quarta-feira, maio 27, 2009

Festivais, Salões BD e afins (Beja) - V Festival Internacional/2009

Pela 5ª vez, realizar-se-á em Beja um evento dedicado à Banda Desenhada, e, como de costume, bem organizado, com numerosos focos de interesse.
Haverá, por exemplo, nada menos do que 20 exposições. E como a duração do festival abrange 15 dias, isso dará oportunidade aos bejenses de apreciarem tudo nas calmas, como têm fama de serem apreciadores.
Já os forasteiros terão de acelerar, se apenas ficarem um fim de semana, visto que o festival engloba 20 exposições, e distribuem-se por vários locais.
Para mais, como muito bem sabe quem já esteve no Festival Internacional de BD de Beja, o evento não se esgota nas exposições, antes se expande por vários momentos de interesse, sejam os colóquios e mesas redondas, seja a apresentação de projectos individuais ou colectivos, além da presença de autores de nomeada.
Por exemplo, a 30 e 31 de deste mês de Maio (logo os primeiros dias) haverá a oportunidade de pedir um autógrafo ao escocês Gary Erskine, que já teve a seu cargo a componente de desenho das séries Judge Dredd, Hellblazer e Dan Dare, entre outras. ou ao americano Craig Thompson, o multi-premiado autor de Goodbye, Chunky Rice e Blankets (este último, espesso livro BD com cerca de 600 (!) páginas, publicado em 2003, e já vencedor de Prémios Eisner, Harvey e Ignatz, qualquer deles mais de uma vez.

Pelo sim, pelo não, eu continuo a recomendar que, para ampliar as imagens, basta clicar-lhes em cima - mas sempre calculando que os mais sabidos refilem. Paciência...
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Desta vez limitei-me a copiar as informações que me têm sido enviadas pela organização - impecável, eficientíssima, e com bom gosto na apresentação dos programas. No que se vê acima reproduzido, fica-se a saber que há quatro polos exposicionais, sendo o que apresenta maior número de mostras a própria Casa da Cultura de Beja (Rua Luís de Camões), como tem sido sempre habitual, de resto.
Aliás, um dos factores que mais valorizam o Festival Internacional de Beja é exactamente o facto de a organização contar com um edifício construído de raiz para funcionar como Casa da Cultura - coisa que não conheço em Lisboa, por exemplo, nem na Amadora.
Viva a província, viva o Alentejo!


Reconheço que no caso deste programa que me enviaram por e-mail, mesmo clicando-lhe furiosamente em cima, os resultados não são suficientemente visíveis, mal grado a disposição gráfica ser engraçada. Claro que quem for a Beja, no próximo dia 30, momento da inauguração na bonita Casa da Cultura, terá acesso ao folheto amplamente legível e funcional, e com boa mancha gráfica, como de costume.
Além disso, a dupla principal da organização - os Monteiro, Paulo e Susana (a bem conhecida Susa) - está sempre lá, a tempo inteiro a orientar os visitantes (incluindo nos copos à noite).


E há muito para ver, muitas pranchas originais espalhadas pelos locais bonitos e disponíveis para o Festival - seria isto possível em Lisboa? Duvido... - como é o caso da Biblioteca Municipal de Beja-José Saramago, Museu Jorge Vieira - Casa das Artes e Museu Regional de Beja, a funcionar como núcleos expositivos para muitas obras de muitos autores talentosos, estrangeiros e nacionais - a escolha feita pelo Paulo Monteiro costuma ser criteriosa.



E por falar em autores de talento, são mais de setenta, a representar oito países: Bélgica, Brasil, Estados Unidos, Escócia, Espanha, Itália, Sérvia (Sérvia? quem?) e, obviamente, Portugal.


A BD de novo em foco por terras alentejanas, com Beja a marcar presença graças ao seu Festival de Banda Desenhada, pela 5ª vez consecutiva (apreciem-se, na imagem em cima, os quatro cartazes das edições anteriores), embora Moura, decana de eventos bedéfilos no Alentejo, esteja, esperemos que apenas momentaneamente, parada - será que a crise atacou mais forte a autarquia mourense do que a bejense?
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Como é meu hábito, gosto de passar tangentes ao início dos acontecimentos - conheço bem os meus compatriotas, sei que se lhes der as notícias com demasiada antecedência, o mais certo é esquecerem-se das datas dos eventos, por muito bedéfilos que sejam.
Mas como há sempre dúvidas que subsistem, aqui ficam dois contactos, o do e-mail e o do velho telefone fixo, e em qualquer deles, os esclarecimentos serão dados pelos ubíquos Paulo Monteiro e Susa Monteiro:
Tlf. 00351 284 313 310
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E pela parte que me toca, aviso já: não contem comigo para novos "posts" aqui no blogue neste fim de semana, porque, claro, vou estar em Beja, pela 5ª vez consecutiva (e ainda não me fartei).
Depois venho a toque de caixa para a capital, a fim de finalizar a organização do 24º aniversário da Tertúlia BD de Lisboa (finalização de convites, edição dos fanzines Tertúlia BDzine e Folha Volante, preparação da folha (escrever o cabeçalho) para o Comic Jam, última prancha deste invulgar cadavre exquis, que depois editarei em papel.

