Termina aqui, com as respostas do bloguista e especialista de BD André Azevedo, a série de mini-entrevistas tipo inquérito, relacionadas com a Comic Con Portugal (1ª edição, 5 a 7 de Dezembro de 2014) feitas a autores, editores, livreiros e bloguistas, todos da área da BD.
É unânime a noção de que a empresa City Conventions in the Yard, representada por Paulo Rocha Cardoso, conseguiu criar um evento de grande dimensão com semelhanças aos que se realizam nos Estados Unidos da América - de que são exemplos maiores as Comic Con de San Diego e Nova Iorque.
Seguem-se as perguntas e respostas:
G.Lino - André Azevedo: Como bloguista de BD, esteve presente na estreia do evento Comic Con Portugal.
Gostaria que fizesse a comparação entre este tipo de eventos, com características americanas, e os portugueses (Amadora e Beja - Festivais; Moura e Viseu - Salões; Porto - Central Comics Fest) e europeus - Angoulême ou outro que conheça.
André Azevedo - O modelo americano, as denominadas "Comic Con", são claramente direccionadas para o comércio, para a venda de "produtos" relacionados com a cultura pop, onde se inclui, muito redutoramente, a Banda Desenhada, que contudo beneficia aqui de todo o aparato festivo destes eventos, podendo assim chegar a outros públicos receptivos a conhecer obras de figuração narrativa por estas já terem sido adaptadas ao cinema, à televisão ou terem a sua iconografia em artigos de "merchandising". Aqui a figura principal é o Consumidor.
Uma nota: as comic conventions já existem nos EUA desde pelo menos 1970 (Golden State Comic Book Convention, a antecessora da San Diego Comic-Com), e por cá já temos este modelo,ou similares, mas em menor escala (Anicomjcs, Central Comics Fest).
Os Festivais de BD são mais direccionados para a arte em si, onde, não descurando o lado comercial, promovem-se diversas exposições de pranchas originais, encontros com autores e editores nacionais e estrangeiros, edição de catálogos e outras publicações e actividades mais centradas na banda desenhada, podendo captar públicos não só da área mas também com interesse por outras artes, como por exemplo através de concertos de música e/ou projecção de filmes. Aqui, naturalmente, o Autor é a figura principal.
Os Salões de BD são eventos semelhantes aos Festivais mas de dimensões mais reduzidas e por vezes com escassos meios de trabalho e níveis de produção, mas importantes na manutenção de núcleos locais com interesse pela BD e que a divulga de forma militante. Aqui continua a ser o Autor a figura principal.
De igual importância são as Feiras, onde edições mais "alternativas" (à falta de melhor termo) se encontram à venda, muitas vezes pelos próprios autores, criando uma maior proximidade com o público, eles próprios quase sempre também autores.
Em ambientes underground festivos, onde a música nunca falta, a intersecção com as outras artes, sejam elas gráficas ou sonoras, estão sempre presentes, gerando um ambiente estimulante à criação DIY.
Aqui o Evento em si é a figura principal, pois autores, editores, divulgadores e público, participam dele de forma mais orgânica.
Apesar, ou mesmo, por causa destas diferenças, todos estes modelos são importantes para a difusão de cultura, a da BD em particular.
G.L. - Pensa que este evento multidisciplinar - onde coexistem banda desenhada, cosplay, videojogos, cinema, televisão, espaços comerciais com BD e diversos tipos de "merchandising" - fazia falta em Portugal?
André Azevedo - Com esta dimensão fazia, principalmente aos editores e livreiros. São eventos que apostam claramente no comércio, na venda de produtos, onde se inclui, obviamente e sem romantismos, os livros de BD.
G.L. - Surpreendeu-o o facto de ter havido uma autêntica avalanche de público - cerca de 30.000 visitantes -, apesar de a Exponor se localizar em Matosinhos, a razoável distância do Porto, e as entradas terem um preço algo elevado?
