É possível ensinar a escrever argumentos para banda desenhada? André Oliveira tem a convicção de que pode, pelo menos, propor metodologias úteis, criar exercícios práticos, de forma a impulsionar, quem tenha tendência para escrever ficções, a abalançar-se na criação de argumentos/guiões para BD, que se baseiam numa linguagem própria, com similitudes, em certa medida, à do cinema.
E com essa nada vulgar intenção, o jovem formador - ele próprio argumentista, com umas tantas obras publicadas apoiado em vários desenhadores, quando não desenhadas por ele mesmo - já tem no seu currículo cerca de dez workshops. Em data próxima - 8 de Dezembro, Domingo - é mais um o que vai fazer na Escola Escreverescrever.
Usualmente, estes cursos rápidos são feitos em horário pós-laboral, mas desta vez a formação vai ocupar um dia inteiro, três horas de manhã e outras tantas à tarde, entre as 11h e as 18h00.
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Acerca deste tema Argumentista de BD apeteceu-me espraiar-me um pouco. Há muitos anos que digo e escrevo, quando tal vem a propósito, que em Portugal o argumentista é a avis rara da BD. Em todo o caso, a galeria de personalidades que se perfila nessa categoria já atinge considerável dimensão. Não sendo minha intenção, por agora, dar um panorama exaustivo, até porque apenas me ocorreu a ideia ao começar a presente postagem, vou somente escrever ao sabor da memória, sem sequer consultar elementos meus ou de outrém.
Fazendo uma rápida analepse, constatamos que no passado se distinguiram Raul Correia, Adolfo Simões Müller e Roussado Pinto (aka Edgar Caygill). Em menor dimensão é de mencionar Maria Isabel Mendonça Soares, Maria Alice Andrade Santos, Mascarenhas Barreto, Raul de Oliveira Cosme, Artur Varatojo. Claro que houve mais autores de argumentos, todavia fizeram-no muito esporadicamente.
De época mais recente ressalta o nome de Jorge Magalhães, com volumosa e valiosa obra, seguido dos nomes de António Gomes de Almeida-AGA (com Artur Correia), de Tito (criador, com André, de Tónius o Lusitano), António Simões (ou Tozé Simões, parceiro de Luís Louro na criação de Jim del Monaco). Na área da BD infantil merece ser referido o nome de Júlio Isidro que, na revista Fungagá da Bicharada, escreveu argumentos para Zé Manel e outros desenhadores.
Nos tempos actuais sobressaem vários autores/argumentistas: David Soares, André Oliveira (ambos também desenhadores), Mário Freitas, Nuno Duarte, um quarteto de boa (em quantidade e qualidade) produtividade.
Nos argumentistas esporádicos ressaltam os nomes de Nuno Artur Silva, Rui Zink, Manuel João Ramos, Nuno Markl, Paulo Patrício, João Paulo Cotrim, Rui Brito, Geral, Luís de Almeida Martins, Luís Rainha, Álvaro Áspera, Jorge Machado-Dias, Paulo Moreiras, João Miguel Lameiras, Esgar Acelerado, Rui Ramos, Filipe Pina, Fernando Dordio, Eduardo d'Orey, Hugo Jesus, Ricardo Andrade, Miguel Peres, Miguel Costa Ferreira, Gabriel Martins, José Pinto Carneiro, Ana Vidazinha, Ricardo Rosado, João Figueiredo, Adelina Menaia, Filipe Melo.
Seria injusto não referir autores que com frequência têm trabalhado "a solo", criando os seus próprios argumentos (são, em simultâneo, argumentistas e desenhadores).
Nesta alínea de autores completos incluem-se, em épocas diversas, Cottinelli Telmo, Emmérico Nunes, Carlos Botelho, Stuart Carvalhais, Jorge Colaço, Ernesto, Tiotónio, Amélia Pae da Vida, Guida Ottolini, Maria Alice Andrade Santos, Vítor Silva, José Ruy, José Garcês, Baptista Mendes, José Manuel Soares, Jobat, José Antunes, Eugénio Silva, Júlio Gil, Marcelo de Morais, José Leal, Guy Manuel, Sérgio Luiz, Ricardo Neto, Carlos Roque, Jobat, José Antunes, José Pires, Pedro Massano, Victor Mesquita, Nuno Amorim, Zé Paulo, Zepe, Pedro Cavalheiro, Pilar, Carlos Zíngaro, Rui (Pimentel), Fernando Relvas, Victor Milheirão, Vassalo Miranda, Zenetto, Santos Costa, Hermínio Felizardo, Carlo Sêco, Diniz Conefrey, Maria João Worm, Daniel Lopes, Estrompa, António José Lopes, Renato Abreu, José Pedro Costa, Pedro Castro, José Morim, Arlindo Fagundes.
