Nos troféus atribuídos pelo júri dos Prémios Nacionais de Banda Desenhada-PNBD, uma valência do Amadora BD - Festival Internacional de Banda Desenhada, houve uma obra erroneamente nomeada para a categoria de "Melhor Fanzine": o álbum Shock, uma publicação comercial.
O alegado erro, que ocasionou a indevida atribuição do prémio, deveu-se ao facto de o júri não ter tido em conta que esta edição se tratava de um álbum das Edições El Pep - chancela comercial/profissional de Pedro Pereira, conhecido pelo pseudónimo Pepedelrey - concebido como homenagem ao editautor amador Estrompa, e ao seu fanzine Shock.
Shock foi de facto um fanzine enquanto editado por amadores, inicialmente por Luiz Beira, seu criador, que editou o nº0, experimental, em 8 de Julho de 1983, e posteriormente, durante anos, por José João Amaral Estrompa (1), que o tornou num fanzine de grande qualidade, tanto na imagem gráfica como no nível do conteúdo, para o qual ele criou o seu herói predilecto Tornado 1989, nascido numa banda desenhada curta, de prancha única, exposta no evento Sobreda BD 1989, em Março desse ano, daí o nome da personagem.
Convém esclarecer que não foi Pedro Pereira, aliás Pepedelrey, responsável editorial das Edições El Pep, quem enviou o álbum para o júri dos PNBD,por conseguinte não foi ele quem provocou o erro.
Em relação aos fanzines propriamente ditos, são os faneditores que têm de enviar seis exemplares para serem distribuídos aos membros do júri (2) para que cada um deles possa fazer a sua própria análise comparativa.
Na circunstância, como não foi a editora El Pep a enviar a peça, deduz-se que terá sido alguém do júri a tomar a iniciativa de propor a sua inclusão nas publicações editadas por amadores, caso dos fanzines.
De facto, os membros do júri têm a prerrogativa de poder propor a inclusão nas obras nomeadas para os PNBD algum zine que considerem com qualidade suficiente, o que já aconteceu em ano anterior, designadamente com uma edição de Manuel Caldas.
Em suma: o prémio de "Melhor Fanzine", atribuído ao álbum intitulado Shock, foi fruto de uma decisão errónea (3), tendo em consideração que o conceito de fanzine, estabelecido desde há décadas, implica que quem o edita seja um amador ou grupo de amadores, ou uma entidade cultural sem fins lucrativos, o que exclui, obviamente qualquer editora comercial, por pequena que seja, como acontece com as Edições El Pep.
Já houve quem apontasse para o facto de a editora El Pep não ter feito, nesta sua edição, o registo ISBN nem o depósito legal. Ora o ISBN não é obrigatório por lei, mas é pago, e a El Pep, editora pequena, recusa-se a pagar, porque não acha justo estar sujeita a idêntico pagamento que uma grande editora.
Mas, a fim de provar que não é o facto de ter ou não ter registo de ISBN que altera a condição a qualquer publicação, acerscento: Eu editei um fanzine intitulado "Novas "fitas" de Juca & Zeca", em que resolvi registar o ISBN, a fim de provar que esse pormenor não alteraria o conceito, ou seja, a peça não deixou de ser fanzine, porque eu sou um editor amador, não paguei aos vários colaboradores, e não editei com intenção de ter lucro. E esta edição do Shock não deixou de ser um álbum, ou uma revista, apenas por não ter o ISBN, o que determina a condição da publicação tem a ver com o facto de a El Pep ser uma editora com a chancela legalizada.
(1) Escrevo o nome por extenso para evitar acontecer que haja quem pense que Estrompa seja um pseudónimo, como houve quem chegasse a pensar há uns anos.
(2) A propósito dos seis exemplares que os amadores editores de fanzines têm de enviar para a organização dos PNBD, há muito que estes (incluindo-me eu próprio, em especial com o Efeméride) se queixam, visto que as tiragens que fazem são geralmente exíguas.
Sabendo-se que o júri dos PNBD é constituído por quatro elementos - desta vez fizeram parte Nelson Dona, Sandy Gageiro, Luís Salvado e Marco Mendes -, e ficando a organização com um exemplar para o seu acervo, conclui-se que bastarão cinco exemplares para o efeito, a menos que haja necessidade de mais um exemplar para qualquer finalidade que desconheço.
(3) Já tinha chamado a atenção para o erro no post
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Creio que um dos factores que poderá ter pesado na decisão do júri terá sido de as publicações da El Pep não terem ISBN, e que por isso, por um certo prisma, podem ser consideradas "auto-editadas" ou "de fãs" ou "amadoras".
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