segunda-feira, abril 28, 2014
Entrevistas Antigas a Autores de BD (II) - Luís Louro
Luís Louro foi o segundo autor de BD - após Jorge Colombo - que entrevistei para o suplemento jornalístico Tablóide incluído no [extinto] vespertino Diário Popular, de grande tiragem, que se editava em Lisboa.
Como descrevi nessa primeira das entrevistas antigas a autores de BD, o dito suplemento era publicado ao Sábado, e compunha-se de duas páginas.
Na da frente era impressa a entrevista, e no reverso iniciava-se a banda desenhada, que continuava no Sábado seguinte. A reprodução da bd aqui no blogue ficará para uma próxima postagem.
(Reescrevo seguidamente a entrevista a fim de facilitar a leitura.
Relembro que tudo aquilo que nela é dito terá de ser lido considerando que a edição do jornal data de 12 de Outubro de 1985).
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A BD é uma forma
de me realizar
- diz Luís Louro, desenhador
Luís Louro é o desenhador que aparece hoje no Tablóide.
Apesar de ser muito jovem, as suas qualidades já foram reconhecidas publicamente: os sócios do Clube Português de Banda Desenhada votaram maioritariamente nele em 1985, para que lhe fosse atribuído um dos troféus «O Mosquito», aquele que é dedicado à Revelação da BD do ano anterior.
Luís Alexandre Santos Louro é natural de Lisboa, onde nasceu a 14 de Junho de 1965. Já finalizou o 12º ano e, por agora, vai aguardando a chamada para o serviço militar «com bastante sofreguidão e entusiasmo, hugh!».
- Entretanto vai continuando a fazer BD, coisa que faz parte das suas necessidades vitais, desde que se conhece. Não é verdade isto, Luís Louro?
- Sim, posso dizer que desenho quase desde a barriga da minha mãe. Suponho que a deixei cheia de rabiscos...
Mas, mesmo a sério, foi há cerca de seis anos.
- O que é que a BD representa para si?
- Uma forma de expressão, de divertimento, também uma forma de me realizar. Não vou dizer que gostaria de fazer profissão da BD: além de ser habitual as pessoas dizerem isso, é utópico.
- Não sente que o ambiente à volta da BD, hoje, começa finalmente a ser favorável ao seu desenvolvimento?
- Não, pelo contrário, parece um ninho de víboras. Apesar de não parecer, nos bastidores existem muitas rivalidades, interesses, invejas.
- Mas em relação ao público - que está alheio a essas tricas -, não acha que há agora mais interesse pela BD em geral, e pela portuguesa em particular?
- Pela BD em geral, acho que sim, acho que há mais interesse, uma vez que a BD está a ser cada vez mais utilizada, até a nível didáctico.
Quanto à BD portuguesa, acho que não está suficientemente desenvolvida, por culpa dos editores, uma vez que as revistas portuguesas não são divulgadas no estrangeiro.
- Isso não será também devido ao facto de não ser fácil colocar as nossas revistas no estrangeiro? Você sabe que em Espanha, França, Bélgica ou Itália há imensas revistas e muito superiores às nossas...
- Lá há melhores, mas também há piores. Acho que seria uma maneira de fomentar a nossa BD e abrir os olhos aos editores estrangeiros, fazê-los ver que por cá também se fazem umas coisas.
- Mas também está um pouco nas vossas mãos tentarem ir pessoalmente apresentar as vossas experiências aos editores estrangeiros. Já tem havido antecedentes...
- Eu concordo com isso plenamente, mas há um certo complexo nosso, criado pelos editores portugueses, que de certa forma se estão a baldar para as nossas experiências.
Portanto, se os próprios portugueses não ligam, imagine-se os estrangeiros, que já lá têm os seus próprios autores.
- Apesar desse seu cepticismo, você continua, com persistência, a desenhar. A que se deve esse facto?
- Essa é a grande prova de que eu desenho por gosto, não por necessidade ou materialismo - isto é, não desenho para vender.
Considero a BD como arte, e é nessa perspectiva que continuo a fazê-la.
- Como encara o facto de lhe ter sido aribuído, por votação entre os sócios do CPBD, «O Mosquito», considerando-o «Revelação da BD Portuguesa» em 1984?
- Espero que não me chamem convencido, o ponto de vista não é esse, mas considero que não foi nada que eu não merecesse.
Não pretendo afirmar que sou bom ou qualquer coisa do género, mas, pelo menos, eu e o meu argumentista trabalhámos para isso. Acho que somos dos que mais trabalhámos em 1984 para nos aperfeiçoarmos.
- Quantas bandas desenhadas já fizeram vocês?
- Fizemos nove completas, sete delas incluídas numa série intitulada "Estupiditia", e ainda outras duas, mais extensas, para uma personagem.
- Quantas foram publicadas?
