quarta-feira, outubro 06, 2010

Improvisos na toalha de mesa (I)



Ilustradores autores de banda desenhada, quando estão à mesa e apanham uma toalha de papel, é certo e infalível: enchem-na de desenhos vagos, rostos ao acaso, caricaturas e retratos de gente à sua volta. As toalhas ficam autênticos painéis...

Pela parte que me toca, até já editei um mini-fanzine, ou slimzine (título: "Improvisos na toalha de mesa", que outro poderia ser?) com muitos desses improvisos; mas às vezes - muitas vezes - quando me candidato a rasgar a toalha de papel para me apoderar das ilustrações, apanho com a frase: já está reservada!

Estou a falar basicamente dos encontros mensais da Tertúlia BD de Lisboa, como os visitantes habituais deste blogue e amigos meus já perceberam. Entre quarenta e tal participantes, que é a média, cerca de 70% são ilustradores autores de BD.

Nesta mais recente edição da TBDL, decidi mudar o figurino: em vez da presença de um novo autor de BD, como Convidado Especial, desafiei um grande especialista na mangá (nome: Pedro Bouça, engenheiro informático nas horas vagas, leitor compulsivo de BD em todas as restantes...) para, em trinta minutos (acabaram por ser quarenta...) fazer uma palestra intitulada "História da Mangá".

Não é nada fácil pôr em prática tal ideia. Os bedéfilos presentes representam variados escalões etários - quase preenchendo o popular slogan "a banda desenhada é para gente dos 7 aos 77" - e a maioria está sequiosa de conversar, muitos deles só se encontram mensalmente na tertúlia, talvez por isso há sempre alguém que conversa e perturba o discurso de quem está no uso da palavra.

Assim aconteceu com a palestra do Pedro Bouça. Pensei que, por se tratar de um tema ainda mal conhecido, isso contribuísse para uma maior concentração. Tal não aconteceu totalmente, mas posso dizer que não correu muito mal.

Só que os ilustradores presentes resolveram gozar com o palestrante, como se pode ver nos dois improvisos que ilustram esta postagem.
Para compensar o Pedro, a terceira imagem a contar de cima é um estupendo desenho de um novo na tertúlia, Daniel Garcia. Dele é também o desenho que retrata a figura do Pedro, com as onomatopeias "Bla Bla Bla" e o pessoal a dormir à sua volta...
Do Nuno Duarte, aka "outro nuno", é a imagem do Pedro Bouça a falar para a enorme orelha do próprio desenhador...
Uns talentosos gozões... Só que não estavam a ouvir o que o orador dizia...

10 comentários:

Santos Costa disse...

Meu caro Lino
Entro aqui para comentar o teu último parágrafo, quando afirmas, mutatis mutandis, que os "gozões", enquanto desenhavam o orador, não o ouviam ou ficariam desconcentrados da palestra.
Engano!...
Se aos ditos acontece o que me acontece a mim, enquanto desenho, tenho mais desperto o sentido da audição e o da concentração a esta inerente. Posso mesmo afirmar-te que, em imenssas reuniões que tive ao longo da minha carreira profissiobal fora da BD, em acções de formação ou em "workshops" com directores-gerais, secretáriso de Estado e ministros, aproveitei as folhas brancas de apoio e rascunho para desenhar os "bichos-caretos" mais próximos ou mais prestáveis à caricatura, sem que isso fosse obstáculo ao que era dito e que eu devia apreender.
O mesmo fiz na Tertúlia que um dia, muito gentilmente, me dedicaste. Também desenhei no guardanapo e na toalha de mesa à minha volta. Enquanto isso, ia mantendo o diálogo com os que me estavam próximos e atento aos que ficavam nas cercanias.
Daí afirmar o que afirmei quanto à atenção dos dois Nuno's.

Geraldes Lino disse...

Caro Costa
Acredito na tua experiência pessoal. Mas, repetindo o chavão, "cada caso é um caso".
No teu, provavelmente estarias a desenhara nessas ocasiões, mas não falavas com quem estava ao pé de ti.
Neste de que falo na postagem, apercebi-me de que na mesa onde estavam os citados desenhadores (são dois diferentes, o Nuno Duarte "Outro Nuno"* e um novo que foi à tertúlia pela primeira vez,o Daniel Garcia) havia grande risota, obviamente por causa dos desenhos e muita conversa, o que me fez ter a desagradável atitude de ir ter com eles e pedir-lhes o favor de não estarema falar, por respeito ao palestrante nosso convidado (e nosso amigo, "tertuliano" habitual).
Por isso é que digo no "post" que eles não não estariam a ouvir a palestra...

