Sempre foi esse o leit motif do citado magazine satírico francês, irreverente, cáustico, fortemente anti-clerical, que nunca poupou mordacidades aos representantes das igrejas, e onde têm pontuado autores eminentemente truculentos, designadamente Cabu e Wolinski, este malicioso e dado ao erotismo tanto nos cartunes como nas bandas desenhadas.
O Islão e respectivo profeta, ambos têm sido causticados, mas também a Igreja Católica não tem sido poupada - vejam-se as 2ª e 3ª capas do [magazine] Charlie que ilustram este "post" - o que demonstra a democraticidade e a independência religiosa da conceituada publicação.
Terão sido os gags dirigidos ao Islão e a Maomé a causa do massacre levado a efeito hoje, 7 de Janeiro de 2015, por dois atiradores, com ligações à AlQaeda, que atingiram mortalmente doze pessoas e feriram onze, algumas delas com gravidade.
Entre os assassinados constam os cartunistas/banda-desenhistas Cabu e Wolinski, os de maior nomeada, mas também Charb, Honoré e Tignous.
Aqui me associo ao repúdio geral pelo absurdo atentado, levado a efeito por fanáticos religiosos, que assim atacam com ferocidade a liberdade de expressão.
Imagens que ilustram a postagem:
- 5 capas do magazine Charlie Hebdo
- Je Suis Charlie - Um voto de solidariedade
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WOLINSKI (1934-2015)
Síntese biobibliográfica
Georges David Wolinski, Tunis, Tunísia francesa, 28 Junho 1934.
Os seus pais (pai polaco, mãe italiana) emigraram para França, Briançon, e foi ali que Wolinski fez os seus estudos secundários. Em 1952 mudou-se para Paris onde estudou na Escola de Arquitectura.
Em 1960 começou a colaborar no Hara-Kiri, mensário satírico, fazendo cartunes, ilustrações e séries de BD de carácter político e erótico, de que são representativas "Ils Ne Pensent Qu'à Ça", "Histoires Inventés", "Hit-Parades".
Wolinski teve papel activo na revolta estudantil de Maio 68, fundando com Siné o magazine satírico L'Enragé. Os seus pontos de vista filosóficos são explanados numa série intitulada "Je Ne Veux Pas Mourir Idiot", nesse mesmo ano de 1968.
No ano seguinte Wolinski tornou-se editor do recém-editado mensário humorístico Charlie, onde se tornou notado pelas suas críticas sociais e políticas, concretizadas em desenhos simples.
A partir de 1977 passou a exercer a função de cartunista político no diário comunista L'Humanité, o que não o impediu de colaborar em várias outras publicações de áreas políticas diferentes, desde o Libération, diário liberal, até ao semanário conservador Paris-Match.
Em Portugal começou a fazer parte do júri do "Porto Cartoon" em 2004, e foi-lhe editado um álbum com a banda desenhada "Diz-me Que Me Amas", na colecção Herman Piripiri.
Em 2005 foi distinguido no Festival BD de Angoulême com o mais importante galardão, o Grande Prémio da Cidade de Angoulême.
Devido ao facto de trabalhar para a TV, e também para o Teatro, além da participação em vários eventos, as suas bandas desenhadas passaram a ser esporádicas, produzindo mais cartunes para os magazines L'Echo des Savanes e Charlie Hebdo.
Era com este último que continuava a colaborar, na redacção em Paris, até que, a 7 Janeiro 2015 foi assassinado num assalto perpetrado por dois terroristas, fanáticos religiosos, adeptos do islamismo e da al-Qaeda, mas de nacionalidade francesa.
(Texto parcialmente baseado numa biografia publicada em "The World Encyclopedia of Comics", editado por Maurice Horn para a editora Chelsea House Publishers, Philadelphia, USA, em 1999 - 2ª edição).
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CABU (1938-2015)
Síntese biobibliográfica
Jean Cabut, 13 Janeiro 1938, Châlons-sur-Marne, França
Publicou os seus primeiros desenhos em 1954 na publicação regional L'Union de Reims, passando a colaborar na imprensa popular, designadamente nas revistas Paris Match e Ici Paris.
Em 1960, depois de deixar o serviço militar, participa na fundação do magazine satírico Hara-Kiri, substituído sucessivamente por Charlie Mensuel e Charlie Hebdo. Em todas estas publicações, Cabu teve contínua colaboração, criando várias personagens, designadamente "Madame Pompidou", "Mon Boeuf", "Catherine".
A partir de 1962 começa a colaborar no magazine Pilote, para o qual cria "Le Grand Duduche". Para além deste trabalho colabora nas publicações Ici Paris, L'Enragé, Candide, Le Nouvel Observateur, Paris Presse, Periscope, La Gueule Ouverte, Politique Hebdo, Canard Enchainé e, por fim, no Charlie Hebdo.
Foi nas instalações em Paris deste magazine satírico, que Cabu foi assassinado a 7 de Janeiro de 2015, como resultado de um assalto perpetrado por dois terroristas, radicais islâmicos de nacionalidade francesa, ligados à organização terrorista alQaeda.
(Texto parcialmente escrito com elementos extraídos do "Dictionnaire de la Bande Dessinée", da autoria de Henri Filippini, em edição de Bordas, Paris - 1989)
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