domingo, fevereiro 24, 2013

Coleccionadores e Colecções de BD (VII) - Virgínia Adelaide Tavares Peres



































Em tempos já distantes, o conservadorismo na educação dos jovens era muito acentuado, reflectindo bastante a orientação imposta pelo governo da época à área escolar, evidenciada, logo à partida, pela separação de sexos nos estabelecimentos de ensino secundário - liceus e escolas técnicas (comerciais e industriais) - em que, salvo raras excepções, nuns só eram admitidos rapazes, noutros apenas raparigas.

Os reflexos dessas estratégias eram evidentes no comportamento das famílias em relação à educação dos filhos, em variados aspectos, designadamente na separação que era feita quanto aos objectos de entretenimento dentro de casa: para os meninos e rapazes ficava a leitura de revistas de histórias aos quadradinhos - expressão antiga e tradicional, substituída, em fins da década de sessenta, por mais um galicismo, o de banda desenhada, nascido de uma parcialmente incorrecta tradução, da autoria de Vasco Granja, da expressão francesa "bande dessinée" -, enquanto que as meninas e raparigas eram orientadas para virem a ser donas de casa e mães, pelos brinquedos que lhes eram facultados - tachos, panelas e máquinas de costura, para a primeira função, bonecas, o respectivo vestuário e berços de bebé, a mentalizar as meninas para um futuro de mães e donas de casa, na sua maioria.

É um facto que, por tal atitude paternal, eram muito poucas as raparigas que liam revistas de BD, com raras excepções, ao invés dos rapazes, realidade constatável, por exemplo, nas habituais rubricas "Correio dos Leitores" que sempre existiram nessas revistas - eu próprio dirigi algumas, designadamente nas revistas Jornal da BD (onde usava o pseudónimo "Ardina"), O Mosquito - V Série (onde respondia aos leitores assinando "Mosquito"), e nas Selecções BD (ali era o bedéfilo). 
A maioria das perguntas, críticas e sugestões eram apresentadas por leitores jovens (e menos jovens também) do sexo masculino.

Daí ter ficado com forte interesse em travar conhecimento com uma excepção a tal stato quo da sociedade portuguesa: uma senhora, professora de profissão. Tinha-me sido indicada por um amigo, que a referenciou como sendo uma pessoa muito interessada em BD, com um acervo considerável e valioso de revistas de banda desenhada, portuguesas e estrangeiras.

Estando eu, na época, a entrevistar pessoas conhecidas no meio bedéfilo como coleccionadoras, para a revista Coleccionando, entrei em contacto com a senhora, que se prontificou a responder às questões que lhe apresentei.

Reproduzirei, em seguida - para facilitar a leitura - o trabalho que fiz para a citada revista, composta por duas partes: apresentação da professora/coleccionadora, e respectiva entrevista. 
-------------------------------------------------------------------------------

  

COMO ACHAVA O PIM-PAM-PUM  

UMA PÁGINA PRECIOSA, 

CORTAVA-A 

E GUARDAVA-A RELIGIOSAMENTE


 - recorda a Dra. Virgínia Adelaide Tavares Peres


Na galeria de personalidades que, de alguma forma, se podem associar ao coleccionismo de Banda Desenhada, aparece hoje, pela primeira vez, uma senhora.
Trata-se da Drª Virgínia Adelaide Velez Tavares Peres, licenciada em Filologia Germânica, professora liceal.

Muito embora não seja uma coleccionadora, no sentido vulgar do termo, a verdade é que esta senhora foi, desde muito jovem, assídua leitora de revistas da especialidade. Com efeito, aos dezasseis anos, ela já era indefectível entusisasta da BD. E isso aconteceu há algumas décadas, numa época em que havia tendência para considerar a Banda Desenhada como tema quase exclusivamente masculino.