Numa geração mais recente destacam-se, também como autores completos, argumentistas/desenhadores, José Carlos Fernandes, José Abel, Nuno Saraiva, António Jorge Gonçalves, Filipe Abranches, José Abrantes, Luís Pinto Coelho, Luís Diferr, Rui Lacas, João Amaral, Jorge Miguel, Agonia Sampaio, André Lemos, Mota,Teresa Câmara Pestana, Pedro Burgos, Pedro Morais, João Fazenda, Pepedelrey, Marcos Farrajota, Janus, Rudolfo, João Lucas, Rechena, Vete, Maria João Careto, Phermad, Álvaro, Horácio, Falcato, Fil, Filipe Duarte, Diogo Carvalho, Paulo Marques, José Lopes, André Carrilho, Ricardo Ferrand, João Maio Pinto, João Chambel, Jorge Coelho, João Lemos, Ricardo Cabral, Ricardo Cabrita, Pedro Leitão, João Mascarenhas, Luís Valente, Vasco Martins, Jorge Oliveira, José Smith Vargas,Tiago Albuquerque, Paulo Monteiro.
Tenho a consciência de que nestas listagens feitas "a vol d'oiseau", sem quase nenhuma ordem cronológica, estão a faltar muitos nomes, que têm feito obra - mesmo que escassa e esporádica - desde que existe figuração narrativa em Portugal.
Além de eu próprio me poder lembrar, a pouco e pouco, de outros argumentistas, e de mais argumentistas/desenhadores, quer tenham muito ou pouco trabalho publicado, agradeço que me façam chegar nomes em falta à caixa de comentários.
Digamos que este texto, pretendendo ser uma simples achega para um estudo mais completo e aprofundado a propósito dos argumentistas/guionistas, ou seja, os que normalmente ficam em segundo plano quando se fala de autores de BD, acabou por englobar numerosos autores completos, que não sendo exclusivamente argumentistas, acabam por sê-lo de forma menos explícita.
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6 comentários:
Uma excelente notícia!
Depois de felicitar a notícia do workshop, eis-me de regresso para me deliciar com uma listagem de talentos ;-)
É curioso pensar no argumentista como avis rara em Portugal. Sendo a BD uma arte inexistente sem a componente pictórica, talvez não seja de estranhar... Mas confesso que me sinto mais desconsolado quando termino uma história cuja arte me impressiona mas o argumento pouco me disse. Já o inverso, não é tanto insosso. O primeiro converte-se na minha estante em algo cuja narrativa desvalorizo e é utilizado como uma antologia de apreciação de arte; o segundo, continua a ser uma história. Claro que haverá sempre excepções, mas o que será de uma BD sem um argumento interessante? Ou, por analogia, o que será de um livro ilustrado do qual não gostamos do texto? Provavelmente, nestes dois últimos exemplos, ignoraremos a narrativa e só abriremos os livros quando as imagens chamarem por nós... E não é esse o pressuposto do livro de BD nem do livro ilustrado...
Concordo perfeitamente com o segundo comentário do Enanenes. Uma Bd com um bom argumento, bem escrito evidentemente, mas com desenhos sofríveis, tem uma força e um apelo muito superior a outra com mau argumento e excelentes desenhos.
A BD é essencialmente uma forma narrativa de conjunto - escrita e desenho -, com um centro de interesse focado na história que quer divulgar; como bem disse o comentador, não havendo história, resta apenas uma obra gráfica interessante, um repositório de arte sem "leitura".
Note-se que uma história, direi um argumento, nem necessita de muito texto ou até a ausência deste, desde que os condimentos de interesse estejam lá perceptíveis: tem de contar uma história e esta possuir o condão de despertar no leitor uma e muitas outras leituras sequentes.
A questão é que, bastas vezes, a qualidade do desenho depende muito da qualidade do argumento e do argumentista. Um "bom" desenho não é necessariamente um desenho bonito, antes um desenho que sirva a história, estilística e narrativamente. Não é por acaso que há artistas que brilham com certos argumentos e que se banalizam perante outros.
O argumento é a génese, daí sempre me ter batalhado contra a acreditação em primeiro lugar do nome do desenhador.
O ilustre Santos Costa já o disse mas, apesar de eu ter cuidado em usar uns termos em detrimento de outros no comentário que fiz, gostaria de clarificar um ponto que me é muito caro: pode não existir nenhum texto, ou seja, estarmos perante uma BD denominada por alguns autores de "muda"... mas o argumento e o componente narrativo continua obviamente presente. Com ou sem palavras, a solo ou acompanhado, o autor que desempenha a função de argumentista tem de estar presente. Como não simpatizo muito com os termos "sempre" nem "nunca", indaguei-me se algumas das experiências mais radicais na BD conseguiam dispensar a narrativa. Quiça, sim. Mas não acredito muito na confirmação desta hipótese...
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