Aviso desde já que não se trata, de facto, de uma exposição de banda desenhada a que vai estar, a partir de amanhã, dia 7 de Julho (até 14 do mesmo mês), na Biblioteca Museu da República e Resistência.
Mas José Vilhena, que me merece incondicional admiração e respeito, é o nome de um criativo contestatário em diversas áreas da cultura: na caricatura, no cartune, nos textos críticos e demolidores, mas, lá está, também nas suas bandas desenhadas curtas, geralmente de carácter brejeiro e humorístico (presentes em numerosos pastiches dedicados às personagens das séries de BD Peanuts e Mafalda, impagáveis em absoluto), espalhadas pelas várias revistas de que tem sido editor, Gaiola Aberta, Fala Barato, O Cavaco, O Moralista, entre outras.
Como é óbvio, se outras razões pertinentes não houvesse, bastaria essa sua faceta de autor de BD, esporádico mas com carácter e talento, para, com muita consideração se registasse neste blogue o nome de Vilhena, e se desse a devida relevância à exposição que, justificadamente, lhe é dedicada, "que comporta praticamente 50 anos de actividade editorial, essencialmente livros e revistas, e alguns relatórios de leitura da censura, que, regra geral, são no mínimo hilariantes", conforme texto de Alexandre Rodrigues, responsável pela iniciativa. É também deste estudioso da obra de Vilhena o seguinte texto:
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VILHENA
Síntese biográfica
Editor, escritor, cartunista, humorista, ilustrador e pintor português, JOSÉ Alfredo VILHENA Rodrigues nasce em Figueira de Castelo Rodrigo a 7 de Julho de 1927.
Filho de uma professora primária e de um "pequeno terratenente", passa a sua infância em Freixedas, concelho de Pinhel com as suas irmãs. Aos dez anos vai estudar para Lisboa até ao terceiro ano do liceu e depois para o Porto onde conclui o ensino liceal.
Interessado desde muito cedo pelo desenho e pintura, ingressa na Escola de Belas-Artes do Porto escolhendo arquitectura em vez de pintura por aquela ser "uma profissão". Contudo, começa a desenhar para jornais e não chega a concluir o curso.
Após o serviço militar, no início dos anos 1950, regressa a Lisboa e fixa-se em frente aos armazéns Grandela, na rua do Carmo e começa a publicar desenhos nos jornais «Diário de Lisboa» e «Diário Popular», e mais tarde nas revistas «Cara Alegre» e «O Mundo Ri».
Em simultâneo, publica livros. No início são essencialmente compilações, antologias e traduções mas, progressivamente, a produção original ganha força, especialmente após o fim de «O Mundo Ri», em 1966. É a partir daqui que solidifica a sua máquina de distribuição e cimenta a marca "Vilhena". A produção entra em velocidade de cruzeiro (praticamente um livro por mês) chegando a publicar catorze livros num único ano (1972).
Os textos e ilustrações que publica, alguns deles usando a censura como tema de paródia, provocam-lhe problemas com a polícia e com a PIDE, que lhe apreende sistematicamente as suas obras e lhe proporciona algumas estadias na prisão (nomeadamente em 1964 e 1966).
Os problemas com a censura e a PIDE tornam-no muito popular entre os leitores chegando a fazer tiragens de 40 a 50 mil exemplares de alguns dos seus livros. Segundo o relatório da Comissão do Livro Negro sobre o Regime Fascista, José Vilhena é o autor com mais obras proibidas (24 livros, 6 fascículos da sua grande enciclopédia e 4 traduções).
Em 20 anos, de 1954 até ao 25 de abril de 1974 Vilhena redige, publica e distribui mais de 50 livros originais e mais uma vintena de traduções e compilações.
A sua máquina está tão bem oleada que apenas vinte dias depois do 25 de Abril, Vilhena lança a «Gaiola Aberta», uma revista quinzenal com um grande impacto social e enorme sucesso de vendas, chegando a fazer tiragens de 150 mil exemplares durante o PREC.
Entre 1983 e 1987, suspende a actividade editorial e dedica-se em exclusivo ao negócio da restauração e diversão nocturna.
Em Julho de 1987, após ter acabado com os negócios de restauração, volta à carga com o jornal mensal «O Fala Barato», mas regressa rapidamente ao formato revista que ele bem conhece.
Inspirando-se na revista de Bordalo Pinheiro «O António Maria» baptizado com o nome do presidente da república, Vilhena acaba com o «Fala Barato» e lança, em Outubro de 1994, «O Cavaco» em alusão ao primeiro-ministro.
Cavaco Silva acaba o seu mandato e Vilhena lança «O Marginal» mas, devido à fraca adesão do público, retira rapidamente este título substituindo-o por «O Moralista».
Em 1996 a Câmara de Lisboa patrocina uma exposição da sua pintura no palácio Galveias.
Em Janeiro de 2003, a Galeria Barata promove uma exposição com mais de 100 obras de pintura e ilustração.
Em Maio do mesmo ano, Vilhena lança a «Gaiola Aberta», 2ª série, que manterá até meados de 2006.
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