Infelizmente, devido a problemas de tecnologia - compra da "Blogger" pela "Google" - apenas hoje, domingo, estou a ter possibilidade de escrever algo no blogue acerca do Festival de BD de Angoulême.
Antes de mais, quero dizer que estou muito desiludido com as alterações radicais sofridas - sofridas, eis o termo exacto! - pelo festival. Tenho-o visitado, grande parte das vezes para sobre ele escrever para revistas - Jornal da BD, Selecções BD (1ª e 2ª séries) - e jornais - Diário Popular, semanário O País - para onde escrevi diversas crónicas e reportagens.
Especialmente no que se refere à localização: em vez de estarem, como estiveram ao longo de vinte e cinco anos que venho a Angoulême, as duas grandes "bulles" (enormes tendas assim baptizadas por aquele termo que significa "balões da BD") que sempre existiram no centro histórico, na "Place New York" e "Champ de Mars", foram deslocadas para um local periférico chamado "Montauzier", bem mais distante do que o CNBDI-Centre National de la Bande Dessinée et de l'Image, (sim, a Amadora repetiu o nome) que era, até agora, o polo mais afastado do centro.
Embora esse pormenor possa parecer despiciendo, à primeira vista - e, que fique claro, o serviço de "navette", ou seja, um autocarro especial sempre em constantes viagens abarcando os diversos polos, esteve impecável -, para mim, do meu ponto de vista, significou a perda de factores extremamente importantes: uns, de ordem subjectiva, obviamente, têm a ver com o espírito e a atmosfera de festa que se sentiam fortemente, pormenores que, embora possam parecer pouco importantes, caracterizavam flagrantemente o evento; outros, de ordem objectiva, relacionam-se com a proximidade do público em geral que sempre observava com curiosidade os locais mais visíveis, e acabava por, de certa forma, aderir e respeitar a BD; e também com a constante movimentação dos "festivaliers", entre uma "bulle" e outra, o que dava àquela zona da cidade bulício e alegria, que se comunicava a toda a gente.
Neste momento, estou com a convicção de que me despeço de Angoulême, em definitivo, com alguma nostalgia. (*)Acabado o amargo intróito, resta-me incluir a lista de prémios e premiados.
Grande Prémio da Cidade de Angoulême - José Muñoz
Este prémio é outorgado em votação realizada pelo conjunto dos anteriores galardoados. O argentino José Muñoz, que já esteve em Portugal mais do que uma vez, é o criador, em conjunto com o seu argumentista habitual, Carlos Sampayo (*), da personagem Alack Sinner, divulgado inicialmente entre nós no jornal de BD Lobo Mau.
(*) Comentário a propósito:
Há algum tempo, num "post" em que falei sobre o fanzine "Mesinha de Cabeceira", ao mencionar as bandas desenhadas publicadas, por escrever de improviso - como praticamente, quase sempre faço - cometi a omissão (imperdoável, reconheço) de não indicar o nome de dois argumentistas. Penitenciei-me, invocando a meu favor o facto de eu próprio ser argumentista (muito pequeno, até agora, publicados, tenho apenas três argumentos e meio, neste último caso um que fiz a meias com o próprio desenhador) e, por conseguinte, seria de esperar o meu cuidado em respeitar os argumentistas, não repetindo a secundarização a que eles geralmente estão sujeitos.
Mas, mais uma vez, nesta distinção que acaba de se registar em relação a José Muñoz, se nota o papel subalterno que tradicionalmente lhes cabe: Carlos Sampayo, o autor dos argumentos das obras desenhadas por Muñoz (quando se fala de Alack Sinner, por exemplo, diz-se sempre "da autoria de Muñoz & Sampayo"), Sampayo, dizia, nem sequer foi mencionado no momento da entronização de Muñoz...
Prémio do Melhor Álbum:
Non Non Bâ, de Shigeru Mizuki
Pela primeira vez, uma mangá aparece como obra vencedora.
Shigeru Mizuki, veterano autor de oitenta e quatro anos, é considerado um mestre no Japão, embora o seu nome fosse praticamente desconhecido na Europa.
Prémios "Os Essenciais":
Black Hole, de Charles Burns
Lucille, de Ludovic Debeurme
Lupus, de Frederik Peeters
Le photographe, de Emmanuel Guibert e Didier Lefèvre
Pourquoi j'ai tué Pierre, de Olivier Ka e Alfred
Prémio Revelação:
Panier de Singe, de Jérôme Mulot e Florent Ruppert
Prémio do Património:
Sergent Laterreur, de Touïs e Frydman
Note-se que esta obra derrotou uma lista de nomeadas onde havia mais as seguintes cinco:
- Golgo 13, de Takao Saito (uma mangá)
- Little Nemo, de Winsor McCay (numa edição da Delcourt, feita na enorme dimensão "broasheet", exactamente igual à dos jornais americanos onde inicialmente a obra foi publicada)
- Hato, de Osamu Tezuka (outro autor japonês, este já bem nosso conhecido, logo, outra mangá)
- Service des cas fous, de Gébé
- Les vents de la colère, de Tatsuhiko Yamagami (mais uma mangá!)
Para quem ainda não se convenceu da importância que a BD japonesa está a alcançar, estas três mangás nomeadas para tão importante prémio deve ser suficientemente esclarecedora.