terça-feira, maio 26, 2009

Banda Desenhada portuguesa nos fanzines (XXXII) - Autora: Rechena





Após a leitura/visionamento desta banda desenhada (aqui reproduzida parcialmente), percebe-se facilmente como ela se correlaciona com o texto de apresentação do fanzine em que está inserida, o [R]Eject, onde a editautora ARechena (Andreia Rechena) tece considerações irónicas acerca das desagradáveis consequências dos vários tipos de potenciais acidentes.

Como, por exemplo, escorregar uma pessoa no "poliban", estando sozinha em casa e sem o telemóvel por perto. Ou, como se vê na banda desenhada (4ª e 5ª pranchas visíveis no blogue http://fanzinesdebandadesenhada.blogspot.com/
como as tão criticadas mas confortáveis rotinas podem ser repentinamente alteradas por um imprevisível tornado, que provoca a Milézia Kurnikova, contabilista de profissão, um daqueles estúpidos acidentes arrancados a uma "tranche de vie" que Rechena gosta de ficcionar.
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Quem estiver interessado em ver as postagens anteriores deste tema "Banda Desenhada portuguesa nos fanzines", basta clicar neste mesmo item inscrito aqui por baixo no rodapé

domingo, maio 24, 2009

Banda Desenhada portuguesa nos fanzines (XXXI) - Autores: João Sequeira, Raul Gardunha, Teresa Câmara Pestana


"O Homem que passeava um papagaio atrelado a um rádio portátil", representa sequencialmente um episódio delirante e desconcertante, numa linha de nonsense bem conseguida, transmitida por figuração narrativa de imagens de fortes contrastes de preto e branco. 

A figura masculina remete vagamente para Frank Miller e Sin City - referências gráficas que valorizam a bd -, e fico a matutar qual o motivo por que este JAS (aka João qualquer coisa Sequeira) com tanto talento para traçar o dito cujo episódio em quatro pranchas - há cerca de seis anos, em 2003 - e outros visíveis no seu blogue http://jasaqui.blogspot.com/ , mais retratos e caricaturas de notável qualidade, a partir de Abril de 2005, e eu ainda nunca tinha visto nada dele... e dum fanzine Crime Exemplar de que não tive conhecimento, embora tenha estado com o seu amigo (soube dessa amizade através do blogue "Aquijas") Vasco Câmara Pestana em Portalegre, há uns anos, sabendo este do meu fascínio pelos fanzines e pela BD, e o meu grande interesse em estabelecer contacto com seus autores e fanzinistas. 

Só agora, graças à Teresa e ao seu Gambuzine, travo conhecimento virtual com um tão talentoso autor-artista da BD, e ainda por cima, também faneditor como eu e a Teresa... 
Nota: como acontece com as outras bedês deste "post", elas estão aqui reproduzidas parcialmente, podendo ser visionadas mais algumas páginas no meu outro blogue, o "Fanzines de Banda Desenhada", no endereço http://fanzinesdebandadesenhada.blogspot.com/



"A Ferro e Fogo", de Raul Gardunha (3 pranchas de um total de 5).


Obra de figuração narrativa que mostra uma forma de desenhar descontraída e rápida, onde o autor (desenhador e argumentista), para além da evidente facilidade no traçar das figuras das personagens - não falando já dos carros quase que apenas esboçados, mas suficientemente correctos -, demonstra um apurado sentido crítico na análise que faz à praga de fogos florestais e muito plausível ponto de vista das razões que se podem detectar a montante do problema, como sejam os interesses económicos das indústrias de celulose e dos próprios madeireiros.


Lembro-me de, há uns anos, ter encontrado um jornal de província que publicava uma tira de BD debruçado exactamente sobre este problema. Nunca localizei o autor, e pergunto-me se este Raul Gardunha, que também não conheço, seria o autor daquela BD em tiras.


