terça-feira, janeiro 18, 2011

Exposições BD Avulsas (V) - Catálogos BD (I) - Catálogo da Exposição "Tinta nos Nervos"





































Se de uma exposição de banda desenhada não for editado catálogo, dela quase não restará memória para a posteridade.

O comissário da exposição de BD "Tinta nos Nervos", Pedro Vieira de Moura tem, com absoluta certeza, essa noção, e por isso o catálogo fez-se.

Fez-se, e reconheçamo-lo: com uma qualidade singular, como objecto gráfico e bem assim na sua função de preservar o registo do evento e respectivos participantes, reproduzindo algumas das pranchas de cada um dos autores/artistas expostos.

É de Filipe Abranches a composição que ilustra a página inicial (tal como aqui no presente poste), prancha pertencente à obra História de Lisboa, vol.2, que teve texto de suporte do professor A.H.Oliveira Marques.

Seguem-se reproduções de pranchas de BD ou pormenores das assinadas pelos restantes quarenta seleccionados, numa sequência que não segue o alinhamento da exposição, apenas respeitando a ordem alfabética dos apelidos dos autores, ou, de alguns deles, apenas o pseudónimo.

Vejamos, pois, como vão surgindo as amostras gráficas dos autores, à medida que se folheiam as páginas do catálogo:

Filipe Abranches, Isabel Baraona, Eduardo Batarda,
Bruno Borges, Carlos Botelho, Pedro "Burgos", Richard Câmara, Miguel Carneiro, Isabel Carvalho, Mauro Cerqueira,
Diniz Conefrey, Ana Cortesão, Marcos Farrajota, João Fazenda, José Carlos Fernandes, Alice Geirinhas,
António Jorge Gonçalves, Luís Henriques, "Janus",
"Jucifer" (Joana Figueiredo), André Lemos, Daniel Lima,
Isabel Lobinho, Tiago Manuel (através dos seus heterónimos "Max Tilmann", "Murai Toyonobu", "Terry Morgan" - em que as iniciais T e M do nome verdadeiro do autor estão sempre presentes...),
Marco Mendes, Victor (é assim o nome dele, e não Vítor como está no catálogo) Mesquita, Paulo Monteiro, Susa Monteiro,
Pedro Nora, "Pepedelrey", Teresa Câmara Pestana,
Carlos Pinheiro, Rafael Bordalo Pinheiro, João Maio Pinto, Miguel Rocha, Nuno Saraiva, Cátia Serrão, Nuno Sousa,
Maria João Worm, Pedro Zamith, Carlos Zíngaro.

Entremeando as imagens, como se fossem intervalos, surgem três ensaios sobre BD (*) escritos por Sara Figueiredo Costa, Domingos Isabelinho e Pedro Vieira de Moura.

A finalizar a bem planificada obra surgem biografias de todos os autores participantes, além das dos três ensaístas/críticos responsáveis pelos excelentes estudos que valorizam e completam o volume.

Uma curiosidade: como prefácio, na badana do livro, pode ler-se um texto assinado por José Berardo, Presidente Honorário - Fundação de Arte Moderna e Contemporânea - Colecção Berardo.

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Autoria das imagens visíveis no topo da postagem:

1. Barbara Says... (capa)
2. Filipe Abranches
3. Eduardo Batarda
4. Isabel Carvalho
5. Diniz Conefrey
6. Ana Cortesão
7. Marcos Farrajota
8. João Fazenda
9. José Carlos Fernandes
10. Alice Geirinhas
11. Janus
12. André Lemos
13. Marco Mendes
14. Victor Mesquita
15. Paulo Monteiro
16. Susa Monteiro
17. Pedro Nora
18. Pepedelrey
19. Teresa Câmara Pestana
20. Carlos Pinheiro
21. Rafael Bordalo Pinheiro
22. João Maio Pinto
23. Miguel Rocha
24. Maria João Worm
25. Pedro Zamith
26. Carlos Zíngaro
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(*) Não seria justo que na presente postagem apenas fossem mostradas imagens de algumas das bandas desenhadas reproduzidas no catálogo, também é pertinente que sejam divulgados excertos - dos textos, pelo menos, porque óptimo seria reproduzi-los totalmente - da autoria dos três ensaístas antes nomeados, em que se inclui o próprio comissário da exposição.