Prémio do público:
Pourquoi j'ai tué Pierre, de Olivier Ka e Alfred (premiado outra vez)
Prémio: Fanzines e Banda Desenhada alternativa:
Canicola, fanzine italiano de Bolonha
Prémios dos "partenaires" (editoras, entidades oficiais e privadas,) do Festival:
Grande Prémio RTL
Henry Désiré Landru, de Christophe Chabouté
Prémio René Goscinny:
Lucille, de Ludovic Debeurme
Prémio da Escola da Imagem (École de l'Iimage):
Ben Katchor
Num quadrante bem diferente, registo a homenagem prestada a Goscinny através da inauguração da Rue Goscinny (onde tive o gosto de estar presente) , atitude semelhante à que havia sido tomada em relação à existência da Rue Hergé, ambas localizadas em pontos centrais da cidade.
Nota importante:
As ilustrações das capas dos álbuns premiados podem ser vistos no site do Festival, no endereço:
http://www.bdangouleme.com/
(*) Comentário a posteriori:
Tive conhecimento, no ano seguinte, que devido à forte pressão do comércio local (que sentira a falta dos forasteiros durante aqueles quatro dias) e até de uma parte considerável dos "angoumoisins" (habituados à animação que transformava o pacato centro histórico de Angoulême num ambiente fervilhante), os poderes locais fizeram marcha atrás, e o núcleo do festival, que tinha sido deslocalizado para um longínquo descampado, voltou a ocupar os dois espaços nobres que sempre tinham sido seus.
Então porque não voltei? Aquele hiato arrefeceu-me, e no fundo eu já lá ia por inércia adquirida em vinte e cinco anos de particpação, em especial porque as revistas para onde tinha feito reportagens ou crónicas - o Jornal da BD e a [revista] Selecções BD (lª e 2ª séries) já tinham desaparecido, além de que, agora na internet, uma boa parte dos entusiastas da BD tinha acesso a todas as informações.
Por tudo isso, a partir de 2008, inclusive (estou a escrever isto em Janeiro de 2010), deixei de lá ir. Mas não garanto que num próximo ano não volte, nem que seja apenas para matar saudades..
Meu caro Geraldes Lino, eu nunca tive a sorte de ir a Angouleme, mas mais que não fosse através da selecção oficial e dos prémios atribuidos este ano dá realmente para ver que Angouleme já não é o que era.
ResponderEliminarA ideia com que fico é que a banda desenhada franco belga atravessa uma crise...também é desta opinião?
Tomem muita atenção ao traço e ao requinte da Angela Gouveia. Com mais apoio alcançar o estrelato!
ResponderEliminarSó foi pena que o caro anónimo ("anônimo" é a versão em português do Brasil que se usa aqui no blogue, não sei porquê) tivesse colocado este "comment" neste "post" relativo ao Festival de Angoulême, em vez de o ter feito no "post" relacionado com a banda desenhada da Ângela Gouveia no semanário Mundo Universitário.
ResponderEliminarCaro João Dias
ResponderEliminarA resposta à sua pergunta não pode ser apenas sim, não. Qualquer dessas hipóteses seria demasiado linear. Acontece que houve uma mudança técnica no blogue, o que destruiu a resposta, bastante longa, que eu ontem tinha escrito, e que, com desespero meu, não ficou registada. Hoje já tenho o problema resolvido, pus a resposta acima, curta, para testar novo código, e resultou. Em relação à resposta que lhe tinha dado, e que tentarei repetir, não dá para ser feita hoje, estou com o tempo demasiado curto. Ficará para outro dia.
o "anônimo" só aparece quando estás a ver a página em português (infelizmente só existe Português do Brazil). Se fores a http://www.blogger.com/start e no final da página mudares o Idioma para English, passa a aparecer anonymous
ResponderEliminarAss: o outro geraldes lino ;)
Ok...aguardo então a sua resposta Geraldes Lino!
ResponderEliminarObrigado, filhão, pelo esclarecimento. Por que será que o português do Brasil teve preferência, em detrimento da língua portuguesa de Portugal, para a nomenclatura adoptada? Isso é determinado pelos donos da Internet?
ResponderEliminarNão há donos da Internet, mas há muitos mais internautas brasileiros (se calhar em percentagem da população somos tantos como eles). E sobretudo porque o inglês deles é mais fraco (pelo facto de verem tudo dobrado) então têm quase todos os programas em Português do Brasil. É uma questão de números de pessoas...
ResponderEliminarHá algo de estranho em estar a comunicar com um "anonymous", o que não me impede de admitir que a sua opinião tem todo o ar de vir de alguém que sabe do que está a falar.
ResponderEliminarEmbora me considere um básico ao nível internético, esclareço que, quando falo de "donos da internet" me estou a referir às empresas que estão por trás da manutenção dos "sites" e dos "blogs", como, neste último caso, acontecia com a empresa Blogger, agora comprada pela Google.
Aliás, por causa das modificações introduzidas pelos novos "donos" da área onde se inclui o meu blogue, tenho tido imensas complicações: por exemplo, em Angoulême, não pude escrever nada acerca do festival. Ultrapassado esse problema, estou agora ainda na impossibilidade de ilustrar, como pretendia e sempre tenho feito, o "post" referente a Angoulême.
Gostava de ver a tal resposta que me prometeu caro Geraldes Lino.
ResponderEliminarE já agora o que pensa da atribuição do grande prémio a Munoz?
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