- Três no "Mundo de Aventuras", a mais recente das quais, no número 556 referente à 1ª quinzena de Agosto, era apresentada por uma capa feita por mim. Apareceu uma outra no fanzine "Protótipo". E estão previstas mais nessas mesmas publicações.
- Há algum desenhador português por quem tenha admiração especial?
- Não quero destacar nenhum, para não ser injusto e não ficar ninguém no esquecimento.
- Há algum tema que o atraia para vir a transformar em BD?
- De momento, o tema surge-nos e nós trabalhamos nele, seja qual for.
- Qual o desenhador estrangeiro que acha justo destacar?
- Enki Bilal e, uns graus mais abaixo, Liberatore. Gosto da "linha clara", principalmente de Daniel Torres.
Entrevista e foto por
Geraldes Lino
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Luís Louro
Síntese biobibliográfica
Luís Alexandre Santos Louro, 14 de Junho de 1965, Lisboa.
Curso de Técnico de Meios Audiovisuais da Escola de Artes Decorativas António Arroio (Lisboa).
Foi galardoado com os troféus: Mosquito (do Clube Português de Banda Desenhada-CPBD) em 1985, como Revelação da BD Portuguesa de 1984; Zé Pacóvio e Grilinho, para Melhor Álbum Português de 1995, e o mesmo troféu, atribuído pelo Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, dedicado ao Prémio Juventude 1995.
Jim del Monaco foi o primeiro herói desenhado por Luís Louro, sob argumento de António Simões (ou Tozé Simões), que protagonizou várias aventuras editadas em álbum com os seguintes títulos: Jim del Monaco (1986), Menatek Hara (1987), O Dragão Vermelho (1988), Em Busca das Minas de Salomão (1989), A Criatura da Lagoa Negra (1991), A Grande Ópera Sideral (1992), O Elixir do Amor (1992), Baja África (1994).
Roques e Folques foi outra série criada pela mesma dupla Louro e Simões, e que teve os seguintes álbuns: O Império das Almas (1989), e A Herança dos Templários, em dois tomos (I-1990 e II-1992, respectivamente).
Vieram a seguir as Estórias de Lisboa, em que se incluiram os episódios O Corvo (1994), Alice (1995) e Coração de Papel (1997), criados a solo por Luís Louro, autor dos argumentos e desenhos, assim como Cogito Ego Sum (2000).
Nesse mesmo ano de 2000, agora de novo com um argumentista, Rui Zink, surge O Halo Casto. Em 2002, a transformar em imagens sequenciais um argumento escrito por João Miguel Lameiras e João Ramalho Santos, foi a vez de Eden 2.0.
De novo a solo, em 2003, retomou uma das suas personagens favoritas, em O Regresso do Corvo.
Tem colaborações dispersas em vários tipos de publicações, designadamente em revistas de BD - Mundo de Aventuras (1985), O Mosquito-5ª série (1985/86), Selecções BD (1989/90, 1999 e 2001), Lx Comics (1991) em revistas de temas diferentes (Valor, 91 a 94; Visão, 95 a 2000; Ego, 1998), e em fanzines: Protótipo (1985), Hyena (1986), um zine espanhol intitulado Un fanzine llamado Camello (1986), Max (1986), Banda (1989/90), e Shock (1989/91).
Colaborou também num jornal, o Diário Popular, no suplemento semanal Tablóide, em Outubro de 1985.
Participou, com outros autores portugueses de BD, na exposição colectiva "Perdidos no Oceano", organizada pelo Festival International de la Bande Dessinée de Angoulême, em 1998.
G.L.
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Os interessados em ler a entrevista anterior a Jorge Colombo poderão fazê-lo clicando no item Entrevistas antigas a autores de BD visível no rodapé
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2 comentários:
Caro Geraldes Lino,
Acho muito boa ideia a divulgação no teu blogue destas entrevistas realizadas para o suplemento "Tablóide" (que eu, na altura, coleccionei e ainda guardo religiosamente nos meus arquivos).
Mesmo a grande distância, é interessante recordar os primórdios destes jovens autores, os seus sonhos, os seus projectos, as suas relações com o meio da BD, fazendo a comparação com o trajecto que muitos depois escolheram, quando as utopias se transformaram em realidades.
Tenho pena que, tanto Luís Louro como Jorge Colombo, não continuem a dar à BD tudo aquilo que potencialmente já revelavam nessa época.
Um abraço deste leitor assíduo dos teus trabalhos,
Jorge Magalhães
Viva, Jorge Magalhães
Muito me honra a tua visita, e agradeço-te o alento que me dás com o teor do teu comentário.
Também sou seguidor do teu valioso blogue "O Gato Alfarrabista Na Sua Loja de Papel", e não é por mera retribuição, mas sim porque há nele continuamente motivos de interesse.
Grande abraço,
G.L.
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