terça-feira, janeiro 31, 2006
Angoulême - 33º Festival (III) - Lewis Trondheim, Grande Prémio
Lewis Trondheim (aliás, Laurent Chabosy, o seu verdadeiro nome) nasceu em Fontainebleau, França, em Dezembro de 1964.
Lapinot, a personagem de referência de Trondheim
É inquestionável tratar-se de autor talentoso e prolífico: o seu nome aparece a assinar, em apenas uma quinzena de anos de actividade artística, perto de uma centena de obras editadas em álbuns, especialmente dedicadas às séries Donjon e Lapinot, sendo esta última a de maior sucesso comercial, e que ele acaba de "matar" na sua última aventura.
"Ele faz parte desta geração de autores de banda desenhada que se tornaram autores literários", disse dele Nikita Mandryka, um nome importante do núcleo de autores já consagrados.
Com efeito, Trondheim não é propriamente um virtuoso do desenho, mas desenvolveu uma técnica narrativa bastante original, tendo a vantagem de ser um excelente argumentista, o que faz com que as suas obras sejam do tipo a que se dá prioridade à história em detrimento do gozo estético proporcionado habitualmente pelas imagens.
Lewis Trondheim foi co-fundador da emblemática editora L'Association. Portanto já terá alguma prática directiva e organizativa, o que lhe será útil para bem desempenhar o seu futuro papel de Presidente do Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, em Janeiro de 2007.
sexta-feira, janeiro 27, 2006
Angoulême - 33° Festival (II) - "Palmarès" oficial
Claro que quem tem internet viu a lista de prémios sem necessitar de vir ao meu blogue. Mas como dei a lista dos nomeados, ela ficaria amputada sem esta outra que completa o assunto. De resto pode ser uma interessante tarefa, a de cotejar ambas as listas.
Prémio do melhor álbum:
"Notes pour une histoire de guerre", de Gipi
Prémio do desenho:
"Le vol du corbeau" - 2° vol., de Gibrat (Jean-Pierre)
Prémio do argumento
"Les mauvaises gens", de Etienne Davodeau
Prémio do primeiro álbum
"Aya de Yopougon", de 1° vol., de Clément Oubrerie (desenho), Margueritte Arouet (argumento)
Prémio do Património
"Locas" - série "Love and Rockets", de Jaime Hernandez
Prémio da série
"Blacksad" - 3° vol., "Âme rouge", de Juan Guarnido (desenho) e Juan Diaz Canales (argumento)
Prémio da banda desenhada alternativa
Mycose (Liège, Bélgica)
Mistério! Esta publicação não constava da selecção oficial que foi fornecida no opúsculo de onde tirei as listas que divulguei no "post" de ontem, opúsculo esse com editorial assinado por Jean-Marc Thévenet, director do festival.
Um prémio que considero digno de ser copiado em Portugal, é o do público, que, por acaso, coincidiu com o do júri, coincidência que mereceria ser analisada, visto que as escolhas dos júris costumam ser contestadas.
E o prémio foi para:
"Les mauvaises gens", de Etienne Davodeau
quinta-feira, janeiro 26, 2006
Festivais, Salões BD e afins - (Angoulême) 33° Festival (I) - Os prémios
Para se apurarem as obras escolhidas para serem premiadas, o processo é o seguinte: todos os anos, ao longo dos meses, o "comité" de selecção do festival recebe vàrias (*) centenas de àlbuns (*) apresentados pelos editores.
Desse numeroso lote inicial é estabelecida a selecçao (*) oficial, composta por seis categorias de prémios. Em cada categoria ficam propostos sete albuns para a competiçao final.
Vejamos entao os sete propostos, nesta fase, para cada um dos prémios:
Prémio do melhor àlbum:
Ripple, de Dave Cooper; Hanté, de Philippe Dupuy; Olivia Sturgess 1914-2004, de Floc'h e François Riviére; Notes pour une Histoire de Guerre, de Gipi; Les Damnées de Nanterre, de Chantal Montellier; Le Petit Bleu de la Côte Ouest, de Jacques Tardi; Fritz Haber - tome 1 - L'Esprit du Temps, de David Vandermeulen.
Prémio do desenho:
Chocottes au sous-sol, de Stéphan Blanquet; Mitchum, de Blutch; Le vol du corbeau, de Jean-Pierre Gibrat; Gogo monster, de Tayou Matsumoto; Prestige de l'uniforme, de Hugues Micol e Loo Hui Phang; Cinema Panopticum, de Thomas Ott; Quimby the mouse, de Chris Ware.