*Ele anda a usar escrever à frente do nome o pseudónimo "Outro Nuno", porque há um argumentista de BD (e não só, também escreve para as Produções Fictícias) que igualmente assina Nuno Duarte, e é mais antigo na actividade em prol da BD

Geraldes Lino disse...

Corrijo as seguintes gralhas:
1. "estarias a desenhara nessas ocasiões" (correcto: estarias a desenhar)
2. "...de não estarema falar" (correcto: de não estarem a falar)
3. "digo no "post" que eles não não estariam a ouvir" (correcto: elea não estariam a ouvir)

Santos Costa disse...

Lino
Sendo assim, é evidente que a concentração no que constituía o fulcro do encontro, era nula. Fizeste bem em alertar os talentosos desenhadores para o
fenómeno extra-tertuliano. Dogo talentosos sem aspas, porque me parece que, de facto, o são.
Teria sido outra a minha postura, mesmo que desenhasse enquanto ouvia, porque o tema também me interessa. Não que seja um fã do Manga ou Mangá (e, julgo eu, já tive oportunidade de dizer aqui que não gosto particularmente da forma como se apresenta a sua leitura), nem do modelo universal-japonês do desenho, quase todo igual, sem distinção de autores (para um leigo como eu), como se tivessem vindo todos da mesma escola. Provavelmente é um gosto que se deve aperfeiçoar e eu, talvez infelizmente, estou muito "ocidentalizado" neste particular.
No entanto, há a referir as grandes tiragens do Manga, porque toda a gente, ali, lê Manga sem
"medos", sejam eles quem forem e a idade que tiverem. A coisa vem da escola pública e passa de geração em geração. Daí as grandes tiragens, aos milhares.
Para nosso atraso intelectual - em português falando - não se introduziu uma disciplina na Escola sobre esta forma de comunicar e de Ensinar. Prefere-se impingir textos intragáveis de autores bafientos e abomináveis e, assim, não canalizarem os jovens para a arte do desenho e muito menos para a arte da escrita. Vemo-los, coitados, licenciados, mestrados, doutorados, a mal escreverem, a mal interpretarem e a exprimirem-se como trogloditas papuásios em conversa de chacha.

Anónimo disse...

Olá Lino
Aqui AASPI

Eu gostei.
Oxalá tenhamos mais oportunidades de ouvir alguém como o Pedro falar de um tema que conheçe a fundo.

Sugiro mais "tertulias Divulgadoras" quem não gosta... come memos, ou não come!

Geraldes Lino disse...

Meu caro Costa
Estou parcialmente de acordo com o último parágrafo do teu comentário.
Concordo contigo quando dizes que a Escola não canaliza os jovens para a arte do desenho (é de sublinhar em especial a forma depreciativa como geralmente é focada a BD), já não concordo totalmente quando dizes que não canalizam a juventude escolar para a arte da escrita. Isto porque é através da leitura, muita leitura, que se vai aprendendo a escrever em termos literários e gramaticais. e, tanto quanto me apercebo, continua a haver obras literárias de leitura obrigatória no programa do ensino secundário.
Não sei a que autores bafientos e abomináveis te referes, cuja leitura seja feita na Escola, mas esse tipo de apreciação tem sempre uma componente subjectiva...

Geraldes Lino disse...