Diz Sara Figueiredo Costa:
"(...) Durante a década de 1990, a percepção da banda desenhada como uma linguagem destinada às leituras juvenis ou nostálgicas (quando não como um género, facto tão decorrente do desconhecimento como da limitação de registos editados) altera-se, ainda que ligeiramente, se atentarmos na herança que tal alteração deixou no que à percepção social diz respeito. O crescimento do mercado editorial , com o consequente aumento dos canais de distribuição e venda de livros, beneficiou a banda desenhada, permitindo que livros com registos mais experimentais encontrassem o seu espaço nas livrarias, agora atentas a outros modos de trabalhar a linguagem da banda desenhada. Por outro lado, os espaços de divulgação e exposição beneficiaram de uma evolução no que toca à diversidade, mantendo-se festivais como o da Amadora, onde a presença da banda desenhada de vocação receptiva mais massiva sempre marcou presença, acompanhada de exibições pontuais de trabalhos e autores exteriores ao mainstream franco-belga e norte-americano, mas surgindo outros, como o Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto e o Salão Lisboa de Ilustração e Banda Desenhada, fundamentais para a criação de um público que não se limitava aos fãs de banda desenhada, mas que se compunha igualmente por interessados pelas áreas da literatura, das artes visuais, do cinema de autor...
(...) No início deste século uma outra conjuntura se formou, alterando o panorama que se criara nos anos de 1990 e definindo um outro, bem diferente, marcado pela contenção económica e pela redução do volume de edição. O entusiasmo da década de 1990 em torno da edição criou uma ilusão que não correspondia, apesar de todas as melhorias apontadas, à realidade de um mercado pequeno, com livrarias pouco preparadas para definirem secções de banda desenhada que ultrapassassem a etiqueta do "infanto-juvenil" e com um espaço limitado na imprensa para a divulgação e a crítica de livros em geral. Por outro lado, talvez a ausência de uma preparação sólida para lidar com a gestão editorial e os condicionalismos do mercado do livro por parte de muitos editores (nem sempre com a experiência que um mercado como este exige num país cujo nível geral de leitura nunca foi muito elevado) tenha sido responsável por um entusiasmo que se saldou no estrangulamento do mercado, com o exíguo espaço disponível para a banda desenhada sufocado por centenas de títulos a sair ao mesmo tempo.
Perspectivas de futuro: a edição debanda desenhada no cenário da aldeia global
(...) As peculiaridades do mercado editorial e o acesso cada vez mais democrático às tecnologias da informação e da comunicação têm levado os autores portugueses a procurarem caminhos alternativos ao processo tradicional da edição. Em alguns casos, os mercados estrangeiros têm constituído um terreno fértil, tanto no plano comercial como no plano do intercâmbio artístico e da definição de espaços de publicação e divulgação. Os exemplos de autores que conseguiram encontrar o seu espaço na indústria dos comics americanos, muitas vezes integrando equipas amplas e com vários trabalhos a decorrerem em simultâneo, são significativas, e aí encontramos autores como João Lemos, Eliseu Gouveia ou Ana Freitas. Por outro lado, a facilidade em estabelecer contactos, trocas e parcerias com autores e projectos editoriais e artísticos de qualquer ponto do mundo tem aberto vias interessantes de colaboração, levando autores como André Lemos a publicar na Rússia (Mediaeval Spectres Soaked in Syrup, Pipe and Horse, 2010) ou em França (Some Dishonourable Creatures Attacked Us, Boom Books, 2010), ou Filipe Abranches a integrar uma antologia publicada em Espanha (Lanza en el Astillero, edição da Comunidade de Castilla La Mancha, 2006) (...) passando pela edição de Merci Patron, de Rui Lacas, em França (Paquet 2008), antes mesmo da edição portuguesa, ou pelo trabalho de Isabel Carvalho incluído no volume colectivo ...de ellas, publicado pelas Ediciones de Ponent (2006).
Também o acesso facilitado às tecnologias associadas à edição, sobretudo com o desenvolvimento da impressão digital e com a vulgarização de empresas que oferecem serviços que começam na pré-impressão e culminam na entrega do número de exemplares combinado à porta de casa do autor, autores sem espaço no mercado tradicional (e sem intenção de adaptarem a sua criação ao registo considerado "vendável" pelas editoras) têm editado o seu próprio trabalho, individualmente ou em plataformas colectivas. É esse o caso de artistas como André Lemos, Jucifer, Marco Mendes ou Miguel Carneiro, e de projectos como a Opuntia Books, A Mula ou a Chili Com Carne, bem como de editoras de pequena dimensão mas com um trabalho cuidadosamente gerido, como a Kingpin Books. (...)"
