quarta-feira, julho 15, 2015

Clube Português de Banda Desenhada - Historial


É provável ter havido visitantes de blogues dedicados à BD, em especial os mais jovens, que ultimamente tenham sentido alguma estupefacção ao lerem textos dedicados a um tal Clube Português de Banda Desenhada - CPBD, ainda para mais apercebendo-se, pelo teor desses textos, que se trata de uma colectividade amadora com longa ligação à BD, mas de que, apesar disso, nunca antes tinham tido conhecimento.

É perfeitamente compreensível que tal aconteça. De facto, apesar de existir desde 1976, o clube teve um longuíssimo período de quase total imobilidade, apenas dando esporádicos sinais de vida através da edição do seu fanzine, o Boletim CPBD (ou Boletim do CPBD, ou Boletim do Clube Português de Banda Desenhada, títulos pelos quais se tem apresentado).

Com a intenção de dar a conhecer factos assinaláveis de tão invulgar colectividade - única do género em Portugal - com dedicação exclusiva à banda desenhada, divulga-se o seguinte texto:

HISTORIAL DO 
CLUBE PORTUGUÊS DE BANDA DESENHADA

O Clube Português de Banda Desenhada - CPBD foi criado a 28 de Junho de 1976, mercê da iniciativa de quatro coleccionadores e interessados na banda desenhada, na altura cheios de boa vontade e com desejos de completar as suas colecções e, talvez, tentar divulgar a 9ª arte no nosso país. 
A primeira iniciativa era a principal, e as outras vieram por novos conhecimentos que viriam a adquirir e a desenvolver. Depois de uma angariação de sócios, o CPBD veio a deslocar-se a Lucca (cidade italiana onde se realizava todos os anos um Festival de Banda Desenhada), na pessoa de um dos membros do clube e a convite de Vasco Granja, para ali apresentar na forma de diapositivos um estudo sobre a banda desenhada portuguesa. Estávamos no final desse ano.

Uma das principais iniciativas do CPBD e que ainda hoje continua a ser um marco na sua história, foi o de publicar, a partir de Março de 1977, o seu órgão informativo, um fanzine intitulado "Boletim do CPBD" ou "Boletim CPBD" ou "Boletim do Clube Português de Banda Desenhada".  Ao longo dos anos este fanzine viria a lançar nas suas páginas muitos trabalhos de novos desenhadores, sócios ou não do CPBD, interessados em ver as suas histórias de banda desenhada publicadas. Uma pré-selecção de todo esse material permitia que, embora a sua qualidade gráfica não fosse das melhores, a impressão era feita a stencil, pelo menos tentava apresentar o que de melhor era criado pelos jovens autores.

Com o passar dos anos a qualidade gráfica do Boletim foi melhorando, não só acabaria por surgir com algumas páginas a cores, como a qualidade de impressão era melhorada de ano para ano. Também as informações prestadas nesse fanzine, não só através de artigos sobre a 9ª Arte, como de anúncios de sócios que queriam fazer as suas trocas de revistas, eram um modo de comunicação acessível a todos os interessados. Deste modo melhoravam as suas colecções, adquiriam conhecimentos sobre o material que coleccionavam, souberam as datas das revistas, obtiveram conhecimento dos seus suplementos, e a numeração de cada colecção, além de qual o melhor modo de conservar cada revista.

Estudos exaustivos têm sido ali apresentados, como a história da revista O Mosquito, e outros sobre personagens de sucesso na Banda Desenhada, como o caso de Sexton Blake e outros. 
Devido à quotização ser pequena, só foi possível oferecer aos sócios gratuitamente o Boletim a preto e branco. Quando o mesmo foi renovado e melhorou bastante o seu aspecto gráfico, tal tornou-se inviável, até porque alguns sócios não mantinham as suas quotas em dia.

Por esta altura seriam também publicados dois álbuns de banda desenhada com trabalhos de Victor Péon, "O Neto de Cartouche" (1976) e de Eduardo Teixeira Coelho, "O Suave Milagre" (1977) com a chancela do CPBD. Cada um deles teria a numeração do sócio (ou do sócio-fundador) e eram oferecidos.

A 10 de Fevereiro de 1978 e até 19 do mesmo mês, apresentou no antigo edifício da FIL, uma vasta exposição de reprodução de imagens da 9ª Arte, subordinada ao título de "100 Anos de Histórias aos Quadradinhos em Portugal" (Um Panorama da Banda Desenhada portuguesa) e enquadrada na Exposição "FILgráficaFILescola". Esta primeira exposição irá tornar-se itinerante e depois de se ter deslocado ao Funchal/Madeira em Fevereiro de 1979, seria exposta em Aveiro, Viseu, Portalegre e outras cidades de Portugal, nomeadamente Guimarães.

