Luiz Gê é um cartunista e autor de BD brasileiro bem conhecido em Portugal. Foi autor convidado do Festival Internacional de Banda Desenhada - AMADORA BD, e teve a curiosidade de participar na Tertúlia BD de Lisboa (ainda no Parque Mayer), pelo que ficámos com uma boa relação pessoal traduzida em ocasional correspondência emailística.
Recentemente, o Luiz Geraldo aka Luiz Gê enviou-me vários cartunes (*) e as bandas desenhadas que ilustram o topo da postagem (aliás, a primeira compõe-se de quatro tiras verticais sem palavras), acompanhada pelo seguinte texto:
Como v sabe, o Brasil está sofrendo um novo tipo de golpe de estado
que foi aplicado primeiro em Honduras, depois no Paraguai e, para nossa
vergonha, agora é aqui.
Existe
muito dinheiro e poder em jogo, e os países ricos, e, em especial, as
multinacionais não iriam deixar que o Brasil conseguisse formar um novo
bloco econômico como o dos BRICS que estava começando a se desenhar e
que ameaçava e se contrapor à sua hegemonia. Mas o campo de petróleo
aqui descoberto vale pelo menos um trilhão de dólares e compensa a
ninharia que a Secretaria de Estado americano possa vir a gastar para
fazer o que fez, desestabilizar, depor e implantar um governo formado
por bandidos para que lhes entregue a riqueza que for do seu interesse.
Desde
o começo do ano voltei a fazer charges políticas (que não fazia desde o
fim da ditadura militar em 84) lutando contra essa violência que mais
uma vez se abate contra o Brasil e contra um melhor equilíbrio de forças
do mundo inteiro, bem como contra a elevação do nível de vida de um
povo que já muito sofreu sob essa oligarquia truculenta que é a
brasileira. Estou mandando algumas charges que fiz desde o acirramento
do golpe (que na verdade se desenrola há muito mais tempo) e está sendo
concertado pela mídia (dos maiores milionários brasileiros), pela
justiça, que sempre foi muito classista, e que é fácil de manipular,
pois um pequeno número de seus membros é suficiente para que os juízos
sejam dados, e pelo congresso, que é o pior da nossa história, com mais
da metade dos congressistas respondendo a processos, às vezes até por
assassinatos (e que foi alçado ao poder também com a ajuda da mídia, é
preciso que se diga)!
Espero
que v possa ajudar a divulgar em Portugal esse material que foi
produzido em um ambiente angustiante e kafkiano, de alguém que vê a
nossa jovem democracia mais uma vez sucumbir aos golpes truculentos de
uma oligarquia que jamais pensou na construção de um país, mas apenas no
vil metal, para o qual desde sempre se vendeu às custas do sofrimento
alheio.
Essa BD fala sobre o poder midiático e a dificuldade que o indivíduo tem, caso pense de forma diferente. Isso é o pano de fundo em que se desenrola todo o episódio do impeachmente/golpe atual. Era muito difícil emitir uma opinião e não ser, imediatamente, escorraçado pelos demais.
(*) Em relação aos cartunes pus o Luiz Gê em contacto com o meu amigo Osvaldo Macedo de Sousa, a fim de lhos fornecer, e o Osvaldo já os divulgou no seu excelente blogue, com o seguinte título:
O GOLPE NO BRASIL PELA PENA SATÍRICA DE LUIZ GÊ
Para ver os cartunes de Luiz Gê clicar no link abaixo e procurar pela postagem de 13 de Junho
http://humorgrafe.blogspot.pt/
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Os
visitantes interessados em ver as anteriores postagens relacionadas com Política e BD poderão fazê-lo clicando
no respectivo item, visível no rodapé
O Clube Português de Banda Desenhada - CPBD é uma associação de carácter cultural, sem fins lucrativos, fundado em Lisboa a 28 de Junho de 1976. Tem por finalidade fomentar o gosto pela banda desenhada. É seu intuito, também, ajudar a recuperar velhas colecções, divulgar antigos e novos autores de BD, lançar ele próprio as suas edições.