Olá Isidro aka AASPI
Não foi por acaso que, pela primeira vez, abri a excepção de alguém fazer uma palestra na tertúlia, porque me apercebi que o Pedro Bouça poderia falar de um tema que conhece excepcionalmente bem, a mangá.
E nunca havia feito isso antes porque tinha muito clara a consciência do difícil que é pôr alguém a expor um tema naquele espaço pouco funcional (há vários recantos que escondem as pessoas, e que não só não vêem bem quem está a falar, como os induz a conversarem, na convicção de que por sua vez não são vistos nem ouvidos).
Isso acontece todos os meses - há 25 anos, "hélas"! - quando estão a apresentar-se os Homenageados (agora raros, já passaram por lá praticamente todos os homenageáveis, ou seja, os autores veteranos da BD) e os Convidados Especiais de praticamente todos os meses: é raro eu não ter de, repetidamente, pedir silêncio a alguns grupinhos. E tu, que és participante assíduo, sabes disso.
Abri excepção para esta sessão diferente porque me convenci que, tratando-se de um tema pouco conhecido - ainda está escassamente divulgada a História dessa forma tão específica de banda desenhada que é a Mangá (eu uso o género feminino por estar a falar da banda desenhada japonesa), pese embora o facto de ser o quadrante da BD com mais saída entre a juventude, especialmente a feminina - porque me convenci, repito, de que os nossos amigos "tertulianos" ficariam mais atentos do que habitualmente.
É provavel que não te tenhas apercebido - porque desta vez ficaste na mesa do palestrante, teu confrade engenheiro informático - dos focos de conversa e/ou risota.
Como sou o organizador, sinto-me sempre responsável pelo ambiente de respeito que se deve ter por quem está a falar (já o deves ter observado diversas vezes).
Agora imagina que alguém vai falar de BD na generalidade, aquilo que toda a gente que ali está conhece bem: mais difícil seria estar atenta a maioria dos "tertulianos".
As minhas expectativas em relação a qualquer iniciativa do género não eram nada optimistas.
Admito que não correu muito mal, mas há que ter em atenção que foi das vezes que a TBDL teve menos assistência, como sublinhou o Machado-Dias no seu kuentro.blogspot.com
(e que se pode conferir na listagem que, "a posteriori", incluí no poste relacionado com o encontro da tertúlia em foco).
Imagina que em vez de 27 participantes, como foi o caso - o fim de semana prolongado terá sido o principal culpado - estavam lá cerca de 40, como é mais habitual!
Abraço.
GL

Santos Costa disse...

Lino
Pesquei isto da net.
"Ao JN, a professora de Português, doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, salienta "Apercebi-me do descontentamento dos alunos em face de grande parte das leituras, porque as consideravam completamente desfasadas dos seus objectivos e interesses".

"Penso que é necessário constituir-se um grupo de estudo neste domínio que parta de uma avaliação baseada na sensibilidade e na cultura geral dos adolescentes, que englobe professores, pediatras, sociólogos, psicólogos e ou psiquiatras", sublinha. Ou seja, a escolha das obras de leitura obrigatória não pode ser deixada apenas aos professores de Português.

O estudo, refere por seu lado o psiquiatra Daniel Sampaio no prefácio ao livro, "propõe uma ruptura com o modelo tradicional de encarar as leituras obrigatórias - tantas vezes apenas um exercício apressado de consulta a resumos de má qualidade".

Isto já vai um pouco mais além da minha subjectividade; faz parte do gosto subjectivo de uma maioria.
Quanto aos autores a que me refiro com algum sentido depreciativo, basta ver os livros obrigatórios e consultar a lista dos recomendados para o Secundário.
Sobre a Mangá - e para evitar más interpretações - eu não disse que não gostava: afirmei que "o tema também me interessa". Afirmei, sim,
que "que não gosto particularmente da forma como se apresenta a sua leitura", enfatizando, contudo, que a Mangá é um produto que se vende em tiragens de milhares de exemplares para uma vasta camada etária de leitores.
Enfim... Tudo isto não pode desinserir-se de pontos de vista de cada um, livres e arbitrários, portanto subjectivos.

Santos Costa disse...

Outra leitura, ainda sobre o mesmo tema, encontrada na net:
"Durante anos, a Aparição de Vergílio Ferreira foi leitura obrigatória no ensino secundário. Talvez por isso tenha sido biblos non gratus entre estudantes. Distinção que é, claramente, imerecida. Talvez agora que o Memorial do Convento, de José Saramago, lhe tomou o lugar de leitura obrigatória, a Aparição (1959) possa voltar a ser apreciado pelos leitores mais novos."

Repito: abstraindo-nos da nulidade do ensino quanto à BD, acho que não está a ser feito o trabalho para, no mesmo, se espalhar o gosto pela literatura. Daá haver uma apetência especial por obras de má qualidade, pessiamente escritas, algumas a que se chama "light" e a que eu chamo merdice.
Talvez isto mude, nem que seja para pupar umas toneladas de papel, alguns rios de tinta preta e o "desentupimento" das prateleiras das livrarias, para aí "caber" a BD.

Santos Costa disse...

O meu último parágrafo saiu com gralhas. Volto a colocá-lo.


Repito: abstraindo-nos da nulidade do ensino quanto à BD, acho que não está a ser feito o trabalho para, no mesmo, se espalhar o gosto pela literatura. Daí haver uma apetência especial por obras de má qualidade, pessimamente escritas, algumas a que se chama "light" e a que eu chamo merdice.
Talvez isto mude, nem que seja para poupar umas toneladas de papel, alguns rios de tinta preta e o "desentupimento" das prateleiras das livrarias, para aí "caber" a BD.