Prémio do argumento:
The autobiography of me too two, de Guillaume Bouzard; Les mauvaises gens, de Etienne Davodeau; Dans la prison, de Kazuichi Hanawa; Hemingway, de Jason; Le roi des mouches - 1 Hallorave, de Mezzo & Pirus; Les Passe-Murailles (1° vol.), de Jean-Luc Cornette e Stéphane Oiry; A History of Violence, de John Wagner & Vince Locke.
Prémio do primeiro àlbum
"Le blog de Frantico", de Frantico; "Essence", de Gawronkiewicz e Janusz; "Cornigule", de Takashi Kurihara; "Kinki et Cosy", de Nix; Aya de Yopougon, de Marguerite Abouet;" A la lettre près", de Cyrille Pommès; "The Goon", de Eric Powell.
Prémio do Patrimonio (*)
No festival anterior, quando foi iniciado este prémio, Eduardo Teixeira Coelho esteve nomeado, mas o seu nome desapareceu este ano.
Significa isso que este ano vai acontecer o mesmo, isto é, depois de ser escolhido um, todos os outros nomeados desaparecem para nunca mais, deixam de ter categoria para o préemio? Parece-me absurdo o critério, fico à espera de 2007 para ver o que acontece.
Este ano foram nomeados os seguintes autores de grande prestigio (incidindo sobre as obras indicadas a seguir):
Jean-Claude Forest e "Comment décoder l'etircopyh; Jaime Hernandez e "Locas"; Charles M. Schulz e "Snoopy et les Peanuts"; E.C.Seagar e "Popeye"; Cliff Sterrett e "Polly and Her Pals"; Osamu Tezuka e "Prince Norman"; Kazuo Umezu e "L'Ecole emportée".
Prémio da série
"Bouncer", de Boucq e Jodorowsky; "Black Hole", de Charles Burns; "Théodore Poussin" - 12° vol.- "Les Jalousies", de Frank Le Gall; "Lupus", de Frederik Peeters; "Pascin, la java bleue", de Joan Sfar; "Blacksad" - 3° vol. - "Âme Rouge", de Juan Garnido e Juan Diaz Canales; "Bone" - 11° vol. - "La Couronne d'Aiguilles", de Jeff Smith.
E ainda aparece outra lista de sete obras propostas para o Grand Prix RTL de la Bande Dessinée, que me excuso de indicar, por o considerar menos importante.
Do lote de quarenta e dois titulos (*) acaba por ser seleccionado um de cada tema pelo Grande Jùri (*) do Festival.
Mais interessante me parece o
Prémio da banda desenhada alternativa
Como aparece descrito, para se ver que nao sou eu a separar os géneros:
"Les revues et fanzines sélectionnées sont"
Portanto, aparecem agora "revistas alternativas" e "fanzines". E as nomeadas, e os nomeados, sao:
Abécédaire, Ailes du Corbeau (Les), Amiante (3 de França), Canicola (Italia), C'est bon anthology (Suécia), Claffouti, Cochon Dingue, Cosmic Tubes ( mais 3 de França), Dark Warrior (Ucrania), Dossier Kamb, Inedit (L'), (2 da Bélgica), Institut Pacome, Megalith, Moi Je, Morocco, My Way, Oculaires (Les), On a marché sur la bulle, Patate douce, Phylloxera (9 de França), Reddition (Alemanha), Sesame, Skermu (2 de França).
Pena que Portugal nao esteja representado, e contra mim falo.
(*) Problemas literarios e ortograficos: tive necessidade de arranjar textos onde evitasse algumas palavras, embora nem sempre o conseguisse, isto porque nestes teclados franceses é inexistente o acento agudo nas letras a, i, o, u e o acento til (nao existe). Por isso escrevi àlbum (é menos "grave" pôr acento grave do que nao pôr nenhum, e em vez de escrever "sao propostos" escrevi ficam propostos, e muitos outros rodeios do género.
terça-feira, janeiro 24, 2006
Concurso de Banda Desenhada - Jovens talentos 2006
Aparece bem cedo no ano ano que há pouco começou, este concurso destinado aos jovens entre os 15 e os 30 anos.
Há um tema obrigatório, que é "A Noite". Com a imaginação ficcional que caracteriza os autores de BD, além do talento para o desenho, a noite é algo suficientemente impressivo e fornecedor de histórias.
Vamos a isso, juventude. Toca a começar a trabalhar já, porque 1 de Março é a data limite para entrega das vossas obras.
