"Desenhos do Quotidiano" é o título da exposição composta por bandas desenhadas, ilustrações e pinturas de Carlos Barradas, inaugurada hoje em Oeiras, na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa.
Para quem tenha conhecido a revista Visão (a de BD, doze números editados entre Abril de 1975 e Maio de 1976) sabe que os seus pilares foram principalmente Victor Mesquita, Zé Paulo, Carlos Barradas, Pedro (Pedro Massano), Corujo Zíngaro, Isabel Lobinho, Duarte, Nuno Amorim, Pilar, Zepe, visionários que revolucionaram a Banda Desenhada em Portugal, realizando obras totalmente diversas do que até então se fizera, tanto pelo estilo como pelo conteúdo.
Na componente da banda desenhada - é disso que sempre estamos a falar neste blogue -, Carlos Barradas seleccionou pranchas de várias bedês da Visão, das obras "O Capital" e "O 13º Passageiro", ambas editadas directamente em álbum (a primeira a preto-e-branco, a segunda a cores), além da surpresa de se poderem ver pela primeira vez em público pranchas de "80 Anos de Jazz em Portugal", obra que fez parte do mestrado dele mas nunca publicada.
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Exposição BD
No programa da exposição "Desenhos do Quotidiano" há uma muito interessante autobiografia de Carlos Barradas, que aqui reproduzo, com a devida vénia ao meu amigo autor:
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CARLOS BARRADAS
Autobiobibliografia
Comecei a desenhar por volta dos 4 anos e ao tomar-lhe o gosto nunca mais parei. Depois foi uma despesona em lápis, papel, aguarelas, guaches, um ror de coisas que desequilibravam sempre o orçamento familiar mas que era compensado pelo gozo que me dava e o meu pai a protestar.Em Angola onde vivi a minha infância e adolescência não havia televisão e sendo filho único tinha que inventar as minhas próprias brincadeiras. Tive tempo para ler muita BD, ver filmes de coboiada e a praia, muita praia e muito mar, muita cabulice e o meu pai sempre a protestar.
Em 1973 depois de feita a tropa vim para Lisboa acabar o curso de Belas Artes e fui ficando e vendo e aprendendo e também o Conservatório no Curso de Cinema. Tudo pelo gozo que a descoberta das coisas me davam e o meu pai em Angola sempre a protestar porque queria filho advogado que era profissão séria e respeitável (Ele não conhecia alguns advogados).
Colaborei em quase tudo que era revista e jornal, no tempo em que era uma aventura lançar uma revista.
Na véspera de Natal de 1974, o Carlos Soares, ex-colega do Liceu D. João de Castro, jornalista e mais tarde correspondente da Agência Lusa em Roma fez-me uma proposta desonesta: e que tal fazermos uma revista de banda desenhada só com autores portugueses. Lá iniciámos os contactos com amigos e colegas do pincel, vasculhando a cidade de alto a baixo até que juntámos uma equipa de jeito e começámos a trabalhar. Lá fomos desenhando e construindo aquela que é hoje a única experiência em BD mais consistente e pensada só com autores portugueses que se transformou ao fim destes anos todos numa revista de culto, a revista Visão.
Depois a revista foi boicotada pelas suas estranhas e atrevidas histórias, pelo preço caríssimo de 20 escudos e até pela própria distribuidora que a colocava em locais remotos do Portugal de então. A redacção foi-se enchendo de sobras e assim a pouco e pouco foi-se esmorecendo o fulgor, o deles e o nosso, chegando ao número 12, não alcançando o 13 para não dar azar.
Depois foi um período a dar aulas de Design no ensino preparatório, ilustrações para livros infantis, a seguir a RTP como designer gráfico a criar genéricos para programas e animações a sério, à mão que não havia as modernices dos computadores, depois logo a seguir o concurso para realizadores, o impedimento de ir a concurso por questões burocráticas e finalmente ultrapassadas e por ironia do destino o 1º lugar no curso de realizadores da RTP.
Projectos bons, outros nem tanto, outros falhados, e assim se passaram 20 anos. Os últimos dois na prateleira e finalmente a rescisão do contrato e ala que se faz tarde!
Depois como Art Director numa empresa de produção e um canal codificado na TV Cabo. Em seguida a realização de uma novela durante um ano. Uff! Estudar alguma coisa, sentir curiosidade pelo que nos rodeia e ter acabado o mestrado.
Carlos Barradas
2011
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As imagens que ilustram este "post" não necessitam legendagem.
Todavia há um aspecto curioso em relação à prancha de BD: a que mostro aqui é a que consta da revista Visão, intitulada "Clave sem sol".
Mas na exposição acima indicada está a prancha original, e o título que lá consta é: "História sem dó". O que significa que, ao ser editada na revista, lhe mudaram o título. Curioso... Não me ocorreu esclarecer esta alteração, qual o motivo, e quem a fez. Tenciono esclarecer o pormenor.
Nota "a posteriori": Carlos Barradas deixou um comentário onde explica o que aconteceu.