É indubitável que a Dra. Virgínia Peres teve quem lhe proporcionasse a invulgar possibilidade de desfrutar revistas de grande qualidade, hoje consideradas raras. Ela terá sido, num meio assaz preconceituoso como era (e ainda é) o nosso, uma das poucas jovens portuguesas a ter um contacto tão intenso com a banda desenhada. Além disso - e também nesse aspecto poderá ter sido uma das pioneiras - houve uma fase da sua vida em que a nossa entrevistada guardava zelosamente as suas revistas. Justificava-se, portanto, fazer-lhe a pergunta habitual:

- Quando começou a coleccionar revistas de Banda Desenhada?

- Nunca coleccionei conscientemente. Quando comecei a interessar-me pela página infantil de "O Século" (Pim-Pam-Pum) ainda era criança. Mas via os "bonecos", compreendia a sequência, e pedia que me lessem a "história". Como achava aquela página preciosa, cortava-a e guardava-a religiosamente. Juntei assim um maço volumoso.
Foi esta a minha primeira manifestação de entusiasmo pela BD e, simultaneamente, a minha primeira experiência com o acto de coleccionar.  

- Quais as colecções portuguesas que tem?

- Não tenho colecções completas. Mas possuo ainda bastantes exemplares de "O Senhor Doutor", de "O Mosquito", e alguns outros (não tão numerosos) do "Tic-Tac", "Gafanhoto", "Papagaio", "Colecção da Criança" (que deu lugar mais tarde à "Colecção da Gente Moça"), "Texas Jack" e "Pisca-Pisca".  

- A Srª Drª tem também muitos exemplares de revistas estrangeiras de BD. A que se deveu esse interesse?

- Na minha fase de aluna liceal achei que seria útil o contacto com revistas estrangeiras, e considerei que a Banda Desenhada era aconselhável para esse fim. Comecei então a comprar o "Robinson", "Le Journal de Mickey", a "Filette" e "La Semaine de Suzette".  

- Deviam ser caras para nós, essas revistas. Tem alguma ideia de quanto custavam?

- Os preços oscilavam entre os $60 e os 2$50. Curiosamente, tanto o "Robinson" como "Le Journal deMickey", que eram revistas importadas, tinham preço ao inferior ao de "O Senhor Doutor".
Devo dizer que a qualidade do papel e da impressão deste último era superior à das revistas estrangeiras mencionadas. Aliás, "O Senhor Doutor" era um semanário caro para a época: 1$50 (um bilhete de cinema custava cerca de 5$00).

- Tem alguma recordação especial ligada a qualquer dessas revistas?

- Lembro-me da contrariedade que senti quando, em 1940, foi suspensa a publicação de Guy l'Éclair (*), na revista "Robinson". 
No sentido positivo, considero que "O Senhor Doutor" e "O Mosquito" proporcionaram momentos extraordinários de evasão a uma meninice monótona de filha única.
Mas, a essa solidão, e a um pai que entendia que a leitura é uma companhia inestimável, fiquei a dever o privilégio de ser leitora assídua de numerosas obras e dessas revistas que citei.

- Por que razão suspendeu o contacto com essas revistas? Houve algum motivo especial?

- Houve. Foi a Segunda Guerra Mundial. Ela veio cortar os sonhos de milhares de crianças, e, no que respeita ao "cantinho" da banda desenhada, a periodicidade das tais revistas estrangeiras tornou-se irregular, até que acabaram por desaparecer, pelo menos no nosso mercado.
Restava-me reler e manter aquelas "páginas mágicas" impecavelmente arrumadas, por ordem de edição.

- Essas revistas que coleccionava na sua infância nunca foram substituídas por outras, numa fase mais avançada?

- O "Pato Donald", em edição brasileira - cuja qualidade era então muito superior à de agora - veio substituir os semanários da minha infância. Mas, nessa altura, eu apenas concedia uma breve apreciação à revista, pois a finalidade principal era integrá-la numa parte das leituras recreativas dos meus filhos. 
Mais tarde, ao passarem a primeira barreira etária do Tintin (ou seja, os 7 anos) foi a vez de tomarem contacto com as aventuras deste "super-jovem". Ele veio talvez produzir neles uma emoção semelhante à que o Cuto, a Anita Pequenita, Rob, Guy l'Éclair (ou Flash Gordon, se preferir), Mandrake, Fantasma e muitos outros haviam produzido nas gerações anteriores.