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Diz Domingos Isabelinho
"(...) Até há pouco tempo não existiam verdadeiramente historiadores de arte a trabalhar na área [da BD] (excepção feita a David Kunzle, que não chegou ao século XX na sua obra monumental) e muito poucos são os que existem hoje. A esmagadora maioria dos que realmente pretendiam fazer história vinham directamente do fandom e isso nota-se nos seus tiques de coleccionador (aquilo a que Renaud Chavanne chamou: "o complexo polaco"). É significativo, por exemplo, que estes autênticos historiadores-fãs nunca denunciem,quando referem o slapstick, a farsa e a sátira da primeira metade do século XX (ou mesmo mais recente), os laivos racistas e xenófobos (contra negros, asiáticos e irlandeses, principalmente) que se podem detectar facilmente neste tipo de banda desenhada. Idem para a aventura infantil maniqueísta, em que a forma é narratologicamente "formulaica" e linear, graficamente naturalista (sem abandonar as dominantes coloridas primárias e o desenho a tinta-da-china), a qual decorre, as mais das vezes, em locais exóticos em que os naturais (e os sidekicks dos heróis) são apresentados como subalternos (quando não de inteligência inferior).
Estas verdadeiras apologias da violência e do colonialismo são, para além disso, e como se não bastasse, extremamente misóginas pois as jovens e eternas namoradas dos heróis são apresentadas como seres passivos constantemente a necessitar de resgate (quando não brilham pela sua quase total ausência, como no caso da banda desenhada franco-belga da primeira metade do século XX).
(...) Mesmo que encaremos a banda desenhada de forma restrita, há mudanças de rumo, inflexões, revoluções, evoluções. Os primeiros sinais de mudança surgiram nos anos de 1960 com o chamado movimento underground. A contracultura desses anos trouxe uma ruptura com a indústria da banda desenhada. O movimento underground norte-americano introduziu temas "adultos" (o consumo de droga, o sexo), mas continuou a obedecer a estéticas industriais. O nome do underground mais importante a reter é, sem dúvida, o de Robert Crumb (o qual é tão fiel à sua condição de fã dos bonecos dos jornais e da Disney que, junto com a sua iconoclastia, herda o racismo e a misoginia referidos acima, embora se possa também argumentar que o olhar de Crumb é pós-moderno e irónico). Pessoalmente, no entanto, creio que a obra autobiográfica de Justin Green, Binky Brown Meets the Holy Virgin Mary (um ensaio sobre o complexo de culpa provocado por uma educação católica estrita), é a mais interessante e influente a surgir neste período. Outro autor underground importante, mas com uma personalidade que já reflecte o denominado período alternativo posterior (a saber: o abandono do slapstick e da sátira em favor de uma abordagem séria à sua própria vida quotidiana) é o argumentista Harvey Pekar.
Na Europa é importante o espírito que levou ao Maio de 68 e os ventos de libertação que este movimento político trouxe. Surgem algumas obras em que a mulher é protagonista, mas em que o olhar privilegiado (eroticizado) é o do criador (homem). É uma falsa libertação da mulher porque implica um olhar masculino sobre as heroínas (em aventuras que não diferem muito das fantasias infanto-juvenis de épocas passadas (refiro-me concretamente a Barbarella de Jean-Claude Forest ou Pravda La Survireuse com desenho de Guy Pellaert e guião de Pascal Thomas). (O verdadeiro feminismo pode encontrar-se nos Estados Unidos no comic book Wimmen's Comix e em França na revista Ah! Nana.) O mais interessante destas obras (e das de Moebius e Druillet, já agora) está no psicadelismo gráfico, expressão também privilegiada na efémera revista portuguesa Visão (doze números publicados entre 1975 e 1976 pela Edibanda, de Lisboa), obviamente ligada ao movimento hippie e ao consumo de estupefacientes.