Seja como for, a Banda Desenhada valoriza-se quando usa a sua possibilidade de denúncia de problemas sócio-económicos e humanos, como é o caso.
Deste episódio "A Ferro e Fogo" mostro ainda a 4ª prancha no meu blogue
ficando apenas por mostrar a última, onde o autor concebeu um final de inesperado dramatismo.


Prancha 1 de 2 da bd de Teresa Câmara Pestana

O Gambuzine, nesta sua 2ª série, mantém a característica de incluir autores portugueses e estrangeiros, maioritariamente alemães, amigos da editora Teresa Câmara Pestana, ela própria a participar como autora.


Neste "post", de acordo com a especificidade da "Categoria" Banda Desenhada portuguesa nos fanzines, apenas se incluem os três autores indicados em epígrafe.
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Nota do editor/redactor/bloguista

Neste blogue fica reproduzida metade das páginas de cada uma das bandas desenhadas focadas.
 

Para os interessados em ver/ler mais alguma coisa delas, informo que estão visionáveis no blogue Fanzines de Banda Desenhada, que tem o endereço
http://fanzinesdebandadesenhada.blogspot.com/

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Para saberem quem tem sido incluído nesta abordagem, aqui ficam os respectivos nomes

(XXX) Abril 28 - Autor: André Oliveira
(XXIX) Março 27 - Autora: Sara Franco
(XXVIII) Março 17 - Autores: Dinis Vale, Jackjacques, Daniel Maia
2009 - (daqui para cima)

(XXVII) Dez. 11 - Autores: Zé Paulo, Santo, Alex Gaspar, Pedro Massano, Álvaro, Marco Mendes, Pepedelrey, Rui Pimentel, Zé Manel, Augusto Trigo, Antero Valério, Ricardo Cabrita, Filipe Goulão, Zeu, Osvaldo Medina/Mário Freitas/Gisela Martins, Ricardo Reis/André Oliveira, Zé Francisco, Ricardo Cabral
(XXVI) Maio 27 - Filipe Teixeira e Mário Freitas
(XXV) Março 21 - Autores: David Soares e Mário Freitas
(XXIV) Fev. 27 - Autor: Marco Mendes
(XXIII) Jan. 23 - Autor: Marco Mendes
(XXII) Jan. 16 - Autor: José Lopes
2008 (daqui para cima)

(XXI) Dez. 30 - Autor: ZéPaulo
(XX) Dez. 28 - Autor: Pepedelrey
(XIX) Nov. 7 - Autora: Andreia Rechena
(XVIII) Out. 9 - Autores: Miguel Marreiros, Ana Baptista, Ricardo Correia, Mariana Perry e André Oliveira
(XVII) Out. 3 - Autor: Zé Paulo
(XVI) Ag. 8 - Autor: Zé Paulo
(XV) Jul. 4 - Autor: Pepedelrey
(XIV) Junho 28 - Autores: Joana Lafuente (des.), Miguel Ângelo Martins (arg.)
(XIII) Jun. 21 - Autor: Eduardo Teixeira Coelho, Fernando Bento, Vítor Péon
(XII) Jun. 15 - Autor. Carlos Apolo
(XI) - Jun. 9 - Autores: Estrompa (desenho), José Lopes (argumento)
(X) - Maio 21 - Autores: João Leal (desenho), André Oliveira (argumento)
(IX) - Maio 15 - Autor: Pedro Massano
(VIII) -Março 9 - Autor: Ferrand
(VII) - Jan. 6 - Autores: João Maio Pinto, Joana Figueiredo, Pedro Zamith, Filipe Abranches, André Lemos, J. Coelho, Pepedelrey, Chambel, Feitor & S.G.
2007 (daqui para cima)

(VI) Dez. 20 - Nuno Sarabando
(V) Nov. 24 - Autor: Paulo Monteiro
(IV) Nov 12 - Autor: José Lopes
(III) Nov. 9 - Autores: Aires Melo (desenho), Daniel Maia (argumento)
(II) Nov. 1 - Autores: Rui Lacas, Pepedelrey, JCoelho, Pedro Nogueira, Renato Abreu
(I)Out. 14 - Autores: Pedro Figue (desenho), Daniel Maia (argumento)
2006 (daqui para cima)

quinta-feira, maio 21, 2009

Gatos na Banda Desenhada portuguesa (V) - Autora: Teresa Câmara Pestana

A primeira aparição do gato Moli, sentado ao colo do dono (aliás, ele só não está presente nas primeira e última páginas da BD, não reproduzidas aqui).
Para se ver o pormenor, torna-se necessário clicar em cima da imagem - peço desculpa aos que sabem.










