quarta-feira, julho 30, 2014

Ficção Científica em E-zine






Ficção Científica é um tema apaixonante com que, na adolescência, travei conhecimento através da literatura e da banda desenhada.

Na literatura foi nas páginas da notável Colecção Argonauta; na banda desenhada foi graças às belíssimas imagens de Flash Gordon (que conheci sob o nome de Roldan, logo na 1ª série da revista Mundo de Aventuras), e nesta mesma publicação conheci Brick Bradford.

Mais tarde, em edições americanas, apreciei Buck Rogers (série famosa, baseada na novela Armageddon-2419, de PhilipNowlan). Na BD europeia interessei-me por Os Náufragos do Tempo, Valérian, O Vagabundo dos Limbos, Luc Orient (todas estas na edição portuguesa da revista Tintin), entre outras séries e heróis.

Claro que, tal como o género policial, a ficção científica (FC) teve sempre detractores. Mas teve também - e continua a ter - indefectíveis admiradores. 
É o caso de João Raz, ilustrador e autor de BD (1), que acaba de apresentar uma magnífica publicação digital (ezine ou webzine) intitulado Ezine Ficção Científica - Ilustração & Banda Desenhada.

Com elevada qualidade gráfica, começando pela capa (não assinada, mas descobre-se de quem é quando se folheia o webzine) de Luís Belerique - que até é entrevistado -, dá de imediato uma ideia concreta do nível estético do conteúdo -, este ezine (prefiro webzine, mas tanto faz), inclui obras de trinta e seis colaboradores, sendo vinte e nove ilustradores - basicamente de ilustração em registo de FC, entre os quais o próprio webeditor João Raz - e apenas sete (poucos, mas bons) autores de BD (que, afinal de contas, também são ilustradores, cujas bedês são igualmente localizadas na área da FC):  
Nuno Sarabando, Diogo Carvalho, Bruno Matos, João Monteiro, Joel Sousa, Pedro Pereira e Liliana Maia.

De cada um deles seleccionei uma prancha, que reproduzi sob a capa do e-zine, exactamente por esta ordem. E aproveito para lançar um desafio: qual o pseudónimo habitual de Pedro Pereira, pelo qual se tornou conhecido o seu estilo inconfundível na BD? (2).

Devo dizer que a qualidade geral das ilustrações me agradou bastante, e que as peças de BD me surpreenderam positivamente.

O webzine pode ser visto, lido, e folheado (só tem o defeito de não ser de papel, mas os tempos são mais propícios ao "material" gratuito virtual...) clicando no seguinte link:

 issuu.com/desenhosinksrabiscos/docs/ezine_dir-scfi_preview2

------------------------------------------------------------------------------------------ 
JOÃO RAZ

Autobiobibliografia


João Carlos Pardal Pesseto Marques nasceu em Vendas Novas a 30 de setembro de 1976. Nascido e criado no Alentejo, trocou os costumes e os cheiros característicos daquela região por outra cidade, o Barreiro, local onde reside há mais de doze anos.

                                            2002

Participou na Exposição Internacional de Artes Plásticas de Vendas Novas.

                                            2009

Cooperou na publicação “Zona Negra” em setembro de 2009 com uma ilustração de terror. O lançamento foi no “Festival Motel X”.

                                            2010

Fevereiro - Contribuiu com uma ilustração no “Ecozine Celacanto” alusivo ao Lobo.

Março - Participou na publicação “Zona Fantástica”. O lançamento foi integrado no “Festival Fantasporto”.

Maio - A aposta criativa do autor voltou-se para a banda desenhada na publicação “Zona Gráfica volume II”.

Maio- Participou na exposição “Coletivo Zona”, no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja.

Novembro - Foi lançada a publicação “Zona Negra 2” em que participa com ilustrações de fantasia e terror.

                                           2011

Março - Foi publicada na “Zona Monstra” uma banda desenhada com o nome “Planeta Opressão” do grupo de autores R2FL.

Maio - Foi convidado pelo Grupo Entropia para participar com trabalhos no “Funzip n.º 6”.

Novembro - Participou na exposição “Universos da Entropia”, no Salão Nobre da Junta de freguesia de Carcavelos.

2012

10 de março - Inaugurou na Bedeteca de Beja (1ºandar da Casa da Cultura) a exposição  “André Caetano e João Raz”.

