domingo, março 19, 2006

Jorge Colombo vem dos States de visita ao Portugalito. Ora Viva!

Página inicial do suplemento "Tablóide", editado entre 21 de Setembro de 1985 e 20 de Setembro de 1986 no jornal "Diário Popular"

Em 1985 estava eu em contacto com pessoas do jornal Diário Popular, e tinha-lhes posto a hipótese de um projecto relacionado com Banda Desenhada, que, de facto, viria a ser concretizado.

E que se baseava no seguinte: no formato tablóide daquele (entretanto extinto) jornal, eu iria coordenar um suplemento sabadal, que se intitularia Tablóide (por associação óbvia), onde entrevistaria, semanalmente, um autor da nova camada que surgia na altura: Jorge Colombo, Pedro Morais, Luís Louro, Luís Diferr, Renato Abreu, José Abrantes, António Jorge Gonçalves, Filipe Abranches, Pedro Nogueira, "Pitágoras" (Nuno Beirão, depois arquitecto, perdi-o de vista),Miguel Alves (actualmente cnhecido por Pedro Burgos na BD, e Pedro Cabrito, enquanto arquitecto), uma rapariga - a única - chamada Alexandra, aliás Maria Alexandra Soveral Rodrigues Dias (mais tarde professora na Universidade de Évora, esquecida da BD), e mais alguns que ficaram pelo caminho.

Voltando ao projecto: nessa mesma semana, no verso da página, iniciar-se-ia uma bd do autor entrevistado, bd essa que terminaria no sábado seguinte, com mais duas pranchas (modelo que não foi sempre seguido, tendo algumas bedês mais páginas do que as inicialmente previstas...).

Ora o primeiro autor que contactei foi Jorge Colombo, porque o considerava especialista em grafismos (e não só), para que fosse ele a desenhar o cabeçalho do suplemento, que se iria chamar "Tablóide", com uma única exigência da minha parte: que as letras "b" e "d" da palavra ficassem com destaque. O Jorge, por seu turno,impôs também uma condição: ser ele o autor da banda desenhada inicial. Claro que aceitei com muito gosto (mas mesmo muito gosto!) a imposição do jovem.

Devido à redução, não será fácil ler o texto da imagem reproduzida no início do presente "post", onde consta a entrevista que fiz ao Jorge Colombo, quiçá uma das primeiras que ele terá concedido para jornais, publicada a 21 de Setembro de 1985, acompanhada, no verso da folha, pela sua bd curta intitulada "O Relvado". Será que esta pequena colaboração consta do já extenso e valioso currículo do ilustre artista?

Reprodução de uma ilustração de Jorge Colombo, reproduzida na revista-suplemento "Pública" (com a devida vénia ao autor e à revista)

Claro que este "post" foi provocado pela leitura, na edição dominical do jornal "Público", na revista-suplemento "Pública", de um artigo em muito boa prosa, assinado por Alexandra Prado Coelho, acerca de Jorge Colombo. E como seria de esperar, o texto vinha complementado com uma ilustração bem ao seu estilo, aquela que se reproduz acima.

Fazendo o necessário flashback, devo dizer que conheço os irmãos Colombo, Jorge e Vasco, desde meados da década de 1980. O Jorge, que tem uns anitos a mais do que o Vasco, começara a tornar-se notado a fazer bandas desenhadas e a escrever sobre elas (fez crítica sobre BD na revista Tintin).

Com alguma influência, inteligentemente assimilada, de Loustal - o caderno com que sempre andava, cheio de desenhos tipo linha clara, com legendagem muito bonita e certinha, era disso exemplo -, e uma grande admiração pelo seu vizinho (na época) Victor Mesquita, Jorge Colombo tornou-se uma referência de qualidade e originalidade.

Aconteceu que uma vez foi aos EUA ter com a americana namorada, e por lá ficou. Só o voltei a ver, há alguns anos, na inauguração de uma exposição com desenhos seus na Bedeteca de Lisboa, intitulada Fullerton.

Hoje soube que o JC está (ou esteve) por cá. Espero que ele veja este blogue, como eu já tenho visto o "site" dele www.jorgecolombo.com, e muito tenho apreciado as numerosas ilustrações, muitas fotografias, e algumas bandas desenhadas (para as ver, clicar em "drawings" e seguidamente em "comix").

Dessas poucas bedês, destaco: "Below 14th Street", que teve tradução para português por João Paulo Cotrim (por que motivo terá sido necessário o JPC traduzir o texto original, em vez de ser o próprio JC a fazer a versão portuguesa?) e publicação no Diário Económico, além de duas outras publicadas no Pulse Magazine, One From the Heart e Peter Mintun.

Da entrevista que lhe fiz para o "Tablóide" respigo uma frase "não faço filmes, porque não há dinheiro, nem BD porque não vejo sítios onde a publicar", e a seguinte pergunta e respectiva resposta:

"G.L. - Um panorama sem dúvida pobre o da BD portuguesa. Haverá alguma coisa nela, hoje, que valha a pena destacar?"

"J.C. - As pastas onde o Pedro Morais ou o Pedro Cavalheiro guardam os seus originais são dos meus locais de leitura favoritos. Se eu tivesse uma data de contos para perder, editava-os."

Assim pensava em 1985 o Jorge Colombo, nascido em Lisboa em 1963, conforme consta do texto da entrevista com que se iniciava a primeira página do suplemento "Tablóide".

2 comentários:

  1. Anónimo05:16

    Mais ou menos por esta altura tive o gosto de ver o José de Lemos ilustrar uma série de contos que publiquei na rubrica "Um conto por um conto", precisamente ao sábado, no referido Diário Popular.
    Foi uma época de descoberta. Principalmente do "Jim del Mónaco".

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  2. Sim, Graça, é verdade. Quanto ao herói Jim del Monaco, de Luís Louro (des.) e Tó Zé Simões (arg.), herói que se estreou pela minha mão naquele suplemento "Tablóide", depois de fazer a entrada no blogue, ocorreu-me que podia ter falado nesse pormenor, e não o fiz (afinal de contas, eu não estava a fazer a história do suplemento jornalístico, apenas falei nele por ter tido a colaboração de Jorge Colombo. Sempre atento (obrigado, Luís Graça), chamaste tu a atenção para o del Monaco, e lembraste-me dos teus contos e daquela personagem muito especial que foi o José de Lemos.
    E já agora, como ele fez muita BD, tive a honra de o Homenagear na minha Tertúlia BD de Lisboa que, salvo erro, ainda não frequentavas nessa altura.

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