Para quem tenha conhecido a revista Visão (a de BD, doze números editados entre Abril de 1975 e Maio de 1976) sabe que os seus pilares foram principalmente Victor Mesquita, Zé Paulo, Carlos Barradas, Pedro (Pedro Massano), Corujo Zíngaro, Isabel Lobinho, Duarte, Nuno Amorim, Pilar, Zepe, visionários que revolucionaram a Banda Desenhada em Portugal, realizando obras totalmente diversas do que até então se fizera, tanto pelo estilo como pelo conteúdo.
Na componente da banda desenhada - é disso que sempre estamos a falar neste blogue -, Carlos Barradas seleccionou pranchas de várias bedês da Visão, das obras "O Capital" e "O 13º Passageiro", ambas editadas directamente em álbum (a primeira a preto-e-branco, a segunda a cores), além da surpresa de se poderem ver pela primeira vez em público pranchas de "80 Anos de Jazz em Portugal", obra que fez parte do mestrado dele mas nunca publicada.
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Exposição BD
No programa da exposição "Desenhos do Quotidiano" há uma muito interessante autobiografia de Carlos Barradas, que aqui reproduzo, com a devida vénia ao meu amigo autor:
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CARLOS BARRADAS
Autobiobibliografia
Comecei a desenhar por volta dos 4 anos e ao tomar-lhe o gosto nunca mais parei. Depois foi uma despesona em lápis, papel, aguarelas, guaches, um ror de coisas que desequilibravam sempre o orçamento familiar mas que era compensado pelo gozo que me dava e o meu pai a protestar.Em Angola onde vivi a minha infância e adolescência não havia televisão e sendo filho único tinha que inventar as minhas próprias brincadeiras. Tive tempo para ler muita BD, ver filmes de coboiada e a praia, muita praia e muito mar, muita cabulice e o meu pai sempre a protestar.
Em 1973 depois de feita a tropa vim para Lisboa acabar o curso de Belas Artes e fui ficando e vendo e aprendendo e também o Conservatório no Curso de Cinema. Tudo pelo gozo que a descoberta das coisas me davam e o meu pai em Angola sempre a protestar porque queria filho advogado que era profissão séria e respeitável (Ele não conhecia alguns advogados).
Colaborei em quase tudo que era revista e jornal, no tempo em que era uma aventura lançar uma revista.
Na véspera de Natal de 1974, o Carlos Soares, ex-colega do Liceu D. João de Castro, jornalista e mais tarde correspondente da Agência Lusa em Roma fez-me uma proposta desonesta: e que tal fazermos uma revista de banda desenhada só com autores portugueses. Lá iniciámos os contactos com amigos e colegas do pincel, vasculhando a cidade de alto a baixo até que juntámos uma equipa de jeito e começámos a trabalhar. Lá fomos desenhando e construindo aquela que é hoje a única experiência em BD mais consistente e pensada só com autores portugueses que se transformou ao fim destes anos todos numa revista de culto, a revista Visão.
Depois a revista foi boicotada pelas suas estranhas e atrevidas histórias, pelo preço caríssimo de 20 escudos e até pela própria distribuidora que a colocava em locais remotos do Portugal de então. A redacção foi-se enchendo de sobras e assim a pouco e pouco foi-se esmorecendo o fulgor, o deles e o nosso, chegando ao número 12, não alcançando o 13 para não dar azar.
Depois foi um período a dar aulas de Design no ensino preparatório, ilustrações para livros infantis, a seguir a RTP como designer gráfico a criar genéricos para programas e animações a sério, à mão que não havia as modernices dos computadores, depois logo a seguir o concurso para realizadores, o impedimento de ir a concurso por questões burocráticas e finalmente ultrapassadas e por ironia do destino o 1º lugar no curso de realizadores da RTP.
Projectos bons, outros nem tanto, outros falhados, e assim se passaram 20 anos. Os últimos dois na prateleira e finalmente a rescisão do contrato e ala que se faz tarde!
Depois como Art Director numa empresa de produção e um canal codificado na TV Cabo. Em seguida a realização de uma novela durante um ano. Uff! Estudar alguma coisa, sentir curiosidade pelo que nos rodeia e ter acabado o mestrado.
Carlos Barradas
2011
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As imagens que ilustram este "post" não necessitam legendagem.
Todavia há um aspecto curioso em relação à prancha de BD: a que mostro aqui é a que consta da revista Visão, intitulada "Clave sem sol".
Mas na exposição acima indicada está a prancha original, e o título que lá consta é: "História sem dó". O que significa que, ao ser editada na revista, lhe mudaram o título. Curioso... Não me ocorreu esclarecer esta alteração, qual o motivo, e quem a fez. Tenciono esclarecer o pormenor.
Nota "a posteriori": Carlos Barradas deixou um comentário onde explica o que aconteceu.
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Os interessados em ver as postagens anteriores destes temas conseguirão fazê-lo clicando no item Biografias ou no outro item, Exposições BD avulsas, visíveis no rodapé
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O responsável pela mudança de nome da história Sem Dó para Clave de Sol foi o Victor Mesquita e já não me lembro qual foi o critério!
ResponderEliminarAbraço
Carlos Barradas