                                             2013

 Janeiro - Foi lançado o fanzine online o “EntropiaEzine” em que participa com ilustrações.

Março - Participou na exposição “Universos da Entropia”,no Pavilhão de Macau, em Loures integrado no Specweek 2013.

Junho - Publicou o livro de Ilustrações de Fantasia “OUTROS MUNDOS -  Outras Fantasias.”

Junho – Participou no coletivo de autores, “Os Escudos da Lusitânia”.

 Agosto – Participou na “Mostra de Ilustração, BD e Cartoon”, em Corroios a convite de Pedro Manaças.
10 Novembro - Participou no “Zona Gráfica 3” com uma ilustração de fantasia. O lançamento foi integrado no FIBDA 2013
Novembro - Participou na exposição “Geração 2013”, artistas emergentes patente na Galeria Municipal do Barreiro.
15 Dezembro- Lançou a publicação digital do coletivo (43 autores) “Desenhos, Inks e Rabiscos … Fantasia”.

                                            2014
18 de Janeiro- Lançou a 2ª tiragem do livro de Ilustrações de Fantasia “OUTROS MUNDOS -  Outras Fantasias”.
18 de Fevereiro – Dinamizou workshops com alunos da escola C+S e Escola Secundária de Vendas Novas
3 de Maio - Participou no colectivo de autores “Tarot Collective” -Exposição na Galeria Geraldes da Silva, no Porto.
31 de Maio-  Participou numa exposição integrada  no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja  com o  coletivo (43 autores)  “Desenhos, Inks e Rabiscos … Fantasia.”
14 de Junho- Inaugura a exposição  «Ilustração Fantástica», no auditório Augusto Cabrita, no Barreiro.
30 de Julho- Lançou a publicação digital do coletivo “Desenhos, Inks e Rabiscos … Ficção Cientifica”.


Facebook - https://www.facebook.com/JoaoRazIlustracaoEBandaDesenhada?ref_type=bookmark


------------------------------------------------------------------------------------------ 
(1) ... e exímio jogador de matraquilhos - mas isto é uma private joke só para ele e alguns amigos presentes em Junho de 2014 no Festival Internacional de BD de Beja...

(2) Gato escondido com o rabo de fora... 
 

segunda-feira, julho 28, 2014

Exposições BD Avulsas (Vila do Conde) - Agonia Sampaio






Agonia Sampaio é um dos poucos autores de BD portugueses quase totalmente dedicado à criação de bandas desenhadas com destinatário específico: o público infantil.

A sua vasta produção, praticamente toda a preto e branco - com excepção de algumas capas, como sucede com aquela que encima o presente "post" -, espalha-se por jornais, álbuns, revistas e fanzines, e é toda da  sua exclusiva autoria. Ou seja, ele é um autor completo: delineia o argumento, transforma-o em guião, faz os desenhos sequenciais e finalmente a legendagem.

Foi do seu já extenso acervo que saiu o material gráfico (cerca de duas dezenas de pranchas) suficiente para a exposição intitulada "De Um Simples Traço Nasce Um Sonho", patente na Biblioteca Municipal José Régio de Vila do Conde até fins de Agosto. (*)

 Biblioteca Municipal José Régio
Rua Dr. António José Sousa Pereira
4480-807 Vila do Conde 

Telef. 252 240 040
E-mail: biblioteca@cm-viladoconde.pt
Site: http://www.bm-joseregio.com

(*) A inauguração teve lugar a 25 de Julho, mas só tardiamente dela tive conhecimento.


Imagens que ilustram o presente "post":

1 - Capa de um fanzine editado por Agonia Sampaio com a sua banda desenhada de cariz infantil "História de Uma Cerejinha"

2 e 3 - Duas pranchas dessa mesma banda desenhada

4, 5 e 6 - Fotos da exposição na galeria da Biblioteca Municipal José Régio de Vila do Conde (enviadas pela funcionária superior daquele equipamento cultural, Drª Susanna Guedes).  

----------------------------------------------------------------
Agonia Sampaio

Síntese biográfica

António Manuel Agonia Sampaio, 16 de Março de 1970, Luanda, Angola. 