Se Harvey Pekar teve ligações ao underground (Robert Crumb colaborou com ele), o também argumentista argentino Héctor Germán Oesterheld e o italiano Guido Buzzelli fazem figura de alienígenas porque produziram obras adultas (embora dirigidas, em princípio, aos adolescentes, no caso do primeiro, o qual sabia perfeitamente que os pais dos petizes também liam as suas histórias humanistas) e ideologicamente complexas que contrastam com o simplismo da banda desenhada infantilizada do seu tempo. Oesterheld criou uma ética de sacrifício que é o oposto do heroísmo machista das revistas para adolescentes. (Refiro-me sobretudoà série Ernie Pike). A obra e a vida de Oesterheld cruzam-se bizarramente porque ele, as suas quatro filhas e dois genros foram vítimas da ditadura militar argentina dos anos de 1970; com Oesterheld trabalharam os desenhadores Carlos Roume, Solano López, Hugo Pratt e Alberto Breccia, todos excelentes. Quanto a Buzzelli, questionou as utopias e o maniqueísmo, nas suas histórias Zil Zelub ou L'Agnone - uma mistura de ovelha e leão - onde o bem é tão ou mais letal do que o mal. Foi um dos primeiros artistas de banda desenhada a auto-representar-se como personagem em sequências oníricas onde recorda a sua própria infância. Foi também pioneiro do que mais tarde se chamou "graphic novel" (romance gráfico), expressão utilizada para substituir a desacreditada designação "comics" (banda desenhada). Tal sucedeu sob os auspícios do BISAC (Book Industry Standards and Communications) o qual autorizou a utilização da etiqueta "graphic novels" nas estantes das livrarias normais retirando, assim, a banda desenhada mais culta do gueto das livrarias especializadas. Em 1967 a revista japonesa Garo começa a publicar o enorme Yoshiharu Tsuge, autor de culto com uma voz onírica e poética muito próprias, autor da "banda desenhada do eu". Em França, Fred (Othon Aristides) produziu uma obra extremamente pessoal. Escusado será dizer que é com eles que começa verdadeiramente a arte da banda desenhada no campo restrito. Os artistas de banda desenhada libertavam-se finalmente da canga comercial para se expressarem livremente de forma adulta e responsável tal como a sociedade permite fazer aos outros meninos que brincam no pátio das artes. Para que tal fosse possível, um certo quebrar de barreiras rígidas entre a baixa e a alta cultura foi muito importante. Para que a noção de liberdade criativa proliferasse, sobretudo a partir do início dos anos 1990, a já citada ideia de romance gráfico foi também fundamental. Apesar disso, a verdadeira arte da banda desenhada continua num certo limbo comercial, sem conseguir completar a sua legitimação cultural.
(...) Não é fácil, neste breve resumo, dar uma ideia sequer aproximada da complexidade dos problemas que estão em jogo, das questões mais discutíveis e discutidas, da real diversidade desta arte. Basta olhar para os quiosques das nossas cidades para perceber como a banda desenhada já não mora ali. Da rua popular a banda desenhada passou para a livraria burguesa, mas, mesmo aí, a sobrevivência não se encontra assegurada. Talvez seja necessário que os livros de banda desenhada deixem as prateleiras envergonhadas do fundo e venham para espaços mais nobres dialogar com os representantes da literatura e da arte. Argumentos, penso que ficou demonstrado, já não parecem faltar-lhes.
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Diz Pedro Vieira de Moura
"(...) O propósito da exposição Tinta nos Nervos é dar a ver parte da produção da banda desenhada portuguesa, através de um foco de análise estética e de rigor artístico. Isto significa que existe um rol de outros pontos de partida que foram colocados de lado. O sucesso comercial, o seu papel como forma de entretenimento infantil, de massas ou outro, a sua relação com outros meios de expressão ou com os modos de distribuição, não são parte do instrumentário da escolha presente. Apesar da presença de dois autores históricos - Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) e Carlos Botelho (1899-1982) - também não se pretende dar a ver qualquer tipo de "evolução" ou linha histórica; e a incidência em autores vivos tenta abordar várias gerações, diversos modos de trabalho, e muitas presenças nos imaginários desta área, ainda que haja uma incidência maior para as transformações e as liberdades cada vez maiores que a contemporaneidade permitiu a esta linguagem. Dar a ver, portanto, uma escolha que, por um lado, emprega critérios híbridos que procuram respeitar a natureza já de si híbrida da própria banda desenhada, e por outro lado, se pode ser reduzida a uma fórmula, será a de "banda desenhada de autor".
