segunda-feira, janeiro 16, 2006

Língua Portuguesa em mau estado: na Banda Desenhada, no Cartoon, nos Fanzines e na Internet (VI)-"Uma"(??) fanzine

Neste texto, inserido no "Aquinocanto", deveria estar escrito "e um novo fanzine vai aparecer"

Já tem sido escrito, com frequência, por estudiosos dos fanzines - nos quais me incluo, permito-me dizer - que o neologismo "fanzine", nascido nos Estados Unidos (o conhecido Frederic Wertham, no seu livro "The World of Fanzines", indica o ano de 1930 para o "Comet", iniciador do movimento) e absorvido na Europa nos anos mil novecentos e sessenta, sob o género masculino pelo facto de, na génese do vocábulo, estar o objecto literário, com imagens, o magazine, também popularizado em Portugal nessa época.

Fanzine, neologismo já com verbete em dicionário (pela primeira vez, na 8ª edição da Porto Editora), é formado pela contracção da palavra fan (fã, em português) e a última sílaba de magazine.

Logo, um fanzine é um magazine (equivalente a revista) feito, editado, por fãs de quaisquer temas, sendo a Banda Desenhada um dos mais frequentes.


Capa do fanzine "Aquinocanto", da autoria de João Rubim. O fanzine apresenta duas capas diferentes, sendo a outra desenhada por Manuel Brito
É o que acontece com os faneditores Manuel Brito e João Rubim, que editaram três números do fanzine "Aqui no Canto", e mais este agora, especial.
Note-se que em Espanha se diz "el fanzine" (em castelhano) e "o fanzine" (em galego)
Capa de "O Fanzine das Xornadas", editado aquando da realização das "VIII Xornadas de Banda Deseñada de Ourense" (na Galiza). Este fanzine espanhol é coordenado por Henrique Torreiro, "co patrocínio da Casa da Xuventude de Ourense, Concelleria da Cultura do Concello de Ourense e Dirección Xeral de Política Lingüística da Xunta de Galicia"

tal como acontece em França, visível no excerto de uma crítica extraída da revista "Vécu"

ou no Brasil, como se pode ver na imagem seguinte
Livro da autoria do fanzinista e estudioso brasileiro Henrique Magalhães
Custa-me dizer isto - sou português... - mas nós, que somos o país europeu com maior índice de analfabetismo, e com elevada percentagem de iliteracia, tínhamos de ser nós a criar esse absurdo linguístico que é mudar o género a um substantivo.

E o que é pior: quando pergunto a algum desses fanzinistas recentes, que dizem "a minha fanzine", por que motivo não dizem "o meu fanzine", respondem-me que é por ser uma revista, e como revista é uma palavra feminina...

E eu costumo objectar: então, como um pinheiro é uma árvore, temos de passar a dizer "uma pinheiro"?!
Uma engraçada tira de banda desenhada do brasileiro Laerte (in Diário de Notícias, 5 Jan. 2006)

Um universitário da Escola Superior de Design-ESAD, nas Caldas da Rainha - cidade onde há um buliçoso movimento fanzinístico -, reagindo à minha habitual discordância no uso do feminino para o fanzine dele, ripostou, com aquilo que começa a ser um chavão - já não é a primeira vez que oiço justificar asneiras com aquela frase -, "a língua portuguesa está sempre a modificar-se".
Eu sei disso, sou, também eu, entusiástico estudioso da matéria. Mas tenho a noção de que a componente mais visível dessa modificação é a constante absorção de vocábulos estrangeiros, aportuguesando-os por vezes, criando-se assim neologismos - bloguer ou bloguista, blogosfera, internauta, por exemplo.

Mas não há memória de, na língua portuguesa, ter havido mudança de género em algum substantivo. Estou a referir-me a mudanças correctas.

Porque, por iliteracia ou pura ignorância, há quem mude o género masculino da palavra grama (peso) para feminino.

O ano passado, uma funcionária dos correios, aqui em Lisboa, disse-me que a minha carta - com um fanzine dentro - pesava "vinte e duas gramas". Eu perguntei-lhe
se ela também diria, para uma encomenda pesada, "vinte e duas quilogramas"...

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"Post" remissivo

Deste mesmo tema há 3 "posts" afixados anteriormente, nas seguintes datas:

2005 - Out. 27 - "vê-mo-nos"; Nov.12 - "pareçe"; "esqueçendo"; Nov. 28 - "gingeira";

Dez.11 - "Benvindos"; 2006, Jan.7 - "Inflacção"

6 comentários:

MMMNNNRRRG disse...

é issu aí cara!
o piô é essa gentxi da música qui começou a falá A fanzini, o pessoáu do quadrinho é qui fala correctu!

Geraldes Lino disse...

No que se refere a ter escrito "espanóis" em vez de espanhóis", o meu amigo Machado-Dias percebeu perfeitamente que não se tratou de erro ortográfico, apenas uma gralha (é muito diferente, embora haja quem ainda não tenha percebido a diferença), uma gralha, dizia, motivada por não teclar a letra h, com a rapidez com que escrevi.
Quanto a essa de os galegos (quais? quantos? quão representativos do sentir de toda a população da Galiza?).
Por enquanto a Espnha é um país, e não um conjunto de pequenos países. Se cada recanto que tem uma língua (ou, por vezes, um dialecto) diferente se tornasse independente, a Suíça não seria um país uno, a pequena Holanda estaria dividida em duas partes, a flamengófona e a francófona,e haveria mais exemplos.
Um abraço.

Geraldes Lino disse...

Perdão, quando disse Holanda queria dizer Bélgica.

Anónimo disse...

Olá meu Amigo Geraldes Lino!
Fala o seu Amigo Tex (...risos...)
A propósito deste tema, eu também sempre chamei "Um fanzine", mas curiosamente, hoje recebi o Tutto Tex 417 de Janeiro de 2006, edição italiana e no editorial o Sergio Bonelli curiosamente dedica-o a un fanzine, mas está lá escrito: "... la storia de una fanzine..."

Um abraço,

José Carlos Francisco

Anónimo disse...

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