segunda-feira, março 19, 2007
Festivais, Salões BD e afins - (Lisboa) - 1º Festival de Banda Desenhada de Lisboa, organizado pelo CPBD em 19 Março 1982, evento pioneiro no género em Portugal
Pequeno cartaz (formato A4), da autoria de Luís Faria (ex Luís Nunes), realizado para divulgação do evento bedéfilo pioneiro português, realizado em Lisboa
O primeiro Festival de Banda Desenhada de Lisboa inaugurou-se no dia 19 de Março de 1982. Há vinte e cinco anos, precisamente.
Como se pode ver pelo cartaz que ilustra este "post" (e desculpe-se ao grafista aquele erro ortográfico - que muito me irritou na altura - de na palavra Francês ter usado um "ç" antes da vogal "e", erro que ainda hoje continua a ser frequente...), o evento decorreu entre 19 e 28 de Março, na antiga FIL, aproveitando um espaço disponível no andar superior, aquando da realização do certame "Nauticampo".
O lançamento de uma iniciativa desse tipo há muito que existia no pensamento dos dirigentes do Clube Português de Banda Desenhada - CPBD (de que este bloguista fazia parte), que tinha sido fundado em 28 de Junho de 1976, como colectividade amadora, privada, e sem intuitos lucrativos.
A oportunidade acabou por surgir, na sequência de uma reunião na FIL entre membros das entidades Embaixada de França, Livraria Bertrand e CPBD. Embora a intenção inicial, defendida pelo representante da Bertrand, Vasco Granja, fosse apenas a montagem de uma exposição de banda desenhada franco-belga e portuguesa, o representante do CPBD (por acaso, o autor destas linhas) lançou a ideia de se alargar o âmbito do acontecimento e elevá-lo à categoria de festival.
Como principal responsável das actividades paralelas às exposições previstas, o Clube, além da mostra de BD portuguesa, encarregou-se de promover diversos colóquios, mesas redondas e sessões de "BD ao Vivo".
Tomando por modelo o pormenor relevante da existência de troféus em festivais congéneres, com relevo para o "Yellow Kid" de Lucca, em Itália (evento pioneiro europeu), e o "Alfred" de Angoulême (posteriormente substituído pelo "Alph'Art"), o CPBD imediatamente criou um troféu a que deu o nome de "Mosquito", em homenagem àquela emblemática revista portuguesa.
Imagem do troféu "O Mosquito", retirada da capa da revista Selecções BD (nº 22-1ª série), publicação classificada, através de votação entre os sócios do CPBD, como "Melhor revista de BD do ano de 1988", troféu entregue à editora "Meribérica/Liber" no 8º Festival de Banda Desenhada - Lisboa 89
Esse troféu passou desde então a ser atribuído anualmente a quem se distinguisse na edição e realização de banda desenhada - neste caso, desenhadores e argumentistas -, aos mais antigos autores com obra de mérito, à melhor banda desenhada, e também a quem prestasse valioso contributo jornalístico à BD, uma ideia inédita na época.
Em 1987, a Direcção do CPBD resolveu criar um troféu chamado "Vinheta", na intenção de galardoar a melhor banda desenhada e o melhor fanzine de cada ano. Também nisto o CPBD criou precedentes em Portugal.
Voltando ao festival: ao nível de localização, devido a dificuldades de vária ordem, o evento teve sempre uma vida errante (facto repetido, algo surpreendentemente, em anos recentes, pelo Salão Lisboa de Ilustração e Banda Desenhada, isto apesar de organizado pela Bedeteca de Lisboa, equipamento cultural com apoio da Câmara Municipal de Lisboa).
Esse carácter ambulatório fica patente com a descrição dos locais que o Festival do CPBD utilizou, após os primeiros cinco anos na FIL (em que o espaço foi minguando gradualmente e ter decidido, após esse período inicial, procurar novo poiso); consequentemente, em 1987, na 6ª edição, deslocou-se para o Forum Picoas, graças ao apoio da organização "Regiforum". No ano seguinte, o festival voltou à FIL; em 1989, nova mudança, desta vez para o Espaço Poligrupo, da Rádio Renascença. Em 1990, na sua 9ª edição, regressou ao Forum Picoas. Mas no ano seguinte, devido à imprevista exigência ao CPBD de pagamento de incomportável quantia, o clube viu-se na contingência de procurar nova localização, que acabou por ser no belo edifício do Palácio da Independência (ao Rossio), em instalações cedidas gratuitamente pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal - SHIP.
