sexta-feira, outubro 03, 2014

Relvas, autor de BD, e o "crowdfunding"


Como acontece à maior parte dos autores portugueses de BD, Relvas, Fernando Relvas, tem dificuldade em ser editado pelas editoras nacionais e, cumulativamente, a sua capacidade económica é insuficiente para ser ele próprio a auto-editar-se.

Mas existe o sistema chamado crowdfunding - que noutros países tem sido bastante utilizado, consta que com bons resultados - a que Fernando Relvas também recorreu agora para conseguir editar uma nova obra. 

Apesar dessas experiências positivas no estrangeiro, o nosso compatriota está algo desapontado com a escassa adesão dos aficionados portugueses ao sistema. 

Daí que, para divulgar a situação, este bloguista lhe tenha apresentado algumas questões.

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Entrevista com

FERNANDO RELVAS


Geraldes Lino - Depois de teres publicado, entre 2007 e 2011, com base no sistema usado pela editora Lulu, as bandas desenhadas "Palmyra", "The Chinese Master Spy", e "Li Moonface", decidiste largar esse sistema de "print on demand". Porquê? Não funcionou bem?

Fernando Relvas - Não larguei o sistema de print-on-demand por muito tempo. Em 2013 saiu uma nova versão de Palmyra pela CCB Publishing que está disponível online em vários sítios. 
Mas é certo que até agora não tem funcionado muito bem. 

G.L. - Estás agora a elaborar outra obra de BD, a "Nau Negra. One Boatman, Two Ships", também a cores. Podes dizer-me quantas pranchas já tens feitas, e também descrever, em síntese, o tema?

Fernando Relvas - O título em português é só "Nau Negra", e a versão inglesa está prevista para ser publicada em print-on-demand.
A história tem cerca de 100 páginas, com 50% já feito (cerca de 70 páginas com interrupções. 
A trama passa-se junto ao porto de Nagasaki no início do século XVII. Há material da história que pode ser visto nos blogues "Urso do Relvas"
http://urso-relvas.blogspot.com

mas posso adiantar que tem de tudo, portugueses, japoneses, ingleses, italianos, a bordo de um navio que anda às voltas no mesmo sítio.

G.L. - Desta vez decidiste recorrer à plataforma crowdfunding, ainda pouco divulgada em Portugal, penso eu, para a edição da "Nau Negra".
Podes dar uma ideia sucinta da forma como é que funciona esse sistema?

Fernando Relvas - E obviamente há a apresentação, muito completa, na página da campanha de fundos

no Indiegogo, que é uma plataforma onde se podem iniciar campanhas de angariação de fundos. Não é assim tão recente quanto isso, só que nos primeiros anos só funcionava para os Estados Unidos, onde neste momento já é um sistema comum. 
O próximo filme de Martin Scorsese foi financiado através de crowdfunding
Em Portugal, onde o "pedir esmola" faz parte da estrutura social, o conceito custa a entrar e causa, no mínimo, confusão às pessoas.
A campanha destina-se a financiar o acabamento da história em português e a edição em inglês. A publicação da edição em poruguês ainda está em aberto.

G.L. - A campanha de crowdfunding começou em 2 de Setembro e terminará a 1 de Novembro de 2014. 
Sendo tu um autor de BD de elevado prestígio, como está a decorrer a participação do público interessado em banda desenhada?
 


Fernando Relvas - Não parece haver ninguém da BD no horizonte, nem discutindo, nem contribuindo, nem sequer rabujando.
Alguns passaram pela página da campanha e nem bom dia disseram, ou aconselharam a outros mas não participaram. Será timidez? Tirando raros e corajosos membros da tripulação que avançaram logo no início.

Entretanto, quando estava a acabar as respostas à tua entrevista, recebi uma boa notícia: o Centro Cultural de Portugal em Tóquio aceitou divulgar a campanha na página do facebook.
Se fores ao meu blogue "Urso do Relvas" tens lá uma nova animação sobre a campanha.