(...) A vida da banda desenhada em espaços expositivos ou museológicos tem uma história tão simples quanto conturbada relativamente a outras disciplinas artísticas. Simples no sentido em que não conta com uma história longa e dispersa em casos que impeçam uma simples contagem; conturbada por cada um desses gestos se ter revestido de significados e métodos bem diversos entre si. Boa parte dessas exposições reveste-se de um encontro entre a high brow art, menos cotejando-se entre si do que do que descobrindo os aspectos mais superficiais de contacto (como a figuração , por exemplo), e podemos definir 1967 como uma possível data inaugural para esse diálogo, ano em que se apresentou a exposição Bande Dessinée et Figuration Narrative, em Paris, no Musée des Arts Décoratifs - Palais du Louvre.
Inversamente, isto é, exposições em espaços institucionais museológicos a albergar a banda desenhada por ela mesma, podemos apontar como exemplo a exposição que o Hammer Museum e o Museum of Contemporary Art, ambos em Los Angeles, co-organizaram em em 2005, intitulada Masters of American Comics, exclusivamente composta por trabalhos de banda desenhada de quinze dos seus "grandes nomes", e a exposição de Hergé, comissariada por Nick Rodwell e Laurent Le Non, no Centre Georges Pompidou, em Paris, em 2007. Uma outra exposição marcante, que levantou grandes e profundas questões sobre a forma como se poderá expor a "arte original" da banda desenhada, foi Les Musées Imaginaires de la Bande Dessinée, na Cité internationale de la bande dessinée et de l'image, em Angoulême, em 2002, na qual se mostravam trabalhos desta arte segundo os modelos expositivos de museus tais como os de história natural, de ciências e técnicas, belas-artes, ou mesmo os de uma galeria de arte contemporânea.
Em Portugal, poderão apontar-se as pequenas exposições monográficas que vão pautando os calendários de várias acções camarárias e/ou institucionais, as participações de artistas individuais - enquanto autores de banda desenhada - em pequenas ou médias mostras ou acções ditas "alternativas", e as exposições inerentes aos festivais ou instituições associadas à banda desenhada, um pouco por todo o país, as mais das vezes associadas a um lançamento editorial, a um capítulo histórico alvo de uma redescoberta ou reapresentação, uma data comemorativa, um concurso, uma antologia temática e/ou nacional, ou simplesmente a algo já empacotado de fora. Contar-se-ão pelos dedos aqueles que se pautam por critérios mais acertadamente intrínsecos ou estéticos da própria banda desenhada. Uma palavra de destaque deve ir para a exposição apresentada no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, intitulada Banda Desenhada Portuguesa, comissariada por João Paiva Boléo e Carlos Bandeiras Pinheiro, em 2000. No entanto, essa exposição, que trouxe à luz um conjunto memorável de arte original de muitos dos autores que compõem a história da banda desenhada publicada em Portugal era isso mesmo: elementos históricos, sendo esse o critério que dirigia essa acção. Outra menção deve ir para o Zalão de Danda Besenhada, cujo foco circunscrito era feito sobre alguns autores independentes, apresentado na galeria Zé dos Bois, em 2000 (dos autores presentes em Tinta nos Nervos participaram Isabel Carvalho, Pedro Zamith, Marcos Farrajota e Janus), e que daria origem à editora MMMNNNRRRG. Presentemente, talvez possamos apontar como espaços expositivos regularmente abertos à banda desenhada as galerias Plumba, Dama Aflita, e a galeria da livraria especializada Mundo Fantasma, coincidentemente todas elas no Porto, mas todas elas com estratégias e focos diversificados entre si. (...)
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Título: Tinta nos Nervos Banda Desenhada Portuguesa
Título da capa impresso a cores sobre autocolante
Catálogo impresso em offset sobre papel Inaset e Popset cinza. Encadernação em bifólios fresados e colados à capa
198 páginas
Dimensões: 21x27cm
Preço:25€
Data da edição: Janeiro 2011
Editores: Museu Colecção Berardo e Centro Cultural de Belém
Praça do Império
1449-003 Lisboa
Livro-catálogo à venda na livraria do CCB
Distribuição: Chili Com Carne, pedidos encomendas para ccc@chilicomcarne.com
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Esta postagem é a "Parte 3 de 3", completando as imediatamente anteriores de 9 e 14 Jan., relacionadas com a exposição BD "Tinta nos Nervos" .

