Repito o que disse na postagem anterior: houve bastantes presenças de autores portugueses de BD, editores e bloguistas.
Faltou-me mencionar leitores e coleccionadores, os principais compradores de álbuns, revistas, pranchas originais, merchandising... Corrijo o lapso agora, mas esta minha opinião já a expressei muitas vezes. Costumo dizer que, na "cadeia de montagem" da banda desenhada, os elos mais importantes são os autores numa ponta, e os leitores/compradores no outro extremo.
Mas não será justo esquecer o papel positivo dos editores, em especial o das pequenas editoras independentes, como é o caso da El Pep.
Pepedelrey, está desde há uns anos a esta parte, integrado nessa área, com a sua editora El Pep. Pepe (toda a gente simplesmente o trata assim, mas poucos sabem o verdadeiro nome dele), é também livreiro e galerista no espaço que ocupa no Imaviz Underground, em Lisboa.
É ele quem hoje entrevisto/ausculto, porque foi um dos participantes na edição pioneira da Comic Con Portugal, e porque tem várias valências: autor (argumentista e desenhador), editor, livreiro, galerista. E demonstra talento e qualidade em todas elas.
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G.Lino - Pepe: Gostaria que fizesses a comparação entre este tipo de evento, com características americanas, e os festivais europeus que conheces.
Pepedelrey - Não são comparáveis.
Indústrias com métodos opostos e inseridas em mercados com necessidades muito diferentes.
G.L. - Pensas que este evento multidisciplinar - onde coexistem banda desenhada, cosplay, videojogos, cinema, televisão, espaços comerciais com BD e diversos tipos de "merchandising" - fazia falta em Portugal?
Pepedelrey - Sim, como se comprovou nos três dias.
É necessário um evento desta dimensão para criar e ao longo do tempo manter, o que já não existia em Portugal desde os anos 90 do século passado - um mercado de bd.
Este modelo comercial é positivo enquanto criador de novos consumidores.
G.L. - Surprendeu-te o facto de ter havido uma autêntica avalanche de público - a Comic Con Portugal teve mais de 32.000 visitantes -, apesar de a Exponor, local do evento, se localizar em Matosinhos, a razoável distância do Porto, e as entradas terem um preço algo elevado?
Pepedelrey - Não.
É natural essa avalanche.
O evento levou actores de séries de culto norte-americanas, ao contacto próximo do público.
Por isso é perfeitamente normal que as pessoas se deslocassem de grandes distâncias e pagassem valores altos só para esse momento extremamente curto.
São os pequenos prazeres dos fãs.
O que se tornou como positivo para as outras áreas: esse mesmo público, pela proximidade dos espaços, circulou pela Comic Con com alguma curiosidade e descobriu novas coisas que de outra forma não iria conhecer. E estou a referir-me à bd e aos autores em particular.
Tive reacções de descoberta de que em Portugal existem criadores e produtores culturais na bd de elevada qualidade. E que em alguns casos, só são conhecidos fora do seu país.
Para além disso, o público do norte do país esteve carente destes eventos durante demasiado tempo.
G.L.- Como autor de BD, editor e livreiro, achas que tiveste vantagem em participar? Em qual das tuas três actividades sentiste que lucraste mais com esta participação?
Pepedelrey - Nessas três e também enquanto galerista.
Como disse anteriormente, graças a este evento, o grande público, mais generalista, voltou a aproximar-se da produção nacional, tanto dos jogos como da bd de produção nacional. E isso em si já é lucrativo.
G.L.- O que achaste de mais interessante no evento? E que aspectos consideras terem sido menos bem conseguidos?
Pepedelrey - Bom, o mais interessante foi de facto a quantidade brutal de público que se aproximou e interagiu com os diversos agentes culturais e entretenimento lá presentes, seja nos jogos, bd ou ilustração.
Relativamente aos aspectos menos conseguidos, é normal existirem numa primeira edição de um evento desta envergadura, mas como deves entender, não vou-me pronunciar sobre esse assunto publicamente. A minha opinião fica reservada até os apresentar à organização da Comic Con.
Mas deixo aqui bem claro que considero muito positivo o evento, e que se continuarem a existir condições, estarei sempre presente na Comic Con.
É muito importante a existência do evento.
G.L. - Muito obrigado pela disponibilidade que mostraste em colaborar neste trabalho.
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PEPEDELREY
Síntese autobiográfica
Pepedelrey nasce no ano 1967 do conturbado século XX.
Cedo demonstra a sua criatividade ao roubar canetas nas papelarias. Poderia ter sido um miúdo normal, ter roubado chocolates ou pastilhas, mas não. As canetas e os cadernos para poder desenhar, eram de facto mais excitantes.
Depois da queda da ditadura saloia, entrou nos anos 80 para a então Escola de Artes Decorativas de António Arroio, para o curso de Imagem e Comunicação Audio-Visual.
Em 1984 cria o seu primeiro fanzine, em parceria com mais quatro autores. A partir dai foi um estragar de papel e de máquinas de fotocópias, enchendo o estômago de quem adora consumir muita criatividade.
Em 2002, já em plena ditadura, funda a editora independente El Pep e em 2005 é co-fundador do projecto The Lisbon Studio.
Em 2014 abre a El Pep Store & Gallery com o objectivo de promover edições de autor e expor diversos criadores nas áreas da ilustração, banda desenhada, fotografia, pintura e outras formas de expressão.
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Nota do bloguista destinada a quem não conheça pessoalmente o entrevistado:
A foto que me foi fornecida por Pepedelrey é bastante antiga, como se depreende pela cabeleira tipo african look, que corresponde a uma moda dos anos oitenta
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Para ver postagens anteriores relacionados com o tema Festivais bastará clicar nesse item visível no rodapé
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