G.L.- Faço votos para que esse teu pequeno filme (fui agora mesmo vê-lo, está bem feito e com muita piada!) anime o crowdfunding...


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FERNANDO RELVAS

Síntese biobibliográfica

Fernando Carlos Nunes de Melo Relvas, 20 de Setembro de 1954, Lisboa. 
 

Relvas iniciou-se na BD em 1975, colaborando nos fanzines O Estripador e O Gorgulho. Estreou-se em 1976 a colaborar num jornal, o Gazeta da Semana, com a personagem 'Chico'. 

Voltaria mais tarde aos jornais, designadamente a: Pau de Canela, O Fiel Inimigo (depois apenas Inimigo), Sete, GrandAmadora, Diário de Notícias, Mundo Universitário
Entre todos destaca-se o semanário Sete, onde teve extensa produção bedística, de 1982 a 1987: Concerto Para Oito Infantes e Um Bastardo, Niuiork, Sabina, Ai Este Chavalo Seria Tão Baril Se..., Herbie de Best, Sangue Violeta, Karlos Starkiller Jornalista de Ponta, todas a preto e branco, e Nunca Beijes a Sombra do Teu Destino, A Noite das Estrelas, O Diabo à Beira da Piscina, O Atraente Estranho, estas quatro a cores.

Há bandas desenhadas suas em várias revistas de BD: Mundo de Aventuras, ("0-3-0 O Controlador Louco"), Fungagá da Bicharada, Mosquito (5ª série), no respectivo suplemento "O Insecticida", Lx Comics e especialmente na Tintin, onde teve considerável produção (Espião Acácio, Viagem ao Centro da Terra, Rosa Delta Sem Saída, L123, Cevadilha Speed, Slow Motion, Kriz 3). 
Fez também BD em revistas de temas diferentes, nomeadamente Pão Comanteiga e Sábado ("O Rei dos Búzios").

Em 1990 obteve o 1º prémio do concurso "Navegadores Portugueses", organizado pelo CNC-Centro Nacional de Cultura, com a obra "Em Desgraça - As Aventuras de Vaz Taborda".

Tem obras editadas em álbuns: colaboração no colectivo "Noites de Vidro", aavv (1991); "Em Desgraça - As Aventuras de Vaz Taborda" (1993), "As Aventuras de Piri-Lau O Nosso Primo em Bruxelas" (1995), "Karlos Starkiller Jornalista de Ponta" (1997) - recolha da série homónima publicada no semanário Sete; "Uma Revolução Desenhada: o 25 de Abril e a BD" (1999).

Enquanto profissional da BD e Ilustração, editou ele próprio os seus prozines (Ananaz Q Ri e Ménage à Trois), mas colaborou também nos fanzines Édito e Quadrado (2ª série).

Em Setembro de 1989, no V Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto participou numa exposição colectiva; em Março de 1997 foi-lhe dedicada uma exposição, pela Bedeteca de Lisboa,  intitulada "Relvas à Queima-Roupa", com edição de catálogo; em 1998 foi um dos vários autores portugueses incluídos na exposição "Perdidos no Oceano", organizada em França pelo Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, na edição desse ano.


Em Setembro de 2002 foi homenageado pela Tertúlia BD de Lisboa. 

Publicadas em língua inglesa tem as seguintes obras: Palmyra (2007), The Chinese Master Spy (2008), Li Moonface (2011), Ask a Palmyra: How Can Transgenic Fish Make You Sex Crazy? (2013).

Em 2012 realizou o seu primeiro filme de animação, "Fado na Noite", ambientado em Lisboa, nos meados do século XIX. O filme foi financiado pela RTP e Ministério da Cultura.

Em 2013 foi-lhe atribuído o Prémio Nacional de BD/2012 pelo Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, onde esteve representado na exposição "Relvas a Três Tempos". 


Esteve parte do corrente ano de 2014 a preparar, mais uma vez como autor completo - argumento, desenho, legendagem e colorização -, a obra "Nau Negra", quase terminada em fins de Setembro.

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