No começo, o espaço atribuído ao festival era extremamente limitado; dois anos depois, as condições melhoravam de forma substancial, visto que passava a realizar-se no Salão Nobre e numa dependência adjacente; em 1995, o evento era mudado para diferente local, com piores condições, menos espaço, e exigência de pagamento, daí ter-se efectuado, pela última e definitiva vez, em 1996.
Tal irregularidade, tanto de localização como de datas (estas sempre dependentes das disponibilidades dos locais onde se ia realizando), impediram uma maior divulgação e implantação definitiva como realização artística e cultural.
Apesar destas limitações, mais as de índole económica da entidade organizadora que sempre afectaram o CPBD, o festival possibilitou aos apreciadores portugueses, a oportunidade de contactarem pessoalmente, pela primeira vez em território nacional, com figuras europeias de grande prestígio:
Jean (Moebius) Giraud, Jean-Claude Forest, Claude Moliterni, Danie Dubos, Jesus Blasco, Antonio Hernandez Palacios. Mas também Bilal e Christin, vindos a Portugal em 1986 a convite da Embaixada de França, a fim de participarem na "BDBOOM" (exposição de Banda Desenhada efectuada em simultâneo no CAM-Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian e no Palácio Foz), acabaram por colaborar na quinta edição do festival.
É de referir que Bilal realizou uma impressionante sessão de "BD ao Vivo", só comparável à que no mesmo local (FIL) protagonizara Moebius, em 1982, num inesquecível "tac-au-tac" com Carlos Barradas.
Por tudo isto, pode afirmar-se que este evento anual, malgrado a sua pequena dimensão, já começava a ser reconhecido, essencialmente pelo público bedéfilo de Lisboa, como elemento importante na divulgação da banda desenhada.
Infelizmente, por cansaço, desânimo, e até desmoralização de alguns dos membros mais activos do clube, o Festival de Banda Desenhada de Lisboa teve a sua última edição, a décima quinta, em 1996.
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6 comentários:
Meu caro Geraldes Lino:
Gostei imenso deste "post" porque me pôs ao corrente de muitos pormenores que eu desconhecia acerca do Festival BD de Lisboa que o CPBD organizou durante década e meia. E permito-me fazer-te uma sugestão: porque não colocar em fanzine a história do Festival? Sim, porque o "post" não pode dizer tudo! De certeza que haverá muito mais para contar (a lista de premiados, os autores presentes...) e para mostrar (fotos, cartazes, desenhos autografados...).
Não sei o que achas desta sugestão: é bem provável que até já te tenha ocorrido mas, se assim não foi, pensa nisso. Creio que seria um fanzine muito interessante...
Abraço e, já agora, parabéns pela efeméride!
Caro Carlos Rico (sei que és tu devido ao teor do comentário, visto que o dito cujo não vem assinado).
Não, não me tinha ocorrido essa ideia. Mas, por mais do que uma razão, não lhe vou pegar. Estou assoberbado de projectos, uns que gostaria de concretizar, outros que estou, neste momento, a trabalhar neles. Isto já não falando da minha colaboração com o semanário Mundo Universitário que me dá mais trabalho do que pode parecer a quem está de fora; a Tertúlia BD de Lisboa; os meus trabalhos de revisão ortográfica; manter actualizados os meus dois blogues (mais os dois sítios em que tenho trabalho mais espaçado), tempo para leitura (indispensável), etc.
Outra razão é a de que há uma competente dupla a trabalhar no Boletim CPBD (actualmente a única actividade daquela colectividade amadora, que já nem tem existência oficial, porque há anos que não cumpre as formalidades mínimas, tipo asssembleia geral anual, etc), e essa dupla tem uma programação basicamente virada para a publicação de séries antigas, homenagens a revistas e personalidades, como podes ver no meu blog fanzinesdebandadesenhada.blogspot.com, onde tenho registado as mais recentes edições do Boletim do Clube Português de Banda Desenhada, que eu e o Leonardo De Sá classificámos como fanzine no nosso livro "Dédalo dos Fanzines".
Aproveito para te pedir novidades do próximo Salão BD de Moura, de que és a força motriz.
Abraço.
