sábado, abril 06, 2013
Críticas, Notícias e Comentários sobre BD na Imprensa (XXIX)
"Sou um órfão de boas revistas de banda desenhada em português. Não há Mundo de Aventuras, não há Tintin, não há Spirou, não há Flecha 2000 ou Jornal da BD, nem sequer há algo equivalente ao Falcão por que esperar todas as semanas no dia certo, à espera de histórias novas ou da continuação das que tinham ficado em suspenso.
Nem sequer vale a pena esperar pelo novo mês, pois não há revistas que satisfaçam uma sede que só é possível saciar com materiais do outro lado do Atlântico. Ou de França.
Há as revistas que servem para divulgar as novidades comerciais (DBD, Casemate), as que procuram renovar fórmulas de outrora (Fluide Glacial, L'Echo des Savanes), mas poucas nos oferecem as boas e quase anacrónicas histórias para ler de fio a pavio.
A L'Immanquable vai no nº 26 e todos os meses vai-nos trazendo quatro ou cinco longos capítulos de séries em continuação. Este mês começou a publicar o mais recente Alix e um paródico El Spectro. Vale a pena."
Fim de citação
Poderia ser eu a escrever as palavras acima citadas. Sinto-as como se fossem minhas.
Mas, na realidade, quem as escreveu foi o professor e blóguer, mas também bedéfilo, Paulo Guinote, no item "O Que Ando a Ler", um dos três itens (os outros são, "O Que Ando a Ver" e "O Que Ando a Ouvir") que preencheu o suplemento "QI - Coeficiente de Inteligência", em publicação às 6ªs feiras no matutino Diário de Notícias.
E fica-se assim a saber que, entre o que o prof. Paulo Guinote anda a ler,
- "Mortalidade", de Christopher Hitchens, "Not for Profit: Why Democracy Needs the Humanities", de Martha Nussbaum, "Allegro Ma Non Troppo", de Carlo M. Cipolla, "Toda a Mafalda", de Quino, e a revista "L'Immanquable" -, há duas obras de BD.
E vale muito a pena ler também o que ele escreveu na coluna dedicada à personagem criada por Quino:
"Fica bem apresentar como livro de cabeceira, livro de vida ou livro inspirador, um daqueles clássicos imorredoiros que todos conhecem de nome ou então um livro quase desconhecido, quiçá marginal, e que se destaca exatamente (*) pela sua obscuridade.
Mas eu sou escasso em Tolstoi, o Dostoievski apela demasiado à depressão para o meu gosto, o Proust é imensamente comprido e para irlandês leio o McCourt com mais prazer do que o Joyce.
Bem como acho - sacrilégio, sacrilégio - que um Goscinny é tão intemporal quanto um Céline ou um Burroughs.
Apesar da imensidão de "integrais" da escola franco-belga que fez as minhas delícias de adolescente, prefiro escolher o genial Quino e a sua sempre presente Mafalda, acompanhada do Filipe, do Manelito e da Susaninha. Nasceu meses antes de mim e desapareceu há quase 40 anos, mas continua com uma actualidade acutilante e a ela regresso com regularidade.
Porque, para nosso desgosto, os males do mundo são os mesmos."
Fim de citação
(*) O D.N. já adoptou o AO90
Desde há muitos anos que costumo expressar a seguinte opinião: as pessoas com mais cultura são as que melhor compreendem e respeitam a banda desenhada.
Tenho confirmado este ponto de vista ao longo das décadas em que ando envolvido na BD, nos contactos com arquitectos, professores de universidades ou de escolas secundárias que se referem com conhecimento e admiração a grandes autores de BD e à banda desenhada em si mesma.
Paulo Guinote - que não conheço pessoalmente - é doutorado em História da Educação - tornou-se conhecido pelo seu blogue "A Educação do Meu Umbigo" (*) onde, como professor do 2ºciclo, releva essencialmente os problemas com que se debatem os docentes.
E como pessoa de cultura abrangente e descomplexada, ao colaborar no Diário de Notícias, pôs em destaque, as duas peças de BD acima citadas nos seus textos.
(*) educar.wordpress.com
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Os interessados em ver as 28 anteriores postagens deste tema "Críticas e Notícias sobre BD na Imprensa (com início em 15 de Julho de 2005) do presente tema, poderão fazê-lo, bastando para isso clicar no item Imprensa - Críticas e notícias sobre BD, visível aqui por baixo no rodapé
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4 comentários:
Obrigado pelo destaque. Foi difícil escolher o que incluir... Muitas as hipóteses e um papel muito grande da bd na minha formação, pelo que 2 em 5 referências foi o míni9mo aceitável.
Abraço.
Caro Paulo Guinote
Pela minha parte também lhe agradeço a atenção que dedica ao meu blogue, como este comentário demonstra.
E felicito-o, também aqui, pela demonstração de frontalidade e desinibição relativamente aos preconceitos bacocos que sempre existiram (e dificilmente erradicáveis) no que se refere à BD.
Abraço.
GL
Tão verdadeiras as palavras dedicadas à "Mafalda" e à sua intemporalidade.
cumprimentos
Viva, Loot
Agradeço a visita.
Estou inteiramente de acordo com essa opinião.
Abraço.
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