Neste último aspecto, por exemplo, o clube editou logo no ano da sua criação um mini-álbum, "O Neto de Cartouche", de Vítor Péon, em Outubro de 1976, a que se seguiu, em Março de 1977, "Suave Milagre", conto de Eça de Queirós quadrinizado por Eduardo Teixeira Coelho, publicações recuperando obras antigas dedicadas aos sócios-fundadores, já esgotadas, e que se podem considerar raridades de muito valor.
Também em Março de 1977 foi iniciada a publicação aperiódica do Boletim do Clube Português de Banda Desenhada,
ou Boletim CPBD, englobando bandas desenhadas realizadas por jovens, estudos sobre obras
e autores de BD, biografias, fichas de revistas e informações várias,
que é actualmente o fanzine português mais antigo em publicação, tendo
atingido o nº142 em Abril de 2016.
Outra das actividades do clube são as exposições de BD. A primeira iniciativa desse género, que atingiu notável dimensão, teve lugar na F.I.L. - Feira Internacional de Lisboa - FILgráfica/FILescola
em Belém, entre 10 e 19 de Fevereiro de 1978, intitulou-se 100 Anos de
Histórias aos Quadradinhos em Portugal - Um Panorama da Banda Desenhada
Portuguesa.
Esta exposição tornou-se itinerante, e parte significativa dela foi vista em Aveiro, Cascais, Castro d'Aire, Faro, Funchal, Gouveia, Guimarães, Portalegre, Viseu e, passando as fronteiras, em 1983, foi montada em Cabo Verde, Cidade da Praia.
No mesmo ano, no âmbito desta grande mostra foi editada uma colecção de posters - sob orientação do clube e realização gráfica a expensas da F.I.L. - realizados no amplo formato A1,
englobando ilustrações de Eduardo Teixeira Coelho, Eugénio Silva,
Fernando Bento, Isabel Lobinho, José Garcês, José Ruy, Nuno Amorim,
Pedro Massano, Stuart Carvalhais e Vítor Péon.
Ainda
no ano de 1978, entre 17 e 30 de Abril, o CPBD organizou uma exposição
na Sociedade Nacional de Belas Artes-SNBA subordinada ao tema "A Banda Desenhada e a sua acção pedagógica ".
Em 1979,
numa acção conjunta com a Secretaria de Estado da Cultura, o clube
participou numa importante manifestação cultural e artística na Galeria
de Arte Moderna, em Belém, abarcando os meses de Agosto e Setembro. Durante esse período esteve patente uma exposição de BD e realizou-se um curso de introdução à banda desenhada dirigida pelo então presidente do CPBD, o autor José Garcês.
Em 1980 foi a vez de, comemorando o tricentenário da morte de Camões, organizar uma exposição intitulada "Camões na Banda Desenhada", apresentada e exposta na FIL.
Uma exposição realizada pelo CPBD em 1992, no átrio da Câmara Municipal de Lisboa, intitulada BD Jovem, foi, justificando o título, totalmente dedicada a novos autores: Agonia
Sampaio, António Campelo/NunoVarandas, António Jorge Gonçalves,
Arlindo, Daniel Teixeira, Diniz Conefrey, Fernando Martins/Carlos
Martins, Filipe Abranches, João Fazenda, Jorge Deodato, Jorge Mateus,
J.P.Carvalhal, Lacas, Luís Afonso, Luís Louro/Tozé Simões, Marandrade,
Marcos, Maria João Worm, Miguel, Mimi, Nazaré Álvares, Nuno Alves, Nuno Saraiva, Pedro Brito, Pedro Burgos, Pedro Cavalheiro, Pedro Dias, Ricardo Blanco, Vítor Borges e Xanxa Cabrita.
É curioso ver as suas fotos no catálogo editado, uma peça digna de ser coleccionada, e demonstrativa do apoio que o modesto clube sempre deu à BD portuguesa e especificamente aos autores emergentes.
