sábado, janeiro 31, 2015

Comic Jam (2ª fase: nº 19 - Total: 72)


 Há sempre uma primeira vez para tudo - peço desculpa por usar o estafado lugar comum - e tinha de acontecer também ao comic jam, a brincadeira gráfica elaborada mensalmente na Tertúlia BD de Lisboa.

Quem costume ver estas bandas desenhadas (tipo "cadáver esquisito") realizadas de improviso normalmente em seis vinhetas, por idêntico número de desenhadores numa só prancha formato A4, estranhará o bem diferente aspecto deste comic jam composto por duas pranchas com onze vinhetas,  visíveis no topo da postagem.

Autores participantes:

Prancha da esquerda:
1 - Marta Patalão ------------ 2 - Tiago Bulha
3 - Shuâng Wú --------------- 4 - Sérgio Santos
5 - Joana Morgado --------- 6 - Filipe Duarte
  

Prancha da direita:
1 - Rita Marques ------------ 2 - Ana Saúde
3 - Lúcia Cesário ----------- 4 - Paulo Amorim
5/6 (Vinheta dupla) ------------- Álvaro
  

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Amanhã falarei do próximo encontro da Tertúlia BD de Lisboa, com a autobiografia de Ricardo Venâncio
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Os visitantes interessados em verem os "posts" anteriores que contêm todos os "comic jam" realizados na Tertúlia BD de Lisboa, mas também os muito diferentes feitos nos eventos AMADORABD e ANICOMICS, poderão fazê-lo com um simples clique no item Comic Jam visível aqui por baixo no rodapé.

sexta-feira, janeiro 30, 2015

Festivais, Salões BD e afins - 9ª Mostra BD de Odemira


A BDteca 2015 - 9ª Mostra de Banda Desenhada de Odemira teve início, como habitualmente, pelo lançamento do seu concurso de BD, cujo regulamento divulguei aqui - pode ser visto indo à coluna Arquivo do Blogue e clicando no 6º item, Concursos - Concurso de BD da BDteca 2015 -, sendo que o prazo para entrega de obras concorrentes só termina a 20 de Fevereiro.

Entretanto, as várias componentes do evento visíveis, visitáveis e participáveis, têm início no dia 2 de Fevereiro.

Por ordem cronológica, eis o programa:

I - Exposição de bandas desenhadas vencedoras dos anteriores concursos de BD de Odemira - Escola Dr. Manuel Candeias Gonçalves
A mostra das bedês estará patente ao público de 2 a 20 de Fevereiro. 

II - De 3 a 28 de Fevereiro
Mostras Documentais de Banda Desenhada
Ao longo do mês estarão patentes na Biblioteca Municipal mostras documentais de BD, segundo temas e autores distintos.

III - De 7 a 28 de Fevereiro
Exposição de pranchas originais respeitantes ao livro "Aventura no Deserto", de Bruno Rola

Faço "copy paste" do texto que me foi enviado (por acaso não conheço o autor nem a sua obra de estreia, duas novidades)

Este jovem artista e arquitecto algarvio escolheu a temática militar para criar a sua primeira obra, inspirada no estilo manga (banda desenhada japonesa). Conta a história da tripulação de um blindado do exército norte-americano que se perdeu após uma tempestade de areia, durante a Guerra do Golfo Pérsico.

IV - 26 Fevereiro
Workshop de BD "A Hora da Mangá"
Local: Biblioteca Municipal
Haverá dois períodos:
10h30 - Para alunos do 1º Ciclo
14h00 - Para alunos do 2º Ciclo

Copio, mais uma vez, o texto da organização:

Este workshop pretende acompanhar os jovens na prática do desenho e desenvolver as suas capacidades de observação e curiosidade pela forma, linha e mancha tão necessárias na expressão plástica. O workshop é dinamizado por Bruno Rola e será dirigido ao público escolar.
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Para ver postagens anteriores relacionados com os temas Festivais, Salões BD e afins, Odemira BD bastará clicar nesses itens visíveis em rodapé     

terça-feira, janeiro 27, 2015

Suportes Improváveis para BD (I) Cartaz do Festival BD de Angoulême + 42º Festival BD Angoulême/2015 - Pormenores do Programa


No princípio era o papel, como suporte ideal para a BD (após experiências em pedras e em papiros). Depois, em data recente, chegou a era digital, que não fez desaparecer o papel, mas que o vai substituindo paulatinamente em significativa escala.