No seu regressado Gambuzine (nº1-2ª série -Nov.08), após longo interregno do então premiado fanzine, Teresa Câmara Pestana faz jus à sua dupla condição de editora e autora - editautora, como costumo classificar quem desempenha as duas funções - e inclui várias bandas desenhadas de sua autoria.
Uma delas, intitulada 1989. Hannover. O meu vizinho - Teresa viveu uns anos naquela cidade -, é a mais extensa, e mostra um relance da sua vivência, numa casa de trabalhadores do início do século XX, de rendas baratas. Estas casas, fica-se a saber pela descrição da autora, estavam, à época, "ocupadas por punks, revoluzzis, comunistas iranianos, casal gay, freaks, motards, anarcoesquerdistas, 2 famílias turcas, um escultor, 3 pintores, 7 músicos, e o meu vizinho (...)".
Mas o que aqui me interessa, por agora, é focar a sequência onde um gato - o Moli, diminutivo de Molotov - se mantém presente, a partir da 2ª página até à penúltima, com forte implicação psicológica e sentimental na vida do dono - o seu desaparecimento, por três meses, afecta-o profundamente, porque, como lamenta, "ele era o meu único e verdadeiro amigo". Esse abalo emocional terá uma consequência dramática, e ele já não verá o regresso do gato - que, aliás, terá uma reacção impressionante, descrita nas derradeiras e dramáticas páginas da crónica desenhada.
Trata-se de uma obra de figuração narrativa de grande qualidade gráfica, no registo de BD alternativa habitual na autora-artista.
Como curiosidade, na penúltima página figura um cão, pela mão de uma personagem a representar a própria Teresa, cujo pensamento, que se pode ler, em resposta ao dono do gato que desapareceu, é o seguinte: "o dono do gato estúpido pulguento".
De facto, a autora desta recordação gráfica é uma grande apreciadora de cães (tem mais do que um, e uma cadela já com muita idade e bastante afectada por maleitas), e julgo que o gato só surge aqui por ter existido na realidade, e ter dado azo à trama ficcional da graphic novel, pela ligação profunda entre ele e o dono (além das várias imagens do gato nas diversas vinhetas,veja-se ainda o pormenor, na penúltima prancha reproduzida, do gato em cima da cabeça do dono*).

*Tive um gato, o Godot, que também me costumava fazer o mesmo - era um prazer mútuo.
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Nota do blogger: A banda desenhada completa, incluindo a página do princípio e a final (únicas em que o gato não aparece), em falta neste "post", e necessárias para ler a totalidade do enredo, serão reproduzidas no meu outro blogue
http://fanzinesdebandadesenhada.blogspot.com/
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Para ver as postagens anteriores basta clicar no item indicado em rodapé
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Apenas para se poder ver quem já colaborou, fica a seguir uma listagem:

(IV) Abr. 17 - Autora: Tânia Guita
(III) Fev. 14 - Autores: Hugo Teixeira (desenho), Vidazinha (arg.)
2009 - daqui para cima
(II) - Dez. 18, 2007 - Autor: Relvas
(I) - Jun. 18, 2007 - Autor: José Abrantes
2007 - daqui para cima

sábado, maio 16, 2009

Álbuns de BD imprevisíveis e difíceis de obter (XI) - Fernando Lopes Graça. Andamentos de uma vida - Autor: Ricardo Cabrita

Edição imprevisível e improvável: assim considero o álbum intitulado Fernando Lopes-Graça. Andamentos de uma Vida, da autoria de Ricardo Cabrita, em edição da Câmara Municipal de Tomar. Trata-se daquele tipo de obras institucionais, cuja divulgação fica, naturalmente, muito restrita.
Com efeito, quantos amadores/leitores/coleccionadores de BD (estas três componentes andam habitualmente a par) terão tido conhecimento da edição deste álbum? Além dos residentes em Tomar - sejam tomarenses ou não -, assim como alguns visitantes mais atentos deste blogue (onde, a propósito da imagem do castelo de Tomar, aqui já falei do álbum, no "post" inserido no tema "Castelos na Banda Desenhada", com data do passado dia 1 de Maio), o mais que certo é de ser escassamente conhecida a obra dedicada ao categorizado músico português.
Fernando Lopes Graça nasceu em Tomar, a 17 de Dezembro de 1906, e cedo demonstrou aptidão invulgar para a música.
É o percurso pormenorizado da sua vida, enquanto compositor e intérprete musical, mas também como indivíduo preocupado com os aspectos sociais e políticos, que é transmitido ao leitor/visionador desta notável obra biográfica em figuração narrtaiva.
Ricardo Cabrita - arquitecto por profissão, autor de BD por devoção -, teve trabalho meritório nas duas componentes da realização da banda desenhada, ou seja, na pesquisa inicial de dados biográficos, recorrendo à análise de obras diversas, literárias e musicais, em livros e na Internet, e na transposição para imagens sequenciais, em registo figurativo, que descrevem em vários capítulos a vida intensa e muitas vezes atribulada, de Fernando Lopes-Graça.


