domingo, novembro 18, 2018

Dias de Deus, António (1936-2018)


Faleceu a 15 do corrente mês de Novembro o ilustre estudioso e historiador da BD portuguesa, António Dias de Deus, aliás, António Emanuel Comprido Dias de Deus.
Não costumo dar notícias necrológicas aqui no blogue. Em contrapartida divulguei essa assim que dela tive conhecimento na noite de 5ª feira, por umas dezenas de pessoas através de sms, o prático e expedito serviço de mensagens dos telemóveis.
Só hoje me ocorreu - tenho andado adoentado e talvez por isso, muito preguiçoso - registar aqui no blogue supondo que, ao mesmo tempo, bastantes mais pessoas interessadas na BD dela tomarão conhecimento. E Dias de Deus merece uma bem mais ampla divulgação na área da banda desenhada, pelo seu notável trabalho de investigação, que foi divulgando por numerosos artigos em jornais, revistas de BD e fanzines, artigos esses que fotocopiou, compilou e encadernou em volumes que ofereceu aos amigos, em que felizmente me incluía, os quais constituem um conjunto de sete tomos com os seguintes títulos: "HQ-B.D. O Lapso Lábil"; "O Lapso Lépido"; "O Lapso Lícito"; "O Lapso Lógico"; "O Lapso Lúcido"; "Adenda ao Pentalapso"; "Segunda e Última Adenda ao Pentalapso".


Todos esses escritos reunidos de forma vagamente artesanal - tipo DIY - acabaram por ser publicados graças à insistência do seu grande amigo Leonardo De Sá em dois livros: "Os Comics em Portugal Uma história da banda desenhada", e "Dicionário dos Autores de Banda Desenhada e Cartoon em Portugal",este segundo em co-autoria com aquele outro citado historiador.
A fim de se ficar a conhecer melhor Dias de Deus, reproduzo aqui no blogue (pela 2ª vez) uma entrevista que lhe fiz em Maio de 1984 para a revista "Coleccionando". Ei-la:









No ano "orwelliano" e já bastante recuado de 1984, andava eu muito entusiasmado a colaborar com a revista Coleccionando, onde, quase logo no início, me ocorreu entrevistar coleccionadores de banda desenhada (revistas, álbuns, fanzines, livros sobre BD).

O terceiro que entrevistei, António Dias de Deus, era já considerado nessa altura um dos mais importantes estudiosos das Histórias aos Quadradinhos - expressão que ele muito preza. E, na verdade, as diversas colecções, algumas bem raras, do seu acervo pessoal, sempre lhe serviram para recolher elementos, detectar estilos e autores, enfim, preparar os artigos que ia escrevendo para ele próprio, mas que acabaram por ir parar às páginas do jornal A Capital e, mais tarde, compilados no muito importante livro "Os Comics em Portugal - Uma História da Banda Desenhada". 

Foi este médico, apaixonado pela Figuração Narrativa, como coleccionador e estudioso, o terceiro entrevistado desta primeira série (tenciono fazer, directamente aqui no blogue, uma segunda série.

Em seguida irei reproduzir integralmente o texto da entrevista, tal como apareceu nas páginas da revista Coleccionando (nº 6, Maio de 1984), de forma a facilitar a leitura.
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Coleccionar como quem ordena

cromos numa colecção

nunca foi coisa que me interessasse


- diz o Dr. Dias de Deus, estudioso da BD



Dias de Deus é, actualmente, um dos nomes de maior prestígio na Banda Desenhada, no campo ensaístico e historicista.

Pode dizer-se que foi graças ao surgimento do CLUBE PORTUGUÊS DE BANDA DESENHADA que podemos apreciar hoje os seus bem documentados estudos sobre revistas e estilos, e aceradas críticas a autores e respectivas obras.

Com efeito, foi no fanzine do CPBD, o "Boletim", que apareceram os seus primeiros escritos sobre o assunto. Mais tarde, com o aparecimento da página semanal "QUADRADINHOS", no vespertino "A Capital" - criada por Ferreira da Silva, aparecido,ele também, com o CPBD, de que foi um dos fundadores - surgiu a oportunidade que Dias de Deus merecia: a divulgação pública dos seus estudos sobre as histórias aos quadradinhos. Não obstante um certo estilo polémico que imprime às suas opiniões, elas suscitam indiscutível interesse da parte dos estudiosos da especialidade.


