quarta-feira, setembro 07, 2016

Shiva's Rigal, um herói de BD às tiras












Lança-Guerreiro é autor de BD, ilustrador e caricaturista nas horas vagas que lhe sobejam da sua actividade de professor.

Mas convém esclarecer que, até agora, enquanto autor de BD, as suas bandas desenhadas estão na gaveta, como é hábito dizer-se. 
Na realidade, estão até bem acondicionadas num portefólio, e foi aí que tive a oportunidade de conhecer o seu herói, melhor dizendo, o seu desastrado anti-herói Shivas's Rigal, o Bardo, cuja actividade principal é a tentativa de conquistar, pela música, inacessíveis beldades que cobiça, tentativas essas sempre frustradas de formas hilariantes, por vezes dolorosas, devido a reacções algo violentas de algumas das citadas beldades, ou de fortalhaços protectores.

BD em tiras estritamente cómicas é faceta escassamente desenvolvida por autores portugueses (*). Lança-Guerreiro vem assim juntar-se aos poucos que se dedicam a esta vertente da banda desenhada.

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LANÇA-GUERREIRO

Autobiobibliografia

Nascido numa pequena vila debruçada sobre o Tejo (Vila Nova da Barquinha, 1964), no distrito de Santarém, sempre tive uma ligação com as imagens que ilustravam os livros da escola ou da biblioteca escolar, mais tarde a municipal, que frequentava assiduamente para devorar páginas de aventuras, umas ilustradas, outras somente imaginadas e recriadas em imagens enquanto saboreava a leitura dos “júlio verne” ou dos “salgaris”. 

Mas o meu encontro com as bandas desenhadas das revistas, que então podia ler na escola primária, com autorização especial da professora, foi o momento mais fascinante e o despertar do meu gosto pela 9ª arte, que desde então passei a ler e a colecionar. Para minha felicidade, nessa altura da minha infância, banda desenhada e revistas de BD era coisa que abundava, graças à Agência Portuguesa de Revistas e ao amor incondicional que o editor Roussado Pinto teve na divulgação de todos aqueles heróis de papel que preencheram esta fase da minha existência e foram o motivo de grandes aventuras imitativas, e também alguns ralhetes dos progenitores, quando a banda desenhada era ainda vista como uma arte menor e desviante do reto caminho a que um jovem tinha de se dedicar para ser homem. Eram outros tempos.

Tomei contacto com muitos heróis de papel, dos mais diversos: os personagens da Disney da Abril, os clássicos americanos do “Mundo de Aventuras” e de “O Grilo”, a escola franco-belga com as revistas “Tintin” e “Spirou”, os comics da Marvel e da DC, e também com os fumetti, que na altura não sabia que se chamavam assim, com o Tex, o Zagor e o Mister No, que se destacavam de entre aqueles a que chamávamos “os livros de cowboys”, dos muitos que então havia.

Talvez este meu fascínio pela banda desenhada me tenha levado ao gosto de desenhar “os meus bonecos”, que carinhosamente ainda guardo como lembrança desses tempos idos de juventude. Estranhamente, um dos meus primeiros desenhos foi um cowboy num saloon. Seria influência de Tex Willer? Já não me lembro, mas ainda tenho esse desenho, algures… 


Mais tarde, quando andava no liceu, fiz alguns desenhos, ilustrações e BD que publiquei em jornais escolares e regionais, os “lá da terra”. De entre estes destaco a criação e edição do fanzine escolar “Preto no Branco” (1982), “O Reguila” (1982, revista do Agrupamento 582 do CNE), nos jornais “O Entroncamento” (1984) e “Almourol” (1989). 

Já na faculdade, em Coimbra, para além das caricaturas que fiz para os livros de curso dos finalistas, também participei na aventura da publicação do fanzine BDMIX, do qual acho que só saiu um número, em colaboração com os então também estudantes de faculdade Fernando Correia e João Lameiras, para além da participação na revista “Sic Itur” (1990), publicada pelo Departamento de Estudos Clássicos da FLUC. Nesta altura, ilustrei também alguns livros de poesia, dos quais destaco “Ficta Imagem” e “Quasi Encontro” (1992).

Fui participando em algumas exposições coletivas de pintura e criando as minhas BD que, ou por falta de tempo ou dispersão por outras atividades, foram ficando no fundo do baú, umas completas, outras inacabadas. 
Às vezes penso que se porventura as tivesse divulgado, talvez pudesse ter feito algo no campo da BD. Mas não foi esse o caminho trilhado para a aventura da vida. No entanto, continuo a trabalhar nesta área da ilustração e da BD, tendo produzido novos trabalhos que, espero, possa vir a divulgar e/ou publicar algum dia destes.

Como hobby, sou um viciado consumidor de BD e colecionador inveterado e, por isso, dói-me a alma quando vejo alguma revista de quadradinhos desaparecer da vida dos seus leitores. E, infelizmente, ao longo dos anos é o que mais tem acontecido. 


Mas enquanto na nossa memória durar a lembrança desses inúmeros heróis e das suas extraordinárias façanhas e verosímeis aventuras, eles e os seus criadores nunca morrerão para nós.

Acabei por falar mais dos personagens de BD do que de mim? Talvez… porque, enquanto leitor, eles serão sempre mais importantes do que eu; e, enquanto “fazedor de bonecos”, talvez os meus desenhos falem por mim melhor do que eu.


António José Lança-Guerreiro

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(*) Nelson Martins desde 2010 faz tiras humorísticas no sítio http://www.seguranet.pt/pt/tiras-bd-seguranet 

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