- Mas a srª drª tem ainda uns tantos exemplares da preciosa revista "Eagle". Essa era também para os seus filhos, ou era a sua antiga "paixão" que renascia?

- Era também para os meus filhos. Quando chegou a altura de eles vencerem a barreira das línguas, procurei livros, mas também revistas estrangeiras de BD. 
No fundo, admito que procurava uma espécie de descendência àquelas que tanto me haviam entusiasmado em criança. São dessa fase (1964/65) os exemplares que ainda possuo dessa revista a que chama preciosa. 
Já agora, posso dizer-lhe que a comecei a divulgar também entre os meus alunos. 
Descobri, pela mesma altura, uma colecção americana que me ajudou a despertar neles o interesse pela língua que eu ensinava. Tratava-se dos "Classics Illustrated" (que mais tarde seriam em parte traduzidos para português e postos a circular no nosso país). Eles tinham, a meu ver, um duplo interesse: divulgavam obras famosas de autores de diversas nacionalidades, proporcionando à camada mais jovem uma forma de leitura tão do seu agrado - a Banda Desenhada.
Embora a qualidade gráfica das adaptações fosse bastante irregular, alternando algumas de bom nível com outras bastante fracas, foi assim que muitos alunos meus tomaram contacto com obras de H.G.Wells, Mark Twain, Dostoiewsky, Rudyard Kipling, Walter Scott, Charles Dickens, Júlio Verne, Goethe, entre muitos outros.

- Como é que conseguia dar as suas aulas, permitindo em simultâneo a leitura/visionamento desses clássicos adaptados à BD?

- De tempos a tempos utilizava um episcópio para projectar os desenhos e as respectivas vinhetas, que eram descodificadas pelos jovens espectadores. Eles sentiam-se felizes por poderem ler inglês de uma forma pedagogicamente agradável.

- Nessa altura, essa sua ideia de aproveitar a BD como auxiliar pedagógico era bastante arrojada...

- É possível. Mas hoje, como sabe, já é comum encontrar a BD inserida nos livros de estudo, tanto portugueses como estrangeiros...

- Qual foi a última revista de BD que coleccionou, acompanhando o ritmo da sua publicação?

- Foi o "Pisca-Pisca", ntre 1968 e 1970.

- Tem alguma recordação triste ligada às suas colecções?

- Sinto uma especial tristeza pelo desaparecimento inexplicável do tal maço volumoso do "Pim-Pam-Pum".
Também em relação a algumas dessas revistas que consituiam o meu "tesouro" de criança, cometi, em dado momento, um erro: foi quando permiti que os meus filhos lhe tivessem acesso. Não me apercebi de que eles eram ainda demasiado jovens para compreenderem o significado que aquelas páginas atraentes e profusamente ilustradas tinham para mim.
Muitas delas ficaram irremediavelmente perdidas...
Mas, neste último caso, penso que o desgosto sofrido valeu a pena, pois assim surgira neles o entusiasmo pela BD.                 

Entrevista por
Geraldes Lino 

..............................................................................................................
Imagens que ilustram o "post":

1. "O Senhor Doutor" - capa do nº 96, de 12 Janeiro 1935
2. "Obras-Primas Ilustradas" - capa do nº 4 (sem data), com a bd "A Ilha do Tesouro"
3. "O Mosquito" - capa do nº 531, de 26 Julho 1944
4. "O Gafanhoto" - capa do nº 38, de 21 Maio 1949
5. "La Semaine de Suzette" - capa do nº 27, de 5 Juillet 1951
6. "Bécassine" - BD impressa na última página da revista acima mencionada
7. "Pim-Pam-Pum" - capa do nº 688, 6 Abril 1939
6. Retrato da entrevistada, Drª Virgínia Peres
7. As duas páginas da revista "Coleccionando" onde está reproduzida a entrevista
8. Capa da revista "Coleccionando" - nº8, Agosto/Setembro 1984

Nota do bloguer: As revistas de BD que usei para ilustração da postagem são exemplares soltos do meu acervo.           