A partir de 17 e até 30 de Abril do mesmo ano, seria criada uma nova exposição intitulada "A Banda Desenhada e a Sua Acção Pedagógica". A respectiva realização teria lugar no edifício da Sociedade Nacional de Belas Artes. 

O CPBD viria a colaborar também numa Exposição de Banda Desenhada, em realização da Secretaria de Estado e Cultura na Galeria de Arte Moderna de Belém em Agosto de 1979. 

Nesta fase de divulgação e expansão do CPBD serão vários os trabalhos solicitados, quer para Liceus (onde efectuou exposições) quer como júri de alguns concursos de banda desenhada a nível nacional, inclusive os "VídeOsDitos", patrocinado pela TV.

A 20 de Julho de 1980 inicia uma colaboração frutuosa com o jornal Correio da Manhã, que se manteria activa durante dezoito anos, através da publicação semanal nas suas páginas do suplemento "Correio da Banda Desenhada", onde, além de notícias do que se passava no mundo da banda desenhada, passariam a ser entrevistados muitos dos desenhadores portugueses que, até aí, eram quase uns ilustres desconhecidos.
Ainda em finais de 1980 realizará uma mini-exposição sobre a figura de Camões na Banda Desenhada, na antiga FIL. Também o jornal O País oferece as suas páginas ao CPBD a partir de Junho de 1981, para a publicação de um suplemento intitulado "O País Jovem na Banda Desenhada", mais tarde simplificado para "Banda Desenhada", que durou até ao fecho do jornal.

Mas o maior salto qualitativo nas actividades do CPBD será a criação do "I Festival de Banda Desenhada de Lisboa", igualmente realizado na FIL, durante a exposição "Nauticampo" em Março de 1982. Seguir-se-ão os II (1983) no mesmo local, tendo este a particularidade de pela primeira vez terem sido criados os prémios "O Mosquito", que irão distinguir as individualidades de maior destaque no campo da Banda Desenhada, o III (1984) e o IV (1985). Em 1985 numa ligação com o antigo FAOJ (mais tarde Instituto da Juventude), foram instituídos Concursos Nacionais de Banda Desenhada com prémios pecuniários.
Este seria outro ano em que o CPBD colaboraria em várias exposições, uma delas no Palácio Foz. No ano seguinte, 1986, será também na Feira Popular de Lisboa que se realizará uma exposição e venda de banda desenhada.

A colaboração do CPBD em jornais estendeu-se ao Diário Popular onde, em 21 de Setembro de 1985, apareceu o suplemento "Tablóide", que durou um ano. Seria substituído a partir de 25 de Setembro de 1993 por uma coluna da 9ª Arte, que se transformará mais tarde numa página e em várias ao longo dos anos, inclusive colaborando no seu suplemento "Pimba", com três a quatro artigos semanais. Tal colaboração manter-se-ia durante cinco anos, até ao desaparecimento do jornal e do seu suplemento.

Os festivais continuarão todos os anos ainda na FIL (1986), até que durante o VI (1987), deixou de haver a possibilidade de continuarmos nesse espaço e o Fórum Picoas cedeu-nos as suas instalações, para em Dezembro de 1987 (18 a 27) ali realizarmos o acontecimento. 
Neste festival seria criada pela primeira vez mais um prémio, a "Vinheta", que premiava fanzines.
Todos os anos o CPBD continuou a organizar concursos de banda desenhada. O VIII Festival (Dez. 1989) será levado a efeito neste ano nas instalações da Rádio Renascença/Espaço Poligrupo. O IX (17 a 23 Fev. 1990) será realizado de novo no Fórum Picoas. A partir do X Festival (20 a 26 Nov. 1991) até ao XV (4 a 7 Set. 1996) e último, passarão a ser realizados nas instalações do Palácio da Independência. 

Em Abril de 1992 o CPBD realiza uma exposição de banda desenhada na Câmara Municipal de Lisboa (Praça do Município) sobre novos desenhadores portugueses.

Entretanto serão também realizadas feiras de fanzines na Estufa Fria, num total de três, ao longo dos anos. 

O Jornal da BD durante um ano teve também uma página com a colaboração do CPBD. 

 


















Em 1994 realiza-se de novo um evento na Feira Popular, o "2º Salão de Banda Desenhada".

A finalizar este longo período de grande actividade, o CPBD editou ainda mais duas brochuras, uma com as aventuras de "Quim e Manecas" (1988) de Stuart, e outra com a história de "34 Macacos e Eu" de Fernando Bento.

