António Simões - ou Tozé Simões, como também assinava - e Luís Louro são amigos de longa data, tiveram um período de grande actividade na BD iniciada em meados da década de 1980. Simões, dotado para a criação de argumentos, Louro, sequioso de desenhar e fazer BD, juntaram os respectivos talentos e fizeram nascer Jim del Monaco, personagem que enriqueceu a galeria de heróis de papel da banda desenhada portuguesa.
Por coincidência, Louro e Simões tinham acabado de criar o primeiro episódio para aquele herói, quando se iniciava a publicação do suplemento "Tablóide", criado e coordenado pelo autor destas linhas no jornal Diário Popular. Daí que a estreia de Jim del Monaco tenha tido lugar naquele suplemento.
Seguindo o critério anterior, para além da publicação da bd, constava também uma entrevista com o autor da bd, sendo que neste caso eram dois. O primeiro ser entrevistado foi Luís Louro (entrevista já reproduzida anteriormente neste blogue), seguiu-se Tó Zé Simões, após a reprodução da banda desenhada.
Aqui no blogue o esquema está a ser diferente: após a entrevista com Luís Louro, reproduz-se já a entrevista com Tó Zé Simões, e só mais tarde, quando surgir a oportunidade, publicar-se-á a bd, o episódio inicial da série que se apresentava simplesmente sob o nome do herói.
(Reescrevo seguidamente a entrevista a fim de facilitar a leitura.
Relembro que tudo aquilo que nela é dito terá de ser lido considerando que a edição do jornal data de 2 de Novembro de 1985).
Relembro que tudo aquilo que nela é dito terá de ser lido considerando que a edição do jornal data de 2 de Novembro de 1985).
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Ficção, humor e aventura
são as minhas paixões
- Confidencia Tó Zé Simões, argumentista de BD
São bem raros os jovens que, gostando de escrever, se dediquem a fazer argumentos para Banda Desenhada. Tó Zé Simões é um deles. Ele tem aparecido desde sempre como argumentista de Luís Louro. Como terá começado essa colaboração?
- Partiu de um convite do próprio Luís Louro. Foi assim.
- Julgo que vocês eram amigos e que ele conhecia a sua tendência para escrever.
- Sim, sim.
- O que é que você tinha escrito, antes de fazer o seu primeiro argumento para BD?
- Contos, poesias e divagações várias, sem objectivo definido.
- Dessas suas primeiras experiências literárias, foi alguma coisa publicada?
- Não, por recusa minha. Eram - continuam a ser - coisas muito pessoais. O único poema que publiquei foi para ilustrar uma entrevista que me fizeram. Mas de resto recuso e continuarei a recusar.
- Qual o título do seu primeiro argumento para BD?
- "O Império". Tratava-se da invasão da Bretanha pelos romanos.
- Você tem trabalhado argumentos de tipo histórico e de ficção científica. São os seus preferidos?
- Digamos que tenho feito um pouco de tudo, mas o que mais me continua a apaixonar é a ficção, o humor e a aventura.
- Entre os argumentos que fez até hoje, qual considera de maior qualidade?
- Os da série "Estupiditia", pelos finais que, no meu entender, estavam bem conseguidos. E talvez um que ainda não foi passado a BD, com o título "Por Um Lugar ao Sol", que acho tocante pelo conteúdo da sua temática.
- Você, de parceria com Luís Louro, já criou alguns heróis. Fale-me deles.
- Os "Glopters", género infantil que já abandonámos; "Nelsinho", estilo caricatural, em prancha única, que também já abandonámos; "Connie and Blyde", estilo policial, que também já sofreu a mesma sorte.
Actualmente mantemos apenas "Styron", ficção científica, que está adormecido por assim dizer, e "Jim del Monaco", que se iniciou neste seu espaço.
É a nossa mais recente criação, dentro do género de aventura humorística, e que traduz uma completa viragem em relação a tudo o que tínhamos feito até aqui.
É um novo estilo, que esperamos desenvolver e manter no futuro, sem que isso signifique uma ruptura com o nosso género habitual.
- Pensa, no futuro, vir a criar bedês sobre temas portugueses ou, no mínimo, inventar um herói português, mesmo que inserido em ambientes estranhos?
- Se entendermos por temas portugueses, História de Portugal, não.
Penso que há gente mais qualificada para o fazer. Se entendermos como temas actuais, sim.
Devo dizer que até tenho já escrito um argumento, o tal "Por Um Lugar ao Sol", que se refere a uma realidade bem presente na sociedade portuguesa, e outros que pretendo realizar a breve trecho.
Quanto a personagens de origem portuguesa, de momento não possuo nada de concreto, mas tenho uma vaga ideia para o fazer.
- Há algum herói da BD, portuguesa ou estrangeira, que tenha despertado interesse especial da sua parte?
- Um. "RanXerox", de Liberatore, um "Silêncio", de Comès, um "Roco Vargas", de Daniel Torres, um "Corto Maltese", de Hugo Pratt, são assim alguns dos que eu acho que têm maior personalidade própria.
- Nunca lhe passou pela ideia criar personagens principais femininas?
- Sim, é até uma ambição, mas confesso que ainda não estou suficientemente preparado para o fazer.
As mulheres são muito complicadas, e preciso estudar melhor a sua psicologia.
- Tenciona manter a sua colaboração em exclusivo com o Luís Louro, ou está aberto à hipótese de criar argumentos para outros grafistas?
- Tenciono manter a exclusividade com o Luís Louro. Depois de seis anos de trabalho consecutivo em comum, teria agora alguma dificuldade em adaptar-me a outro desenhador. E depois não vejo necessidade disso.
O trabalho de Luís Louro realiza muito o meu. Se fizer alguma experiência com outro desenhador, num futuro próximo, será apenas por curiosidade.
É assim, de ideias bem definidas, o António José Simões Pinheiro, ou melhor, Tó Zé Simões, ou ainda, eventualmente, "Piñero".
Nascido em Lisboa, há vinte anos (completados a quinze do passado mês de Agosto), este jovem está agora na expectativa de entrar para a faculdade.
Enquanto isso não se concretiza, vai continuando a arquitectar argumentos. Ele é uma das mais seguras promessas da banda desenhada portuguesa nesta área.
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Os interessados em ler as entrevistas anteriores (de Jorge Colombo e de Luís Louro), poderão fazê-lo clicando no item Entrevistas antigas a autores de BD visível no rodapé
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