8 comentários:

Os Positivos disse...

Caro Geraldes, não sei se a sua selecção de pranchas aqui apresentada foi deliberada ou não nesse sentido, mas induz em erro quem não leu o catálogo... boa parte deste compõem-se de ilustrações, não de bd.

Pepe disse...

Informação a quem assinou este comentário: algunmas das ditas ilustrações expostas, como é rferido neste comentário, não são ilustrações mas sim páginas de BD's. Como deve ser do conhecimento de quem escreveu este comentário, a escrita de BD não tem limites nem regras obrigatórias sendo assim, reserva-se a qualquer autor o direito de criar. Liberdade máxima de expressão. A escrita de BD mistura-se muitas vezes com outras escritas e outros códigos de expressão artistica. Lino, desculpa estar a usar o teu blog desta maneira.

Os Positivos disse...

Boa Pepe. Mas olha, metafisica à parte, há bd e há ilustração, ou não? Bom sei que o "estado da arte" :) da bd nacional precisa dos reforços onde os encontra, mas... Não confundes fotografia com cinema, pois não? A sequencialidade - imagem, texto ou tema - ainda faz parte da definição ou esta tem que se rasgar ainda mais para conseguir ter massa critica para amostra? (E mesmo a sequência de tema tem o que se lhe diga... O período azul do picasso tem uma sequência e ninguém lhe chama de bd... e a "sequência do texto e imagem" também raspa ali no abrangente... ainda não chamamos às fotonovelas de bd...).

Apenas observo que o Geraldes, intencionalmente ou não, optou por postar pranchas de bd e omitiu as ilustração - sem qualquer juízo de valor da minha parte, Pepe: pergunta tu ao Geraldes o porquê.