-------------------------------------------------------
Os visitantes interessados em ver os seis artigos anteriores poderão fazê-lo, clicando no item Coleccionadores e Colecções de BD visível no rodapé     

segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Webcomics (VI) - The Mighty Enlil, por Pedro Cruz




Webcomics, mas também Online Comics, assim são classificadas as bandas desenhadas produzidas directamente para o universo virtual da World Wide Web. E estão de tal maneira disseminadas pela vastidão internética, que podem passar despercebidas durante largo espaço de tempo, até que, por mero acaso - ou porque travamos conhecimento com o autor, como aconteceu com este bloguer -  temos ocasião de apreciar a banda desenhada, que tem estado a ser realizada desde há algum tempo, em tiras ou pranchas, e que vai sendo mostrada em ritmo temporal variando normalmente entre semanal, quinzenal ou mensal, geralmente num dia certo da semana.

"The Mighty Enlil", por exemplo, tem mantido regularidade impecável. Iniciado em 16 de Junho de 2012, um sábado, este webcomic tem marcado presença sempre nesse dia da semana até à mais recente prancha publicada, a 36ª, em 16 de Fevereiro, ou seja, no início do fim de semana, como sempre.

O seu autor chama-se Pedro Cruz. Embora pouco conhecido no pequeno mundo português da BD, já tem este webcomic a ser publicado num site americano. A tal propósito, devo dizer que estranhei um pouco o facto de esta banda desenhada virtual estar a ser legendada em inglês, o que não é muito vulgar na blogosfera bedéfila portuguesa. Mas o facto de estar a ser publicada, em simultâneo, num site americano será justificação suficiente.

E de que trata a bd de Pedro Cruz?
Dou-lhe a palavra:
"Resumidamente, esta BD trata das aventuras e desventuras de Enlil, um antigo deus sumério que se vê misteriosamente transportado para o século XXI (precisamente!) através das maquinações do seu irmão Enki. 
Trata-se de uma sátira ao género dos super-heróis que, em princípio, deverá ter entre 48 a 64 pranchas quando concluída. 
Para além de ser publicada todos os Sábados no meu blogue, também tem sido publicada semanalmente no site norte-americano www.comicrelated.com todas as terças."

-----------------------------------------------------------------------------


De cima para baixo, as imagens do webcomic "The Mighty Enlil" que ilustram a presente postagem foram publicadas nas seguintes datas:

1) 16 Fev. 2013 (prancha nº 36)
2) 13 Out. 2012 (prancha nº 18)
3) 16 Jun, 2012 (prancha nº 1)

...................................................................................................
Pedro Cruz

Síntese biográfica

Pedro Miguel de Sousa Dias Oliveira Cruz nasceu em Lisboa, a 24 de Setembro de 1975.
É licenciado em Arquitectura e Mestre em ensino de Educação Visual e Tecnológica.
Como fica claro, Pedro Cruz tem duas valências profissionais, arquitecto e professor, e mais uma ao nível amador, até ver: a de autor de BD.
Nesta área tem colaborado regularmente com a editora norte-americana Airship 27, tendo já ilustrado os livros Jim Anthony Super Detective volume one , Jim Anthony Super Detective: The Hunters, Season of Madness e Dr. Watson's American Adventure
Actualmente, escreve e desenha a banda desenhada The Mighty Enlil, que pode ser lida semanalmente em www.pedro-cruz.blogspot.com ou no site norte-americano  www.comicrelated.com.  