António Emanuel Comprido Dias de Deus nasceu em Elvas, em 24 de Setembro de 1936. 
Quem convive com ele cedo se apercebe da sua vasta cultura, que abrange a Literatura, a Música, a Pintura, a História. Não lhe ocorrerá, com facilidade, estar perante um homem da Ciência. Mas, na realidade, Dias de Deus é médico. Mais propriamente: pediatra.
É esta invulgar personalidade que responde hoje a este questionário. Muito embora não seja um coleccionador paradigmático, a verdade é que possui uma vastíssima hemeroteca de banda desenhada.
Como habitualmente, surgiu a pergunta:

- Quando começou a coleccionar revistas de Banda Desenhada, ou de Histórias aos Quadradinhos, se preferir.
- Comecei a coleccionar desde sempre, isto é, desde que comecei a ter à mão revistas com histórias aos quadradinhos.
Nunca me considerei um coleccionador exemplar, porque nunca procurei tapar à viva força os buracos em falta, à maneira de quem ordena cromos ou senhas numa caderneta, para obter uma panela de pressão.
Comprava uma revista quando gostava dela; piorando a qualidade, largava-a. Deste modo tenho muito poucas colecções completas de forma absoluta.
Acrescento ainda que, a partir de 1957 - mais ou menos -, achei que o nível das H.Q. (argumentistas e desenhadores), tinha descido tanto que não valia a pena investir e investigar senão no passado.
- Quais as melhores colecções que tem, considerando a sua raridade e conteúdo?
- Excluo as revistas portuguesas, porque muitos outros coleccionadores as terão, tão boas ou melhores que as minhas. 
Penso que o melhor que possuo se encontra nas revistas inglesas e francesas do período de entre-guerras (1914 a 1940), "comic-books" americanos dos anos 30 e 40, e os primeiros exemplares da revista "Tintin" (belga e francesa).
- Qual o preço mais elevado que pagou por uma peça portuguesa e/ou estrangeira, quando e onde?
- Uma resposta em termos crematísticos não tem qualquer significado, pois pagamos hoje 4000$00 por álbuns que não valem nada, e em 1955 comprávamos 3 "Mosquitos" por $50.
Abstraindo, quanto possível, da taxa de inflação, a peça mais cara adquiri-a há uns quatro anos num alfarrabista (já falido) por 100$00. Era um suplemento grátis de "O Senhor Doutor".
- Colecciona mais alguma coisa?
- Em tempos coleccionava selos, enquanto eles não tinham o aspecto de embrulhar rebuçados. Abandonei essa colecção por completo.
Presentemente colecciono livros infantis e todo o tipo de ilustrações feitas por desenhadores de H.Q., como postais ilustrados e capas de livros.
- Está interessado, neste momento, em alguma revista actual de BD, com a finalidade de obter elementos de estudo?
- Como o meu horizonte de buscas se encerrou em 1957, apenas continuo a comprar o que não tenho até essa data. Abro excepção para revistas de estudos e informação como a "Phenix" e a "Nemo".
- Conte um episódio curioso que tenha acontecido no decorrer das suas pesquisas de revistas antigas nos alfarrabistas.
- Há muitos episódios curiosos.
Para escolher um, prefiro o seguinte: há uns oito anos, num alfarrabista meu fornecedor assíduo, foi-me apontado um maço de revistas, atadas a cordel, com um metro de altura.
Diz-me o vendedor: "Ou me leva isto daqui por 300$00 ou amanhã eu ponho-os no caixote do lixo".
Espreitei, com alguma hesitação, porque não tinha levado carro e a carga era pesada, mas decidi-me aceitar a imposição, desde que o monte de papeis fosse dividido em três embrulhos.
Depois de esperar meia hora por um táxi, e dum esforço incrível de levar aqueles trambolhos escada acima, placidamente pesquisei o que tinha comprado, quase às cegas.
Era uma colecção do "Pêle-Mêle", do "Épatant" e do "Intrépide", dos anos 20, que tinham pertencido a Cottinelli Telmo, e onde, por seu punho, se anotavam as novelas a traduzir, as ilustrações a aproveitar, as H.Q. a publicar no "ABCzinho".
Alguns anos dessas revistas estavam encadernadas pela própria mão de Cottinelli Telmo, detectável no grafismo das letras do fronstispício e lombadas, além do seu monograma - um escudete com letra T.
- Dentre as mais recentes (de 1960 em diante) colecções de revistas, nacionais ou estrangeiras, há alguma que considere com qualidade para ser coleccionável?
- Volto a dizer-lhe que depois de 1957 não me aparece nada digno de ser coleccionável. 
Comprei o "Jornal do Cuto" porque tinha boas reposições,e o "Mundo de Aventuras" (Especial) pelo mesmo motivo.
Quanto a revistas estrangeiras só me interessei pelo "Spirou" do início dos anos 60, onde apareceram os melhores "Gaston Lagaffe".
Ocasionalmente compro um álbum dum desenhador moderno, quando lhe reconheço qualidade estética. Até isso acontece cada vez menos...
- Concluo que,afinal, embora raramente, sempre vai encontrando alguma coisa que valha a pena na BD moderna.
Correndo embora o risco de sair do âmbito do coleccionismo, gostaria que me indicasse quais as obras, e autores, que o levaram a adquirir álbuns ultimamente.
- Bourgeon, Manara, Palacios.
Mas apenas reconheço o valor formal, talvez com algumas excepções para o François Bourgeon. De resto, para mim, comprar álbuns desses autores tem o mesmo significado que comprar livros de ilustradores não narrativos, como Bearsley, Kley, Norman Rockwell.
- Tem alguma recordação desagradável, em relação à perda, por qualquer motivo, de exemplares ou colecções que tenha possuído em tempos?
- Bastantes. A troca ou venda de exemplares actualmente fora do circuito, como a colecção "Grilo" dos anos 50 e os primeiros "Condores Populares".
- Qual a influência, para a BD, resultante da actividade dos coleccionadores?
- Se os novos desenhadores prestassem mais atenção aos trabalhos antigos, poderia haver o perigo dum servilismo oficinal. 
Mas, de uma maneira ou de outra, como eles desenham quase sempre mal, acho que a influência do coleccionador na futura génese criativa é inteiramente nula.