 
Em Portugal passou a residir na Póvoa de Varzim, onde vive actualmente.
Frequentou o 2º Ano de Engenharia Publicitária do Curso Superior do ISCIE - Instituto Superior de Ciências e Informação das Empresas (Porto), e o 1º Ano do Curso Superior de Desenho na Cooperativa Árvore (Porto).
Em 1986 começou a concorrer a concursos de BD, e foi-lhe atribuído o 3º Prémio num organizado no Seixal. E em 1988 atreveu-se a participar no IV Concurso de Banda Deseñada da Casa da Xuventud de Ourense (Galiza), onde obteve também o 3º Prémio.
A sua mais importante participação na BD foi no jornal Comércio do Porto, onde se iniciou a colaborar em 1987 no suplemento dominical infantil "Cantinho do Nicolau", com o personagem Tó, na bd intitulada "O Lago", tendo permanecido como colaborador durante cerca de treze anos, com várias bedês de continuação.
Colaborou "pro bono" em 1985 na revista Audácia (ainda em publicação) com uma banda desenhada em quatro páginas, sob o título "Se Um Dia Encontrasse Cristo", que foi colorida a duas cores por iniciativa dos próprios editores (padres combonianos).
Colaborou no semanário gratuito (mas a colaboração era paga) Mundo Universitário (1986), e também no fanzine Efeméride (nº6 - Parte 1 de 4 - Outubro 2013) com uma bd "pastiche" dedicada a Astérix.
-------------------------------------------------------
Os visitantes deste blogue que, por mera curiosidade, queiram ver os restantes cinquenta e sete "posts" sobre exposições avulsas (ou seja, não inseridas em festivais BD), poderão fazê-lo clicando no item Exposições BD Avulsas visível no rodapé 

quinta-feira, julho 24, 2014

Cromos em BD - História de Portugal








Grande parte das colecções de cromos é constituída por imagens soltas, sem qualquer sequencialidade, daí que não tenham cabimento neste blogue dedicado à BD.

Mas há excepções. Uma delas, que faz parte das minhas diversificadas colecções, é a intitulada História de Portugal, cujos cromos foram realizados de forma brilhante por Carlos Alberto [Santos] em sequências próximas da banda desenhada (veja-se o exemplo da série "Príncipe Valente"), constituídas por quatro imagens em cada página.

A informação contida na página 3 da caderneta é a seguinte:
História de Portugal
Colecção de 204 cromos, representativos dos feitos e acontecimentos mais notáveis, desde os antecedentes da fundação do reino até aos tempos actuais (leia-se: Estado Novo).

Para se compreender esta fronteira final terá de se contextualizar o período contemplado pela colecção, cuja 11ª edição - aquela que possuo - foi editada em 1965, o que justifica o facto de os quatro últimos cromos retratarem as figuras de Carmona, Presidente da República na época, Salazar, Presidente do Conselho, Craveiro Lopes e Américo Tomás, que ocuparam sucessivamente a presidência da República.

Estava-se ainda longe de 1974, com a derrocada do antigo regime, e o surgimento de novas e diferentes figuras políticas e históricas representativas da revolução do 25 de Abril.


Ficha técnica

História de Portugal
Compilação de António Feio
Segundo as Histórias de Portugal, oficialmente aprovadas, de António G. Matoso, Chagas Franco e Janeiro Acabado
Supervisão de José de Oliveira Cosme
Ilustrações de Carlos Alberto
Caderneta no formato 22x23cm
Total de páginas da caderneta - 56 páginas (51 com cromos)
Capa e contracapa a cores
Data desta 11ª edição - Setembro de 1965
-------------------------------------------------------------
CARLOS ALBERTO [SANTOS]

Síntese biobibliográfica


Como autor de BD sempre assinou apenas Carlos Alberto, mas nas ilustrações e na Pintura estende a assinatura até ao apelido Santos. Todavia, o nome completo é Carlos Alberto Ferreira dos Santos. 

Nascido em Lisboa a 18 de Julho de 1933, Carlos Alberto surgiu na banda desenhada em 1948 na revista Camarada, com "O Escudo do Sarraceno", dando continuidade à sua carreira de autor de BD na revista Mundo de Aventuras, em 1949, com a transformação em sequências de imagens da novela gráfica, escrita por Augusto Barbosa, "História Maravilhosa de João dos Mares."