Podem criar as vossas bedês individualmente ou em grupo, tanto faz que usem papel formato A4 ou A3, se preferem a estética do preto e branco, vão em frente, se acham que quando usam cores - seja à mão usando ecolines ou guaches, seja com o computador - conseguem melhores resultados, não hesitem, todas as técnicas são permitidas, o que conta é o resultado final.
Com uma condição: não podem ultrapassar quatro pranchas (o regulamento é omisso no número mínimo, por conseguinte depreende-se que podem fazer apenas uma prancha. Mas eu não acredito que façam as vossas narrativas gráficas em menos de duas. Dá mais hipótese de fazer uma ficção de jeito.
Ah, já me esquecia: cuidado com os erros ortográficos, têm influência no espírito do júri ("este bacano só sabe desenhar, não aprendeu a escrever?). Portanto, quando tiverem dúvidas, consultem o dicionário ou, pelo menos, um livrinho chamado prontuário. Se ainda não conhecem esse objecto, é boa altura para fazerem uma compra útil em qualquer livraria.
Quando tiverem a obra acabadinha, enviem-na, juntamente com um papel em que constem os vossos dados pessoais, seja de um apenas, seja de dois ou mais elementos (nome ou nomes completo(s), idade(s), e data(s) de nascimento, juntamente com cópia do(s) B.I.(s), e os contactos pessoais (morada, e-mail, nº de telefone e/ou telemóvel).
As bedês devem ser enviadas (repito: até ao dia 1 de Março) para:
Concurso de BD - Jovens Talentos 2006", Associação Juvenil - COI -
Rua 7 de Fevereiro, Bloco B - A11/12
2955-124 Pinhal Novo
E agora falemos de coisas muito sérias: o primeiro classificado terá direito a um prémio monetário de 200 euros.
A bd do vencedor e dos dois concorrentes classificados a seguir serão convidados a fazer, cada um uma banda desenhada em dez pranchas, para serem publicadas na revista "Sketchbook".
Como incentivo a continuarem a participar nos futuros concursos organizados pela Associação Juvenil - COI, no âmbito de futuras edições do evento "Março a partir", todos os participantes receberão prémios de participação constantes de obras de BD, ofertas de várias boas editoras.
Vá, comecem a pensar no tema que vão desenvolver, ou então juntem-se a um bacano daqueles que têm jeito para imaginar histórias incríveis. Ou, no mínimo, baseiem-se em factos que já viveram na noite (de Lisboa, ou na vossa rua, onde quer que morem).
Pela minha parte, espero ver alguma bd que me faça dizer: oi, pessoal da AJCOI, aqui está um potencial talento, apoiem-no.
segunda-feira, janeiro 23, 2006
Festivais, Salões BD e afins - (Angoulême) - 4ª feira, lá estarei
O Festival Internacional de BD de Angoulême, na sua 33ª edição, realiza-se entre 26 e 29 de Janeiro.
Na próxima 4ª feira, aí vou eu. Primeiro, de avião até Paris, a seguir de comboio. Vamos a ver se não me acontece o mesmo que no ano passado. Os ferroviários estavam em greve (em protesto por uma colega deles ter sido assassinada no posto de trabalho), e por isso só havia o serviço mínimo, um comboio que iria servir muitos mais destinos do que os habituais, daí que fosse completamente à cunha.
Pela minha parte, fiz a viagem de três horas sempre em pé, íamos todos sem podermos sair do mesmo sítio. Uma experiência como ainda nunca tinha tido...
Também é verdade que não paguei nada, as bilheteiras estavam encerradas (greve é greve...).
sexta-feira, janeiro 20, 2006
Exposição de banda desenhada infantil portuguesa no CNBDI - Amadora
"Em traços miúdos" é o título bem achado da exposição inaugurada ontem, 16 de Janeiro, no Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem - CNBDI (Amadora), onde estará visitável até 19 de Maio.
Dividida essencialmente em duas áreas, uma sob o título "No Tempo dos Avós" - em que se podem apreciar "Os Marcos Fundadores", Cottinelli e Stuart, e "Revistas, Heróis e Aventuras", onde se encontram imagens criadas por Eduardo Teixeira Coelho, Artur Correia, Augusto Trigo e Catherine Labey; a outra, incide no tema "Três Nomes para Novos Leitores", e nela se podem visionar pranchas de José Abrantes, Pedro Leitão e Ricardo Ferrand.
Em ambas as partes há lacunas evidentes, mas também tem de se olhar para as dimensões limitadas do espaço, e, no conjunto, está-se perante uma significativa amostragem da banda desenhada dedicada às crianças e até, em alguns casos, aos adolescentes.
