Os meus livros sobre BD (I) Inicio aqui uma rubrica onde, a pouco e pouco - alternando com diversos outros assuntos - irei falando da vasta bibliografia que possuo, dando prioridade àqueles mais recentes que vou adquirindo (ou que me vão sendo oferecidos, como é o caso do referenciado neste "post").
Para começar, tem total cabimento registar o aparecimento nos escaparates dos
CTT Correios de Portugal do livro
Roteiro Breve da Banda Desenhada em Portugal. Portanto, em primeiro lugar nesta rubrica, aparece a mais recente peça da minha vasta colecção.
O "
Roteiro..." é obra assinada pelo jornalista
Carlos Pessoa, nome conhecido dos leitores do jornal "Público", em geral, e dos bedéfilos em particular, visto que a maioria dos artigos que aparecem sobre BD naquele diário têm a sua asinatura.
O livro, de muito boa apresentação e invulgar formato - quadrado, 24,5x24,5 cm -, apresenta-se com capa cartonada de cor amarela, ilustrada com a ampliação de imagem parcial da personagem
Manecas, criação de
Stuart Carvalhais.
Numa análise necessariamente breve, ocorre relevar a interessante paginação, a profusa e bem seleccionada ilustração dos temas. Cujo iniciante é, como não poderia deixar de ser, a homenagem ao acto fundador de
Raphael Bordallo Pinheiro, arquitecto do primeiro importante edifício da BD portuguesa, ao realizar a obra editada em álbum em 1872 (o primeiro português, só ultrapassado, em precocidade, a nível mundial, pelos álbuns editados pelo professor e pintor suiço
Rodolphe Töpffer), sob o histórico título
Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro sobre a Picaresca Viagem do Imperador do Rasilb pela Europa.
Em vertiginosa viagem visual pelo universo da nossa figuração narrativa,
Pessoa lança olhares rápidos, mas sempre com textos claros e imagens representativas, sobre as carismáticas revistas e suplementos jornalísticos, desde o início até ao fim do século passado, citando e mostrando imagens de
ABC-Zinho, Pim-Pam-Pum (suplemento do jornal
O Século),
Tic-Tac, O Senhor Doutor, Joaninha (suplemento da revista
Modas e Bordados),
O Papagaio (cujos derradeiros números foram publicados como suplemento da revista
Flama),
Diabrete, O Mosquito, Cavaleiro Andante, O Falcão, O Mundo de Aventuras, Titã, Camarada, Lusitas", "Fagulha", "Foguetão", "Zorro", "Jornal do Cuto", "Jacto", "Flecha 2000", "Jacaré", "Spirou", "Nau Catrineta" (suplemento do jornal
Diário de Notícias),
Quadradinhos (suplemento do jornal
A Capital),
Tintin, Visão, Lobo Mau, O Mosquito (5ª série),
O Fungagá da Bicharada, Selecções BD. Nesta última fase, acho que também merecia aparecer o Jornal da BD (mas sou suspeito, porque coordenei nele o
Suplemento BD).
Como se impunha, e seria imperdoável não o fazer, Carlos Pessoa alude aos anos 80, que considera "a travessia do deserto". Por lá passou o camelo que escreve estas linhas, coordenando no jornal
Diário Popular o suplemento
Tablóide (gostei de ver a reprodução de uma das suas páginas neste livro) com grafismo do título de
Jorge Colombo, e a piada de ter sido lá que "nasceu" a personagem
Jim del Monaco, criada pela dupla
Louro & Simões.
Também os
fanzines ocupam merecido espaço, desde o
Argon (de 1972) passando por
Aleph, Boletim do Clube Português de Banda Desenhada, O Estripador, Nemo, Banda, Nemo, Dossier Top Secret e Graphic, todos estes com direito a reprodução da capa, havendo uns tantos distinguidos com breves referências escritas, designadamente
Estripador, O Ovo, Vinheta, Hic, O Estirador, Ruptura, Códradinhos, Ritmo, Protótipo, Eros (este é meu, obrigado pelo destaque),
Facada Mortal (o primeiro fanzine editado por uma faneditora,
Alice Geirinhas),
BD & Roll, Hips e, como diz o autor, com carradas de razão, muitos outros. Por exemplo, o
Shock (iniciado por
Luiz Beira, continuado por
Estrompa), um dos que merecia ter sido lembrado.
Tal como também o autor do livro diz, consciente das limitações da obra, essencialmente divulgatória,
"(...) ficam imediatamente à vista os limites deste livro, que não aspira a mais do que ser uma modesta obra de divulgação de alguns dos marcos deste meio de expressão (...)".
Mas, indubitavelmente, considerando como público alvo a grande maioria que desconhece os vectores fundamentais da História da Figuração Narrativa (popularmente designada, nos anos quarenta e cinquenta, mais precisamente até meados dos anos sessenta, por
Histórias aos Quadradinhos), este bloguista, sempre aqui de plantão, considera que o jornalista
Carlos Pessoa -
doublé de especialista daquilo que modernamente se classifica, incluindo verbetes de dicionários, de Banda Desenhada - passou a ser uma personagem de referência na bibliografia especializada na matéria em causa, com mais este livro.