segunda-feira, fevereiro 11, 2013

Livros Sobre BD - Os Meus Livros (XII)

  


 









The World Encyclopedia of Comics, obra editada em Setembro de 1977, foi a primeira enciclopédia dedicada à BD de que tive conhecimento quando, em 1978, iniciei as minhas andanças por eventos estrangeiros centrados na banda desenhada - numa altura em que Portugal ainda estava vazio de eventos similares. Concretamente, nesse ano, estive presente em Lucca, Itália, no Salone Internazionale dei Comics, del Cinema d'Animazione e dell'Illustrazione, onde participei com um trabalho executado em diapositivos sobre o tema "Banda Desenhada Portuguesa Moderna".
E nos dias felizes que passei naquele evento, que me maravilhou por ser o primeiro que vivenciei, tive a sorte de poder comprar a citada enciclopédia ao próprio editor, o franco-americano Maurice Horn, que tinha levado para Lucca apenas alguns exemplares. 
É uma das minhas preciosidades, a que me liga uma grande afectividade, tanto pela nostalgia do tempo como do local - a estranha e acolhedora cidade muralhada de Lucca -, como pela alegria extrema de ter podido comprar um tipo de livro que nunca tinha imaginado existir. 
Já não me recordo quanto me custou em liras italianas - na paridade muitíssimo baixa na altura, devem ter sido uns milhares -, mas a edição americana cartonada custava, como se pode ver na imagem da capa, escrito dentro de um balão de BD: $30 in hardcover edition (o meu exemplar é em softcover, capa mole, enfim, brochado). 
Inicia-se a enciclopédia por uma breve história da banda desenhada mundial e, no início desse texto, lê-se o seguinte:
"The following essay represents the first attempt at a history of world comic art. The only other international history of the comics, "A History of The Comic Strip", not only fails to deal with comic-books, but is largely confined to the productions of the United States and Western Europe. This account presents a more balanced world picture, and while the American and European productions receive the largest share of attention, reflecting their preeminent position in the world of comics, they are placed in a wider context that includes the very important contributions made by Japanese comics, as well as those from countries of Asia, Latin America and the Pacific, in a truly global overview of the 80 or more years of comic art (...)".

Fica assim registado curto excerto de um aprofundado texto de cinquenta e quatro páginas muito bem ilustrado, que inclui "A World Chronology of Comic Art - From the 18th Century to the Present"
.
Este texto introdutório inclui elementos históricos bastante valiosos, todavia não é esse o escopo essencial da obra.
De facto, a componente enciclopédica (que alterna autores, heróis e séries) tem o seu início apenas na página 63, com o subtítulo "Alphabetic Entries".
E a começar o alfabeto, encontra-se entrada para um autor norueguês:

Aasnes Hakon (1943 -     ) de que reproduzo uma linha:
"Norwegian comic artist, born February 13, 1943 in Oslo (...)", autor pouco conhecido por cá, como acontece com a maioria dos nórdicos.
Mas logo de seguida, temos o título de uma série , Abbie an'Slats (U.S.), indicando datas e autores:
Abbie an'Slats was the the 1937 creation of young Al Capp, fresh from his success with Li'l Abner, and Raeburn van Buren, an accomplished magazine illustrator, who decided to enter comics partly on the strength of Capp's prophetic assertion that radio would kill the popular weeklies.
Capp wrote the continuities for the first nine years,followed by his brother Elliot Caplin (...)".

(Nota deste bloguer: O nome verdadeiro de Al Capp era Alfred Gerald Caplin, e irá aparecer o verbete respectivo que indica: Capp, Al (1909-      ).
Portanto, à data da edição desta enciclopédia, Setembro de 1977, Capp iria viver apenas mais dois meses. Isso porque inseri naquela página um recorte do desaparecido vespertino lisboeta A Capital, datado de 6 de Novembro de 1980, em que aparece a notícia: "Faleceu ontem, ao fim da tarde (...) Al Capp, cujo verdadeiro nome era Alfred Gerald Chaplin (...)". 
O jornalista de serviço, não necessariamente conhecedor de BD, transformou o apelido Caplin em Chaplin, presume-se que bem mais conhecido dele...).

Seguidamente, depara-se-nos a figura de uma personagem europeia, francesa:
Achille Talon, com argumento e desenho de Greg (Michel Regnier), o verborreico "herói" que tão popular se tornou em Portugal, nas páginas da [revista] Tintin.
Após um herói humorístico - porque respeitando a ordem alfabética - encontra-se um grande dos "comics", Adams, Neal Adams (1941-     ).

Nota do bloger:  Tive o prazer de o conhecer pessoalmente em Lucca, em 1980, tendo-me oferecido um desenho com autógrafo (ver na coluna das etiquetas, no item "Autógrafos desenhados", no "post" datado de 9 Dez. 2009.

