quinta-feira, dezembro 22, 2016

Curtas de BD - Uma bd de Carlos Zíngaro na ArtReview





Nota desnecessária para muitos dos visitantes: clique sobre as imagens duas vezes, espaçadamente, para as ampliar e melhor as poder visionar, em especial para poder ler as legendas dos balões e das legendas didascálicas

Tive conhecimento por noticiário radiofónico de que ontem, dia 21 de Dezembro, por ser o dia mais curto do ano, se comemorava o Dia Internacional das Curtas de Cinema. No google, que sabe quase tudo, apenas encontrei referência ao Dia Mundial do Cinema, que teve lugar no dia 5 de Novembro de 2016. Parece que a iniciativa terá nascido em França, não faço ideia de quem terá partido a ideia, provavelmente de algum amante de Cinema apenas conhecido num nicho de cinéfilos franceses.  

Seja como for, esta notícia tocou-me, na corda sensível do amor à BD em geral, e na do grande entusiasmo pelas bandas desenhadas curtas, em particular. Como prova do que digo, até criei neste blogue a etiqueta Curtas de BD de Autores Portugueses, em 11 de Outubro de 2009 (1) e uma outra para as de autores estrangeiros (2). 
(Convém acrescentar que tenho considerado, nesta classificação, bandas desenhadas que tenham de uma a dez pranchas/páginas). 

Assim sendo, achei que se justificaria plenamente a implantação do Dia Mundial das Curtas de BD. Quando? Hoje mesmo, dia 22 de Dezembro de 2016. Por alguma razão especial? Apenas para não adiar a ideia, e também porque hoje terá sido o segundo dia mais curto do ano.

E de que poder me arrogo para ser responsável por uma iniciativa que pretendo seja abrangente? Nenhum em especial. Sou apenas um amante da BD, somente conhecido num nicho de bedéfilos. Até pode ser que mais ninguém da BD ligue a isto, mas mesmo que seja eu o único a defender a ideia, fá-lo-ei.

Portanto, em 2017, a 22 de Dezembro, cá estarei (assim o espero) a comemorar neste blogue.

E a comemorar como? Da maneira mais pragmática: a publicar uma banda desenhada curta de autor português. 

É o que estou a fazer no princípio do dia de hoje, dia 22 de Dezembro de 2016, reproduzindo uma curta, absolutamente notável, de apenas duas pranchas, titulada Such a Light Touch, criada por Carlos "Zíngaro" - um conhecido músico que se estreou enquanto autor de BD na revista Visão (anos 1975/76) - realizada de propósito para uma revista inglesa de prestígio, a ArtReview (vol.68 nr.8, Nov.2016).


Em cima: capa da revista ArtReview onde está publicada a banda desenhada de Carlos Corujo "Zíngaro"

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Para quem não conheça este autor, publico em seguida uma entrevista que lhe fiz para este blogue em 15 de Junho de 2006.

CARLOS CORUJO "ZÍNGARO"

ou

CORUJO "ZÍNGARO"

(Carlos Alberto Corujo Magalhães Alves - Lisboa, 1948)





GL- Corujo Zíngaro, o que significou para ti a Visão?
C.Z. - A oportunidade de estar finalmente inserido numa equipa profissional, com alguns dos melhores desenhadores/autores existentes na altura.
Assinalo porém que não participei na aventura desde o seu início por alegada oposição de Victor Mesquita, que nem conhecia pessoalmente e que me consideraria um autor menor.
Foi apenas a partir do número dos "7 Magníficos" que passei a integrar o grupo.
Refiro também que a minha colaboração se resumiu a três únicos números, pelo que dificilmente me poderei considerar uma parte do núcleo "duro" da Visão.
Ficou-me porém o prazer de saborosas reuniões, de imaginações transbordantes, e a vontade de fazer algo único no nosso país. Infelizmente, a partir de muito cedo,com morte anunciada...
Era uma produção caríssima, teoricamente subsidiada por lucros flutuantes, com uma distribuição péssima, que não tinha a mínima ideia de como colocar um produto daqueles e o atirava para as bancas juntamente com a Moda e Bordados e a Capricho...

GL- Em Abril de 1975, estudavas ou trabalhavas?
C.Z. - Estudava e trabalhava... Estava a acabar o curso de cenografia da Escola Superior de Teatro, onde depois ficaria ainda mais um ano enquanto assistente da cadeira de desenho e membro da Comissão Directiva.
Continuava com o meu grupo Plexus em concertos pelo país. Tinha integrado a fundação do grupo de Teatro Os Cómicos um ano antes, do qual era director musical e que sobreviveria até 1980 - ano a partir do qual eu reciclaria o espaço (no Teatro do Bairro Alto) em galeria de arte com o mesmo nome.
É em 1975 também que se inicia a minha actividade no estrangeiro, com participações e colaborações em seminários e festivais internacionais.

