sexta-feira, julho 17, 2015

Lançamento - Shock - Tributo a Estrompa


Shock começou por ser o título de um fanzine marcante no fanzinismo português, e passará a ser, a partir de amanhã, 18 de Julho de 2015, um tributo em forma de livro, publicado sob a chancela da editora independente El Pep, dedicado ao fanzine Shock e a Estrompa, seu mais persistente e talentoso editor.

Neste livro, intitulado Shock-Tributo a Estrompa, colaboram com bandas desenhadas e ilustrações:
António José Lopes, Jorge Coelho, José Lopes, Marco Peixoto, Marcos Farrajota, Outro Nuno, Pepedelrey, Rui Gamito e Rui Lacas.

Pedro Pereira, aka Pepedelrey, conviveu bastante com o Estrompa, tem bem a noção do papel importante que ele desempenhou junto de muitos jovens candidatos a autores de BD, a quem deu conselhos e orientou graficamente, além de lhes facultar a possibilidade de colaborarem no fanzine.

Nota: A imagem no topo do post é a capa do livro, fornecida amavelmente por  www.edicoeselpep.blogspot.pt

Sábado, 18 de Julho, às 18h
El Pep Store & Gallery
Lx Factory
Rua Rodrigues Faria, 103 - Edifício I, Piso 0
Espaço 0.01D.5
Alcântara
Lisboa 

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ESTROMPA (1942-2014)
 

Síntese biobibliográfica
(Escrita em 2003, mas com ligeiras alterações e actualizações)



José João Amaral Estrompa nasceu em Lisboa, a 8 de Fevereiro de 1942 (mas parece ter a idade do Tornado, seu herói de estimação, desde que rapou a barba).

Foi aluno da Escola de Artes Decorativas António Arroio, sem ter concluido o respectivo curso. A sua área profissional foi sempre a Publicidade e Artes Gráficas.

Nas revistas de BD Tintin, Mosquito (5ª série), Selecções BD (1ª série), e noutras de diferentes temas, designadamente Pão Comanteiga e DN Semanal, publicou cartunes e bedês cómicas, estas de uma página, com animais de características antropomórficas - "Pink" (um gato) e "Smaile" (um cão que tem um gato amigo chamado "Smool").

Mas a sua maior produção é mesmo nos fanzines, com destaque óbvio para os numerosos episódios da sua série de referência, o "Tornado 1989" - este já com duas merecidas promoções: ao fazer dez anos de existência (1999) teve publicação na revista Selecções BD (2ª série), surgindo posteriormente em álbum editado pela Bedeteca de Lisboa.
Foi de igual modo nos fanzines que, embora de forma esporádica, Estrompa fez viver a comportamentalmente subversiva "Família Darling".
G.Lino
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TORNADO 1989 

(O herói predilecto de Estrompa)

Biografia

Sempre com a fusca calibre 69 pronta a entrar em acção, uma beata permanente ao canto da boca, chapéu, gravata amarela sobre camisa de seda azul (apesar de a série sempre ter sido publicada a preto e branco, sabemos que são essas as suas cores, graças às descrições do narrador), mais as suas inseparáveis luvas de genuína pele de porco - tão inseparáveis que nem nas cenas de sexo as tira! -, Tornado 1989 é um dos raros heróis fixos da banda desenhada portuguesa. Com a particularidade de ter nascido e vivido maioritariamente nas páginas dos fanzines - Banda, Comic Cala-te, BD & Roll, Shock, Almada BD Fanzine, CaféNoPark, Seasons of Glass, Boom e Tertúlia BDzine, por onde se espalham duas dezenas de episódios.
O seu aparecimento em Julho de 1999, no nº9 (2ª série) da revista Selecções BD correspondeu à oportunidade de saltar das publicações amadoras para uma profissional. Três anos depois, Tornado voltou a ter a possibilidade de se mostrar em suporte de prestígio, a colecção LX Comics editada pela Bedeteca de Lisboa.