A sua actividade como banda-desenhista não é muito intensa, mas mesmo assim colaborou em várias revistas, designadamente nas já referidas Camarada, e Mundo de Aventuras, (merecendo relevo a quadrinização da obra biográfica "Luís de Camões", em 1972), passando pelo Pisca-Pisca ("O Almirante das Naus da Índia" - 1969).

Tem escassa obra editada em álbum: "Luís de Camões" (Edições ASA, 1990), em reedição da banda desenhada inicialmente publicada na revista Mundo de Aventuras, e colaborou com a quadrinização de um dos contos constantes da obra colectiva "Contos das Ilhas", sob adaptação literária de narrativas tradicionais por Jorge Magalhães.

Foi o autor da capa em formato A3 do fanzine Efeméride (nº2, de 13 de Fevereiro de 2007), dedicado à obra colectiva "Príncipe Valente no Século XXI".
     

domingo, julho 20, 2014

Estrompa, adeus.





Soube ontem a triste notícia: faleceu o meu amigo Estrompa, autor de BD, legendador, cartunista, bon vivant
Por informação que obtive há umas horas, através do sr. Soares, cunhado dele, soube que o Estrompa faleceu na 6ª feira, dia 18 de Julho, pelas 19h00.

Soube (estou a acrescentar isto, 2ª feira, dia 21) pela Sónia, uma das filhas do Estrompa, que o velório terá início amanhã, 3ª feira, dia 22, a partir das 18h00, na Igreja de Arroios, na Rua de Arroios, ao Chile, e o funeral será na 4ª feira, no Cemitério do Alto de S. João, às 14h00, no Crematório

Acabo de saber, agora mesmo (ainda na 2ª Feira), pela Cristina, a outra filha do Estrompa, que cerca das 12h30 haverá uma missa na 4ª Feira, na Igreja de Arroios, e que só depois o carro funerário seguirá para o cemitério, onde o corpo será cremado cerca das 14h00.

Telefonou-me há pouco o Sr. Soares, cunhado do Estrompa, que me esclareceu do seguinte: o corpo do nosso malogrado amigo só sai amanhã, 3ª Feira, do Instituto de Medicina Legal, e vai em seguida para a igreja de Arroios.   

Imagens que ilustram a postagem:

1 - Foto datada de 2003

2 - Foto (excelente) da autoria de Marco Peixoto

3 - A mais recente bd de Estrompa, ainda inédita, destinada a ser publicada na Parte 3 do nº 6 do meu fanzine Efeméride, com data de edição marcada para o Festival Internacional de Banda Desenhada - AmadoraBD 2014

4 - A primeira banda desenhada a cores do Tornado 1989, publicada no jornal Mundo Universitário (5 Junho 2006), na rubrica BD sob minha coordenação

3 - Capa do Tertúlia BDzine (nº 64 - Março 2003) onde vemos o herói Tornado, a personagem de Estrompa de maior divulgação 

---------------------------------------------------------------------
ESTROMPA (1942-2014)

Síntese biobibliográfica
(Escrita em 2003, mas com ligeiras alterações e actualizações feitas hoje)

José João Amaral Estrompa nasceu em Lisboa, a 8 de Fevereiro de 1942 (mas parece ter a idade do Tornado, seu herói de estimação, desde que rapou a barba).

Foi aluno da Escola de Artes Decorativas António Arroio, sem ter concluido o respectivo curso. A sua área profissional foi sempre a Publicidade e Artes Gráficas.

Nas revistas de BD Tintin, Mosquito (5ª série), Selecções BD (1ª série), e noutras de diferentes temas, designadamente Pão Comanteiga e DN Semanal, publicou cartunes e bedês cómicas, estas de uma página, com animais de características antropomórficas - "Pink" (um gato) e "Smaile" (um cão que tem um gato amigo chamado "Smool").

Mas a sua maior produção é mesmo nos fanzines, com destaque óbvio para os numerosos episódios da sua série de referência, o "Tornado 1989" - este já com duas merecidas promoções: ao fazer dez anos de existência (1999) teve publicação na revista Selecções BD (2ª série), surgindo posteriormente em álbum editado pela Bedeteca de Lisboa.
Foi de igual modo nos fanzines que, embora de forma esporádica, Estrompa fez viver a comportamentalmente subversiva "Família Darling".