GL- Que fizeste em BD depois de 1976, após o fim da Visão?
C.Z. - Uma militante colaboração num fanzine, o Ovo, dos ex-Visão Nuno Amorim e Pedro Massano.
A recusa de Júlio Isidro em me integrar com a mesma equipa da Visão na revista infantil de BD - Fungagá da Bicharada - alegadamente por eu não saber fazer BD infantil... Coisa que nunca sequer me foi perguntada.
Finalmente, uma prancha para uma publicação complementar ao Arroz Doce - justamente programa de TV do referido apresentador (teoricamente já não infantil).
E mais uma prancha para uma revista do Ministério da Educação. Recentemente, uma colaboração para o livro sobre Carlos Paredes - que dificilmente poderei considerar BD.
Um período relativamente fértil em 1980/90 de ilustração e cartoon para as revistas do Teatro Nacional S Carlos, revista de Artes Plásticas, Bisnau, Pão com Manteiga, etc., todas de morte mais ou menos anunciada, mas que me permitiram ganhar diversos prémios em Salões de Humor - Porto de Mós e Oeiras - assim como o desaparecimento de vários originais e o não pagamento de alguns outros...
Há mais de dez anos que a minha actividade gráfica é quase inexistente em termos profissionais e públicos.
Mas continuarei teimosamente a desenhar...

GL-Em vez de BD, o que é que tens feito para ganhar a vida? 

C.Z. - Música. Concertos - essencialmente no estrangeiro.
Música para teatro, dança e cinema (muito pouco no último caso...)
Dei aulas - Forum Dança, Chapitô, CEM, Escola Superior de Música de Coimbra, etc..
Desde 2003 sou fundador - presidente de uma associação ligada aos experimentalismos artísticos - fundamentalmente musicais - que é a Granular. Que, claro, não me dá qualquer receita, antes pelo contrário, e que é o meu derradeiro investimento colectivista em Portugal - podemos aprender tarde mas aprendemos...

GL- Há algum projecto de BD que estejas a realizar, ou que gostasses de concretizar um dia?
C.Z. - Projectos há imensos!
Um livro com textos do Rui Eduardo Paes, livremente baseado num espectáculo que fiz em 2003 - Senso - que está pronto mas com imensas dificuldades de edição pois não é nem ilustrativo, nem BD, nem novela gráfica!
Projectos de instalação e desenvolvimento intermédia; cada vez mais interessado pelas possibilidades informáticas na manipulação vídeo e na concretização de pequenas animações.
Seriamente a pensar na publicação NET de tiras críticas ou abstractas perante a cada vez maior imbecilidade instalada...
Algo que compreendi há muito em relação à minha abordagem BD foi que preferencialmente me atraía o lado nonsense, exploração gráfica extrema, a experimentação plástica/visual/conceptual. Comecei essas ideias antes de tempo, há trinta anos, algumas viram esporadicamente a luz sem sucessão...
Hoje que finalmente alguns autores exploram justamente essas áreas, eu serei considerado velho e ultrapassado - ou pura e simplesmente ignorado, pois esta é uma tendência bem lusitana - nunca se fazer a história recente, pelo menos enquanto os seus protagonistas ainda estão vivos.
Há um ostensivo ignorar de quem veio antes, e continua-se alegremente a voltar à estaca zero...
E como isto acontece também nas músicas, presumo ser um mal nacional, eventualmente endémico.
 
(Entrevista por Geraldes Lino)
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Vejam alguns dos posts dedicados ao tema nos links:

(1) http://divulgandobd.blogspot.pt/2009/10/curtas-de-bd-autores-portugueses-i.html

(1A) http://divulgandobd.blogspot.pt/2016/09/futebol-robotico.html

(1B) http://divulgandobd.blogspot.pt/2016/08/bd-curta-autoria-ines-garcia-e.html

(1C) http://divulgandobd.blogspot.pt/2016/08/cais-revista-com-bd-autores-bernardo.html

(1D) http://divulgandobd.blogspot.pt/2016/07/como-ouvir-stockhausen-com-barriga.html 

(2) http://divulgandobd.blogspot.pt/2016/07/curtas-de-bd-trillo-e-mandrafina.html

(2A) http://divulgandobd.blogspot.pt/2016/03/cinema-e-bd-filme-com-marilyn-monroe.html

(2B) http://divulgandobd.blogspot.pt/2016/02/curtas-de-bd.html

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Os interessados em ver/ler bandas desenhadas que se inserem nos temas Curtas de BD poderão fazê-lo clicando nesse item visível em rodapé

1 comentário:

André Azevedo disse...

Caro Geraldes Lino,

Pelo que consegui apurar, o Dia das Curtas de Cinema a 21 de Dezembro foi implementado em 2011 pelo Centre national du cinéma et de l’image animée (CNC), um instituto público sediado em Paris.

Esta curta do Carlos Zíngaro é surpreendente, quer pelo carácter surrealista da narrativa, já presente nas bd’s que publicou na Visão (ver revista Visão e antologia Revisão), mas aqui com um reflexo “lynchiano” do País das Maravilhas (a propósito, ver Carlos Nine); quer pela exploração visual que concretizou através da sobreposição de várias técnicas gráficas. Pela excelente qualidade destas duas páginas, algum editor deveria incentivar o autor a produzir mais…

Já temos um Dia Mundial das Curtas de BD? Então no dia 22 de Dezembro de 2017 irei associar-me à efeméride e publicar uma curta n’A Garagem, sugerindo que os demais “blogueres” façam o mesmo.