O Quim, O Manecas e o Xuan de Bigo - Página original de O Século Cómico, de 4 de Novembro de 1915, da autoria de Stuart. Pertence à colecção do estudioso A. J. Ferreira, que a cedeu para o evento
Na componente de retrospectiva, subtitulada "Os Marcos Fundadores", podem apreciar-se peças de grande raridade e qualidade, designadamente a prancha desenhada por Stuart Carvalhais, que acima se reproduz, extraída do catálogo editado.
Já ficou dito no parágrafo anterior, mas não posso deixar de relevar a existência dessa peça que complementa exemplarmente a mostra, um catálogo, bem apresentado graficamente, e com um conteúdo literário, opinativo e informativo de muita qualidade.
Inquestionável, o interesse dos quatro artigos (bilingues, o segundo idioma é o inglês) publicados no catálogo.
São assinados por Sara Figueiredo Costa - "Um Percurso em Quatro Andamentos" -, José António Gomes - "A banda desenhada: algumas notas sobre o seu carácter formativo";
Paulo Lages - "Teatro aos Quadradinhos"; Manuel João Ramos - "...E pró papá também".
Gostei tanto da inteligente citação de uma frase de C. S. Lewis, feita por Sara Figueiredo Costa, que lha copio, com o intuito de sugerir tema possível para eventual futura discussão: "uma história para crianças que apenas agrade a crianças é uma má história para crianças". Lapidar.
DEZ MIL visitas a um blogue que divulga apenas Banda Desenhada? Nada mau, eu acho.
10.000 visitas em seis meses - tempo de existência do respectivo contador, desde 22 de Julho até hoje, 20 de Janeiro - significa cerca de 50 passagens pelo blogue, algumas talvez fugazes, de leitores/visionadores por dia.
Admito que seja pouco, relativamente a "sites" ou blogues com afluência diária de visitantes às centenas, que digo eu, aos milhares. Mas para mim, é suficientemente gratificante estas escassas dezenas.
Para solucionar as minhas dificuldades técnicas - atenuadas paulatinamente -, contei com o apoio, uma vez hoje, outra vez ontem, (uma maneira de dizer, claro),de "experts" informáticos. Foram eles:
Gastão Travado, Guida Reis, Nuno Lima e, "last but not the least", o meu filhão que, à distância, radicado em Faro, lisboeta "renegado", já por duas vezes me solucionou imbróglios técnicos :-)
Um imenso agradecimento para eles.
quinta-feira, janeiro 19, 2006
Jornais com Banda Desenhada (II) - Mundo Universitário - 16 Jan. 06 - Uma bd de Pedro Alves
Banda desenhada autoconclusiva da autoria de Pedro Alves
in Mundo Universitário, quinzenário gratuito com 40.000 exemplares de tiragem distribuído por todas as universidades do país
Com um sentido de humor muito pessoal, sarcástico e contundente, além de atento ao que se passa à sua volta, este jovem banda-desenhista e cartunista parodia nesta bd as eleições, usando vários cenários, percorrendo diversos períodos da Humanidade, mostrando as similitudes (acentuando as negativas, característica essencial dos humoristas) nesse acto político chamado "eleições".
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Pedro Alves é o nome com que Pedro José Bento Alves assina bedês e cartunes de sua autoria.
Natural de Lisboa, onde nasceu em Junho de 1975, passou a viver em Almada aos três dias de vida, onde desde então sempre residiu.
Fez o 12º ano de Química, mas voltou ao 10º para ingressar na Escola Secundária António Arroio, antiga Escola de Artes Decorativas, que continua a privilegiar a área artística, o que o seduziu.
Iniciou-se a fazer banda desenhada no DN Jovem, suplemento do jornal Diário de Notícias.
Foi editautor, isto é, editor e único autor de vários fanzines: "São Francisco da S.I.S.", cujo número inicial saíu em 1996, "ZineJal" a seguir (vê-se que aprecia a zona do Ginjal...), depois "Le Neurone", este entre 1999 e 2000.
Colaborou no fanzine "Tertúlia BDzine", no fanálbum "Novas fitas de Juca & Zeca", e, recentemente, no BDjornal, desde o primeiro número.
Coordena e preenche o sítio "Toonman.com.pt", onde publica um cartune diário. Tem também o blogue "cartoondodia.blogspot.com", sendo que, como cartunista, obteve o 1º Prémio no Festival da Amadora, em 2004.
No quinzenário Mundo Universitário, após ter colaborado no nº11, de 31 de Janeiro de 2005, com a bd "Sócrates 150.000 Em exibição", volta agora a ser editado com mais a "charge" que pode ser vista (e ampliada) no cocuruto deste "post".