André Azevedo - Já tinha ficado surpreendido quando a organização anunciou a pré-venda de milhares de bilhetes, mas conseguirem cerca de 30.000 visitantes é sem dúvida um sinal que este tipo de eventos onde são convidados actores de séries com muitos seguidores tem público interessado, apesar do preço elevado dos bilhetes.
Quanto à localização, a Exponor, que fica a uns meros 15 minutos de carro do centro do Porto (20 de autocarro), é para mim um dos locais ideais para a Comic Con Portugal.
G.L. - Como bloguista (ou "blogger") de BD, acha que teve vantagem em estar presente?
André Azevedo - Claro, sem dúvida! Apesar de não ser o meu modelo favorito de “festival” não poderia faltar a esta primeira edição da Comic Con, isto para além de ter tido a oportunidade de contactar com alguns autores e divulgadores que ainda não conhecia pessoalmente e adquirir algumas edições fundamentais para a minha bedeteca.
G.L. - É de opinião que a área destinada aos autores de BD era suficiente? E considera-a bem localizada?
André Azevedo - Se a tendência é para crescer e naturalmente aumentar o número de autores no Artist’s Alley, então o espaço a eles destinado não é suficiente e deverá estar futuramente mais integrado com a área comercial. Este deverá ser um dos pontos a rever pela organização.
G.L. - No seu ponto de vista, a exposição de BD era suficiente, em termos de imagens expostas? Que aspectos considera terem sido menos bem conseguidos?
André Azevedo - Já não é admissível nos dias de hoje expor umas meras impressões de pranchas.
De modo geral, ou se expõem originais ou então não lhe chamem exposição. No entanto, se fosse algo digno desse nome, o número de pranchas teria sido muito insuficiente, mas também não acho que seja algo que se integre bem numa Comic Con.
G.L. - O que achou de mais interessante no evento?
André Azevedo - O mais interessante foi mesmo a interacção que se gerou entre os diferentes tipos de público / editores / autores.
G.L. - E que aspectos considera terem sido menos bem conseguidos?
André Azevedo - O menos conseguido, para além da área destinada às crianças ser pouco apelativa, foi mesmo a demora da entrada do público no recinto devido ao sistema de controlo utilizado, sendo este um dos pontos principais a melhorar e que a organização deverá ter bem em mente nas próximas edições.
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AZEVEDO, André
Síntese autobiográfica
Mário André Fonseca Azevedo (Porto, 1974)
Licenciado em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da
Universidade do Porto, publicou nesses anos académicos diversos fanzines sobre
arte: O Medo, Desvio 265 e Hotel, onde se incluiu banda-desenhada.
Através do seu Tio Neca, que gostava de bd’s de guerra (foi
Comando no Ultramar, voltou, mas nunca de lá saiu), de cerveja e do Benfica (não
necessariamente por esta ordem), ganhou o gosto também por cerveja e por ler o Falcão,
Guerra, Condor e muitas outras pequenas publicações que abundavam nos quiosques
nos anos 80.
É do FCP.
Iniciou em 2012 o blogue “BD no Sótão” (já terminado) e em 2014 o blogue “A Garagem” por absoluta necessidade em partilhar, falar e divulgar Banda Desenhada.
Publicou a sua primeira BD, e única até ao momento, no fanzine Tertúlia BDzine nº 177, editado por Geraldes Lino em 2013.
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Imagens que ilustram o presente "post":
1. Banner do blogue BD no Sótão, o primeiro de André Oliveira
1. Banner do blogue BD no Sótão, o primeiro de André Oliveira
2. Banner do actual blogue do mesmo bloguista
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Para ver postagens anteriores relacionados com o tema Festivais e Comic Con Portugal bastará clicar nesse item visível no rodapé
9 comentários:
Olá Gerales Lino
Vou comentar neste inquérito em especial porque admiro o André Azevedo, embora não o conheça pessoalmente.
