sábado, outubro 15, 2005

Little Nemo in Slumberland - Uma Obra-Prima da BD com 100 Anos



Little Nemo in Slumberland

Tal como acontece noutras formas de arte, há obras-primas na Banda Desenhada. Little Nemo in Slumberland é uma delas.

Apesar da sua extrema sofisticação estética, esta obra cumpriu a sua existência num suporte caracterizadamente popular: foi publicada em jornais, ao ritmo de uma página semanal, a cores, em suplementos dominicais.

Com início em 15 de Outubro de 1905 - cumprem-se hoje, precisamente, cem anos! -, não é difícil imaginar o deslumbramento causado aos leitores do jornal pelo virtuosismo gráfico de cada página, no enorme formato "broadsheet" (equivalente ao do semanário "Expresso") que valorizava as magníficas imagens criadas pelo autor/artista Winsor McCay.

A obra teve hiatos na publicação, mudou de jornal, dividindo-se por isso em três ciclos. O primeiro, de qualidade superlativa, publicou-se entre Outubro de 1905 e Julho de 1911; o segundo, com o título modificado para In the Land of Wonderful Dreams, foi divulgado de Setembro de 1911 a Julho de 1914; o terceiro, e último, entre Agosto de 1924 e Dezembro de 1926.

Se o título inicial da obra, e o mais famoso, Little Nemo in Slumberland, fosse traduzido literalmente, teríamos O Pequeno Ninguém na Terra da Sonolência. É curioso reparar-se que Nemo em latim significa “ninguém”. Isto talvez queira dizer que teve escassa existência física – o autor quase que apenas o põe a agir, fisicamente, raras vezes no início do episódio, quando se está a deitar, e sempre na última vinheta de cada episódio, no momento em que acorda do sonho – com frequência, pesadelo –, ou por cair da cama, ou ao ser acordado, umas vezes pelo pai, outras pela mãe.

Outro aspecto que chama a atenção aos leitores mais observadores: a idade de Nemo é dificilmente definível. Na única imagem real que dele se pode observar – a da sua recorrente queda da cama – ele não aparenta mais do que quatro anos. Mas há por vezes evidente desfasamento em relação a alguns sonhos, demonstrativos de outra idade, talvez seis anos, e mesmo assim precoces em algumas circunstâncias.

É o caso da cena em que Nemo aperta a rainha Cristalete nos braços, e beija na boca aquela personagem bem mais crescida do que ele, e a intensidade com que a beija faz com que ela se estilhace de imediato. Será que ele repete algo que também lhe fizeram? Será imagem para ser analisada por um pedopsiquiatra...

Há muitas, mas mesmo muitas outras cenas que valeria a pena escalpelisar, por serem bastante curiosas, por exemplo aquela publicada originalmente em 31 de Dezembro de 1905.
Nela, Winsor McCay desenha Nemo fazendo com que aparente várias idades ao longo da prancha, começando com seis anos e passando para nove, em seguida para quinze, depois para vinte e cinco, e acaba a mostrá-lo com noventa e nove anos – faltou apenas um para ter os cem que agora, em 2005, se festejam em termos cronológicos.