Texto realizado gratuitamente para o jornal gratuito "Mundo Universitário"
quarta-feira, janeiro 18, 2006
Castelos na Banda Desenhada (VI) - Fictício - Autor: Moebius
Imagem extraída de Cidadela Cega - Tornsoc, Cavaleiro, banda desenhada em seis pranchas, estranhamente assinada por Jean Giraud (embora no estilo que o celebrizou sob o pseudónimo Moebius).
Este episódio foi reproduzido na revista O Mosquito (V Série) nº 11, Dez. 1985.
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"Post" remissivo
Neste tema "Castelos na Banda Desenhada" podem ser vistos imagens de castelos fictícios e reais da autoria dos seguintes desenhadores:
(I) Fictício - António Vaz Pereira
(II) Faro - José Garcês
(III) Trancoso - Santos Costa
(IV) Fictício - Harold Foster
(V) Fictício - José Morim
terça-feira, janeiro 17, 2006
Fanzines, esses desconhecidos (VIII) Tertúlia Lisboa dos Fanzines
Como é habitual, na terceira 3ª feira de cada mês, realiza-se esta tertúlia dedicada apenas aos editores de fanzines (faneditores) e autores com colaboração publicada nesse tipo de magazines, neste caso apenas os que têm a ver com banda desenhada.
Hoje, como tema-base para conversa na tertúlia, levarei um exemplar do único livro editado em Portugal dedicado a esse tipo de publicações.
É o "Dédalo dos Fanzines", cuja edição foi bastante reduzida (por motivos que não vêm agora ao caso) e que, por isso mesmo, está esgotado. Mas encontra-se acessível na Biblioteca Nacional de Portugal (aqui em Lisboa, como é sabido).
segunda-feira, janeiro 16, 2006
Língua Portuguesa em mau estado: na Banda Desenhada, no Cartoon, nos Fanzines e na Internet (VI)-"Uma"(??) fanzine
Já tem sido escrito, com frequência, por estudiosos dos fanzines - nos quais me incluo, permito-me dizer - que o neologismo "fanzine", nascido nos Estados Unidos (o conhecido Frederic Wertham, no seu livro "The World of Fanzines", indica o ano de 1930 para o "Comet", iniciador do movimento) e absorvido na Europa nos anos mil novecentos e sessenta, sob o género masculino pelo facto de, na génese do vocábulo, estar o objecto literário, com imagens, o magazine, também popularizado em Portugal nessa época.
Fanzine, neologismo já com verbete em dicionário (pela primeira vez, na 8ª edição da Porto Editora), é formado pela contracção da palavra fan (fã, em português) e a última sílaba de magazine.
Logo, um fanzine é um magazine (equivalente a revista) feito, editado, por fãs de quaisquer temas, sendo a Banda Desenhada um dos mais frequentes.
Capa do fanzine "Aquinocanto", da autoria de João Rubim. O fanzine apresenta duas capas diferentes, sendo a outra desenhada por Manuel Brito
É o que acontece com os faneditores Manuel Brito e João Rubim, que editaram três números do fanzine "Aqui no Canto", e mais este agora, especial.
Note-se que em Espanha se diz "el fanzine" (em castelhano) e "o fanzine" (em galego)
Capa de "O Fanzine das Xornadas", editado aquando da realização das "VIII Xornadas de Banda Deseñada de Ourense" (na Galiza). Este fanzine espanhol é coordenado por Henrique Torreiro, "co patrocínio da Casa da Xuventude de Ourense, Concelleria da Cultura do Concello de Ourense e Dirección Xeral de Política Lingüística da Xunta de Galicia"
tal como acontece em França, visível no excerto de uma crítica extraída da revista "Vécu"
ou no Brasil, como se pode ver na imagem seguinte
Livro da autoria do fanzinista e estudioso brasileiro Henrique Magalhães
Custa-me dizer isto - sou português... - mas nós, que somos o país europeu com maior índice de analfabetismo, e com elevada percentagem de iliteracia, tínhamos de ser nós a criar esse absurdo linguístico que é mudar o género a um substantivo.
E o que é pior: quando pergunto a algum desses fanzinistas recentes, que dizem "a minha fanzine", por que motivo não dizem "o meu fanzine", respondem-me que é por ser uma revista, e como revista é uma palavra feminina...
E eu costumo objectar: então, como um pinheiro é uma árvore, temos de passar a dizer "uma pinheiro"?!