Entretanto, em simultâneo, a imaginação dos autores de BD é pródiga em encontrar suportes invulgares, tais como capas de livros, bilhetes postais, t-shirts, envólucros de discos de 33 1/3 rotações, rótulos de latas de salsichas ou de garrafas de vinho, e até das raspadinhas, com curtíssimas bedês de três vinhetas. Falo com conhecimento de causa, possuo peças de todos essas curiosidades gráficas.  

Apesar disso, o cartaz do 42º Festival International de la Bande Dessinée d'Angoulême, ou seja, a edição do corrente ano de 2015 surpreendeu-me, apresentando-se como mais um improvável suporte para BD, concretamente para uma banda desenhada sem palavras da autoria de Bill Watterson.

A surpresa foi ocasionada por três motivos: pela imprevisibilidade do suporte, mais um de que tenho conhecimento, o primeiro; ter sido a única vez que tal acontece num cartaz do famoso festival francês, o segundo; por ter como autor o célebre criador da inesquecível dupla "Calvin and Hobbes", o retirado Bill Watterson, o terceiro motivo

Como é sabido, ele afastou-se, e afirma que em definitivo, da Banda Desenhada. Terá tido necessidade de dar o dito por não dito para realizar esta banda desenhada, apesar de curta, de quinze vinhetas apenas e sem palavras, para ilustrar o cartaz do festival BD de Angoulême.

Mas, tal como no ano passado - quando foi galardoado com o Grande Prémio da Cidade de Angoulême -, não estará lá presente. 
Além desta sua recusa de participar em eventos, continua igualmente a manter-se irredutível na atitude que tomou há quase vinte anos (em fins de 1995) de pôr fim à série do miúdo Calvin e do seu tigre de peluche Hobbes - que iniciara em 1985 e que mantivera durante dez anos -, ou ainda de maior radicalismo, de não tornar a fazer BD.

Todavia, surpreendentemente, abriu excepção para fazer a bd que aparece no cartaz do festival de Angoulême, reproduzida no topo da presente postagem.

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Ora por falar no cartaz do famoso - e duradouro - festival francês, ficam registados nesta, digamos, 2ª parte, algumas informações acerca do evento. Poder-se-á classificar o "post" como sendo "2 em 1".
 
42º Festival International 
de la Bande Dessinée d'Angoulême
Pormenores do programa

Começa na 5ª feira, 29 de Janeiro, termina no Domingo, 1 de Fevereiro, a edição de 2015 do mais importante evento europeu (cerca de 200.000 pessoas em quatro dias!) dedicado à BD.

Repetindo o lugar comum, apetece sempre dizer que este festival "é à grande e à francesa".

Para mim, que fui visitante vinte e tal anos seguidos, há dois aspectos imperdíveis: as exposições e os contactos, mesmo que breves - o tempo de sacar um desenho autografado - com os autores.

Quanto às exposições, vejamos as que me parecem mais interessantes:


MESTRES DA BD

1) BILL WATTERSON, Grande Prémio de 2014


2) JACK KIRBY

3) JIRÔ TANIGUCHI


HERÓIS DA BD

Mafalda
Snoopy
Boule e Bill
Blake e Mortimer

TARDI E A GRANDE GUERRA

UDERZO POR EXTENSO

40 ANOS DE GRANDES PRÉMIOS DE ANGOULÊME

EXPOSIÇÕES TEMÁTICAS

Ficção Científica na BD
Cadernos de Viagem
Júlio Verne
Humor

EXPOSIÇÃO DEDICADA AO MAGAZINE CHARLIE HEBDO 

A propósito do tema, será lançado o livro
"La BD est Charlie"
com a participação de cerca de 150 autores, entre banda-desenhistas e cartunistas, nomeadamente Crumb, Milo Manara, Lewis Trondheim, Zep, Guy Delisle, entre outros.

