Rui Pimentel é, entre outras coisas, autor de BD - Camões aos Quadradinhos e Fado Estórias na Noite são as suas obras mais representativas - mas também caricaturista e cartunista, assinando apenas por Rui - nestas duas vertentes colaborou na revista Visão durante cerca de vinte anos. Esteve nos tempos recentes aparentemente inactivo, mas na realidade nunca parou de produzir arte.
Dessa actividade artística, discreta e solitária, levada a efeito no seu estúdio de Estremoz, resultaram painéis pintados, onde estão caricaturadas numerosas personagens de diversas áreas, incluindo banda desenhada, cinema, história e literatura.
Esses painéis de grandes dimensões vão passar a estar visíveis em Lisboa, no Museu Bordalo Pinheiro, a partir de 4ª feira, dia 8 de Fevereiro, pelas 18h30.
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Leiamos o texto elaborado pelos responsáveis daquele museu:
Rui Pimentel é um dos caricaturistas/cartoonistas portugueses com uma obra mais consistente. Apesar de ser arquitecto de formação, começou a colaborar em várias publicações desde 1973 e foi n’O Jornal (desde 1987 até à sua extinção) e na revista Visão (de 1993 a 2007) que teve uma presença mais constante no nosso quotidiano.
Em muitos dos seus trabalhos Rui Pimentel utiliza a figura de Zé Povinho, mantendo viva a criação de Rafael Bordalo Pinheiro.
Publicou em livro várias recolhas de cartoons “Desenhos de escárnio e mal-dizer” (1981), “Rui em papel de Jornal” (1992), “A Visão de Rui” (1997), “Puro Açúcar” (2005).
É também autor de banda desenhada, tendo publicado os álbuns “Camões aos quadradinhos” (com Jorge Serrão,1981) e “Fado - Estórias na noite” (2003), para além de colaborações em várias outras publicações.
Participou em variadíssimas exposições em Portugal, de que destacamos “O Zé Povinho e outras Caricaturas” (no Museu da República e Resistência, em 2004), mas também em Espanha, Brasil, Irlanda, Turquia, Suíça, Croácia, Alemanha, França, Macau, Estados Unidos e está representado nas colecções do Museum Karicatur & Cartoon de Basileia e da Stiftung Haus der Geschichte des Bundesrepublik Deutschland (Fundação Casa da História da República Federal Alemã), em Bona.
Recebeu vários prémios pelo seu trabalho, nomeadamente no Salão Nacional de Caricatura/Humor de Imprensa (Porto de Mós, e Oeiras). Foi homenageado na Amadora BD 2007 e no Salão Luso-Galaico de Caricatura de Vila Real em 2009.
Uma História da Arte Mundial é, mais do que uma visão pessoal de Rui Pimentel sobre a História da Arte, uma homenagem aos seus principais actores, os artistas.
A exposição é composta por painéis pintados para decorar o tecto da sala da sua casa de Estremoz onde instalou a biblioteca, povoando-a assim com os retratos caricaturados dos autores que estão representados nas prateleiras.
Naturalmente que a escolha dos retratados é muito pessoal e incide nos autores e nas temáticas favoritas de Rui Pimentel e de sua mulher, Elisabete: a pintura e escultura, o cinema, a banda desenhada, a história e a literatura.
Ficaram de fora outros temas que também fazem parte das suas preferências, por uma absoluta falta de espaço, desde logo o cartoon e caricatura, mas também a filosofia, a fotografia, a arquitectura ou a música.
Estes painéis começaram a ser pensados em 2005, com a escolha das personagens, que foram depois desenhadas em 2007 e pintadas entre 2012 e 2015.
“Muitas personagens tiveram de ser eliminadas das listas originais por falta de espaço. A escolha feita é passível de ser criticada – porque aparece tal personagem e não outra? – Esta é a minha escolha pessoal, algumas personagens têm a ver com o meu gosto pessoal, ou com a maneira como elas passaram pela minha vida: tentei não representar escritores de que não tivesse lido um livro, ou um cineasta de que não tivesse visto um filme, por exemplo.” Rui Pimentel
Em alguns temas, as personagens fazem-se acompanhar das suas obras mais relevantes, como é o caso da literatura, do cinema e da pintura e a escultura.
Já no caso da BD o autor optou pela representação das personagens, por ser mais sugestiva do que a representação dos autores, em geral desconhecidos do público (e que se desdobram em muitos casos em argumentistas, desenhadores, coloristas, etc); aqui são poucos os casos em que o representado é o próprio autor, não só porque as personagens criadas por esses desenhadores não são tão reconhecíveis como outras criações da história da BD. Estão, neste caso, os quatro autores portugueses representados: E.T.Coelho, José Ruy, José Garcês e Augusto Trigo.