Uma engraçada tira de banda desenhada do brasileiro Laerte (in Diário de Notícias, 5 Jan. 2006)
Um universitário da Escola Superior de Design-ESAD, nas Caldas da Rainha - cidade onde há um buliçoso movimento fanzinístico -, reagindo à minha habitual discordância no uso do feminino para o fanzine dele, ripostou, com aquilo que começa a ser um chavão - já não é a primeira vez que oiço justificar asneiras com aquela frase -, "a língua portuguesa está sempre a modificar-se".
Eu sei disso, sou, também eu, entusiástico estudioso da matéria. Mas tenho a noção de que a componente mais visível dessa modificação é a constante absorção de vocábulos estrangeiros, aportuguesando-os por vezes, criando-se assim neologismos - bloguer ou bloguista, blogosfera, internauta, por exemplo.
Mas não há memória de, na língua portuguesa, ter havido mudança de género em algum substantivo. Estou a referir-me a mudanças correctas.
Porque, por iliteracia ou pura ignorância, há quem mude o género masculino da palavra grama (peso) para feminino.
O ano passado, uma funcionária dos correios, aqui em Lisboa, disse-me que a minha carta - com um fanzine dentro - pesava "vinte e duas gramas". Eu perguntei-lhe
se ela também diria, para uma encomenda pesada, "vinte e duas quilogramas"...
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"Post" remissivo
Deste mesmo tema há 3 "posts" afixados anteriormente, nas seguintes datas:
2005 - Out. 27 - "vê-mo-nos"; Nov.12 - "pareçe"; "esqueçendo"; Nov. 28 - "gingeira";
Dez.11 - "Benvindos"; 2006, Jan.7 - "Inflacção"
sábado, janeiro 14, 2006
"O Mosquito" (1936-1953) revista de BD, 70 anos depois
Estava-se a 14 de Janeiro de 1936.
Nascia, nessa data, O Mosquito, uma revista de banda desenhada (ou de histórias aos quadradinhos, como então era habitual dizer-se.
O Mosquito vinha concorrer com as revistas congéneres já existentes, cujos títulos eram igualmente sugestivos: Tic-Tac, O Senhor Doutor, Mickey e O Papagaio. Estava-se numa época em que esse tipo de publicações constituía uma das mais populares formas de entretenimento da juventude.
Um sucesso de vendas
Julgo não haver qualquer sombra de exagero nesta afirmação: O Mosquito foi, em grande parte da sua existência, um espantoso sucesso de vendas. Conforme José Ruy - seu cronista mais fidedigno -, a tiragem chegou a atingir 40.000 exemplares por cada tiragem, duas vezes por semana quando passou a bissemanal. O que significa que chegaram a "voar" 80.000 "mosquitos" por semana!
Era tal o entusiasmo que suscitava na juventude, que os seus editores se viram na necessidade de lhe encurtar a periodicidade: de semanal que fora entre o nº1 e o 360 (com saída inicialmente às 3ªs., mais tarde às 5ªs. feiras), passou a bissemanal (com saída às 4ªs. feiras e sábados) a partir do nº 361, de 9 de Dezembro de 1942.
Razões para o sucesso
É verdade que o seu preço era mais acessível do que os das revistas congéneres em publicação à data do seu aparecimento, nesse ano já remoto de 1936: enquanto que o Mickey custava, de início, 1$50 (um escudo e cinquenta centavos era equivalente, na moeda actual, a menos de um cêntimo), tal como O Senhor Doutor, e o preço do Tic-Tac e de O Papagaio era de 1$00, O Mosquito descia a fasquia para os cinquenta centavos (ou cinco tostões, como aparecia escrito na capa, ao lado ou por cima do título da revista).
Autêntica coreografia, com elevado domínio da expressão corporal, é o que se pode admirar nesta capa desenhada por Eduardo Teixeira Coelho
Para além desse aspecto, O Mosquito também ganhou leitores graças ao género das bandas desenhadas que publicava, e até talvez à sua apresentação menos infantil.
Grandes autores estrangeiros passaram pelas suas páginas: Colin Merritt, Reg Perrott, Roy Wilson, Percy Cocking, Walter Booth (ingleses); Angel Puigmiquel, Arnal, Arturo Moreno, Emilio Freixas, Jesús Blasco mais os seus irmãos Adriano, Alejandro e a irmã, Pili Blasco (espanhóis); Darrel McClure, Harold Foster, John Lehti (americanos); Gigi, Marijac, Paul Gillon (franceses). E tantos outros.