E a merecer destaque especial, a homenagem que será prestada ao Charlie Hebdo, com a atribuição do 
PRÉMIO CHARLIE DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO

IMPORTANTE:

Os candidatos finalistas ao Grande Prémio de Angoulême são três:

1) O japonês Katsuhiro Otomo
2) O argumentista britânico Alan Moore
3) O autor belga Hermann 

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Para ver postagens anteriores relacionados com os temas Festivais, Angoulême BD, Sem Palavras, Bill Watterson, bastará clicar nesses itens visíveis em rodapé    

segunda-feira, janeiro 26, 2015

Entrevistas Antigas a Autores de BD (IV) - António Ruivo



Continuando a reproduzir entrevistas que fiz em meados da década de oitenta, no jornal Diário Popular, mais propriamente num suplemento intitulado "Tablóide", cabe hoje a vez a um novo que me mostrara umas bandas desenhadas de sua autoria, e que me surpreenderam. António Ruivo, o seu nome, tanto quanto sei desapareceu da área da BD e, sinceramente, perdi-lhe o rasto.

Pode ser que alguém veja a reprodução desta entrevista, acompanhada da prancha inicial da sua bd "O Beco" (que aqui será mostrada na totalidade em "post" futuro), e ele me contacte. Gostaria de saber o que tem feito, se voltou a fazer alguma coisa de BD.

A entrevista que se segue foi publicada na edição de 9 de Novembro de 1985, do desaparecido vespertino Diário Popular, jornal de grande prestígio, de âmbito nacional, que se editava em Lisboa. 
E um dos aspectos que julgo com interesse é apercebermo-nos do que se pensava nessa década acerca da BD.
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Ser profissional de BD
é talvez um sonho
mas quero tentar

- diz, bem acordado, António Ruivo


Entre os jovens que gostam de fazer banda desenhada, poucos são aqueles que, actualmente, se interessam por temas de mistério e terror, ou de "western".
Não é esse o caso de António Ruivo. Ele sente uma especial atracção - artística, evidentemente - por esses ambientes, além de que possui notável - porventura perigosa - facilidade em assimilar o grafismo de alguns grandes mestres de ambos os géneros.

"O Beco", a banda desenhada que se inicia neste número de TABLÓIDE, é bem demonstrativa do talento polivalente deste jovem: ele é, simultaneamente, imaginoso argumentista e brilhante realizador gráfico. Neste último aspecto, para além de uma invulgar capacidade técnica, salienta-se o cuidado na recriação dos ambientes e a planificação de ritmo cinematográfico.

Nascido em Lisboa, a dezasseis de Novembro de 1964, José António Emídio Martins Ruivo completou o 12º Ano e está, neste momento, a cumprir o serviço militar obrigatório. A sua produtividade afrouxou por esse motivo, mas não a sua intensa atracção pela banda desenhada.

"Ler BD é o meu passatempo favorito, sem qualquer dúvida" - diz António Ruivo. "Por outro lado, quando a estou a fazer, dá uma trabalheira dos diabos. Mas dá o dobro do gozo..."

Eis o que seria ideal: cada um de nós trabalhar naquilo que verdadeiramente nos desse prazer... Mas, claro, há outras coisas a considerar: ganhar para a bucha, pagar a renda da sua própria casa, num futuro breve, enfim, organizar a sua vida. A banda desenhada dar-lhe-á essa possibilidade?

"Sobre o ponto de vista profissional não me estou a ver a fazer mais nada. Talvez seja uma ilusão, um sonho, mas estou disposto a tentar essa via... Depois logo se vê."

É natural que um jovem seja assim, entusiasta, sonhador...
Mas os pais desse jovem, como encararão eles este entusiasmo por uma coisa que, se calhar, menosprezam?

"A minha mãe diz: «Mas isso dá alguma coisa?» O meu pai reforça: «Só estás p'raí a cansar a vista!...»"

E o público apressado que passa pelas bancas dos ardinas, que vagamente olha para as capas coloridas daquelas revistas com nomes curiosos - «Mosquito» (1), «Mundo de Aventuras», «Jornal da BD», «Falcão» - o que pensará ele deste entusiasmo renascido à volta das velhas histórias aos quadradinhos? Começará esse público - jovem ou adulto, o gosto pela BD não sofre a barreira das idades... -, começará ele a sentir mais interesse pela banda desenhada?

"Acho que quem terá uma palavra a dizer sobre isso serão os editores e livreiros, pois certamente possuem números sobre vendas que reflectirão o menor ou maior interesse da parte do público relativamente à BD. 
No entanto, o número de editoras e publicações que passaram a incluir BD nos seus catálogos e páginas aumentou, assim como apareceram novas editoras e algumas novas revistas. Penso, por isso, que o interesse do público aumentou. Quanto mais não seja por todas estas editoras e publicações o estarem a despertar."