(Texto e foto por Geraldes Lino)








EM CONSTRUÇÃO
banda







segunda-feira, novembro 12, 2018

Preciosidades da BD

Para quem conhece algumas variantes da banda desenhada clássica, a expressão francesa Imagerie d'Épinal remete-o de imediato para umas pranchas coloridas com episódios de carácter burlesco ou de tendência histórico-ficcional.
Possuo vários exemplares (mostro o nº734) com a personagem "Monsieur Bonasse" numa das suas viagens a Paris. A certa altura, um cão persegue-o, morde-o, e para cúmulo, uma patrulha de segurança, julgando-o vulgar ladrão, prende-o.
Acaba o episódio com Bonasse, já libertado, a passear no telhado, em cena de sonambulismo...
Ingénuo, mas divertido e com um grafismo singular

quinta-feira, novembro 08, 2018

Amadora BD 2018 (4 de 4) - Nomeados e Premiados

PNBD - Melhor Álbum Português
Comer/Beber

Comer/Beber
Filipe Melo e Juan Cavia, 
Tinta da China
Mosi, “Nem Todos os Cactos Têm Picos”, Polvo,
Ricardo Cabral, “Ritual” do álbum “Silêncio”, The Lisbon Studio + G.Floy + Comic
Tiago Baptista, “Berlim, Cidade sem Sombras”, Chili com Carne
Xavier Almeida, “Santa Camarão”, Chili com Carne
Fábio Veras, “Jardim dos Espectros”, Escorpião Azul
PNBD - Melhor Autor Português
em Álbum Original de Língua Estrangeira
Jorge Coelho
Robocop: Citizens Arrest”, Boom Studios

“Robocop: Citizens Arrest”, Boom Studios
Manuel Morgado, “Les Arcanes de la Lune Noire:Greldinard”, Lombard
Miguel Mendonça, “Detective Comics” ou “Justice League of America”, DC Comics
André Lima Araújo, “Black Panther: Long Live the King” ou “Ben Reilly Scarlet Spider”, Marvel
PNBD - Melhor Álbum de Autor Estrangeiro,
Uma Irmã, de Bastien Vivés,