A excepcional dinâmica das ilustrações de E.T.Coelho reflecte-se aqui nas imagens de cavalos e cavaleiros
Quanto aos autores portugueses, foi Eduardo Teixeira Coelho (ou E.T.Coelho, ou ETC, como também assinava) quem ficou indelevelmente ligado à memória d'O Mosquito. O seu estilo marcou a revista, tanto com os vários cabeçalhos como com as ilustrações para as capas e novelas, e com as suas bandas desenhadas, com destaque para O Caminho do Oriente.
Mas outros autores adquiriram igualmente prestígio nas suas páginas, como foi o caso de Jayme Cortez (que emigraria para o Brasil), Vítor Péon, José Garcês e José Ruy (este, como autor, só atingiria brilho especial na 2ª série).
O Mosquito foi uma revista que exerceu incomensurável fascínio sobre os seus leitores. Só assim se explica que, oitenta anos após a data do seu aparecimento, continue a ser recordada tão intensamente, como o provam as reuniões comemorativas que anualmente se realizam, inicialmente à volta da imprescindível refeição - inicialmente ao jantar, os três primeiros organizados por este bloguista, e após interregno de alguns anos, passando para almoço, ao gosto dos novos organizadores - sempre com a presença de vinte e tantos bedéfilos, autores e leitores, todos "mosquiteiros" indefectíveis.
sexta-feira, janeiro 13, 2006
Pintura e Pintores na Banda Desenhada (I) - "Banda Pintada":e Paula Rego
Possessão I -VII, 2004. Pastel sobre papel montado em alumínio (políptico, 7 elementos) 150 x 100cm (cada)
Claro que Possessão I - VII não é banda desenhada, no sentido tradicional da expressão.
Mas do que não restam dúvidas - digo eu -, ao visionar este conjunto de quadros da esquerda para a direita (melhor seria, ainda, se aqui estivessem reproduzidas as sete telas, quais vinhetas-gigantes, numa única fila horizontal), é de que estamos em presença de imagens sequenciais, que plasmam um corpo de mulher numa sucessão contínua de posições, criando um ritmo visual evidente.
E quando falamos de imagens sequenciais, do que é que estamos a falar, se não de banda desenhada? Digamos que, neste caso, tecnicamente, será mais pertinente a expressão "banda pintada".
De resto, é do conhecimento comum que há mais pintores, portugueses e estrangeiros, que se têm deixado seduzir pelo fascínio plástico do movimento sugerido.
Entre os portugueses, Eduardo Batarda é talvez o mais representativo, de que me ocorreu agora mostrar (num futuro "post") uma peça dele, que possuo, e que é uma assumida banda desenhada.
Dos estrangeiros, Goya e Picasso têm telas que têm a ver com o espírito e a linguagem da Figuração Narrativa, não esquecendo Andy Warhol e Roy Lichtenstein, ambos aproveitadores dos grafismos dos "comics".
Todas estas ideias me ocorreram ontem, na inauguração da mostra O Poder da Arte - Serralves na Assembleia da República.
Entre muitas outras obras, lá estavam estas impressionantes pinturas de Paula Rego, num conjunto de sete quadros, todos seguidos, numa linha horizontal. A possibilidade de os mostrar, aqui no blogue, deve-se ao facto de, também ontem, 12 de janeiro, ter sido editado, pelo jornal Público, um encarte dedicado ao evento, encarte esse que foi igualmente distribuído na inauguração a todos os convidados.
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PAULA REGO
Paula Rego, Lisboa, 1935.
Estudou em Londres. Tem vivido entre Portugal e Inglaterra. Em 1976 acabou por fixar residência em Londres.
A sua primeira exposição teve lugar na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa, em 1965.
A qualidade excepcional da sua obra foi reconhecida no Reino Unido onde foi realizada uma retrospectiva, em 1988, na Serpentine Gallery.
Infelizmente, emPortugal ainda há quem se sinta chocado/a com a liberdade artística desta pintora que, compreende-se cada vez melhor as razões, optou por se fixar em Londres para continuar a pintar.
quinta-feira, janeiro 12, 2006
Autógrafos desenhados (II) - Autor: Milo Manara
Desenho original realizado de improviso por Milo Manara - Outubro de 1980, no bar do Hotel Napoleon, Lucca, Itália
Em 1980, o Salone Internazionale dei Comics, del Cinema d'Animazione e dell'Illustrazione, que se realizava na cidade italiana de Lucca, atingia a sua 14ª edição.