 -------------------------------------------------------
Os visitantes interessados neste tema, iniciado em 28 Janeiro 2012, e que queiram ver os cinco "posts" anteriores, poderão fazê-lo clicando na etiqueta Webcomics visível em rodapé
 

segunda-feira, fevereiro 11, 2013

Livros Sobre BD - Os Meus Livros (XII)

  


 









The World Encyclopedia of Comics, obra editada em Setembro de 1977, foi a primeira enciclopédia dedicada à BD de que tive conhecimento quando, em 1978, iniciei as minhas andanças por eventos estrangeiros centrados na banda desenhada - numa altura em que Portugal ainda estava vazio de eventos similares. Concretamente, nesse ano, estive presente em Lucca, Itália, no Salone Internazionale dei Comics, del Cinema d'Animazione e dell'Illustrazione, onde participei com um trabalho executado em diapositivos sobre o tema "Banda Desenhada Portuguesa Moderna".
E nos dias felizes que passei naquele evento, que me maravilhou por ser o primeiro que vivenciei, tive a sorte de poder comprar a citada enciclopédia ao próprio editor, o franco-americano Maurice Horn, que tinha levado para Lucca apenas alguns exemplares. 
É uma das minhas preciosidades, a que me liga uma grande afectividade, tanto pela nostalgia do tempo como do local - a estranha e acolhedora cidade muralhada de Lucca -, como pela alegria extrema de ter podido comprar um tipo de livro que nunca tinha imaginado existir. 
Já não me recordo quanto me custou em liras italianas - na paridade muitíssimo baixa na altura, devem ter sido uns milhares -, mas a edição americana cartonada custava, como se pode ver na imagem da capa, escrito dentro de um balão de BD: $30 in hardcover edition (o meu exemplar é em softcover, capa mole, enfim, brochado). 
Inicia-se a enciclopédia por uma breve história da banda desenhada mundial e, no início desse texto, lê-se o seguinte:
"The following essay represents the first attempt at a history of world comic art. The only other international history of the comics, "A History of The Comic Strip", not only fails to deal with comic-books, but is largely confined to the productions of the United States and Western Europe. This account presents a more balanced world picture, and while the American and European productions receive the largest share of attention, reflecting their preeminent position in the world of comics, they are placed in a wider context that includes the very important contributions made by Japanese comics, as well as those from countries of Asia, Latin America and the Pacific, in a truly global overview of the 80 or more years of comic art (...)".

Fica assim registado curto excerto de um aprofundado texto de cinquenta e quatro páginas muito bem ilustrado, que inclui "A World Chronology of Comic Art - From the 18th Century to the Present"
.
Este texto introdutório inclui elementos históricos bastante valiosos, todavia não é esse o escopo essencial da obra.
De facto, a componente enciclopédica (que alterna autores, heróis e séries) tem o seu início apenas na página 63, com o subtítulo "Alphabetic Entries".
E a começar o alfabeto, encontra-se entrada para um autor norueguês:

Aasnes Hakon (1943 -     ) de que reproduzo uma linha:
"Norwegian comic artist, born February 13, 1943 in Oslo (...)", autor pouco conhecido por cá, como acontece com a maioria dos nórdicos.
Mas logo de seguida, temos o título de uma série , Abbie an'Slats (U.S.), indicando datas e autores:
Abbie an'Slats was the the 1937 creation of young Al Capp, fresh from his success with Li'l Abner, and Raeburn van Buren, an accomplished magazine illustrator, who decided to enter comics partly on the strength of Capp's prophetic assertion that radio would kill the popular weeklies.
Capp wrote the continuities for the first nine years,followed by his brother Elliot Caplin (...)".

(Nota deste bloguer: O nome verdadeiro de Al Capp era Alfred Gerald Caplin, e irá aparecer o verbete respectivo que indica: Capp, Al (1909-      ).
Portanto, à data da edição desta enciclopédia, Setembro de 1977, Capp iria viver apenas mais dois meses. Isso porque inseri naquela página um recorte do desaparecido vespertino lisboeta A Capital, datado de 6 de Novembro de 1980, em que aparece a notícia: "Faleceu ontem, ao fim da tarde (...) Al Capp, cujo verdadeiro nome era Alfred Gerald Chaplin (...)". 
O jornalista de serviço, não necessariamente conhecedor de BD, transformou o apelido Caplin em Chaplin, presume-se que bem mais conhecido dele...).

Seguidamente, depara-se-nos a figura de uma personagem europeia, francesa:
Achille Talon, com argumento e desenho de Greg (Michel Regnier), o verborreico "herói" que tão popular se tornou em Portugal, nas páginas da [revista] Tintin.
Após um herói humorístico - porque respeitando a ordem alfabética - encontra-se um grande dos "comics", Adams, Neal Adams (1941-     ).