GL
------------------------------------------------------- 

TORNADO 1989 

(O herói predilecto de Estrompa)

Biografia

Sempre com a fusca calibre 69 pronta a entrar em acção, uma beata permanente ao canto da boca, chapéu, gravata amarela sobre camisa de seda azul (apesar de a série sempre ter sido publicada a preto e branco, sabemos que são essas as suas cores, graças às descrições do narrador), mais as suas inseparáveis luvas de genuína pele de porco - tão inseparáveis que nem nas cenas de sexo as tira! -, Tornado 1989 é um dos raros heróis fixos da banda desenhada portuguesa. Com a particularidade de ter nascido e vivido maioritariamente nas páginas dos fanzines - Banda, Comic Cala-te, BD & Roll, Shock, Almada BD Fanzine, CaféNoPark, Seasons of Glass, Boom e Tertúlia BDzine, por onde se espalham duas dezenas de episódios.
O seu aparecimento em Julho de 1999, no nº9 (2ª série) da revista Selecções BD correspondeu à oportunidade de saltar das publicações amadoras para uma profissional. Três anos depois, Tornado voltou a ter a possibilidade de se mostrar em suporte de prestígio, a colecção LX Comics editada pela Bedeteca de Lisboa.

Estrompa, o autor (argumento e desenho) do Tornado 1989, considera-o como que "um cavaleiro andante do asfalto". Ternuras cúmplices de criador... Do que não há dúvidas é que, seja no nome, seja no aspecto físico, ou até no vestuário, ele tem semelhanças com Torpedo 1936, personagem de referência na banda desenhada espanhola, criada pelo traço de Jordi Bernet sob argumento de Enrique Sanchez Abuli. 

Quando Estrompa viu pela primeira vez o Torpedo, em 1985, nos álbuns da entretanto extinta Editorial Futura, apercebeu-se que ele lhe fazia voltar à memória as imagens de alguns dos actores que o tinham impressionado na infância, uns tais Humphrey Bogart, James Cagney, Edward G. Robinson... Daí a criação de Tornado 1989, anti-herói que o autor admite ter desenhado um tanto à maneira de pastiche do Torpedo, embora sejam de sua autoria, enquanto argumentista, as diferentes e muito especiais características de malandro profissional evidentes no Tornado - o qual tem sido um pouco de várias coisas: polícia, mas também ladrão, detective, dono de um bar em Casablanca... - versatilidade que lhe confere uma personalidade desconcertante e muito própria.

Tornado foi criado graficamente em 1989, pormenor em destaque no "nome de guerra" com que se apresenta. Ao longo da sua existência tem-se constatado que ele possui tendências, humorísticas e críticas, diferentes da do respectivo modelo. Os constantes apartes, brejeiros ou sardónicos, que intercalam os diálogos e pensamentos da personagem, bem como os comentários mordazes do narrador, criam à série, por sua vez, uma textura interventiva que rareia nas suas congéneres. 

Aliás, Estrompa, o seu manipulador literário e gráfico, envolve-o nas mais insólitas peripécias, desde obrigá-lo a fazer-se passar por travesti (a "menina" Tornado, no episódio "Torpedo contra Tornado"), a deixá-lo apanhar uma doença venérea (no episódio "Uma História de Cowboys"), até não o poupar a uma cena imprópria para um protótipo de machão latino: a de ser sodomizado por dois ou três "gorilas", às ordens dum mafioso com voz cavernosa e cara de Marlon Brando (episódio "O Padrinho"). Estas e outras situações insólitas conferem-lhe uma dimensão ficcional de grande originalidade no universo da banda desenhada portuguesa, tornando-o num anti-herói exemplar.

Para quem entrar em contacto pela primeira vez com Tornado, há que esclarecer que o seu nome real é Bogarte - para os amigos já foi "Garte", passou depois a ser "Bogey", mas, para as "girls", foi sempre e apenas o "Boga".
Tornado é simples alcunha, criada por ele expressamente para a bófia, mas serve igualmente para os tansos e "nalfabetos", conforme diz no seu português rasca em ocasionais confidências. Quanto à idade, tem a que aparenta: quarenta sombrias "primas-beras" - assim escreve o seu "biógrafo" Estrompa - completadas num qualquer mês do signo de Carneiro; no que se refere ao local de nascimento, os elementos fornecidos na sua apresentação (Banda nº 10, Agosto de 1990) não são minimamente credíveis, visto que mencionam, em simultâneo, dois locais geograficamente bem distantes: Nova Iorque e Casal Ventoso! Será que, afinal, é português de origem, embora naturalizado americano? Com efeito, ele conhece Lisboa, tão bem que até gosta, como diz a certa altura, de "ir beber um uísque com gelo a uma espelunca ali p'rós lados do Parkmayer" (citação textual).