Portanto, na opinião de António Ruivo, o ambiente em Portugal, actualmente, é favorável à BD. Será isto?

"Estamos longe do ambiente ideal, claro! Mas tudo isto é relativo, sabe? temos de ver a situação económica actual do público, e como ela está, penso que apesar de tudo não será o pior possível. Continua-se a publicar bastante BD.
Mesmo assim, embora os autores portugueses comecem a aparecer mais, a grande percentagem é de BD estrangeira."

É um facto. Todavia, à frente de duas das principais revistas portuguesas, está um senhor da BD, Jorge Magalhães, que puxa pelos novos sempre que pode.

"É isso mesmo. Tanto assim que foi no «Mundo de Aventuras» (nº 558, de 1 de Setembro último) que apareceu um western intitulado "Shannon" que fiz em sete pranchas. É a minha única banda desenhada publicada até agora."

Shannon, uma personagem do Oeste americano, um herói criado por Ruivo. É para continuar?

"Tinha realmente a intenção de continuar, com o «Shannon», embora em moldes diferentes, tanto a nível gráfico como na psicologia das personagens. Para além disso, e apesar de ter alguns outros argumentos para mais histórias, nenhum deles é destinado a personagem fixa."

Piremo-nos do Oeste. Faz um calor dos demónios, zunem-nos as balas aos ouvidos. Voltemos p'ràs bandas lusitanas e falemos dos nossos desenhadores. Nomes a destacar?

"Victor Mesquita, E.T.Coelho, Augusto Trigo, Fernando Relvas."

Estrangeiros?

"Berni Wrightson, um desenhador incrível; também Frazetta, Hermann, Giraud, Harold Foster... enfim, tantos génios!"

Desses, há três que guiam, insensivelmente talvez, a mão de António Ruivo quando desenha. Mas, claro: não há ninguém que comece que não sofra influências...

"Bem, quanto às influências nas personagens que crio, tento que elas sejam o menos possível. Se a nível gráfico não consigo, por enquanto, evitar certas referências, pretendo que os intervenientes nas minhas histórias sejam diferentes de quaisquer outras.
É claro que em meia dúzia de páginas isto é difícil provar."

Os temas favoritos são evidentes quando se vêem as bandas desenhadas deste jovem que tenho à minha frente.
Deu-me agora para o observar melhor: tem um tipo pouco vulgar, este António Ruivo. Talvez isso se deva aos óculos redondos, à John Lennon, e ao cabelo sempre curto... É curioso: não o imaginaria, se o visse na rua, se não o conhecesse, a fazer bandas desenhadas de «cow-boys», monstros mutantes, coisas assim...

"Os meus temas favoritos são realmente o «western» e a ficção fantástica. Quer dizer: algo que engloba a ficção científica, o horror, o fantástico... Sei lá! Tudo o que a imaginação conseguir conceber."

E temas portugueses? Dá para experimentar um dia?

"Já tive a ideia de escrever e desenhar algo no contexto histórico da época dos Descobrimentos; no entanto, por questão de tempo que implicaria uma investigação, e a necessidade de documentação rigorosa, achei por bem dedicar-me a outras coisas. Mas no futuro, e talvez sobre outro aspecto, com um bom argumento... é muito possível."

E outra hipótese, talvez menos difícil: um herói português em ambientes estranhos?

"É uma ideia. Ideia que, aliás, já me tinha ocorrido. Falta pensar melhor sobre isso, e talvez crie qualquer coisa. Ideias tenho eu muitas, por enquanto falta-me é tempo. Não fosse isso e eu já tinha feito umas coisas meio esquisitas, pode crer!"

Heróis de papel, tantos os nomes que toda a gente conhece: Flash Gordon, Tarzan, Príncipe Valente, Rip Kirby, Steve Canyon, Cuto, Mandrake, Corto Maltese...
Excepcionais para o António Ruivo, quais são?

"Olhe: Bernard Prince e Comanche são duas séries cujo conjunto de personagens, clima psicológico e aventuresco considero excepcionais. Como os seus autores, aliás. 
Ah! E Thorgal. Tal como as outras, foi uma série que me cativou desde a primeira leitura."