Seguem-se autores italianos (Albertarelli, Rino), filipinos (Alcala, Alfred), personagem Alix, do autor francês Jacques Martin, Alley Oop, americano (começado a publicar em Portugal na revista Mundo de Aventuras sob o nome de "Trucutu", e conhecido no Brasil por "Brucutu", com o significado de sujeito grosseiro...), Ally Slopper ("the first British strip hero (or rather anti-hero), Alexander Slopper F.O.M. ("Friend of Man"), Ally for short (como é explicado no verbete).

Mais, ao acaso, na letra A: 
Amazing Man (U.S.) alias A-Man, was created by Bill Everett and made its first appearance in Centaur's Amazing Man number five, in September, 1939 (...)"
Amok (Italy). Cito o texto: 
"In the wake of the super-hero comic books which the american troops brought with them to Italy, many cartoonists were influenced by their American colleagues and produced characters that were similar in theme and artwork to those of the American comic scene. So, partly as imitations of the super-heroes, partly as nostalgic rememberances of The Phantom, a whole slew of masked crime-fighters appeared in the months following the end of WWII: few of these are still remembered today.
Amok (subtitlled "Il Gigante Mascherato" - The Masked Giant) is certainly one of the most celebrated. It appeared for the first time on the newsstands on October 17, 1947. It was written by Cesare Solini and drawn by Antonio Canale (who were respectively signing their work with the pen-names "Phil Anderson" and "Tony Chan"(...)"
Não falta também um herói de origem alemã, Andrax, seguido por, alguns verbetes depois, pelo britânico Andy Capp, anti-herói machista com laivos de "chulo", criado por Smithe (Reginald Smithe), popularizado entre nós pelo castiço aportuguesamento de Zé do Boné, publicado durante anos pelo jornal nortenho O Primeiro de Janeiro.
Ainda na letra A aparece a engraçada heroína infantil espanhola Anita Diminuta, criada em 2 de Abril de 1941, no primeiro número da revista para raparigas Mis Chicas, pelo celebrado autor espanhol Jesús Blasco. Esta personagem foi divulgada pelo suplemento A Formiga que fazia parte de uma das mais populares publicações de histórias aos quadadinhos portugueses, O Mosquito, editado em Lisboa.
Fazendo jus à abrangência desta enciclopédia americana, não poderia faltar heróis ou heroínas do Japão (isto em 1977, repare-se), como é o caso de Anmitsu Hime (Princesa Anmitsu), heroína criada por Shosuke Kuragane, que apareceu pela primeira vez em Maio de 1949 na revista mensal Shojo.
Algumas páginas à frente há mais uma personagem japonesa, desta feita um herói, Ashita no Joe, da autoria de Tetsuya Chiba (desenhador) e Asao Takamori (argumentista), começado a publicar no magazine semanal Shonen. "Ashita no Joe" acaba por ter o nome americanizado para Joe Yabuki, e populariza-se como pugilista, embora que, ao invés dos jogadores de boxe americanos, este japonês seja humanizado, e nem sempre saía vencedor dos seus combates.
Asso di Picche (Itália), surgido em fins de 1945, é um dos inúmeros heróis mascarados que surgem nos magazines italianos dedicados aos "fumetti" no pós-guerra, criado por Hugo Pratt, um pouco à maneira do "Spirit" de Will Eisner.
Astérix não podia faltar neste início alfabético. O verbete começa por registar a autoria - René Goscinny (argumento e guião), Albert Uderzo (desenho), o título da primeira aventura, "Astérix le Gaulois", e o título da revista semanal de BD, a Pilote, cujo número inicial data de 29 de Outubro de 1959.
Avengers, The (U.S.), grupo de heróis - que inicialmente incluía Thor, Iron Man, The Wasp, The Hulk e Ant-Man - foi criado em co-autoria pelo autor/artista Jack Kirby e pelo argumentista/guionista Stan Lee, em Setembro de 1963.
É quase o fim da letra A. Dela apenas registei alguns curtos excertos de artigos sobre uns poucos heróis e respectivos autores, que fazem parte do enorme acervo literário desta volumosa obra com 784 páginas.
As poucas imagens que ilustram a presente postagem são insuficientes para dar uma ideia da vastidão de autores e heróis abrangidos pela selecção feita pelo editor e seus colaboradores de diversas nacionalidades.
Daí que este"post" seja numerado (1 de 2), implicando que, em breve, voltarei a esmiuçar esta preciosidade da minha colecção.      