Afirma Pereira”, de Pierre-Henry Gomont, G. Floy,
Cinco Mil Quilómetros”, de Manuele Fior, 
Devir
Malditos Amigos”, André Diniz, Polvo,
O Árabe do Futuro 
3. Ser Jovem no Médio-Oriente (1985-87)”, de Riad Sattouf, Teorema
O Diário de Anne Frank”, de Ari Folman e David Polonsky, Porto Editora
Os Trilhos do Acaso”, de Paco Roca, Levoir
Saga”, de Bryan K Vaughan, G. Floy
Uma Irmã”
de Bastien Vivès, Levoir

PNBD - Melhor Álbum de Tiras Humorísticas

A Entediante Vida de Morte Crens”, de Gustavo Borges, 
Bicho Carpinteiro
Bartoon 25 Anos”
Luís Afonso, Arranha-Céus + Público
Bateria Fraca”, de Rick Kirkman & Jerry Scott, Bizâncio
Maria - A Maior das Subversões”, de Henrique Magalhães, Polvo

PNBD - Prémio BDs Clássicas da 9ª Arte
(edição original há mais de 10 anos)

Aqui Mesmo”, de Forest e Tardi, Levoir
Do Inferno”, de Alan Moore e Eddie Campbell, Devir,
Espião Acácio”, de Fernando Relvas, 
Mundo Fantasma + Turbina
Nonnonba”
de Shigeru Mizuki, Devir
The Ghost in the Shell”, de Shirow Masamune, JBC Portugal
Torpedo 1936”, de Enrique Sánchez Abulí e Jori Nernet, Levoir


PNBD - Melhor Álbum Português
PNBD - Melhor fanzine,
de Filipe Melo e Juan Cavia. de Geraldes Lino
Dragomante”, de Filipe Faria e Manuel Morgado, Comic-Heart + G.Floy
Nem Todos os Cactos Têm Picos”, de Mosi, Polvo
Os Regressos”, de Pedro Moura e Marta Teives, Polvo
Santa Camarão”, de Xavier Almeida, Chili com Carne
                                          Silêncio”, AA VV, The Lisbon Studio + G.Floy + Comic H
PNBD - Melhor Argumento para Álbum Português

Filipe Duarte Pina
“Monstros” do álbum “Silêncio”
The Lisbon Studio + G.Floy + Comic Heart
Filipe Faria, “Dragomante”, Comic Heart + G.Floy
Filipe Melo, “Comer e Beber”, Tinta da China
Pedro Moura, “Os Regressos”, Polvo
Xavier Almeida, “Santa Camarão”, Chili com Carne

PNBD - Melhor Desenho para Álbum Português

Marta Teives
“Os Regressos”
Polvo
                                                                   Marta Teives,  “Nem Todos os Cactos Têm Picos  
                                     
                                        PNBD - Prémio Melhor Fanzine
                                                  EROS - Nº 11

                                                Editor: Geraldes Lino

Para melhor fanzine, os nomeados são, "Eros, nº 11".

Para melhor fanzine, os nomeados são
“Eros,nº11”, editado por Geraldes Lino, e também:
“Improvized Zine 1.5”, por Marcos Farrajota, 
“Pentângulo #1”, por Jorge Nesbitt e Marcos Farrajota, e 
"H-Alt", de Sérgio Santos                                                     

segunda-feira, novembro 05, 2018

Tertúlia BD de Lisboa 413ºEncontro-Novembro 2018





Este mês a tertúlia lisboeta vai ter como programa a apresentação de várias obras de banda desenhada de matriz portuguesa editadas em datas recentes, sob a chancela Escorpião Azul, designadamente Futuroscópio, Nódoa Negra, Watchers, com a presença dos editores e autores respectivos.
tem
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Informação sobre a Tertúlia BD de Lisboa, de periodicidade mensal há trinta e quatro anos, sempre com a presença de um autor de BD como convidado especial ou homenageado: na maior parte de nacionalidade portuguesa, mas também, esporadicamente, de nacionalidade estrangeira
 
  Casa do Alentejo em modo de buffet.
- Preço: 12€, incluindo sopa, prato principal (com escolha entre um prato de peixe e dois de carne), sobremesa, bebidas e café, tudo incluído. 
- Entrada livre a todos os que gostam de BD (Leitores, autores, editores, coleccionadores, críticos, divulgadores).

 
 

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