Mesmo a sua divulgada filiação - pai polaco, mãe italiana, emigrantes - poderá ter sido forjada, para despistar a bófia. Onde estará a verdade? Alguma vez se virá a saber? Estrompa & Tornado formam uma dupla muito sabidona, sempre com trunfos escondidos na manga...
Geraldes Lino (*)
 -----------------------------------------------------------

TORNADO 1989 (e mais algumas bedês de diferentes personagens)

Bibliografia (incompleta)

Nascimento do "herói" numa bd curta, de prancha única, exposta na Sobreda BD/89 - Março de 1989; 
"O Crime Não Compensa?" - in fanzine Banda nº10, Ag.90;
"Come... e cala-te" - in fanzine Comic Cala-te nº2, Out. 90;
"O Chapelinho Encarnado" - in fanzine BD&Roll nº3, Março 91;
"Taxi Driver" - in fanzine BD& Roll nº5, Nov. 91;
"Tornado 1989" (A bd curta, de uma só prancha, a já mencionada participante de uma exposição na Sobreda BD/89) - in Almada BD Fanzine nº6, Jul. 91;
"Torpedo Contra Tornado" in fanzine Shock nº11, Out. 91;
"Modelo & Detective" - in fanzine CaféNoPark nº1, Abril 92;
"O Padrinho" - in fanzine CaféNoPark nº2, Jul. 92;
Tira de bd sem título no semanário Barlavento de Portimão, 3Set.92;
"Mergulho Fatal" - in fanzine CaféNoPark nº3, Out.92;
"Crónicas de Nova Iorque" - in fanzine CaféNoPark nº4, Abr.93;
"Uma História de Cowboys" in fanzine CaféNoPark nº5, Jul.93;
"Sexo, Fantasias & Vídeo" - in fanzine Shock nº14, Out.93;
"A Marca Amarela" - in fanzine Shock nº15, Maio 94;
Cartune sem título in fanzine Seasons of Glass nº1, Outono 94;
BD sem título in fanzine Seasons of Glass nº2, Inverno 94;
Cartune sem título in jornal Notícias do Entroncamento-Natal 94;
"Medo Sobre a Cidade" - in fanzine Shock nº16, Jan.95;
BD sem título in fanzine Shock nº 17, Abr. 95;
Cartune sem título in fanzine Boom nº2, Jun.95;
"Broches of América", "John Dillinger", "Há Lodo No Cais" e "Um Crime Perfeito" in fanzine Shock nº 22, Dez.98;
"Tantã em Nova Iorque" in fanzine Tertúlia BDzine nº18, Fev. 99;
"Nikita Nascida Para Matar" in revista Selecções BD nº9 (2ª série), Jul.99;
"Só Me Saem Dukes!" in álbum nº13, da colecção LX Comics, Out.2002;
"Batman O Homem Morcego" in fanzine Tertúlia BDzine nº63, Março 2003;
"Tornado - Nem Tudo o Que Luz é Ouro!", bd a cores (pela primeira vez) numa só prancha, em formato tablóide, publicada no semanário Mundo Universitário - 5 Jun. 2006
"Tintim no Século XXI - Fígaro, Fígaro...", bd a cores, numa só prancha, em formato A3, no fanzine Efeméride - #4, Jan. 2009 

Nota: Vários episódios publicados em fanzines foram posteriormente redesenhados e ampliados para serem publicados em edições do fanzine Shock, consagradas em exclusivo ao Tornado: Shock nºs 19 (Jun.96) e 20 (Maio 97). O nº22 (Dez.98) também lhe foi inteiramente dedicado, mas com episódios inéditos.  
Geraldes Lino (*)
 

(*) Apesar de ser óbvio que estes textos são do bloguista do "Divulgando Banda Desenhada", ficam assinados para evitar que aconteça de novo serem reproduzidos noutro blogue sem indicação da autoria