Para terminar, vamos lá a uma curiosidadezinha doméstica: que pensa do "Tablóide"?

"Penso que é uma oportunidade para os jovens valores da BD portuguesa verem os seus trabalhos publicados. É uma iniciativa a elogiar e apoiar sobre todos os ângulos. Pela minha parte, só uma palavra: obrigado."

Ora, António Ruivo, você e todos os jovens - e até alguns, já bem menos jovens... - que em solidões prolongadas, enchem pranchas e pranchas de desenhos, num gosto e numa luta tão pouco valorizada, bem merecem, no mínimo, este TABLÓIDE.      

(1) Nesta altura estava em publicação a 5ª Série, editada pela Editorial Futura

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Os interessados em ler as entrevistas anteriores (a Jorge Colombo, Luís Louro, António Simões) poderão fazê-lo clicando no item Entrevistas antigas a autores de BD visível no rodapé

sábado, janeiro 24, 2015

Improvisos na Toalha de Mesa (XXVII)








No  passado encontro da Tertúlia BD de Lisboa, em 6 de Janeiro, no lugar do Convidado Especial houve uma convidada - Marta Patalão - autora de BD do género japonês, a chamada mangá.

Este facto ocasionou que várias amigas da Marta estivessem presentes, e algumas delas deixaram a sua marca gráfica nas toalhas de mesa, bem como a própria Marta.

Como de costume, rasguei bocados das toalhas de papel e assim aproveitei esses desenhos improvisados para os mostrar aqui no blogue. Estão patentes no topo do "post", e tiveram a autoria de:

1. Shuang Wú (uma jovem com ascendência japonesa)
2. Marta Patalão
3. Joana Morgado
4. Rita Marques
5. Filipe Duarte
6. Filipe Duarte
7. Sérgio Santos

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Para o caso de alguém querer ver outras ilustrações improvisadas reproduzidas nos 26 "posts" anteriores, poderá fazê-lo clicando sobre o item Improvisos na Toalha de Mesa visível no rodapé 

sexta-feira, janeiro 23, 2015

Mesas-Redondas (XIII) - Rafael Bordalo Pinheiro



Rafael Bordalo Pinheiro é o autor da que tem sido considerada a primeira BD portuguesa, com o seu álbum "Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro Sobre a Picaresca Viagem do Imperador de Rasilb pela Europa" (sendo Rasilb o anagrama de Brasil).

A atribuição da paternidade de Rafael Bordalo Pinheiro da banda desenhada em Portugal deve-se ao ilustre estudioso António Dias de Deus na sua obra "Os Comics em Portugal. Uma História da Banda Desenhada", editada em 1997.

Acontece que hoje, dia 23 de Janeiro, passam 110 anos sobre a morte daquele notável ceramista, caricaturista e cartunista, nascido em Lisboa a 21 de Março de 1846, falecido na mesma cidade a 23 de Janeiro de 1905. 

Aproveitando a efeméride, mas também os recentes acontecimentos com o magazine satírico Charlie Hebdo, o Museu Bordalo Pinheiro organiza hoje uma mesa redonda dedicada ao tema "Cartoon e Liberdade de Imprensa", em que participarão os cartunistas António e Zé Bandeira, e o ilustrador e autor de BD Nuno Saraiva, sendo moderador o Dr. Guilherme de Oliveira Martins, presidente do Centro Nacional de Cultura.
 
A este propósito foi distribuído um press release, que tomo a liberdade de reproduzir: 


No dia 23 de Janeiro passam 110 anos sobre a morte de Rafael Bordalo Pinheiro,

Não é que gostemos muito de comemorar as mortes, mas este número redondo – 110 anos – e o momento tão complicado da vida nacional (e internacional, com o ataque ao Charlie Hebdo), faz-nos pensar que relembrar o olhar crítico de Bordalo é muito importante. 


Para isso O Museu Bordalo Pinheiro promove no dia 23 de janeiro, pelas 18h30 uma Mesa Redonda sobre a importância do cartoon nos jornais, para a qual convidámos os cartoonistas António, do Expresso, Bandeira, do Diário de Notícias e Nuno Saraiva, do Sol.

Como moderador o presidente do Centro Nacional de Cultura Guilherme d’Oliveira Martins, estudioso da nossa Identidade e admirador de Bordalo.


