDL (*) iriam escutar atentamente a sua palestra, centrada na obra Eternus 9.
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Participaram na prancha do "comic jam", com uma vinheta cada, os seguintes ilustradores/autores de BD:
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1ª vinheta - Victor Mesquita
2ª ---- " --- - Luís Valente
3ª ---- " --- - Pedro Mota
4ª ---- " --- - Rui Batalha
5ª ---- " --- - Pedro Alves
6ª ---- " --- - Nuno Duarte "Outro Nuno"
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(*) Quem tiver curiosidade em saber quem esteve presente, poderá ver os respectivos nomes no post relaciondo com o 320º Encontro da Tertúlia BD de Lisboa, afixado no dia 27 de Fevereiro.
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Os visitantes deste blogue interessados em ver exemplos anteriores destes improvisos gráficos, poderão fazê-lo clicando no item "Comic Jam", visível aqui por baixo no rodapé

quarta-feira, março 02, 2011

Improvisos na toalha de mesa (III)


Uma grande percentagem dos participantes mensais na Tertúlia BD de Lisboa são ilustradores autores de banda desenhada que, quase compulsivamente, enchem de desenhos a toalha de mesa.
Nuno Duarte (aka Outro Nuno) é um deles e, quiçá, um dos que mais entusiasticamente goza o prazer de improvisar, embora - como se depreende da ilustração afixada no topo da postagem - até leve para a tertúlia caneta de cor para colorir os desenhos com que, incansavelmente, enche a respectiva toalha de mesa (de bom papel, justiça seja feita à Dona Gina, dona do homónimo restaurante).
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Mas o Nuno Duarte "Outro Nuno" não é o único. Verdade seja dita que as toalhas das mesas ficam sempre cheias de desenhos.
Aliás, um conjunto de figuras criado pelo Pedro Alves que eu mostrei intenção de cortar de imediato e não o fiz, a pedido dele, que queria que ficasse mais tempo em "exposição", acabou por ser âââ... desviado... pela argumentista Teresa Cardia... Mas ficou em boas mãos, é a consolação que me resta...
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Tomo a liberdade de sugerir que não se esqueçam de clicar em cima da ilustração para a poderem ver em tamanho algo maior (mesmo assim, bem mais pequeno do que o tamanho real, que é 60x35cm !!).
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Quem quiser ver as duas peças anteriores devidas a improvisos gráficos, já constantes desta rubrica, bastar-lhe-á clicar no item "Etiquetas: Improvisos na toalha de mesa" visível aqui por baixo no rodapé.