domingo, janeiro 08, 2017

Violência e/ou Tortura na BD




(Tradução das legendas dos balões e das didascálias, por
Jakub Jankowski)

prancha 1

Era preciso estar calado. Mesmo calado.
Dar mais tempo para os meus colaboradores desaparecerem. Pois sabia que mais cedo ou mais tarde eu iria cantar tudinho.

- Fala, seu sacana! Desde quando na AK*?

*https://pt.wikipedia.org/wiki/Armia_Krajowa

Desde Agosto de 1942.

- E nas estruturas da WIN*?

*WIN - Liberdade e Independência 
https://en.wikipedia.org/wiki/Freedom_and_Independence 

- O que é a WIN?
Foda-se, eu te mato!

prancha 2  

Sentia uma dor enorme. Perdia resistência e enlouquecia.

- Temos os teus colegas. Já estão a cantar. Queres viver?
Fala, desde quando na WIN?
O que é a WIN
Fala, сволочь*!
*сволочь(russo) = sacana 
Fala!


 
Conheci o talentoso ilustrador/autor de BD polaco Truscinski em 2016 no XII Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja.Tive ocasião de admirar a sua extrema facilidade em executar estupendos desenhos nas sessões de autógrafos, também no cadáver esquisito que lá realizei, onde Truscinski colaborou (1), e fiquei a conhecer minimamente a sua obra através da exposição que lhe foi dedicada no conceituado evento bejense.
Nas pranchas de banda desenhada de Truscinski houve pormenores que me impressionaram sobremaneira, em especial nas cenas de tortura bastante realistas. 
Como sabe quem costuma visitar este meu blogue, há nele uma etiqueta dedicada a esse tema. O que quer dizer que cobicei aquelas pranchas, e disse-o ao meu amigo polaco Jakub Jankowski - visitante assíduo de Portugal.
Resultado: acabei por receber dele um álbum com a obra Wrzeslen - Antologia Komiksu Polskiego, ou seja, uma antologia de autores de BD polacos, organizada por Wojna Narysowana, do Klub Swiata Komiksu, de Varsóvia (Warszawa), edição de 2003.

Como qualquer antologia de BD, esta obra reúne bandas desenhadas de diversos autores, necessariamente com estilos díspares, que vão do género humorístico caricatural até ao mais fortemente realista, caso do episódio Uciecska Aniola, com desenhos de Przemyslaw Truscinski (1970) e argumento de Tomasz Kolodziejczak (1967).     

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TRUSCINSKI

Biografia (extractos do texto da autoria de Jakub Jankowski (2) publicada no Splaft! Caderno da Bedeteca de Beja nº12, Maio 2016), com base em textos de Piotr Machlajewski, Przemyslaw Truscinski, Maciej Parowski e Jerzy Szylak, publicados no álbum/antologia/catálogo Trust. Album (2013, Timof Comics)

Przemyslaw Truscinski (aka Trust) nasce em Siedlce, Polónia, em 1970. 
Em 1985 começa a estudar no Liceu Artístico. Depois acaba o curso de Artes Gráficas na Academia de Belas Artes em Lódz.
Fez parte do colectivo Contur (transformado depois na associação responsável pela organização do Festival Internacional de BD em Lódz, o maior festival polaco de BD com 26 edições até à data).
Realizou bedês curtas para fanzines, revistas e magazines polacos e estrangeiros, entrevistas desenhadas para a imprensa (reunidas depois em livros), uma antologia dos seus trabalhos (Trust - Historia Choroby/2003), três álbuns (Najczwartsza RP. Antylista Prezerwatora/2007, Komiks W-wa /2009, e Tymczasem/2011, um álbum/antologia/catálogo (Trust.Album/2013), inúmeras ilustrações para livros, artigos de imprensa, storyboards e publicidades, trabalhos para a TV, teatro e videojogos (The Witcher), capas de livros e de discos, bem como pinturas (...) 
(...) Exerceu o cargo de redator (o Jakub às vezes escreve pelo famigerado AO90, sem consoantes mudas - nota do blogger) gráfico da revista Talizman, de director artístico do concurso de BD organizado pelo Museu da Insurreição de Varsóvia.
Tem exposto colectivamente tanto na Polónia (Bielsko-Biala, Gdansk, Jelenia Góra, Kielce, Lódz, Poznan, Szczecin, Torun, Warszawa, Wroclav, Zielona Góra), como no estrangeiro (Amesterdão, Angoulême, Berlim, Bratislava, Budapeste, Frankfurt, Moscovo, Neapol, Paris, Rijeka, Tel Aviv, Tóquio, Viena, Vilnius, Amadora e Beja). Teve também exposições individuais na Polónia.
Em 1993 ganhou o Grand Prix do Festival Internacional de BD em Lódz, em 2010 foi galardoado com a medalha de mérito por divulgar a cultura polaca e, em 2013, com a cruz de mérito de prata por propagar a história recente da Polónia (duas condecorações estatais de destaque). (...)
(...) No ano passado o texto introdutório à exposição colectiva de BD polaca [na Amadora, nota do blogger] mencionou o que diz o título da apresentação deste ano, que Trust é tipo o McKean polaco (...) ele próprio admitiu ao longo da sua carreira ter tido muitas mais influências: Moebius, Juan Gimenez, Enki Bilal, Simon Bisley, Ted McKeever, Mike Mignola (...) 
(...) A matéria da BD de Truscinski é tanto referencial como baseada em técnicas diversas e mistas num único espaço da prancha - fotografia, desenho sobre fotografia, pintura, lápis, colagem, etc. Esta diversidade técnica reflete a diversidade de géneros - no início da carreira, a ficção científica, a fantasia, o terror, o horror, a space opera, depois a história, a autobiografia, o misticismo-reportagem (...)
(...) no catálogo dele encontramos, por exemplo, uma variação da Alice no País das Maravilhas (codesenhada com Krzystof Gawronkiewicz, argumento de Grzegorz Janusz) que só pode ser lida no espelho. (...)
(...) Houve tempos em que Truscinski sonhava com uma carreira internacional e, de repente, teve ele uma resposta à sua dúvida: "como fazer uma se não se tem um nome que seja facilmente pronunciável?". Foi aí que nasceu Trust, que com esta excursão individual portuguesa se torna, mais uma vez, um bocadinho mais internacional.       

(1) http://divulgandobd.blogspot.pt/2016/06/cadaver-esquisito-no-festival-bd-de-beja.html

(2) Jakub Jankowski - Membro da Polskie Stowarzyszenie Komiksowe (Associação Polaca de Banda Desenhada)
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Para ver postagens anteriores deste tema bastará clicar na etiqueta Violência/Tortura na BD visível no rodapé 

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