sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Autógrafos desenhados (XI) - Solano López





Desenho original com o rosto de El Eternauta, que Solano López fez para me oferecer, em 1980, no "Lucca 14 - Salone Internazionale dei Comics, Illustrazione e Cinema d'Animazioni" em Itália.
É um dos primeiros "autógrafos desenhados" da minha extensa colecção.

El Eternauta é uma obra clássica, provavelmente a mais importante da Banda Desenhada realizada na Argentina.
Trata-se da única obra de Figuração Narrativa comprada pelo Ministério da Educação daquele país destinada a estar disponível nas escolas e bibliotecas populares.
É, também, a única obra de BD incluída no acervo da Biblioteca Nacional Argentina.

Iniciada na revista Hora Cero Semanal, a 4 de Setembro de 1957, teve por autores o argumentista Oesterheld (Hector Germán Oesterheld, 1919-1978), e o desenhador Solano López (ver abaixo síntese biobibliográfica).

El Eternauta é um "navegador do Tempo, viajante da eternidade", como ele próprio se define logo no início da obra, em registo de ficção científica com acção localizada em Buenos Aires.
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SOLANO LÓPEZ

Síntese biobibliográfica

Francisco Solano López nasceu a 6 de Outubro de 1928, em Buenos Aires, Argentina.
Após estudos incompletos em Direito, e trabalho ocasional na Publicidade, acabou por tornar-se autor de banda desenhada, tendo colaborado em várias publicações, até que se associou ao argumentista Hector Oesterheld, com o qual realizou "Uma-Uma", em 1953, para o magazine Rayo Rojo.

Em seguida passou a desenhar a série "Bull Rockett", baseada igualmente em argumento de Oesterheld, que durou até 1959. Em simultâneo, trabalhou noutras séries criadas por aquele argumentista, como sucedeu com "Ernie Pike" (mais tarde também desenhada por Hugo Pratt), com "Rolo, el marciano adoptivo", "Joe Zonda", "Amapola Negra" e, sobretudo, "El Eternauta", obra que lhes acarretou complicações com a ditadura militar, visto que o argumento de Oesterheld, reforçado pelo grafismo forte de Lopéz, permitia leitura política, contra o poder ditatorial.

A Junta Militar apercebeu-se dessa mensagem subliminar, e começou a pressionar os autores. Solano López emigrou para Espanha, a fim de escapar à hipótese de ser preso.

E é naquele país que, nos finais da década de 1950, ele começa a trabalhar para o mercado britânico de BD, nomeadamente para a Fleetway de Londres, tendo acabado por ir para Inglaterra a fim de poder estar mais próximo dos argumentistas-guionistas, e com eles fez numerosas séries, enre as quais "Air Ace Library" (1959), "Kelly's Eye" (1963), "Galaxus: The Thing from Outer Space" e "Toys of Doom" (ambas no magazine Buster, em 1964 e 1968, respectivamente), "Raven on the Wing" (1968, no Valiant), "Adam Eterno" (1969, no Lion), "Nipper" (1970, no Tiger), M.A.C.H. 1 (para o novo Eagle), e "Battler Britton" (que em Portugal foi crismado por "Major Alvega"), para a Thriller Picture Library. 

Entre 1970 e meados de 1980, continuou a trabalhar para editores europeus, sob argumentos de seu filho Gabriel, de que resultaram as obras "Histórias Tristes" e "Ana".

Aliás, a sua copiosa produção em BD para a Fleetway fez com que decidisse voltar a Buenos Aires e montasse lá um estúdio. Devido à depressão económica que o país atravessava, havia muitos antigos colegas seus sem trabalho, que convidou para colaboradores, passando a fazer ele os layouts, ficando para os assistentes a arte-finalização.

Oesterheld, que tinha permanecido na Argentina, tentou convencê-lo a fazer uma segunda parte de "El Eternauta". Contudo, a situação política tinha piorado, o que forçou Oesterheld à clandestinidade. E López, numa viagem a Espanha, soube que a sua casa tinha sofrido um misterioso incêndio, pelo que o artista resolveu fixar-se de novo em Madrid. Quanto a Oesterheld, durante muito tempo não houve notícias, mas soube-se mais tarde que tinha sido preso pela polícia política e morto em 1978.
Em 1983 o nome de Solano López aparece ao lado do argumentista Carlos Sampayo, enquanto autores da relevante obra "Evaristo" no género policial, feita para o mercado italiano. E em 1984, López - que estava nessa altura a viver no Rio de Janeiro - passa a trabalhar também para as editoras americanas Dark Horse e Fantagraphics.

