Universo Paralelo - O Autor dentro da BD
Inicio aqui um tema que acompanho há bastantes anos com muita curiosidade: a frequência com que os autores se auto-incluem como personagens nas suas próprias bandas desenhadas.
Exemplo que seleccionei para arranque do que classifico como universo paralelo: Vamos encontrar a imagem do já falecido argumentista René Goscinny, ao lado do desenhador seu amigo, Alberto Uderzo, como personagens, a contracenar com um sujeito desconhecido, de nome Obélisc'h, estranhamente parecido - aliás, dir-se-ia um clone - com o famoso Obélix, bem conhecido, muito bem conhecido mesmo, dos dois amigos.
A cena foi publicada em 7 de Fevereiro de 1963, na revista Pilote, do nº 172 a 186
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Em imagem real, antiga, Goscinny (à esquerda) e Uderzo (à direita)
Este episódio, engraçadíssimo, aparece pela primeira vez em Portugal no álbum Astérix e o regresso dos gauleses (editado em Novembro de 2004), criado pela imaginação fértil de Goscinny.
Claro que para concretizar visualmente a ideia, lá estava o talento de Uderzo, ambos a brincar com a incrível hipótese de encontrarem, numa época muito posterior (nos carismáticos anos sessenta) um descendente de Obélix, agora marinheiro, fumador de cachimbo, senhor de uma força hercúlea tal como o seu antepassado, e com quem acabam por falar (outro momento altamente original: os autores em diálogo com a sua personagem!).
No mesmo volume acima mencionado há um "gag" também a jogar com esta mesma ideia de colocar os próprios autores dentro da sua obra.
A cena passa-se numa esplanada, onde Goscinny e Uderzo, com uma "bejeca" cada um, puxam pela cabeça, sem que lhes ocorra qualquer ideia, como se pode ver na imagem que ilustra este "post".
Muitas "bejecas" depois (duas pilhas de copos...) Goscinny, como argumentista privilegiado, acaba por ter uma ideia luminosa (lá aparece, sobre a cabeça dele, a lâmpada acesa, imagem recorrente nas convenções visuais da BD, a chamada "metáfora visualizada"), que transmite em segredo a Uderzo, e ambos se partem a rir, vendo-se as respectivas onomatopeias, a darem ideia de gargalhadas estridentes.
O dono do café, desconfiado, agarra no telefone.
Na última vinheta vê-se uma ambulância a partir e, pelas gargalhadas que dela saem, percebe-se que os dois amigos vão lá dentro, muito contentes com o novo "gag" em que vão trabalhar, e tão absorvidos nele que nem se apercebem do que lhes está a acontecer.
E nós, leitores/visionadores, ficámos sem saber qual o "gag" que tanto os divertiu... Genial!
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Devo dizer que, a partir do momento em que comecei a reparar nestes pormenores (e não foi este, que hoje descrevo, o primeiro) ocorreu-me estudar o tema, reunir bastantes exemplos, e utilizá-los como base para a edição de um fanzine sub-temático dentro da temática genérica da Banda Desenhada.
Só que, por vezes - cheguei a essa triste conclusão - as mesmas ideias surgem a pessoas diferentes, desconhecidas entre si, e separadas por grandes distâncias. Foi o que aconteceu.
Imagine-se a sensação desagradável que tive ao deparar-se-me um artigo a focar exactamente este tema num dos últimos números da 1ª série da revista Vécu!
Mas, pronto, o desgosto já passou. E como me têm surgido outras ideias para fanzines, e agora até tenho este blogue, vou a pouco e pouco desenvolver aqui a citada ideia que, para mim, tem algo de fascinante.
4 comentários:
Bom blog.
Só acho que deve haver uma maneira de evitar os spams, para que fiquem apenas os comentários de BD.
Tenho estado a divulgar o blog.
Um abraço e espero encontrá-lo no FIBDA
entre os cartoonistas acontece com muita frequência terem a mesma ideia para um gag sobre o mesmo assunto, quase em simultâneo. Os americanos chamam-lhe um "yatzee".
Já aconteceu comigo e com o Rui Pimentel, da visão, num cartoon sobre os professores substitutos.
Labas, não conheço ninguém com esse pseudónimo, por isso, como é que vou saber se estou a falar com o tal "Labas"?
E já agora tb gostaria de saber onde é que está a aparecer essa divulgação ao meu blogue.
No seu (teu?) blogue?
Olá Toonman. Sim, já calculava que este tipo de chatice não me tocasse só a mim. Obrigado pelas tuas palavras de consolação.
Saudações bedéfilas
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