terça-feira, dezembro 20, 2016

Críticas e Notícias Sobre BD na Imprensa (XXX) - Autores portugueses fazem BD para os States

Wonder Woman, de Miguel Mendonça.  
À esquerda, o desenho inicial a lápis; à direita, a arte-final (tintagem e colorização)


Num artigo de página inteira, na rubrica Cultura do jornal Público de hoje - 20 de Dezembro, 3ªfeira -, a jornalista Maria João Monteiro desenvolve o tema "A banda desenhada americana também tem mão portuguesa", debruçando-se sobre a colaboração de autores portugueses de BD que, cito, "pelo menos desde 2008 que conhecidos títulos de banda desenhada como Avengers, Agent Venon e Wonder Woman têm também mão portuguesa". 

E nomeia André Lima Araújo, Jorge Coelho e Miguel Mendonça, um trio de inquestionável categoria, que participou no painel Portugueses na Indústria Americana, na edição deste ano da Comic Con Portugal, uma popular convenção ao estilo americano, na sua terceira edição.

É um bom trabalho sobre BD, em que a jornalista vai ouvindo as opiniões dos três categorizados autores, e que contribui para chamar a atenção dos leitores daquele jornal no que diz respeito à situação - neste momento, favorável - dos vários banda-desenhistas profissionais portugueses que trabalham directamente, via internet, para a indústria americana dos comics. 

Claro que, aos olhos dos especialistas de BD, o artigo evidencia lacunas no historial da colaboração dos nossos autores com as grandes editoras americanas, a começar pelo pormenor de a data de início ter sido antes da indicada no artigo (2008), visto que Miguel Montenegro colaborou com a Marvel Comics Entertainment em 2006, na série Red Prophet.

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Com a devida vénia ao jornal e à jornalista, a seguir reproduzo na sua totalidade o artigo, que vale a pena ler.

A banda desenhada americana
também tem mão portuguesa

É certo e sabido que as maiores histórias do repertório geek surgiram em grandes estúdios de editoras americanas como a Marvel e a DC Comics, mas pelo menos desde 2008 que conhecidos títulos de banda desenhada como Avengers, Agent Venom e Wonder Woman têm também mão portuguesa. André Lima Araújo, Jorge Coelho e Miguel Mendonça são apenas três dos nomes que conseguiram abrir caminho na indústria americana e falaram sobre a sua experiência no painel Portugueses na indústria americana, na terceira edição da Comic Con Portugal.
  Os três artistas partilham a opinião de que o mais importante para se conseguir ter sucesso na área é frequentar, sempre que possível, as convenções e outros eventos de banda desenhada e fazer contactos. Foi assim que começou Jorge Coelho, que depois de um curso de Artes Gráficas e Comunicação na Escola António Arroio, em Lisboa, passou cinco anos a mostrar os seus trabalhos. "Só depois de toda essa insistência é que um editor da Marvel me disse que eu estava pronto para trabalhar", afirmou o artista. Esse editor era C.B. Cebulski, que já se tinha interessado pelo trabalho de André Lima Araújo na Amadora BD, em 2009.
Licenciado em Arquitectura, Jorge Coelho trabalhou um ano na área sem nunca perder de vista o gosto pela banda desenhada. "Há que tentar distribuir portefólios o mais para cima possível", aconselhou, encorajando os jovens artistas a chegar aos grandes responsáveis das editoras.

Jogo de ténis
Jorge Coelho aproveitou também para explicar a diferença entre trabalhar numa editora gigante dos comics como a Marvel e em mais pequenas, como a BLOOM! Studios, referindo que "há muitos mais projectos a coordenar na Marvel, por isso é natural que a BLOOM! dê muito mais atenção aos artistas". 
Por sua vez, André Lima Araújo acrescentou que o processo de trabalho é até algo simples. "A Marvel dá-nos o argumento para desenhar e define um prazo."
  O designer Miguel Mendonça, que desde criança frequentou núcleos de BD em Olhão e deu os primeiros passos neste mundo quando começou a trabalhar para a editora americana Zenoscope, referiu que na maior parte das vezes desconhece o colorista que vai trabalhar os seus desenhos feitos a lápis até ter acesso ao resultado final. "Para já não tenho grande controlo sobre isso, mas gosto da experiência de trabalhar com vários artistas", conta.
  Segundo os três artistas, não é obrigatório viver nos Estados Unidos para conseguir fazer carreira no mercado norte-americano, mas o contacto pessoal com os editores é vivamente encorajado. "Na era tecnológica em que vivemos, o trabalho pode-se fazer com um computador e um scanner, mas isto é um mundo de contactos", esclareceu Miguel Mendonça. É que, se a Internet agiliza muito o processo, não o substitui. "É como se fosse um jog de ténis feito de ideias do escritor e do editor", acrescenta Jorge Coelho.

"O dinheiro virá depois"
Depois de finalizar a colaboração em Wonder Woman, Miguel Mendonça revelou na Comic Con que o seu trabalho mais recente é Green Lantern. André Lima Araújo, que lançou recentemente Man Plus, história por si escrita e ilustrada, disse que o próximo passo é tentar encontrar um lugar para o livro no mercado português, o que espera que aconteça no próximo ano. Para já, está a trabalhar num novo livro que deverá ser editado pela Image Comics em 2017 e aproveitou para levantar o véu sobre outra faceta da indústria: muitas vezes os próprios artistas têm de suportar os custos iniciais de produção de um novo projecto. "Para mim é muito importante do ponto de vista artístico, porque as personagens, o design... é tudo nosso. O dinheiro virá depois. Ou não...", brinca André Lima Araújo.
   No futuro, Jorge Coelho e Miguel Mendonça gostariam de colaborar, respectivamente, com Vincent K. Vaughn e Mark Millar, autores de Y, The Last Man e Kickass. André Lima Araújo gostaria de continuar na banda desenhada de autor e publicar no mercado franco-belga, "porque durante muito tempo o nosso país leu essa BD", aludindo a títulos como Astérix e As Aventuras de Tintin. 
   Os três artistas fizeram questão de frisar que não ter formação em banda desenhada não é determinante. Pelo contrário, dizem que o mais importante é saber comunicar através do desenho. "A banda desenhada não pode ser feita com desenhos soltos, é preciso saber contar uma história através do desenho", conclui Miguel Mendonça.
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maria.monteiro@publico.pt       ------------------------------------------------
Os interessados em ver as 29 anteriores postagens deste tema "Críticas e Notícias sobre BD na Imprensa (com início em 15 de Julho de 2005) do presente tema, poderão fazê-lo, bastando para isso clicar no item: Imprensa - Críticas e notícias sobre BD, visível aqui por baixo no rodapé 

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