Luís Filipe (1887-1949) foi essencialmente cartunista e caricaturista. Todavia, dotado de talento versátil, também fez banda desenhada dirigida à infância.
É o caso da que está reproduzida no topo do presente post - patente ao público na exposição organizada pelo Museu Bordalo Pinheiro, em Lisboa - onde Luís Filipe criou um curto episódio sem palavras (e até sem título), num estilo que posteriormente se viria a classificar de "linha clara".
Como sempre foi apanágio da BD infantil (ou para a infância), a principal personagem é traquinas - com frequência trata-se de uma dupla -, criando situações divertidas, embora recebendo, na última vinheta, o tradicional correctivo, fazendo lembrar os episódios (não os desenhos) da histórica série, criada por Rudolph Dirks, "The Katzenjammer Kids", ou "The Captain and the Kids"(*) , iniciada em 12 de Dezembro de 1897, invariavelmente terminados com o duo de diabretes a apanharem as habituais (na época) palmadas no rabo.
Nota: A imagem da banda desenhada, em prancha original, está patente na exposição (inaugurada em 19de Setembro de 2015) mas também consta do excelente catálogo ontem (9 de Março de 2016) ) lançado no Museu, o que permitiu amostragem aqui no blogue.
(*) Com o exemplo, em Portugal, da dupla "Quim e Manecas", de Stuart Carvalhais, iniciada em 1915 e, com grande interregno, terminada em 1953, pelo que se poderá considerar a série de BD portuguesa publicada durante mais tempo.
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LUÍS FILIPE
Síntese biográfica
Luís Filipe Gonzaga Pinto Rodrigues nasceu em Melgaço a 21 de Março de 1887. Fez os estudos liceais em Braga, seguindo depois para Coimbra onde cursou Direito.
Desde cedo se sentiu atraído por várias formas de expressão gráfica: caricatura, cartunismo e, com menos intensidade, a BD.
Começou por se identificar por Gonzaga, mas finalmente passou a assinar as peças gráficas por Luís Filipe.
Em Coimbra integrou o chamado "Grupo de Coimbra", de que faziam parte vários jovens, entre os quais Cristiano Cruz, Correia Dias ("Tira Linhas") e Cerveira Pinto. Todos eles humoristas e artistas, exprimiram as suas preocupações sociais e políticas na revista A Farça (sic) a partir de 1909, já nos finais da monarquia, onde Luís Filipe dá azo às suas ideias republicanas e anti-clericais.
Ainda nesse ano inicia colaboração na importante revista Ilustração Portugueza.
Já no período republicano foi opositor ao regime de Sidónio Pais, tendo sido preso em 1918. Durante o tempo de prisão, Luís Filipe editou uma pequena publicação policopiada com o título A Velha, aquilo a que hoje chamaríamos um fanzine.
A fase seguinte da sua vida foi como notário e advogado em Melgaço e Viana do Castelo, tendo abandonado quase por completo a vida artística. Embora, um ano antes de morrer, tenha realizado o cartaz das festas de Viana.
Faleceu a 10 de Agosto de 1949.
(Elementos extraídos, com a devida vénia, do texto inserido no catálogo)
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