Com efeito, quantos amadores/leitores/coleccionadores de BD (estas três componentes andam habitualmente a par) terão tido conhecimento da edição deste álbum? Além dos residentes em Tomar - sejam tomarenses ou não -, assim como alguns visitantes mais atentos deste blogue (onde, a propósito da imagem do castelo de Tomar, aqui já falei do álbum, no "post" inserido no tema "Castelos na Banda Desenhada", com data do passado dia 1 de Maio), o mais que certo é de ser escassamente conhecida a obra dedicada ao categorizado músico português.
Fernando Lopes Graça nasceu em Tomar, a 17 de Dezembro de 1906, e cedo demonstrou aptidão invulgar para a música.
É o percurso pormenorizado da sua vida, enquanto compositor e intérprete musical, mas também como indivíduo preocupado com os aspectos sociais e políticos, que é transmitido ao leitor/visionador desta notável obra biográfica em figuração narrtaiva.
Ricardo Cabrita - arquitecto por profissão, autor de BD por devoção -, teve trabalho meritório nas duas componentes da realização da banda desenhada, ou seja, na pesquisa inicial de dados biográficos, recorrendo à análise de obras diversas, literárias e musicais, em livros e na Internet, e na transposição para imagens sequenciais, em registo figurativo, que descrevem em vários capítulos a vida intensa e muitas vezes atribulada, de Fernando Lopes-Graça.
Tomar. Introitus: A descoberta de "La Mer" de Debussy
A página inicial já foi mostrada aqui no blogue, no citado "post" de 1 de Maio. Note-se que essa página, bem como as duas acima reproduzidas, estão coloridas num tom sépia, comum a todo este intróito, dando uma tonalidade propícia ao flashback pretendido, como se estivéssemos a visionar retratos antigos.
Conservatório. 1º andamento: Variações sobre um tema popular português
Desde a conclusão, em 1922, do ensino secundário no Liceu Gil Vicente, passando pelo Conservatório Nacional, ambos os estabelecimentos em Lisboa - onde foram seus mestres o padre Tomás Borba e o compositor Luís de Freitas Branco -, e pelo Liceu Passos Manuel, onde ingressou no curso complementar de letras, frequenta também a Faculdade de Letras de Lisboa, todos estes estudos intercalados por recitais, um deles no Cine-Teatro de Tomar, outro no Salão do Conservatório Nacional.
Toda esta fase da vida do músico é dada, ao nível do colorido, por cores que plasmam a realidade, a reproduzir o seu dia a dia, que passa pela sua entrada para professor da cadeira de piano do Conservatório, onde ficou classificado em primeiro lugar com 18 valores.
Pintado em tons sombrios, este capítulo descreve uma das complicações políticas na vida de Lopes-Graça (que já não eram as primeiras), passada na sede da PIDE - Polícia Internacional e de Defesa do Estado, na rua António Maria Cardoso (Chiado, Lisboa), onde é interrogado e agredido, sob diversas acusações de carácter político
Após ter sido libertado, Lopes-Graça parte para Paris, onde é acolhido pelo casal amigo, os pintores Vieira da Siva e Arpad Szenes.
De notar o tratamento pictórico e técnico deste capítulo, com predominância de desenho sobre fotografia.
De novo em Lisboa, Lopes-Graça passa por êxitos como compositor e maestro (de orquestra e de coros), mas também por dificuldades económicas, devido à perseguição política de que era alvo, concretizada na proibição de as suas obras serem tocadas pelas orquestras nacionais.
Totalmente concretizado graficamente a preto e branco, este quinto andamento reproduz o estado de espírito do músico. Após ter colaborado com o etnólogo e musicólogo Michel Giacometti (que, na sua recolha em gravações do cancioneiro popular português, tinha tido o apoio da Fundação Gulbenkian, mais concretamente da Comissão de Etnomusicologia do serviço de música, de que Lopes-Graça era membro), o seu trabalho foi recusado, daí que ele tenha pedido a demissão.
Mas as dificuldades que teve de enfrentar continuaram: correspondência interceptada ou, quando recebida por ele, visivelmente violada, limitação de movimentos e deslocações, enfim, vigilância constante...
Com poema de José Gomes Ferreira, este sexto andamento gráfico e sequencial mostra as pautas com a música do compositor, em imagens relacionadas com o 25 de Abril de 1974, trabalhado cromaticamente tal como o autor da banda desenhada tinha feito no 3º capítulo (ou, na linguagem musical adoptada, 3ºandamento), e igualmente sobre base fotográfica.
Nos últimos anos da sua vida, a residir na avenida da República, Parede, Lopes-Graça é visitado por uma jovem desconhecida chamada Teresa Cascudo, vinda propositadamente de Espanha para conhecer o músico, compositor e maestro, e sobre ele fazer a sua tese de doutoramento.
A situação dá azo a vários enquadramentos de grande qualidade estilística, e neles se vê o maestro a mostrar à jovem vários locais que têm a ver com ele: a Casa Verdades de Faria, no Monte Estoril, doada à Câmara Municipal de Cascais, onde veio a ser instalado o Museu da Música Portuguesa, e a Academia de Amadores de Música (Lisboa), onde iria ficar o repertório do coro daquela instituição, exactamente na associação a que foi dado o nome do maestro.
As recordações transmitidas a Teresa Cascudo passam pela afirmação de que, graças à revolução de Abril, Lopes-Graça tinha finalmente podido viver da música.
Mas estava a chegar ao fim, o que se pressente nas derradeiras imagens/vinhetas, quando diz: "Sim, estou um pouco cansado, mas ainda assim quero ver se vou rever a partitura de uma música que tenho ali em cima do piano (...) a seguir ouvir um pouco de música (...) e então, sim, descansar... a ouvir o mar, aqui tão perto, e adormecer..."
Estava em sua casa, na Parede (Cascais), onde viveu o seu último dia, a 27 de Novembro de 1994.
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Título da obra: Fernando Lopes Graça. Andamentos de uma vida
Álbum brochado, com badanas na capa e contracapa
Miolo a cores e a preto e branco, 44 páginas (32 páginas da bd, mais 12 páginas onde se inclui a pagina de rosto e elementos indicativos das fontes de pesquisa usadas pelo autor)
Autor: Ricardo Cabrita
Data da edição: 2008 (data constante da badana do álbum. O autor informou-me que foi editado em Dezembro 2008, e ofereceu-me este exemplar em Abril 2009)
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Título da obra: Fernando Lopes Graça. Andamentos de uma vida
Álbum brochado, com badanas na capa e contracapa
Miolo a cores e a preto e branco, 44 páginas (32 páginas da bd, mais 12 páginas onde se inclui a pagina de rosto e elementos indicativos das fontes de pesquisa usadas pelo autor)
Autor: Ricardo Cabrita
Data da edição: 2008 (data constante da badana do álbum. O autor informou-me que foi editado em Dezembro 2008, e ofereceu-me este exemplar em Abril 2009)
Tiragem não indicada [1500 ex.]
Editor: Câmara Municipal de Tomar
Tomar
Editor: Câmara Municipal de Tomar
Tomar
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Para ter acesso imediato a todos os "posts" anteriores, basta clicar no item Álbuns BD imprevisíveis e difíceis de obter indicado no rodapé
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2 comentários:
e onde se pode encontrar esse album?
Há sempre que tentar a hipótese de contactar a editora, neste caso a Câmara Municipal de Tomar. E o Google sabe tudo.
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