Banda desenhada numa só prancha, autoconclusiva, da autoria de Marco Mendes, no fanzine O Projecto de Fecundar a Lua
Uma das características dos fanzines é serem campos férteis para a imaginação, que muitas vezes se mostra logo no próprio título e na ilustração da capa. Esta é uma faceta de valor incomparável, que os distingue, pela positiva, das revistas - estas têm compromissos comerciais, não podem chocar a clientela, nem com o título nem com a imagem da capa (a menos que se trate de revistas pornográficas, mas isso já é outra conversa).
Veja-se como se intitula o fanzine sob apreciação: O Projecto de Fecundar a Lua. Como não sentir a sensação de um sorriso íntimo, de cumplicidade imediata com quem imagina um título destes. E a desconcertante capa, impossível em absoluto numa qualquer revista de bom tom (capa essa que pode ser vista no meu outro blogue Fanzines de Banda Desenhada), no endereço http://fanzinesdebandadesenhada.blogspot.com/
é mais um prova do que venho escrevendo e dizendo há muitos anos: os fanzines são os campos experimentais por excelência, são os espaços de liberdade porque sim, porque essa característica está na sua génese, eles abarcam e suportam toda a imaginação dos artistas mais irreverentes.
Inicia-se aqui uma banda desenhada em apenas duas pranchas, cada uma delas ocupada por imagem única (vinheta-prancha), em que o autor (Marco Mendes), usa uma das usuais e inteligentes convenções da BD, que é a de indicar que o falante está fora do campo visual. Percebe-se isso pelo facto de o apêndice do balão-fala apontar para fora da vinheta.
Infelizmente, este blogue já não tem a capacidade inicial de ampliar todas as imagens postadas, apenas amplia a que aparece no topo do "post". Por esse motivo, a fala das personagens, neste caso, ficam praticamente ilegíveis. Daí que eu tenha decidido reproduzir as legendas e as falas das personagens. Aqui vai a de Marco Mendes:
Legenda com o comentário do autor, neste caso também narrador:
"Não há nada mais deprimente do que o Porto no Verão. Enquanto não podemos ir de férias, eu e a Lígia ficamos em casa o dia todo a trabalhar. Ela estuda e escreve para o doutoramento e eu faço uns desenhecos, respondo a uns emails, pego num livro, mas tudo sem grande vontade.
O tempo está uma merda, ainda ontem choveu."
A seguir, no balão-fala, a personagem (fora de campo) diz:
"Lígia? Não curtes os meus sapatos? O André ontem fartou-se de gozar! Diz que parecem uns cascos!!"
Termina a curta banda desenhada com esta segunda vinheta-prancha, em que a personagem feminina (a também ilustradora Lígia Paz, muito bem retratada), sem tirar os olhos do écrã, termina o diálogo com uma ironia cúmplice, retorquindo:
"Têm um ar um bocado ortopédico, mas como tu és meio deficiente até nem te ficam mal..."
Para os interessados em ver mais algo deste fanzine (a capa, por exemplo), e da BD nele contida (e, já agora, o endereço do blogue do Marco Mendes), pode visitar o meu outro blogue, o Fanzines de Banda Desenhada, no endereço:
Caro Geraldes Lino,
ResponderEliminarMuito obrigado pelos elogios ao meu trabalho.
O Geraldes continua a ser uma das pessoas que mais faz pela divulgação da bd em Portugal. Com o rigor, a inteligência e abertura de espírito que já todos conhecemos. Bem haja!
Um abraço!
Marco Mendes