Tomar. Introitus: A descoberta de "La Mer" de Debussy
A página inicial já foi mostrada aqui no blogue, no citado "post" de 1 de Maio. Note-se que essa página, bem como as duas acima reproduzidas, estão coloridas num tom sépia, comum a todo este intróito, dando uma tonalidade propícia ao flashback pretendido, como se estivéssemos a visionar retratos antigos.

Conservatório. 1º andamento: Variações sobre um tema popular português
Desde a conclusão, em 1922, do ensino secundário no Liceu Gil Vicente, passando pelo Conservatório Nacional, ambos os estabelecimentos em Lisboa - onde foram seus mestres o padre Tomás Borba e o compositor Luís de Freitas Branco -, e pelo Liceu Passos Manuel, onde ingressou no curso complementar de letras, frequenta também a Faculdade de Letras de Lisboa, todos estes estudos intercalados por recitais, um deles no Cine-Teatro de Tomar, outro no Salão do Conservatório Nacional.
Toda esta fase da vida do músico é dada, ao nível do colorido, por cores que plasmam a realidade, a reproduzir o seu dia a dia, que passa pela sua entrada para professor da cadeira de piano do Conservatório, onde ficou classificado em primeiro lugar com 18 valores.

Prisão. 2º andamento: Jornada
Pintado em tons sombrios, este capítulo descreve uma das complicações políticas na vida de Lopes-Graça (que já não eram as primeiras), passada na sede da PIDE - Polícia Internacional e de Defesa do Estado, na rua António Maria Cardoso (Chiado, Lisboa), onde é interrogado e agredido, sob diversas acusações de carácter político

Exílio. 3º andamento: La Fièvre du Temps
Após ter sido libertado, Lopes-Graça parte para Paris, onde é acolhido pelo casal amigo, os pintores Vieira da Siva e Arpad Szenes.
De notar o tratamento pictórico e técnico deste capítulo, com predominância de desenho sobre fotografia.

Resistência. 4º andamento: História Trágico-Marítima
De novo em Lisboa, Lopes-Graça passa por êxitos como compositor e maestro (de orquestra e de coros), mas também por dificuldades económicas, devido à perseguição política de que era alvo, concretizada na proibição de as suas obras serem tocadas pelas orquestras nacionais.

Raízes. 5º andamento: Canto de Amor e Morte
Totalmente concretizado graficamente a preto e branco, este quinto andamento reproduz o estado de espírito do músico. Após ter colaborado com o etnólogo e musicólogo Michel Giacometti (que, na sua recolha em gravações do cancioneiro popular português, tinha tido o apoio da Fundação Gulbenkian, mais concretamente da Comissão de Etnomusicologia do serviço de música, de que Lopes-Graça era membro), o seu trabalho foi recusado, daí que ele tenha pedido a demissão.
Mas as dificuldades que teve de enfrentar continuaram: correspondência interceptada ou, quando recebida por ele, visivelmente violada, limitação de movimentos e deslocações, enfim, vigilância constante...



Liberdade. 6º andamento: Acordai
Com poema de José Gomes Ferreira, este sexto andamento gráfico e sequencial mostra as pautas com a música do compositor, em imagens relacionadas com o 25 de Abril de 1974, trabalhado cromaticamente tal como o autor da banda desenhada tinha feito no 3º capítulo (ou, na linguagem musical adoptada, 3ºandamento), e igualmente sobre base fotográfica.