Nos anos 1990, o autor argentino ensaia experiência na banda desenhada erótica, onde alcança êxito com "El Prostíbulo del Terror", de novo sob argumento de Ricardo Barreiro, e realiza duas sequelas da bd "Lilian & Agatha", bem como a série "Sexy Simphony" (sob argumento de seu filho Gabriel Solano López), tratando-se do género de histórias sem palavras, em quadricromia, para a revista erótico-pornográfica Kiss Comix.



Nota "a posteriori" - Francisco Solano López faleceu em 12 de Agosto de 2011
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Deste mesmo tema há vários textos anteriores, relacionados com desenhos e autógrafos dos autores indicados na lista abaixo indicada.
Para quem quiser ver os respectivos desenhos, bastar-lhes-á clicar na etiqueta "Autógrafos Desenhados" mostrada no rodapé deste "post".
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(X) Dez. 9 - Neal Adams
(IX) Jun. 10 - Gary Erskine
2009 - daqui para cima

(VIII) Set. 26 - Enrique Breccia
(VII) Agosto 3 - Carlos Roque
(VI) Maio 19 - John Buscema
(V) Abril 13 - Mordillo
(IV) Março 25 - Moebius
(III) Fev. 11 - Quino
(II) Jan. 12 - Milo Manara
2006 - daqui para cima

(I) Dez. 26 - Aragonés
2005 - daqui para cima
http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=11240643&postID=5743461983104713440Solano López

3 comentários:

João Figueiredo disse...

Grande Lino, já ando para te perguntar isto há uns tempos. O festival de Lucca ainda se realiza?
Quantas edições teve?
A primeira vez que ouvi falar do festival foi em 1997/1998, numa altura em que a colecção da Revista Tintim do meu pai se encontrava em casa dos meus falecidos avós e eu passava lá as férias com uma tia idosa. Numa altura em que a TV Cabo era uma miragem, ter tido acesso a tão magnifica revista foi o meu Canal Panda, ou o meu Animax, ou um qualquer Cartoon Network. E lembro-me de ler a reportagem do Vasco Granja a uma das edições do festival. E o engraçado era saber em "primeira mão" acontecimentos que tinham ocorrido 20 ou 30 anos antes.
Grande Abraço e lá nos veremos na terça-feira.
Já agora, deixo aqui o link do meu projecto literário (em que vou incluir obviamente a BD), e terei todo o prazer em te falar mais na Tertúlia.

http://osescudosdalusitania.blogspot.com

João Figueiredo

Geraldes Lino disse...

Caro João Figueiredo
Antes de mais, agradeço a visita ao blogue, e informo-te que já visitei o teu.
Quanto ao italiano Salão BD de Lucca: quando o conheci, em 1978 - e foi o primeiro evento bedéfilo em que estive presente -, intitulava-se "Salone Internazionale dei Comics, del Cinema d'Animazione e dell'Illustrazione".
Quando regressei, escrevi sobre ele, fascinado, no Boletim do Clube Português de Banda Desenhada (e agora fiquei com a ideia de reproduzir aqui no blogue esse texto).
O evento existe há quarenta anos, é considerado o mais importante evento italiano dedicado à BD e aos jogos, mas passou a ser festival e, obviamente, mudou de nome. Passou a ser o "Festival Internazionale del Fumetto, del Gioco e dell'Illustrazione" (substituiu o Cinema de Animação pelos jogos, os tempos vão mudando os interesses), e por isso é mais conhecido por "Lucca Comics & Games".
Em 2009 teve lugar entre 29 Outubro e 1 Novembro (como sempre, e tal como Angoulême, de que, aliás, foi o modelo), e nesses quatro dias costumava haver grande animação nos anos em que lá fui, desde 1978 a 1982, fazendo parte da comitiva portuguesa, cujo líder era Vasco Granja - tendo começado a ir também, nesse último ano, a Angoulême.
Lucca é só por si, uma cidade digna de visita, com o seu centro histórico rodeado por muralhas, e com muitos edifícios medievais dentro da sua malha citadina.
Sei que possui um museu dedicado à BD, o "Museo del Fumetto e dell'Imagine", que não existia quando eu lá ia, mas que ainda não desisti de conhecer - ir a Lucca matar saudades...
Espero que tenha sido suficientemente esclarecedor. Abraço.
GL

João Figueiredo disse...

Então não foste?
Eu pensava que já não se fazia. Que era só mesmo Angoulême que ainda se fazia.