Nota do bloger:  Tive o prazer de o conhecer pessoalmente em Lucca, em 1980, tendo-me oferecido um desenho com autógrafo (ver na coluna das etiquetas, no item "Autógrafos desenhados", no "post" datado de 9 Dez. 2009.

Seguem-se autores italianos (Albertarelli, Rino), filipinos (Alcala, Alfred), personagem Alix, do autor francês Jacques Martin, Alley Oop, americano (começado a publicar em Portugal na revista Mundo de Aventuras sob o nome de "Trucutu", e conhecido no Brasil por "Brucutu", com o significado de sujeito grosseiro...), Ally Slopper ("the first British strip hero (or rather anti-hero), Alexander Slopper F.O.M. ("Friend of Man"), Ally for short (como é explicado no verbete).

Mais, ao acaso, na letra A: 
Amazing Man (U.S.) alias A-Man, was created by Bill Everett and made its first appearance in Centaur's Amazing Man number five, in September, 1939 (...)"
Amok (Italy). Cito o texto: 
"In the wake of the super-hero comic books which the american troops brought with them to Italy, many cartoonists were influenced by their American colleagues and produced characters that were similar in theme and artwork to those of the American comic scene. So, partly as imitations of the super-heroes, partly as nostalgic rememberances of The Phantom, a whole slew of masked crime-fighters appeared in the months following the end of WWII: few of these are still remembered today.
Amok (subtitlled "Il Gigante Mascherato" - The Masked Giant) is certainly one of the most celebrated. It appeared for the first time on the newsstands on October 17, 1947. It was written by Cesare Solini and drawn by Antonio Canale (who were respectively signing their work with the pen-names "Phil Anderson" and "Tony Chan"(...)"
Não falta também um herói de origem alemã, Andrax, seguido por, alguns verbetes depois, pelo britânico Andy Capp, anti-herói machista com laivos de "chulo", criado por Smithe (Reginald Smithe), popularizado entre nós pelo castiço aportuguesamento de Zé do Boné, publicado durante anos pelo jornal nortenho O Primeiro de Janeiro.
Ainda na letra A aparece a engraçada heroína infantil espanhola Anita Diminuta, criada em 2 de Abril de 1941, no primeiro número da revista para raparigas Mis Chicas, pelo celebrado autor espanhol Jesús Blasco. Esta personagem foi divulgada pelo suplemento A Formiga que fazia parte de uma das mais populares publicações de histórias aos quadadinhos portugueses, O Mosquito, editado em Lisboa.
Fazendo jus à abrangência desta enciclopédia americana, não poderia faltar heróis ou heroínas do Japão (isto em 1977, repare-se), como é o caso de Anmitsu Hime (Princesa Anmitsu), heroína criada por Shosuke Kuragane, que apareceu pela primeira vez em Maio de 1949 na revista mensal Shojo.
Algumas páginas à frente há mais uma personagem japonesa, desta feita um herói, Ashita no Joe, da autoria de Tetsuya Chiba (desenhador) e Asao Takamori (argumentista), começado a publicar no magazine semanal Shonen. "Ashita no Joe" acaba por ter o nome americanizado para Joe Yabuki, e populariza-se como pugilista, embora que, ao invés dos jogadores de boxe americanos, este japonês seja humanizado, e nem sempre saía vencedor dos seus combates.
Asso di Picche (Itália), surgido em fins de 1945, é um dos inúmeros heróis mascarados que surgem nos magazines italianos dedicados aos "fumetti" no pós-guerra, criado por Hugo Pratt, um pouco à maneira do "Spirit" de Will Eisner.
Astérix não podia faltar neste início alfabético. O verbete começa por registar a autoria - René Goscinny (argumento e guião), Albert Uderzo (desenho), o título da primeira aventura, "Astérix le Gaulois", e o título da revista semanal de BD, a Pilote, cujo número inicial data de 29 de Outubro de 1959.
Avengers, The (U.S.), grupo de heróis - que inicialmente incluía Thor, Iron Man, The Wasp, The Hulk e Ant-Man - foi criado em co-autoria pelo autor/artista Jack Kirby e pelo argumentista/guionista Stan Lee, em Setembro de 1963.
É quase o fim da letra A. Dela apenas registei alguns curtos excertos de artigos sobre uns poucos heróis e respectivos autores, que fazem parte do enorme acervo literário desta volumosa obra com 784 páginas.
As poucas imagens que ilustram a presente postagem são insuficientes para dar uma ideia da vastidão de autores e heróis abrangidos pela selecção feita pelo editor e seus colaboradores de diversas nacionalidades.
Daí que este"post" seja numerado (1 de 2), implicando que, em breve, voltarei a esmiuçar esta preciosidade da minha colecção.      