Consagração. 7º andamento: Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal
Nos últimos anos da sua vida, a residir na avenida da República, Parede, Lopes-Graça é visitado por uma jovem desconhecida chamada Teresa Cascudo, vinda propositadamente de Espanha para conhecer o músico, compositor e maestro, e sobre ele fazer a sua tese de doutoramento.
A situação dá azo a vários enquadramentos de grande qualidade estilística, e neles se vê o maestro a mostrar à jovem vários locais que têm a ver com ele: a Casa Verdades de Faria, no Monte Estoril, doada à Câmara Municipal de Cascais, onde veio a ser instalado o Museu da Música Portuguesa, e a Academia de Amadores de Música (Lisboa), onde iria ficar o repertório do coro daquela instituição, exactamente na associação a que foi dado o nome do maestro.
As recordações transmitidas a Teresa Cascudo passam pela afirmação de que, graças à revolução de Abril, Lopes-Graça tinha finalmente podido viver da música.
Mas estava a chegar ao fim, o que se pressente nas derradeiras imagens/vinhetas, quando diz: "Sim, estou um pouco cansado, mas ainda assim quero ver se vou rever a partitura de uma música que tenho ali em cima do piano (...) a seguir ouvir um pouco de música (...) e então, sim, descansar... a ouvir o mar, aqui tão perto, e adormecer..."
Estava em sua casa, na Parede (Cascais), onde viveu o seu último dia, a 27 de Novembro de 1994.
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Título da obra: Fernando Lopes Graça. Andamentos de uma vida
Álbum brochado, com badanas na capa e contracapa
Miolo a cores e a preto e branco, 44 páginas (32 páginas da bd, mais 12 páginas onde se inclui a pagina de rosto e elementos indicativos das fontes de pesquisa usadas pelo autor)
Autor: Ricardo Cabrita
Data da edição: 2008 (data constante da badana do álbum. O autor informou-me que foi editado em Dezembro 2008, e ofereceu-me este exemplar em Abril 2009)
Tiragem não indicada [1500 ex.]
Editor: Câmara Municipal de Tomar
Tomar
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Para ter acesso imediato a todos os "posts" anteriores, basta clicar no item Álbuns BD imprevisíveis e difíceis de obter indicado no rodapé

quarta-feira, maio 13, 2009

"Comic Jam" - 9ª prancha por aavv


Nove meses depois de se ter iniciado na Tertúlia BD de Lisboa, esta "Comic Jam" atingiu, naturalmente, a 9ª prancha, cada uma delas feita por seis desenhadores diferentes. Escusado será dizer que todos os participantes o fazem com evidente gozo, equivalente ao meu, visionador expectante da imagem da vinheta de cada um deles em particular, e do resultado final (normalmente conseguido ao fim do encontro da tertúlia).
Conforme a norma estabelecida sem grande rigidez, quem inicia o comic jam é o Convidado Especial ou o Homenageado (conforme o caso), e a folha vai passando, segundo o meu critério - que é a de, sempre que possível, convidar para colaborarem os/as desenhadores/as que ainda não tenham participado anteriormente. Ainda só não consegui inteiramente numa das vezes, em que houve dois desenhadores que já tinham participado numa das pranchas e o voltaram a fazer, por não haver apenas quatro autores/desenhadores neófitos na TBDL.
Nesta 9ª prancha colaboraram, pela primeira vez, os seguintes autores/desenhadores (indico os nomes pela norma habitual de leitura: da esquerda para a direita e de cima para baixo):
1 - João Lemos / 2 - RP (Raimundo Pousada)
3 - RV (Ricardo Venâncio) / 4 - Sara Coelho
5 - Carlos Páscoa / 6 - (Rui Alves)
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Um conselho: quem estiver interessado em ver as pranchas anteriores (todos os visitantes terão curiosidade nisso, digo eu...), bastar-lhe-á clicar no item Comic Jam indicada aqui por baixo em rodapé

sexta-feira, maio 08, 2009

Fernando Pessoa na Banda Desenhada... e não só (XII) - Autor: Rui Pimentel



Fernando Pessoa, acompanhado por Bernardo Soares, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, três dos seus múltiplos heterónimos, em notável retrato caricaturizado por Rui Pimentel autor de BD, caricaturista e cartunista, arquitecto de profissão (como cartunista sempre usou o nome artístico de Rui), impresso na folha relativa a este mês de Maio, num calendário editado pelo CNBDI - Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem (Amadora).

Algo desconcertante à primeira vista (começa em Out. 08...), mas sem dúvida precioso, este calendário, que apresenta no título a indicação "Outubro 2008-Dezembro 2009", e o subtítulo "Personalidades da Cultura Portuguesa, por Rui Pimentel".

E quais foram as escolhidas?

Logo na capa, Rafael Bordalo Pinheiro.