Anónimo disse...

"O propósito da exposição Tinta nos Nervos é dar a ver parte da produção da banda desenhada portuguesa, através de um foco de análise estética e de rigor artístico." [...]

O Pedro Moura só pode estar a brincar quando faz uma afirmação destas! Alguns dos trabalhos que lá estão, ficam muito longe destes propósitos! Santa paciência!
D.I.

Geraldes Lino disse...

Caro "Os Positivos" (sei o seu nome, mas é evidente que você quer manter o anonimato - coisa com que embirro, devo dizer - usando o título do seu fanzine), respondo ao seu comentário: de facto, a selecção que fiz entre as pranchas reproduzidas no catálogo foi deliberada (só não estão todas as que me apetecia reproduzir, para não tornar demasiado extenso o "post") e, obviamente, não iria escolher aquelas que considero claramente ilustrações e não BD (aliás, disse pessoalmente ao Pedro Moura, no dia da inauguração, que considerava ilustrações algumas das imagens da autoria de Isabel Baraona).
Mas não estou de acordo com a sua afirmação de que boa parte do catálogo seja de ilustrações.

Geraldes Lino disse...

Olá Pepedelrey. Agradeço a tua visita, és sempre bem vindo, e gostei de ler os teus argumentos em defesa do direito de criar.
Mas permito-me dizer-te que também considero ser inquestionável haver diferença entre ilustrações simples, isoladas de qualquer contexto ficcional, e a BD, por muito que esta se afaste, por vezes, dos cânones que a definem, em busca da inovação na linguagem.

Pepe disse...

Odeio anónimos... mas infelizmente é esta a mentalidade tuga actual...
Lino, venho muitas vezes ao teu blog só não comento muito porque não gosto de discutir ideias ou assuntos sem olhar nos olhos dos outros.
Sabes que muitas vezes escrevo BD usando uma só imagem por página, como foi o caso do livro Virgin's trip (colaborações dos Mestres Jorge Coelho, Rui Lacas e Rui Gamito) em que cada página era uma vinheta e essa vinheta continha toda a acção do momento ou pensamento.
As fronteiras podem e devem ser quebradas
Não defendo nem aceito qualquer tipo de fanatismo radical. A BD é uam expressão artistica muito rica e que, felizmente, vai da linguagem básica à mais complexa. As regras de paginação e de edição não são fechadas. Tudo é permitido e todos os códigos de comunicação podem ser utilizados.
Lino, sim, é verdade que se pode confundir muitas vezes páginas de BD com ilustração. Mas a verdade é que nem sempre a BD necessita de ter uma sequência simples ou óbvia. Tudo começa pelo objectivo e a necessidade que o ou os autores definem para essa obra.
São tantos os Grandes Mestres da BD mundiais que se exprimem por ilustrações simples e sem sequência entre elas, para criar e escrever uma obra. Assim de repente, Moebius... Claro que se formos só leitores de um género de BD, não iremos aceitar a obra desse Mestre como realmente importante...
Respeito a páginação clássica e a paginação mais experimentalista. Não aceito e luto contra, a pequenez das mentes que motivado(a)s por invejas ou outras emoções infantis, criticam e tentam destruir quem faz.
Perdoa-me Lino por estar a usar este teu blog mas realmente odeio gente com atitudes menos dignas e adultas.
Bem hajas, meu Amigo.

Os Positivos disse...

E agora para algo totalmente não relacionado:
um padre e um rabi entram no café,
-queres ir ver um filme?
-‘bora ai.
(...)
-chegamos. louco, hem?
-mas... isto é uma exposição de fotos.
-não sejas careta, isto é bué moderno
- isto são fotos. Em molduras. numa parede.
-não percebes nada, isto é uma expressão artistica muito rica! E se correres muito depressa, parece que se mexem!
-uh, yá, olha, xau ai.