quarta-feira, dezembro 31, 2014

Tudo Isto é Fado



Iniciou-se a 28 de Novembro do corrente ano de 2014, no semanário Sol - mais propriamente na sua revista/suplemento Tabu -, a publicação de uma obra em BD intitulada "Tudo Isto é Fado".

Nuno Saraiva aka N.S., é o autor desta banda desenhada de razoável extensão (treze semanas de publicação a quatro pranchas de cada vez), com o talento que se lhe reconhece na concretização gráfica, além de ser ele também o autor do guião, baseando-se em textos - que consubstanciam, afinal, o argumento - de vários renomados estudiosos do assunto, designadamente Pinto de Carvalho ("Tinop"), textos que lhe foram facultados pelo Museu do Fado.

O episódio inicial tem por título "A Maior Casa de Fados do Mundo", onde é transformado em imagens sequenciais "O Namoro da Rita", fado composto em 1957 por Artur Ribeiro, autor da letra, e António Mestre, compositor da música.
Trata-se de uma das primeiras gravações de Amália Rodrigues para a etiqueta Alvorada, da portuense Rádio Triunfo, Lda., conforme se lê numa legenda lateral.

A finalizar esse capítulo surge Mariza - outra bem conhecida e apreciada cantadeira de fados, muito bem caricaturizada por N.S. - a cantar "Ó Gente da Minha Terra", um fado com música de Tiago Machado, a partir de um poema de - imagine-se - Amália.

No capítulo seguinte, publicado na edição do Sol de 5 de Dezembro - uma 6ª feira, dia da saída do citado semanário lisboeta - surgem mais quatro coloridas páginas, com seis vinhetas cada, como em todas as páginas anteriores, em que se volta a ver Mariza, desta feita dando nome ao capítulo, a cantar "Barco Negro" - um fado inicialmente cantado por Amália, no filme "Les Amants du Tage".
Como escreve Nuno Saraiva em legenda lateral, apoiado em textos fidedignos, "é um poema de David Mourão Ferreira inspirado na melodia original de 'Mãe Negra', dos brasileiros Piratini e Caco Velho, censurada no Portugal de 1954."

A obra aos quadradinhos dedicada ao fado - curiosamente, neste caso pode falar-se de quadradinhos literalmente, visto que Nuno Saraiva divide sempre as pranchas em seis vinhetas rigorosamente quadradas - continua a tratar de fadistas de renome, sendo o terceiro capítulo dedicado a Carlos do Carmo, o qual, a dada altura, estando a bordo de um avião da TAP, adormece, é acordado por Bernardo Sassetti, e espanta-se em seguida com o aparecimento de Ary dos Santos, um improvável comissário de bordo.  

O quarto capítulo é dedicado a Amália Rodrigues, e o autor da bd começa por localizar as primeiras vinhetas em Abril de 1945, com a imagem de Berlim bombardeada, cita em seguida o Plano Marshall, e apresenta Amália a cantar na Alemanha, num cinema chamado Titania Palast, na noite de 1 de Outubro de 1950 - terminara há cinco anos a Guerra Mundial. 
O fado tinha por título "Só à Noitinha (Saudades de Ti)", letra de Amadeu do Vale e Raul Ferrão, música de Frederico Valério.

Quem goste de fado - agora Património Imaterial da Humanidade - tem assim a oportunidade de ampliar os seus conhecimentos sobre a matéria, através destas descrições pormenorizadas, excelentemente apresentadas por imagens sequenciais de elevada qualidade.
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NUNO SARAIVA  

Síntese biográfica

Nuno Jorge de Avelar Teixeira Saraiva, Lisboa, 27 de Agosto de 1969.
Adquiriu formação académica na FBAUL-Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e no IADE-Instituto de Artes Visuais Design e Marketing. 
É professor de Ilustração e BD no AR.CO - Centro de Arte e Comunicação Visual.
A sua vasta produção de banda desenhada está espalhada por fanzines (Banda, Comic Cala-Te, Hips!, Efeméride), revistas (Ego, Cosmopolitan) e jornais (O Fiel Inimigo, depois apenas Inimigo, neste sob o pseudónimo Ketch, Independente, Mundo Universitário).
Parte dessa produção está reunida em álbuns: Filosofia de Ponta, sob argumentos de Júlio Pinto, com três tomos editados; para o mesmo argumentista desenhou "Arnaldo o Pós-cataléptico" e "Guarda Abílio". A fazer duo com Paulo Patrício, este enquanto argumentista, desenhou a série "Escrita Fina", publicda no semanário Expresso entre 2004 e 2005.
A "solo" realizou "Os Dias de Bartolomeu", "Zé Inocêncio", "As Aventuras Extra Ordinárias de um Falo Barato".
Faz parte actualmente do colectivo TLS-The Lisbon Studio, onde tem colaborado no TLS Webmag.
É também importante a sua obra na ilustração, designadamente nos livros, de temáticas diversas, "A Crise Explicada às Crianças - Para Miúdos de Direita e Para Miúdos de Esquerda", sob texto de João Miguel Tavares, "Caríssimas 40 Canções - Sérgio Godinho", e "Isto É Um Assalto", com texto de Francisco Louçã e Mariana Mortágua.
Tem estado presente em diversas exposições de BD e Ilustração, individuais e colectivas.
Em 2006 criou imagens para dezasseis receitas de culinária, usando imagens de carácter erótico com os rostos de actores e actrizes do cinema internacional.
Em 2010 foi galardoado com o Prémio Stuart de Desenho de Imprensa, criado por El Corte Inglés e Casa da Imprensa, por uma ilustração sua para a capa do suplemento Ípsilon do jornal Público
Foi o representante de Portugal no 11º Festival Internacional de Banda Desenhada e Animação - Luanda Cartoon, em Agosto de 2014.
Iniciou em Novembro do mesmo ano a obra em BD "Tudo Isto é Fado", em publicação no semanário Sol - revista/suplemento Tabu - ao ritmo de quatro pranchas por semana, a cores, sendo ele também o argumentista/guionista, sob elementos que lhe são fornecidos pelo Museu do Fado, responsável pela co-produção.

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