Em 2008:
Outubro - Luís de Camões
Novembro - Eça de Queirós
Dezembro - Amadeu de Souza Cardoso

Em 2009:
Janeiro - Álvaro Siza Vieira
Fevereiro - Maria João Pires
Março - Almada Negreiros
Abril - José Afonso
Maio - Fernando Pessoa
Junho - Mariza
Julho - Paula Rego
Agosto - Maria João (Pires? apaguei sem querer, e agora terei de ir ver o calendário)
Setembro - Agustina Bessa Luís
Outubro - Carlos Paredes
Novembro - José Saramago
Dezembro - Amália Rodrigues

terça-feira, maio 05, 2009

Vasco Granja 1925-2009

Capa do derradeiro exemplar da revista Tintin (edição portuguesa), com o nº 21-15ºAno- 2.Out.1982

Umas vezes os textos eram do próprio Vasco Granja, outros eram-lhe cedidos pelos organizadores dos eventos, como se pode ler (ampliando a imagem).
Nessa ampliação também ficará visível a nota que escrevi a lápis no rodapé da página:
- Vasco Granja deu-me este nº em 9/2/83
- Posto à venda em ------------(esqueci-me de acrescentar a data)




Mantendo a tradição, a [revista] Tintin apresentava um espaço dedicado a responder às cartas dos leitores, aqui intitulada "Tu escreves... Tintin responde". Claro que as respostas eram, da autoria de Vasco Granja


Faleceu ontem Vasco Granja, alguém que teve acção muito importante em duas áreas artísticas, a Banda Desenhada e o Cinema de Animação.
De seu nome completo Vasco Oliveira Granja, era natural de Lisboa, onde nascera a 10 de Julho de 1925.
Ligado à Livraria [ e editora] Bertrand, começou a representar o nosso país em meados da década de 1970, no Salone Internazionale dei Comics, del Cinema d'Animazione e dell'Illustrazione, evento que decorria em Lucca (Itália, próximo de Pisa e Florença), precursor dos eventos congéneres, e para o qual convidava vários elementos para o acompanharem nessa representação nacional, entre os quais os autores de BD José Garcês e Carlos Barradas, o cartunista Sam, e alguns divulgadores, casos de António Alfaiate e deste escriba e actual bloguista.
Graças a Vasco Granja, ali tive a honra de apresentar, a partir de 1978, através da projecção de diapositivos, panoramas sobre a BD portuguesa (por exemplo, "Os Visionários da Visão, com fotografias dos autores e imagens das respectivas bedês, mas também de Nelson Dias e da sua "Wania, Escala em Orongo").
Esse e outros trabalhos tive oportunidade de voltar a fazer em Angoulême, onde Granja passou a ser, igualmente, o representante de Portugal, graças ao facto de pertencer a uma grande editora de BD (na época), a Bertrand, e ter também o prestígio de ser um apresentador importante da Televisão portuguesa, onde teve a seu cargo, durante anos, nas décadas de 1970 (a partir de 1974) e toda a de 1980, a tarefa de seleccionar e dar a conhecer filmes de desenhos animados de várias origens, dando preponderância ao cinema do Leste europeu, embora não deixando de mostrar também séries animadas canadianas (de Norman McLaren) e americanas, (em especial de Tex Avery e a Pantera Cor-de-Rosa), tendo ficado associado, para algumas gerações de crianças e adolescentes, à figura inesquecível da Pink Panther, e à respectiva música, dela indissociável.
Vasco Granja teve acção diversificada, chegando a ser director da edição portuguesa da revista Tintin, e foi um dos pioneiros portugueses em duas áreas: como crítico de banda desenhada no jornal República, e enquanto editor, logo em 1972 (Ano I dos fanzines em Portugal), de um dos primeiros zines portugueses, o "Quadrinhos". Acerca deste tema, ver mais pormenores no meu outro blogue, o http://fanzinesdebandadesenhada.blogspot.com/
Ainda na área da BD, foi ele quem adaptou, em 1966, para a língua portuguesa, a expressão francesa "bande dessinée", passando a escrever "banda desenhada", provocando o gradual desaparecimento da nomenclatura tradicional "histórias aos quadradinhos" (ou "histórias em quadradinhos"), embora no seu fanzine acima mencionado tenha optado por um vocábulo muito usado no Brasil, "Quadrinhos", pormenor que nunca explicou muito claramente.
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Numerosos amigos, familiares e admiradores de Vasco Granja, estiveram na noite de ontem, 4 de Maio, no velório que teve lugar na Igreja da Damaia, partindo hoje o funeral, daquela igreja, para o cemitério de Rio de Mouro.
Adeus, amigo Vasco Granja.