Lembramos que Rafael Bordalo Pinheiro reagiu às tentativas de encerramento dos seus jornais e atentados contra a sua vida com um enorme humor. Na tira deste convite, referente à tentativa de encerramento d' O António Maria em 1881, pode ler-se que mesmo debaixo do punhal dos sicários ou sob o cutelo dos algozes  “Nós afirmamos que o António Maria não cessará de aparecer. Continua-se a receber assinaturas para esta publicação imortal”.


Assim, o Museu Bordalo Pinheiro associa-se a este debate tão na ordem do dia mas já secular.


                                                                                          Entrada Gratuita

23 de janeiro, 18h30

Galeria do Museu Bordalo Pinheiro

Campo Grande, 382 – Lisboa

Tel: 21 817 06 71 |

Email: museu.bordalopinheiro@cm-lisboa.pt
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RAFAEL BORDALO PINHEIRO (1846-1905)

Síntese biobibliográfica

Raphael Bordallo Pinheiro - era assim que se grafava o seu nome na época -, nasceu em Lisboa a 21 de Março de 1846, filho de Manuel Maria Bordallo Pinheiro e Augusta Maria do Ó Carvalho Prostes.

Estreou-se como actor aos 14 anos, no Teatro Garrett, experiência que não teve seguimento, mas que muito o marcou.

Na sua juventude gozou, com excesso, a vida boémia de Lisboa, pelo que a sua carreira académica foi um fracasso, não por falta de se matricular em várias instituições de ensino, designadamente Academia de Belas Artes (desenho de arquitectura civil, desenho antigo e modelo vivo), Curso Superior de Letras, Escola de Arte Dramática, embora nunca tenha completado qualquer curso.
O seu primeiro emprego, conseguido por interferência de seu pai, foi num emprego público, a Câmara dos Pares, mantendo-se a seguir cursos de pintura a aguarela, e fazendo caricaturas, o que o levou a tentar ganhar a vida como artista plástico.
As suas primeiras obras intitulam-se "O Dente da Baronesa", de e "O Calcanhar de Achiles", ambas dedicadas à caricatura, e no que se classifica de figuração narrativa, em "A Berlinda - Reproducções d'um Álbum Humorístico ao Correr do Lápis", todas datadas de 1870.
Estava próxima a realização da sua obra mais importante, representativa do que se pode considerar como a génese da banda desenhada portuguesa, e que data de 1872. Trata-se de um álbum, em imagens sequenciais, com o título "Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro Sobre a Picaresca Viagem do Imperador de Rasilb pela Europa", uma sátira tendo por personagem central o Imperador Pedro II do Brasil.
Em 1875 publica a "Lanterna Mágica", onde irá surgir a sua personagem mais icónica, o Zé Povinho, com o seu popular "manguito".
Neste mesmo ano, a 19 de Agosto, partiu para o Brasil, onde colaborou em jornais e revistas, designadamente O Mosquito, Psit!!!, O Besouro.
Regressa a Portugal em Maio de 1879, onde trabalha na importante revista António Maria (1879), no "Álbum das Glórias" (1880), e no álbum de BD "No Lazareto de Lisboa" (1881).
Em 1882 e 1883 publicou-se o "Almanach do António Maria". Em 1884 experimenta trabalhar em barro nas oficinas de Gomes de Avelar e em seguida na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, onde se manteve durante vinte e um anos.
Em 1885 a revista "Pontos nos ii" substitui "O António Maria". Nesse ano homenageia os seus amigos do Grupo doLeão num painel que ficará no Café Leão de Ouro, em Lisboa, e participa com os seus irmãos Columbano e Maria Augusta na redecoração do interior do Palácio do Beau Séjour, também em Lisboa.
Em 1889 realiza a decoração do Pavilhão de Portugal na Exposição de Paris, desse ano, pelo que é agraciado com a Legião de Honra.
devido a uma lesão no coração, morre a 23 de Janeiro de 1905, no nº 28 da Rua da Abegoaria, actual Largo Rafael Bordalo Pinheiro.

Obras consultadas:
Os Comics em Portugal. Uma História da Banda Desenhada, de António Dias de Deus
Uma Nova Forma de Estar no Humor, de Osvaldo Macedo de Sousa  
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Os interessados em ler textos anteriores das rubricas Mesas-Redondas ou Charlie Hebdo, podem fazê-lo clicando nesse item visível em rodapé.