Estrompa, o autor (argumento e desenho) do Tornado 1989, considera-o como que "um cavaleiro andante do asfalto". Ternuras cúmplices de criador... Do que não há dúvidas é que, seja no nome, seja no aspecto físico, ou até no vestuário, ele tem semelhanças com Torpedo 1936, personagem de referência na banda desenhada espanhola, criada pelo traço de Jordi Bernet sob argumento de Enrique Sanchez Abuli. 

Quando Estrompa viu pela primeira vez o Torpedo, em 1985, nos álbuns da entretanto extinta Editorial Futura, apercebeu-se que ele lhe fazia voltar à memória as imagens de alguns dos actores que o tinham impressionado na infância, uns tais Humphrey Bogart, James Cagney, Edward G. Robinson... Daí a criação de Tornado 1989, anti-herói que o autor admite ter desenhado um tanto à maneira de pastiche do Torpedo, embora sejam de sua autoria, enquanto argumentista, as diferentes e muito especiais características de malandro profissional evidentes no Tornado - o qual tem sido um pouco de várias coisas: polícia, mas também ladrão, detective, dono de um bar em Casablanca... - versatilidade que lhe confere uma personalidade desconcertante e muito própria.

Tornado foi criado graficamente em 1989, pormenor em destaque no "nome de guerra" com que se apresenta. Ao longo da sua existência tem-se constatado que ele possui tendências, humorísticas e críticas, diferentes da do respectivo modelo. Os constantes apartes, brejeiros ou sardónicos, que intercalam os diálogos e pensamentos da personagem, bem como os comentários mordazes do narrador, criam à série, por sua vez, uma textura interventiva que rareia nas suas congéneres. 

Aliás, Estrompa, o seu manipulador literário e gráfico, envolve-o nas mais insólitas peripécias, desde obrigá-lo a fazer-se passar por travesti (a "menina" Tornado, no episódio "Torpedo contra Tornado"), a deixá-lo apanhar uma doença venérea (no episódio "Uma História de Cowboys"), até não o poupar a uma cena imprópria para um protótipo de machão latino: a de ser sodomizado por dois ou três "gorilas", às ordens dum mafioso com voz cavernosa e cara de Marlon Brando (episódio "O Padrinho"). Estas e outras situações insólitas conferem-lhe uma dimensão ficcional de grande originalidade no universo da banda desenhada portuguesa, tornando-o num anti-herói exemplar.

Para quem entrar em contacto pela primeira vez com Tornado, há que esclarecer que o seu nome real é Bogarte - para os amigos já foi "Garte", passou depois a ser "Bogey", mas, para as "girls", foi sempre e apenas o "Boga".
Tornado é simples alcunha, criada por ele expressamente para a bófia, mas serve igualmente para os tansos e "nalfabetos", conforme diz no seu português rasca em ocasionais confidências. Quanto à idade, tem a que aparenta: quarenta sombrias "primas-beras" - assim escreve o seu "biógrafo" Estrompa - completadas num qualquer mês do signo de Carneiro; no que se refere ao local de nascimento, os elementos fornecidos na sua apresentação (Banda nº 10, Agosto de 1990) não são minimamente credíveis, visto que mencionam, em simultâneo, dois locais geograficamente bem distantes: Nova Iorque e Casal Ventoso! Será que, afinal, é português de origem, embora naturalizado americano? Com efeito, ele conhece Lisboa, tão bem que até gosta, como diz a certa altura, de "ir beber um uísque com gelo a uma espelunca ali p'rós lados do Parkmayer" (citação textual).

Mesmo a sua divulgada filiação - pai polaco, mãe italiana, emigrantes - poderá ter sido forjada, para despistar a bófia. Onde estará a verdade? Alguma vez se virá a saber? Estrompa & Tornado formam uma dupla muito sabidona, sempre com trunfos escondidos na manga...
Geraldes Lino 
 

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