Tão extenso e abrangente livro, editado por Maurice Horn, teve o contributo de quinze estudiosos da BD, que assinam simplesmente com as iniciais dos nomes as centenas de verbetes dedicados a autores e personagens.
Eis os nomes e nacionalidades desses especialistas, pela ordem alfabética com que estão registados no início da enciclopédia:
.
Manuel Auad - Filipinas
Bill Blackbeard - E.U.A.
Gianni Bono - Itália
Joe Brancatelli - E.U.A.   
Mark Evanier - E.U.A.
Wolfgang Fuchs - Alemanha
Luis Gasca - Espanha
Denis Gifford - Inglaterra
Peter Harris - Canadá
Maurice Horn - França/E.U.A.
Orvy Jundis - Filipinas
Hisao Kato - Japão
Richard Marschall - E.U.A.
Ervin Rustemagic - Jugoslávia
John Ryan - Austrália
.
Uma nota de estranheza e desagrado: não existe referência a qualquer autor português, alguns já bem conceituados à data da edição (Eduardo Teixeira Coelho, Fernando Bento, Vítor Péon, José Garcês, José Ruy, ou do pioneiro Rafael Bordalo Pinheiro, bem como de nomes representativos da nossa figuração narrativa como Stuart, Botelho, Emmerico Nunes, Cottinelli Telmo, e tantos outros) numa enciclopédia que regista nomes de autores de grande número de países.
Algo estranho, porquanto Vasco Granja já ia a Lucca há alguns anos, em representação da Editora/Livraria Bertrand, e conhecia bem Maurice Horn.  

Embora não sirva de consolação, também fui detectando nesta edição inicial da enciclopédia (que já tem uma 2ª edição, datada de 1999), faltas de vários nomes importantes da BD mundial, casos de: De La Fuente, Victor; Gillon, Paul; Jiji, Robert; Palacios, Antonio Hernandez; Tardi, Jacques; Toppi, Sergio; e até da heroína Scarlett Dream.

Personagens e autores (só de B a D) representados pelas imagens que ilustram o "post":

1. Capa da enciclopédia
2. Brick Bradford, de Clarence Gray (desenhos) e William Ritt (argumento e guião) 
3. Heros the Spartan, de Frank Bellamy (desenho) e Tom Tully (argumento e guião)
4. Capa de "comic book" desenhada por Robert  Crumb
5. Connie, de Frank Godwin 
6. Dick Tracy, de Chester Gould
7. A primeira página da letra A, da qual faço extratos de alguns textos biográficos 

(A fim de possibilitar a legibilidade desta citada página, basta clicar duas vezes sobre o texto, sendo a segunda quando o cursor toma a forma de uma lente - peço desculpa aos blogueres já iniciados, mas há sempre visitas de iniciantes).

A presente postagem é (PARTE 1 DE 3)  
------------------------------------------------------------------------
Os visitantes deste blogue que estiverem interessados em ver os onze "posts" anteriores deste tema, inclusive os três dedicados à obra The Smithsonian Collection of Newspapers Comics - 1ª e 2ª fracção (a 1ª inclui a capa do livro), poderão fazê-lo clicando sobre o item Livros sobre Banda Desenhada-Os meus Livros visível no rodapé