Acho que as suas impressões sobre o Comic Con são objectivas e pertinentes - e mais não digo, porque não estive lá.
Relativamente à BD no Sótão, que passou para o andar de baixo (em termos de "habitáculo", é claro), para A Garagem, é um trabalho que graciosamente (como tu, aliás) o André vem fazendo, sendo mesmo uma leitura diária ou quase diária para mim, pois ali colho muita da informação sobre a Banda Desenhada.
Ele é consistente na abordagem dos temas, é livre na escolha de todas as tendências e géneros de BD, acho que agrada a todas as sensibilidades e gostos.
Por isso, para além do meu Obrigado para ti e para o André, um feliz Natal para vós.
Um abraço para os dois
do
Santos Costa
Caro Santos Costa
Fiz antes uma extensa resposta, mas, com grande espanto meu, para que a resposta NO MEU PRÓPRIO BLOGUE FICASSE AFIXADA tive de clicar no sítio onde aparece a indicação (coisa nova) "Não sou um robô", em seguida seleccionei uma identidade, tive depois de escrever o meu endereço de email, e no fim de tudo isto esse texto que tinha escrito antes não aparece. Isto já me aconteceu em blogues de outros bloguistas, nunca no meu próprio blogue.
Acho estranho.
Abraço.
Tentei agora de novo, e desta vez resultou. Vamos a ver se consigo reproduzir a resposta inicial.
Concordo inteiramente contigo, o André Azevedo faz um excelente trabalho de divulgação, com textos de qualidade no blogue "A Garagem" (parabéns por neste estares incluído na coluna "Blogues e afins") tem grande dose de informação bem actualizada, tal como já acontecia com o seu blogue anterior, "BD no Sótão".
E tanto num como noutro, o nível gráfico é excepcional.
Boas festas, um grande abraço para ti e, no caso de ele passar por aqui, também para ele.
G.L.
Boa tarde, Lino
Reparei que o teu blogue pretende a resposta "humana" de que o usuário comentador não é um robot (robô, como ele diz), mas isso é benéfico, porquanto evita algum tipo de "spam", mas não evita as "melgas". ´
O Captcha é o acrónimo extenso e anglo-saxónico de "Completely Automated Public Turing test to tell Computers and Humans Apart", ou seja, quer que nós provemos que não somos robot's, sabendo-se que, com os governos que têm passado por Portugal e com o auxílio de "troikas", não sejamos agora outra coisa.
Quando escreveres um texto extenso, faz cópia para posteriormente colares, caso haja algum percalço, pois o Captcha, que deve ter um curso de oftalmologia, aplica-nos palavras de tal maneira enroladas, que não passaríamos num consultório da especialidade sem um bom par de óculos.
Enfim,quero desejar-te um Feliz Natal e, em geral, a todos os Leitores do teu blog, Boas Festas.
Santos Costa
Viva, Santos Costa
Grato pela explicação técnica.
Pela minha parte desejo-te Boas Festas, e um Ano Novo com saúde e muitas realizações artísticas (incluindo bandas desenhadas) e continuação do bom trabalho que desenvolves no teu blogue.
G.L.
Santos Costa,
Muito obrigado pelas suas palavras de incentivo. Sabe sempre bem lê-las!
Grande abraço e Bom Natal!
Caro Geraldes Lino,
Agradeço ter-se lembrado de mim para fazer o seu inquérito, que de resto respondi com todo o gosto!
Abraço forte e Bom Natal!
Caro André Azevedo
E eu agradeço ter acedido a responder às minhas questões a que, aliás, deu excelentes respostas, em especial a primeira, a que deu um bem elaborado desenvolvimento.
Também faço votos para que goze umas Boas Festas e um Ano Novo com saúde e êxitos na sua profissão de escultor e no seu "hobby" de bloguista.
Grande abraço,
G.L.
Caro Geraldes Lino,
Aqui vai uma breve biografia de José Abel.
https://joseabel.000webhostapp.com/
Um abraço
Miguel
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