Tão extenso e abrangente livro, editado por Maurice Horn, teve o contributo de quinze estudiosos da BD, que assinam simplesmente com as iniciais dos nomes as centenas de verbetes dedicados a autores e personagens.
Eis os nomes e nacionalidades desses especialistas, pela ordem alfabética com que estão registados no início da enciclopédia:
.
Manuel Auad - Filipinas
Bill Blackbeard - E.U.A.
Gianni Bono - Itália
Joe Brancatelli - E.U.A.   
Mark Evanier - E.U.A.
Wolfgang Fuchs - Alemanha
Luis Gasca - Espanha
Denis Gifford - Inglaterra
Peter Harris - Canadá
Maurice Horn - França/E.U.A.
Orvy Jundis - Filipinas
Hisao Kato - Japão
Richard Marschall - E.U.A.
Ervin Rustemagic - Jugoslávia
John Ryan - Austrália
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Uma nota de estranheza e desagrado: não existe referência a qualquer autor português, alguns já bem conceituados à data da edição (Eduardo Teixeira Coelho, Fernando Bento, Vítor Péon, José Garcês, José Ruy, ou do pioneiro Rafael Bordalo Pinheiro, bem como de nomes representativos da nossa figuração narrativa como Stuart, Botelho, Emmerico Nunes, Cottinelli Telmo, e tantos outros) numa enciclopédia que regista nomes de autores de grande número de países.
Algo estranho, porquanto Vasco Granja já ia a Lucca há alguns anos, em representação da Editora/Livraria Bertrand, e conhecia bem Maurice Horn.  

Embora não sirva de consolação, também fui detectando nesta edição inicial da enciclopédia (que já tem uma 2ª edição, datada de 1999), faltas de vários nomes importantes da BD mundial, casos de: De La Fuente, Victor; Gillon, Paul; Jiji, Robert; Palacios, Antonio Hernandez; Tardi, Jacques; Toppi, Sergio; e até da heroína Scarlett Dream.

Personagens e autores (só de B a D) representados pelas imagens que ilustram o "post":

1. Capa da enciclopédia
2. Brick Bradford, de Clarence Gray (desenhos) e William Ritt (argumento e guião) 
3. Heros the Spartan, de Frank Bellamy (desenho) e Tom Tully (argumento e guião)
4. Capa de "comic book" desenhada por Robert  Crumb
5. Connie, de Frank Godwin 
6. Dick Tracy, de Chester Gould
7. A primeira página da letra A, da qual faço extratos de alguns textos biográficos 

(A fim de possibilitar a legibilidade desta citada página, basta clicar duas vezes sobre o texto, sendo a segunda quando o cursor toma a forma de uma lente - peço desculpa aos blogueres já iniciados, mas há sempre visitas de iniciantes).

A presente postagem é (PARTE 1 DE 3)  
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Os visitantes deste blogue que estiverem interessados em ver os onze "posts" anteriores deste tema, inclusive os três dedicados à obra The Smithsonian Collection of Newspapers Comics - 1ª e 2ª fracção (a 1ª inclui a capa do livro), poderão fazê-lo clicando sobre o item Livros sobre Banda Desenhada-Os meus Livros visível no rodapé

3 comentários:

  1. Geraldes Lino

    Aprecio obras do género e tenho algumas: umas maiores, outras menores, em português, francês e inglês.
    O problema destes registos é a actualização. Há sempre novos autores, novas personagens e a coisa parou onde parou. O editor podia fazer de 5 em 5 anos as actualizações e emendas, mas quem compra o corpo da obra, dificilmente adquire anexos.
    Do melhor que tenho, é uma francesa, o Dictionnaire Encyclopedique des Heros e Auteurs de BD, em 3 volumes, com 900 páginas cada um, de Henri Filippini; tenho também um Larousse - Bande Dessinée.
    Este que reproduzes não tenho. Concordo que de 1977 para agora muita coisa aconteceu. No entanto, não deixa de ser uma obra interessante, mesmo com as omissões citadas dos autores portugueses, que não abonam o (des(conhecimento) dos enciclopedistas.

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  2. Santos Costa

    Constato que tens também uma boa bibliografia especializada de BD. Outra coisa não esperaria de ti, não só autor de BD como pessoa preocupada em estar devidamente informada.

    Tens plena razão no que concerne às actualizações deste tipo de obras.

    Tão pertinente é a tua observação, e tanta noção dela têm os estudiosos enciclopedistas e editores que, em 1998, foi publicada uma nova edição, "revised & updated", que foi aumentada com mais de cerca de 200 páginas, e que também adquiri.

    Aliás, nesta primeira edição a que fiz agora referência, há outras omissões, incompreensíveis, de grandes autores estrangeiros, que me esqueci de referir, mas que não desisti ainda de as incluir (embora já ninguém as vá ler).

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  3. Santos Costa

    E o que não abona mesmo nada é a omissão, com cariz de ser propositada (ajuste de contas?), de alguns nomes de autores estrangeiros de nomeada, casos gritantes de Victor de la Fuente, Paul Gillon, Robert Jiji, Antonio Hernandez Palacios, Jacques Tardi, Sergio Toppi...
    E foram os que encontrei, em consultas de acaso, nos anos seguintes a ter comprado o livro.

    (Não deves ter visto estes nomes, porque os escrevi no fim da postagem, após tê-la dado por terminada, devido a mais tarde ter encontrado dentro da enciclopédia um papel com um comentário meu a esse respeito).

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