Numa daquelas noites de convívio - ou seja, de copos e conversa - no Hotel Napoleon, local quase obrigatório para finalizar o dia como deve ser, e onde se concentrava a maioria dos autores presentes no evento, tive a oportunidade de, pela primeira vez, contactar com Milo Manara. Claro que, após alguma conversa, pedi-lhe para que ele fizesse um desenho num bloco de folhas destacáveis com que, estrategicamente, andava sempre munido.
Manara aceitou o pedido mas, para desenhar, afastou-se para um canto menos visível. Mal terminara, recomendou-me para não o mostrar a ninguém, a fim de evitar ser assediado por outros.
Com a pressa, preocupado em colaborar para que a cena passasse despercebida, nem me ocorreu pedir-lhe para acrescentar a habitual dedicatória. Mas, como é óbvio, o mais importante para mim, no momento, tinha sido obter o desenho que ilustra este "post".
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MANARA
Síntese biográfica
Maurilio Manara - Milo é o diminutivo do nome próprio - nasceu em Luson (Bolzano, Itália), em Setembro de 1945.
Iniciou a sua carreira na Banda Desenhada em 1969 com a obra Genius, em vinte e dois episódios.
Entre 1971 e 1973, sob apoio literário do argumentista Francesco Rubino, realizou quarenta e oito aventuras, com a personagem Iolanda no papel de mulher-pirata.
Após muitas outras obras em que demonstra indiscutível talento - Decameron, Lo Scimmioto, Giuseppe Bergman - começa a dedicar-se aos temas eróticos, sendo Clic o título mais importante, a que se seguiria O Perfume do Invisível, obra de referência na sua bibliografia, mas por cujo êxito comercial se deixou condicionar.
Manara tem consciência de estar a cultivar um tema que o escraviza. Por vezes ainda tenta esbracejar, como aconteceu com a obra singular O Verão Índio. Embora seja de referir que, para a qualidade atingida, muito contribuíu o superior argumento escrito por Hugo Pratt, com quem ele já não mais poderá contar.
sábado, janeiro 07, 2006
Língua Portuguesa em mau estado: na BD, no Cartune e na Internet (V) - "Inflacção" (??)
Inflacção (??), não! Inflação, sim
Erro, e não gralha, confusão plausível com uma palavra que, aparentemente, deveria ter duas consoantes, sendo uma delas muda, mas escreve-se apenas com uma consoante! E, como alguém disse, "a língua portuguesa é muito traiçoeira" em especial nesta história das consoantes mudas....
Erro, pois, cometido no cartune intitulado "Ano Novo", da série diária Simão, o Cidadão - in Jornal de Notícias, 1 de Jan. de 2006.
Em conformidade com o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, inflação é substantivo derivado do latim inflatione, que significa "inchamento do estômago". O sentido financeiro aparece talvez apenas no século XX, bem como os derivados inflacionismo, inflacionista.
Não será nada fácil fazer um cartune diariamente, com a obrigatoriedade de ter sempre graça.
Daí que, para começar, faça uma vénia a Zeferino (Coelho), autor do "cartoon", antes de o censurar pelo erro ortográfico. É o que se chama começar mal o ano novo, mas só em termos de uso correcto da língua portuguesa.
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Post remissivo
Deste mesmo tema há 3 "posts" afixados anteriormente, nas seguintes datas:
2005 - Out. 27 - "vê-mo-nos";
Nov.12 - "pareçe"; "esqueçendo";
Nov. 28 - "gingeira"
sexta-feira, janeiro 06, 2006
Castelos na Banda Desenhada (V) - Fictício - Autor: José Morim
Surpreendente, é como se pode classificar, a ideia de editar um livro de finalidades didácticas realizado, na totalidade, através da BD.
Em desenhos da autoria de José Morim, sob argumento de Maria da Conceição Fernandes, assiste-se ao desenrolar histórico que teve lugar na Península Ibérica, começando pela invasão dos árabes.
É exactamente desse momento que Morim recriou o castelo que se vê na imagem, e que só existe na imaginação do artista.
Com efeito, perguntei-lhe se aquele castelo tinha existência real, ou se tinha sido ele próprio a "construí-lo", tendo ele confirmado esta última hipótese.
Como se trata de um arquitecto, não se estranha a capacidade demonstrada, tanto mais que só precisou de papel, pincel, tinta-da-china, "ecolines" e... talento.
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"Post" remissivo
Neste tema Castelos na Banda Desenhada podem ser vistas imagens dos seguintes autores:
(I) Fictício - Autor: António Vaz Pereira
(II) Faro - Autor: José Garcês
(III) Trancoso - Autor: Santos Costa
(IV) Fictício - Autor: Harold Foster