Esqueci-me de mencionar, entre as minhas tarefas, a de fazedor de fanzines (faneditor, claro, mas uma vez fiz um "workshop" sobre o tema a que dei o nome de "Faz Fanzines", daí ter-me saído esta frase), e os fanzines que quero fazer, para além dos mensais Tertúlia BDzine e Folha Volante, são o Efeméride nº 2, que está a ser montado, e o próximo será o Eros nº 10, a comemorar 20 anos passados após o seu início.
Olá Lino:
Antes de mais, eu assinei o comentário que fiz. Acontece é que o título do "post" é tão extenso que tapou o meu nome e a saudação inicial!
Em relação à tua resposta, é natural que não tenhas muito tempo para pensar sequer em publicar o fanzine pois tu não descansas no meio de tanto trabalho! Por um lado é pena, por outro, ainda bem que estás empenhado em tantos projectos interessantes.
Quanto ao Moura BD (que decorrerá entre 26 de Maio e 3 de Junho, com o dia das homenagens a decorrer no sábado, 2 de Junho), durante esta semana, lá para quinta ou sexta-feira, já poderemos divulgar praticamente todo o programa.
Aguarda...
Desta 1ª exposição de BD de Lisboa recordo em especial o incidente com a chegada de Jean Giraud a Lisboa que não tendo encontrado ninguém no aeroporto à sua espera se "desenrascou" com as informações que tinha e lá foi de táxi para a Junqueira onde o aguardava um auditório à pinha e ansioso pela chegada do mestre que tardava. Coube-me a mim e mais alguns jovens sócios do CPBD subir ao palco e tentar "entreter" a aquela multidão que ao fim de uma hora de espera começava a ficar impaciente e a protestar ruidosamente. Passados mais 30 anos já não me ocorre o que teremos dito ou feito para acalmar os ânimos mas lembro-me isso sim do suor que me corria pela cara e do alívio e prazer que senti ao ver chegar pelo meu lado direito o "Moebius" em pessoa ao qual nervosamente estendia mão e que ele simpaticamente apertou. Alguém ao microfone terá dito algo (talvez eu mesmo?) "minhas senhoras e meus senhores... convosco Moebius" A multidão levantou-se e pela sala ecoou um estrondoso aplauso uf! :) :) :)
É curiosa essa descrição, caro anónimo. Pelo que diz (dizes, se nos conhecemos bem) é (és) alguém que foi sócio do Clube Português de Banda Desenhada e que esteve a colaborar na organização desse histórico 1º Festival de Banda Desenhada de Lisboa, em 1982.
Todavia, em relação a Jean Giraud/Moebius, e à sua chegada ao espaço onde decorria o Festival, há uma pequena discrepância entre o que você diz e aquilo de que me lembro.
Ora a minha versão é a seguinte: eu sabia que tinha havido um desencontro do pessoal da Embaixada de França e Jean (Moebius) Giraud, e tinha telefonado para aquela entidade que patrocinava a vinda do notável autor de BD a Lisboa. Indicaram-me que ele estava no Hotel (já não me recordo qual), para onde telefonei em seguida. De lá disseram-me que o Sr. Jean Giraud tinha ido de táxi para a FIL-Feira Internacional de Lisboa, onde decorria o festival. E eu fiquei à espera, ao cimo da escadaria, visto que o local do evento era numa espécie de larga varanda localizada no primeiro andar.
E foi aí que, de repente, o vi a subir as escadas, e logo fui ao seu encontro, visto que o conhecia bem, por ter estado com ele em 1980 em Itália, no Salone Internazionale dei Comics, del Cinema d'Animazione e dell'Illustrazione, de Lucca.
Não me lembro de ter sido outra pessoa a estar ali no momento da chegada, até porque, pela sua descrição, você, com outros jovens, estava no palco a entreter o público.
Portanto há aqui duas versões ligeiramente diferentes. Gostaria que nos encontrássemos e cruzássemos recordações desse incrível momento.
Até porque estamos, desde Novembro de 2015, a reanimar o Clube Português de Banda Desenhada - CPBD, agora com sede na Amadora, e você (tu) talvez se interesse em saber destas novidades do CPBD, que tenho descrito neste mesmo blogue, pelo que basta ir à coluna das etiquetas e clicar no item Clube Português de Banda Desenhada.
Abraço.
O local
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