A partir de 1996 a inércia acompanha as actividades do CPBD, resultando unicamente na continuação da publicação do seu "Boletim", o fanzine mais antigo que se publica em Portugal.

Encontram-se agora reunidas as condições para ultrapassar esta situação e tentar encontrar novos sócios que acreditem neste projecto, para no futuro serem planeadas novas iniciativas, mais ou menos ambiciosas, para a sua continuidade como entidade acreditada na divulgação da banda desenhada, quer portuguesa quer estrangeira. 

(Texto do CPBD)            

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Quem quiser ver postagens anteriores dedicadas ao Clube Português de Banda Desenhada poderá fazê-lo clicando no respectivo item visível em rodapé 

4 comentários:

  1. Tu foste atacado no blog por um vírus; eu, no meu, por outro que "calou" o sitemeter (ou perdeu o pio por inanição, pois pouco tinha para fazer da sua tarefa diária); o cartaz por uma gralha que levou no bico o u de "portuguesa".
    Entre todos os males, o do cartaz é o menor, pois acontece aos melhores e toda a gente entende.
    Tenho visto imagens tuas na blogosfera, mas quase todas à mesa ou perto dela - uma de guardanapo em punho -, o que indica que estás em todas as participações gastronómicas ligadas à BD e aos eventos inerentes. O meu desejo é que continues e que continuem, pois o "meio", fora isso, parece-me adormecido.
    É claro que este capítulo não é uma provocação, mas uma forma de falar (nanja de invejar) quem participa e se empenha para trazer (quanto mais não seja) o processo da BD para a praça pública.

    Um abraço

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  2. Geraldes Lino23:51

    Viva, Santos Costa

    Tens uma invulgar capacidade para revisor ortográfico, o que se prova por teres detectado o erro que mencionas no cartaz do 1º Festival de Banda Desenhada de Lisboa.
    O grafista que o fez - e que até o assinou bem visivelmente no canto inferior esquerdo - cometeu duas "distracções"ortográficas: a que tu apontas, e outra, que é o vocábulo Francês (Instituto)estar escrito "Françês", pormenor que corrigi discretamente pintando de azul por cima da inoportuna cedilha (se ampliares duas vezes a palavra, conseguirás detectar uma pequena mancha azul escura sob a letra c)
    Agora meter um "u" na "portugesa" é-me impossível consegui-lo, mas também poucos se aperceberam... Erros dos desenhadores, mais frequentes do que seria desejável.
    Ainda agora, numa obra de BD recentíssima, de talentoso autor português, lobriguei de novo um infeliz "ç" antes da vogal "e". Ficas desafiado a detectá-lo, tens é de verler (*) os álbuns editados recentemente...
    * Neologismo meu, exclusivo para a banda desenhada (de vez em quando uso-o).

    Tens razão em relação à minha presença em eventos gastronómicos. São três em que os "paparazzi" da BD me apanham: 1) Na Tertúlia BD de Lisboa; 2) No aniversário de "O Mosquito"; 3) No aniversário do Clube Português de Banda Desenhada.

    Qualquer dia espero encontrar-te em qualquer desses três.

    Um abraço.

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  3. Obrigada pela partilha,
    Leonor (neta da Bixa!)

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  4. Geraldes Lino22:34

    Viva, Leonor Matos Silva

    Fico-lhe grato pela visita ao meu blogue.

    Como lhe contei, aquando da nossa conversa no Museu Bordalo Pinheiro, conheci a sua avó "Bixa" pelo facto de a ter contactado a fim de a convidar para ser homenageada pela Tertúlia BD de Lisboa. Foi difícil, muito difícil mesmo, convencê-la.

    Não era por mero acaso, como bem sabe, que chamavam "bicha" à sua avó, Maria Antónia Roque Gameiro Martins Barata, quando era jovem.
    Acabou por ser homenageada pela TBDL em Abril de 1993, talvez a Leonor Matos Silva ignore. Um dia peça-lhe para ver o Diploma de Honra que lhe foi oferecida na noite em que esteve na tertúlia, num restaurante do Parque Mayer.

    Qualquer dia reproduzo aquela banda desenhada de que lhe falei, feita pela sua avó, por sugestão minha para funcionar como autobiografia, visto que a "Bixa" me disse que não lhe apetecia nada estar a escrever uma autobiografia para ser distribuída pelos participantes na tertúlia. Mas aceitou fazer essa banda desenhada que foi sorteada e saiu a um amigo meu chamado João Paiva Boléo.

    Saudações cordiais.

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