Retrocedendo no tempo até Março de 1982, e derivando para uma área diferente, a dos eventos dedicados à BD, aconteceu que, sob impulso inicial do clube e com as participações da Embaixada de França e da Livraria Bertrand, surgisse o Festival de Banda Desenhada de Lisboa, o primeiro do género em Portugal.
Tomando por modelos os festivais de Lucca e Angoulême, que tinham os troféus Yellow Kid e Alfred, respectivamente, o CPBD criou o troféu O Mosquito, que passou a ser atribuído anualmente a personalidades e entidades de relevo na autoria ou na edição, e a obras nacionais de superior qualidade, o que aconteceu durante as suas quinze edições anuais.
Graças aos apoios conseguidos - além dos dois já mencionados, houve também os da Embaixada de Espanha e das editoras Meriberica e Editorial Futura -, nas primeiras edições do Festival BD de Lisboa estiveram na capital portuguesa alguns nomes de prestígio internacional: Jean [Moebius] Giraud, Jean-Claude Forest, Claude Moliterni, Danie Dubos (argumentista), Jesús Blasco, Antonio Hernandez Palacios, Bilal, Christin e, por último, Hugo Pratt.
Mas
mesmo sem capacidade económica para ter em Lisboa mais autores
estrangeiros de prestígio, o clube manteve-se a levar a efeito o
festival, que durante quinze anos animou a BD em Lisboa.
Em 1993 e 1994, o CPBD acumulou com o Festival BD de Lisboa a BDFeira - 1º Salão de Banda Desenhada na Feira Popular de Lisboa, tendo realizado a segunda edição e última da BDFeira entre 19 e 31 de Março, a que pertence a imagem da capa do catálogo editado.
Na sua vertente editorial, escassa mas importante - pela recuperação feita de obras já esquecidas ou menos conhecidas -, o CPBD editou em Março de 1989 uma brochura de 24 páginas, em formato oblongo de 26x18cm, que incluía todas as bandas desenhadas curtas, a cores, da autoria de Stuart, publicadas originalmente em 1952 no suplemento O Pajem do semanário Cavaleiro Andante.
Paralelamente a estas realizações, alguns dos membros da direcção do CPBD
foram sendo convidados para actividades várias: efectuarem palestras
sobre banda desenhada em agremiações particulares e em estabelecimentos
oficiais de ensino secundário, e integrarem júris de concursos de BD organizados por autarquias e estabelecimentos de ensino secundário e superior.
Um campo
em que o CPBD teve papel relevante na década de oitenta foi na criação
de secções dedicadas ao estudo e divulgação da BD em jornais e revistas da especialidade.
A primeira colaboração desse tipo foi com a rubrica "Correio da Banda Desenhada" iniciada em 20 de Junho de 1980 no matutino Correio da Manhã, e que se manteve em publicação ininterrupta até 1999.
Outra secção congénere apareceu no extinto semanário O País e foi publicado entre 1981 e 1983, sob o título "O País na Banda Desenhada".
Também em nome do CPBD foi publicado quinzenalmente, a partir de 3 de Março de 1983, o "Suplemento BD" na revista Jornal da BD, até ao fim da publicação, 1 de Setembro de 1987.
Em meados de 1984 o clube passou a colaborar com o vespertino Diário Popular, na rubrica "Sábado Popular", edição especial de fim-de-semana, onde coordenou uma página dedicada à "História e Teoria da BD", e o suplemento "Tablóide" (duas páginas iniciadas em 21.9.85) dedicado em exclusivo à publicação de bandas desenhadas de novos autores, complementadas com entrevistas.
Com a finalidade de proporcionar o aparecimento de novos valores, o clube organizou anualmente concursos de banda desenhada.
Em 1983, como forma de participar na XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura, formou-se uma parceria entre o CPBD, o FAOJ-Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis e CCJL-Casa da Cultura de Lisboa, a fim de lançar um concurso dedicado ao tema "Os Descobrimentos"; em 1984 foram escolhidos os Jogos Olímpicos; em 1985 deu-se a possibilidade aos jovens grafistas concorrentes de optarem entre temas da sua predilecção e os do Ano Internacional da Juventude.
