quarta-feira, outubro 31, 2007

Banda Desenhada portuguesa nos jornais (LXXI) - O Primeiro de Janeiro - Autor: Agonia Sampaio

Prancha (1 de 5) da banda desenhada Melancolia, da autoria de Agonia Sampaio

Um suplemento jornalístico infantil com banda desenhada é, hoje em dia, uma raridade. O jornal nortenho O Primeiro de Janeiro abre essa excepção com o suplemento semanal O Janeirinho, na edição de 26 de Outubro (deste ano 07), com a banda desenhada sem palavras Melancolia, da autoria, argumento e desenho de Agonia Sampaio, autor poveiro já com bem recheado currículo banda-desenhístico.
É certo que o argumento não se lê, visto que se trata de uma bedê muda, mas ele está lá subjacente às imagens (extremamente pormenorizadas nos cenários, ponto forte do grafista), o que, presumo, induziu os responsáveis editoriais do suplemento infantil a aproveitarem-na como exercício/desafio à imaginação e criatividade literária dos pequenos leitores de O Janeirinho, com a seguinte proposta:

"Através destas ilustrações cria uma história e remete-a (...) através do e-mail leitura@oprimeirodejaneiro.pt. As melhores composições serão aqui publicadas. Se quiseres, podes ainda pintar as ilustrações."
Fico com imensa curiosidade em ver publicados os resultados deste interessante desafio, uma ideia muito pouco vulgar, provavelmente surgida pela já citada característica de se tratar de uma banda desenhada sem palavras.
Embora não esteja especialmente optimista no que concerne ao número de respostas, um pouco devido ao facto de as cinco pranchas terem uma montagem não especialmente convidativa (só se for com a ajuda daqueles pais mais bedéfilos) algo encavalitadas em apenas três páginas do suplemento.
O Primeiro de Janeiro e a valiosa contribuição que prestou, em tempos idos, à divulgação de boa banda desenhada de origem americana
Aproveito para relembrar (ou dar a conhecer aos visitantes mais jovens) o facto de este jornal do Norte ter sido, em tempos, um importante suporte para a BD, razão pela qual, eu, lisboeta por nascimento e a viver em Lisboa, comprei durante anos a edição de domingo daquele jornal. Porque, somente nas suas páginas foi possível ver, por exemplo, a clássica série Príncipe Valente reproduzida a cores aparentadas com as originais das "Sunday pages dos jornais americanos, reproduzidas lá no enorme formato "standard" (por cá, no tablóide, portanto maior do que era habitual publicar BD em Portugal) durante muitos anos, o que, de imediato, apaixonou o meu amigo Manuel Caldas, que, por culpa desse "coup de foudre" se tornou um dos maiores especialistas mundiais daquela famosa série. Além de outras famosas obras serializadas, The Katzenjammer Kids ou The Captain and the Kids (com o título adaptado para português de várias maneiras, por exemplo Necas, Tonecas, Barbaças e Leocádia, estou a citar de cor, peço desculpa por alguma inexactidão, ou Os Sobrinhos do Capitão) obra criada por Rudolph Dirks e herdada por Hy Eisman) , além de O Coração de Julieta (The Heart of Juliet Jones, com desenho de Stan Drake(*), argumento de Eliot Caplin) e As Aventuras de Dick (salvo erro era este o título em português, correspondente a Dick's Adventures in Dreamland, com desenho de Neil O'Keefe, argumento de Max Trell), todas estas, não em simultâneo, claro, mais aquela tira a preto e branco noutra página, ainda hoje publicada, com o inenarrável e politicamente incorrecto machista Zé do Boné (Andy Capp, da autoria de Reg Smythe), apesar disso, ou precisamente por isso?, acabadinho de ter direito à publicação em álbum português!, um exclusivo de longos anos de O Primeiro de Janeiro, mas actualmente nele reproduzido sem a mínima consideração, reduzido a uma tira minúscula, em que as legendas quase só se conseguem ler com a ajuda de lente...
(*) Este Stan Drake trabalhou também para o mercado europeu. entre 1981 e 1988, ao desenhar, sob argumento de Leonard Starr, a série Kelly Green, dada a conhecer ao público português pela revista Jornal da BD (para a qual criei o Suplemento BD, apenas acessível nas encadernações que mantêm as capas da revista, e onde também respondia às cartas dos leitores sob o pseudónimo Ardina).
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Para os interessados neste tema de Banda Desenhada Portuguesa publicada nos jornais, há uma extensa lista remissiva acoplada ao "post" de Outubro, 25. Basta ir à coluna "Archives" e clicar, como qualquer habitual visitante sabe.

3 comentários:

  1. lembro-me bem da cara-metade, do zé do boné, do reizinho e, acima de todos, do matulinho, cujo calendário montava todos os anos.
    bons tempos...
    já agora, dá uma vista de olhos a:
    http://carlosfernandessurrealista.blogspot.com/
    podes ter uma surpresa.

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  2. Anónimo11:01

    Pelo que a mim me toca, agradeço a amável referência. E aproveito para dizer que o formato em que o JANEIRO publicou o “Príncipe Valente”, sendo grande, não era o maior dos formatos em que aparecia nos jornais americanos. De facto, no jornal do Porto, as pranchas de Hal Foster publicaram-se sempre em tablóide, mas nos Estados Unidos publicavam-se não só em tamanho tablóide mas também no “standard”, que tinha o dobro da área. Mas não há dúvida: no Portugal da “longa noite fascista”, “Prince Valiant” publicou-se de forma inconcebivelmente luxuosa. Ainda hoje me entusiasmo quando penso na vibrante emoção que me provocou durante anos a busca das pranchas da série publicadas antes de eu ter aberto os olhos e ter começado a coleccioná-las. E volto a entusiasmar-me e emocionar-me!

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  3. Manuel Caldas
    Agradeço a tua visita, e o teu comentário. Como podes ver, para te fazer a vontade, já alterei um pouco o texto inicial, no que concerne àquela conversa sobre o "formato grande" em que a série "Príncipe Valente" foi publicada no jornal "O Primeiro de Janeiro".
    Não o fiz logo, para não pormenorizar demasiado, mas sei que esses detalhes, quando não claramente esclarecidos, provocam correcções, de qualquer forma bem recebidas por mim.
    Estive até para focar, além do termo "standard", outro que existe para formatos enormes, que é o "broadsheet". Não o fiz porque, para mim, o formato em que o jornal aí do Porto publicava a página do "Principe Valente" era suficientemente grande (e a cores!), para me dar bastante gozo visual..
    Grande abraço, grande Manuel Caldas.

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