segunda-feira, maio 04, 2009

Tertúlia BD de Lisboa - 297º Encontro (Ano XXIII) - Convidado Especial: João Lemos

Prancha de Avenger Fairy Tales #o1, da autoria de João Lemos

Ciclo: Nova BD Portuguesa (*)
Convidado Especial
JOÃO LEMOS

João Miguel Pereira Lemos nasceu em Cascais, em 1977, e desde sempre se lembra de sentir vontade de desenhar, talvez porque, ao lado dos livros de História Natural, Geografia e Antropologia que havia em casa dos pais, ele encontrava álbuns de banda desenhada com Astérix, os Schtroumpfs, comic-books da Marvel e da DC, obras de Bilal, Hugo Pratt (Corto Maltese, naturalmente), Moebius, e também uma revista portuguesa, Selecções BD.
Estudou na Escola António Arroio, participou nos cursos de BD e Animação no CITEN (afecto à Gulbenkian), sendo o de BD dirigido por Diniz Conefrey, e o de Cinema de Animação por Fernando Galrito e Isabel Aboim.
Já exerceu actividades em diversas áreas, designadamente no Departamento de Pedagogia do Museu Nacional de Arqueologia, e como livreiro.
Numa ida a Angoulême, em 2005, estabeleceu ligação com o mercado americano de BD, graças a um portfólio entregue a Joe Quesada.
Em 2008 foi-lhe publicada nos EUA a história curta Dance, pela Hero Initiative, bem como o primeiro número de Avengers Fairy Tales, com argumento de C.B.Cebulski.
Está actualmente envolvido em vários projectos, sendo Shiki o de maior envergadura, em que o argumento é feito numa parceria entre ele próprio e o conceituado argumentista americano C.B.Cebulski. Aliás, a sua experiência como argumentista já vem de longe: a banda desenhada SIMUM, publicada no meu fanzine Ad Hoc (nº 2 - Agosto 99) teve argumento e guião em co-autoria sua e de Filipe Goulão, sendo este último a realizar a componente gráfica.
Noutra área de actividade artística tem feito ilustrações para romances, e antologias de Poesia de Frederico Mira George.
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sexta-feira, maio 01, 2009

Castelos na Banda Desenhada - XXV - Tomar

Tomar, 17 de Dezembro de 1906: local e data de nascimento de Fernando Lopes-Graça, cuja biografia, dada através da banda desenhada, se deve ao desenhador, ilustrador, argumentista/guionista (e arquitecto), Ricardo Cabrita. Embora isso não seja do conhecimento da generalidade das pessoas, acredito que até nem mesmo de muitos melómanos,Tomar foi onde nasceu o insigne músico e compositor. Daí aparecer, sobranceiro a Tomar, o Castelo dos Templários, logo na vinheta inicial da primeira prancha de um álbum de BD, dedicado a Fernando Lopes-Graça – Andamentos de uma vida. Umas vezes através do narrador, outras pelas palavras do próprio biografado, o leitor/visionador desta obra de Figuração Narrativa vai sabendo pormenores, cronologicamente descritos, da vida de Lopes-Graça. Nesta primeira prancha, é-nos apresentado seu pai, Silvério Lopes da Graça, assistimos ao seu nascimento, tomamos contacto com a mãe e seus irmãos, José e Aline, e ficamos a saber, em recordação transmitida através de palavras do próprio músico, que iria ser, anos mais tarde, num café de Tomar (situado talvez numa artéria por aqueles anos chamada rua Nova, que em tempos recuados tinha sido a rua da Judiaria, actualmente rua Dr. Joaquim Jacinto) que ele ouviria, pela primeira vez, "La Mer" de Debussy, sob a direcção de Toscanini, sensação naturalmente indelével para alguém que, desde muito cedo, se sentia atraído pela música. Trata-se de uma obra consistente, de que por agora apenas lhe foco o pormenor do castelo, para acrescentar à categoria de "Castelos na Banda Desenhada", em edição de muito boa qualidade a creditar à Câmara Municipal de Tomar (data de edição não indicada, mas que o próprio autor me ofereceu em meados do passado mês de Abril 09). Outros quadrantes desta biografia desenhada, relativos a categorias diferentes, focarei aqui em textos posteriores. ........................................................................... "Post" remissivo Castelos na Banda Desenhada é um tema criado em Novembro de 2005. Os 24 "posts" anteriores podem ser vistos clicando no título indicado no rodapé deste poste.