Como corolário desses concursos, realizaram-se exposições à base das obras premiadas. A que foi levada a efeito no Fórum Picoas (Fevereiro de 1986), devido à sua amplitude e excelente montagem, atingiu grande brilhantismo.
Em
Abril de 1985, durante o IV Festival de Banda Desenhada de Lisboa, o
CPBD lançou uma colecção de autocolantes reproduzindo desenhos de
António Jorge Gonçalves, Augusto Trigo, Catherine Labey, Estrompa, E.T.Coelho, Fernando Bento, Fernando Relvas, José Abrantes, José Garcês, Luís Louro/Tozé Simões e Renato Abreu.
No VI Festival - Lisboa'87, com apoios do FAOJ-Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis, das editoras Meribérica/Liber e Edições ASA, o clube conseguiu editar um estupendo catálogo incluindo diversos artigos dedicados a José Garcês, Fernando Relvas, O Texto Literário na Banda Desenhada, 50 Anos do Príncipe Valente, Príncipe Valente no Reino dos Lusitanos, Nova BD Portuguesa, Jim Del Monaco, Um Herói Português?, CPBD-Onze Anos de Vida.
O CPBD tem obtido também alguma difusão internacional, através de membros da sua Direcção que se têm deslocado aos festivais de Lucca, Barcelona e Angoulême, participando em colóquios sobre vários aspectos da banda desenhada portuguesa.
Os
diversos contactos estabelecidos no estrangeiro já deram alguns
resultados concretos. O mais importante terá sido a oportunidade surgida
para a colaboração literária na "The World Encyclopedia of Cartoons",
obra editada em 1980 nos E.U.A. por Maurice Horn, nela tendo sido
incluídas biografias de Eduardo Teixeira Coelho, Rafael Bordalo Pinheiro e Stuart Carvalhais.
Também os fanzines mereceram o interesse do CPBD, que organizou em 1981, na Estufa Fria, a 1ª Feira do Fanzine de BD, em colaboração com o Centro de Artesanato de Lisboa. E criou o troféu "Vinheta" a fim de premiar o melhor fanzine de cada ano.
Na área das exposições, uma bastante visitada foi a que o clube dedicou à II Guerra Mundial na Banda Desenhada, em Novembro de 1995, com o apoio logístico da Biblioteca-Museu República e Resistência, que também editou um excelente catálogo.
Em Junho de 2001, o CPBD comemorou os 25 anos da sua existência editando a brochura "34 Macacos e Eu", de Fernando Bento.
As actividades do clube têm tido sempre limitações, dado o facto de que a única fonte de receita ter sido limitada à quotização, que se manteve em 200$00 trimestrais até 1996. Houve um largo período de vinte anos de imobilização e não cobrança de quotas, tendo recomeçado a cobrar-se com uma actualização para 2€ em Outubro de 2015, data da reanimação do clube, com a passagem da sua sede para a Amadora.
Apesar da escassa capacidade económica, a sua actividade exposicional já tem um valioso historial, tendo reanimado desde que o CPBD passou a usufruir de um espaço propício na Amadora.
Assim, depois de uma exposição dedicada a Stuart, outra a José de Lemos, o próprio CPBD apresentado numa mostra representando os seus quarenta anos de actividade, também Eça de Queirós na BD, mais uma baseada em obras de Alexandre Herculano na BD, o seu mais recente trabalho data de 23 de Junho de 2016, em parceria com a Bedeteca da Amadora (Biblioteca Fernando Piteira Santos) de uma exposição dedicada à dupla Augusto Trigo/Jorge Magalhães, só com pranchas originais.
No último fim-de-semana desse mesmo Junho de 2016, o clube manteve o
hábito anual de organizar um almoço de aniversário, desta vez a comemorar o seu 40º ano de existência, mas agora, pela primeira vez, num
restaurante da Amadora, em consideração pelo facto de ter a sua sede, desde Outubro de 2015, naquela cidade, em espaço cedido pela respectiva Câmara Municipal.