As personagens são representadas numa sucessão cronológica, todas com a mesma dimensão (aproximadamente o tamanho de um A4), tratadas com um estilo entre o retrato e a caricatura.
Nos painéis que se destinam ao tecto, as personagens são pintadas sobre um fundo envolvente de tinta dourada, numa referência ao tecto bizantino em mosaicos da igreja de São Marcos em Veneza.
Nos painéis que se destinam ao friso superior das paredes, os da literatura, o fundo escolhido é branco, para marcar uma continuidade com a própria parede.
Na exposição optámos por não recriar este efeito de tecto, e colocámos os painéis na parede para proporcionar uma relação mais cómoda do visitante com cada uma das personagens.
Esta forma de expor proporciona uma leitura muito diferente da que será feita com a colocação definitiva dos painéis na biblioteca, como elemento decorativo: esse efeito – de “Capela Sistina”, como foi chamado por Rui Pimentel no início do trabalho – é apresentado na exposição sob a forma de uma maquete.
Os retratos assim dispostos, lado a lado nas paredes da sala, mimetizam a própria biblioteca, como se fossem as lombadas dos livros colocados nas estantes, permitindo um passeio pela História da Arte Mundial, divertido e em grande intimidade com os seus actores, pela mão de Rui Pimentel.
As personagens
Na exposição estão representadas 1695 personagens:
PINTURA E ESCULTURA:
164 artistas (144 pintores e 20 escultores) | 244 obras de arte.
(Rui Pimentel auto-representa- se neste painel).
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RUI (RUI PIMENTEL)
Biobibliografia
Formou-se em Arquitectura, na Suiça, pela Escola Superior Técnica Federal de Zurique.
A sua estreia na BD é feita em Outubro de 1975, num pequeno álbum de vinte páginas, com capa a duas cores e miolo a preto e branco, intitulado A Comuna de Paris - 1871. É de índole política, e surge sob chancela da efémera Edições Spartacus.
Poucos anos mais tarde, no final de 1980, surpreende o meio bedéfilo com a excelente obra Camões aos Quadradinhos
sob adaptação literária de Jorge Serrão de peça teatral da autoria de
Helder Costa. O álbum, hoje uma raridade, foi editado pela Agência
Portuguesa de Revistas, o que igualmente constituiu surpresa, visto que a
especialidade daquela empresa editorial tinha a ver exclusivamente com
revistas.
Rui Pimentel colaborou, em 1999, no álbum colectivo Uma Revolução Desenhada: o 25 de Abril e a BD, com uma banda desenhada, em quatro pranchas a cores, Lisboa, Ano 2024.
As bandas desenhadas constantes desse livro, de diversos
autores/artistas, tiveram direito a exposição, com cenografia dele
mesmo, e que se tornou itinerante, tendo estado em Coimbra (1999),
Aveiro (2000) e Setúbal (2001).
Em
2003 dele foi também a montagem da exposição Coimbra na BD, num
impressionante espaço cedido pelo Museu da Ciência da Universidade de
Coimbra, nas suas próprias instalações.
Ainda nesse ano aparece o seu segundo álbum de banda desenhada, Fado - Estórias na Noite,
realizado em quadricromia, num grafismo com alguma influência da sua
actividade cartunística, o que lhe imprime estilo bem diferente do de Camões aos Quadradinhos,
sem contudo deixar de demonstrar elevada qualidade no traço, e sendo
ele mais uma vez o responsável pelo argumento, de muito bom nível.
Inquestionavelmente, o nome deste artista é mais sonante como cartunista. Nas páginas da actual revista Visão,
ele colaborou entre 1987 e 2007, fazendo semanalmente um cartune em que
assinava Rui. Mas o gosto por fazer BD permanece, o que o levou a
colaborar, em 2007 e 2008, no fanzine Efeméride (nºs 2 e 3, respectivamente), nas obras colectivas "Príncipe Valente no Século XXI" - neste caso com o episódio Uma Aventura em Évoramonte, e "Super-Homem no Século XXI", com A Viagem, em ambos os casos bandas desenhadas auto-conclusivas numa única prancha.
Geraldes Lino
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Sem dúvida o melhor cartonista português, pela sua tão originalidade ... bons tempos em que comprava a Visão e sorria ao abri na página do cartoon do Rui!!!
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