segunda-feira, novembro 29, 2010

Banda Desenhada infantil portuguesa (IX)




























































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Falar de questões de segurança, mostrar problemas e respectivas soluções, tudo isto através de curtos episódios em banda desenhada, é a finalidade do álbum intitulado Tó & Kika. Não ao Acidente, surgido como oferta do jornal Público na sua edição de 27 Nov 10.
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Aspectos positivos da obra
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Concretizadas em desenhos simples e sugestivos, embelezadas por cores alegres, apropriadas para o público a que se destina prioritariamente, as bandas desenhadas abordam situações do dia-a-dia das crianças, mostram-lhes as soluções mais adequadas a cada caso - em acidentes de viação, nos pequenos problemas domésticos (por exemplo, princípio de incêndio na cozinha), ou os cuidados a ter na praia, mas também a correcta forma de cumprir as instruções aeroportuárias no momento de passar na porta de embarque, não esquecendo de focar a internet e alguns dos seus aspectos perversos (chat das crianças com desconhecidos que as atraem para encontros mal intencionados, clonagem de cartões), questões ambientais...
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São ao todo 40 temas, com idêntico número de episódios, completados em 120 pranchas, três para cada um deles, que constituem idêntico número de episódios, tendo por personagens principais um casal e os seus dois filhos, Kika e Tó.
Os episódios têm, como já disse, evidente base na realidade, estão realizados de forma atraente e apoiam-se num fundo pedagógico positivo.
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Primeiramente publicados ao ritmo semanal, em fascículos de quatro páginas nas dimensões de 22,5x29,8cm, um pouco maior do que o A4 (o álbum agora editado, bem mais pequeno, tem as medidas 15x21cm, um formato apenas ligeiramente superior ao A5).
Os citados fascículos eram distribuídos como encarte da revista/suplemento Pública (do jornal Público a partir de 14/9/2008) , e voltou agora, numa edição em álbum, a ter distribuição gratuita no mesmo jornal.
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Aspecto negativo da obra
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Muito negativo mesmo, ainda mais por ter sido idealizada e realizada sob o signo de obra pedagógica dirigida aos mais jovens, é a absurda quantidade de erros ortográficos, de cariz gramatical, não contando com as inúmeras gralhas devidas a distracções ou menor compenetração na componente literária (pecha habitual nos desenhadores/artistas, absorvidos pelos problemas de composição gráfica, deixando para segundo plano o texto, talvez esquecidos que a BD é uma arte verbo-icónica, sendo igualmente importantes ambas as componentes).

Erros e gralhas, os dois aspectos demonstram o pouco rigor havido ao nível editorial, e causa estranheza que, de tantas entidades envolvidas na edição (ver a lista no fim da postagem), nenhuma tenha reparado nas falhas sistemáticos do texto.

Este factor é tanto mais grave quanto é certo que os problemas ortográficos já existiam na edição inicial lançada em formato de fascículos, em 2008.

Tive, na altura, a intenção de incluir a peça na rubrica deste blogue intitulada "Língua portuguesa em mau estado na Banda Desenhada, nos fanzines, no Cartune e na Internet", mas fui dando primazia a outros temas, e adiando sine die o assunto. 
Até que, de novo, me deparei com a reedição da interessante obra, apesar do seu deficiente nível ortográfico, que, muito francamente, lastimo. Preferiria estar aqui, nesta crítica, apenas a elogiar a inédita iniciativa.
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Das numerosas falhas ortográficas que detectei, apenas focarei as que mais me impressionaram. Ei-las:
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1. Apesar de o texto não estar submetido ao novo Acordo Ortográfico, o que é bem visível em numerosos vocábulos, aparece nos temas 3 e 8 (duas vezes!) a palavra "elétrico" em vez de eléctrico, e também "espetáculo" (tema 12) em vez de espectáculo. Será que, para colmatar distracções, se justifica o desaparecimento, na língua portuguesa, das consoantes mudas, como preconiza o recente AO?
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2. Faltas frequentes do acento agudo, tratando-se obviamente de gralha, distracção, e não desconhecimento :
"Ai vou eu", "distraido" (Tema 5), decimo-quinto andar (T.6), frigorifico (T.11), armazem (T.13), campainhas (T.14)
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3. Troca do acento grave pelo agudo:
"á avó" (Tema 5); "á porta" (T.7); "á sombra" (T.11); (...) disseram á Kika (T.13); (...) brincávamos ás escondidas (T.13)
Tanta repetição impossibilita pensar-se que foi por distracção. Será que terei de pedir desculpa aos que nas populares tascas, escrevem "Cozido á portuguesa"?
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4. Acentos a mais, ou mal colocados, em algumas palavras: telémoveis (Tema 14); silênciosa (T.16); álcoolicas (T.31)
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5. Uso absurdo do acento circunflexo em vez do agudo (terá havido algum motivo? Eu desconfio de um, mas para ser compreendido teria de ser explicado. Fico à espera do feedback).
"assim tambêm não posso" (Tema 8); "se não chover tambêm" e "tambêm está lá um camião (...) e tambêm cria stocks (...) os fornos tambêm cozinham bacalhau"
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6. O seguinte é um dos graves: a terceira pessoa do plural do presente do indicativo do verbo ver (vêem), incorrectamente grafado em (vêm), terceira pessoa do plural do presente do indicativo do verbo vir.
Erro repetido nas frases:
"(...) como vêm, também importam matéria prima" (Tema 9). E no Tema 18, o erro surge duas vezes: "(...) a mistura vai para um forno tipo túnel. Vêm?" "(...) levam as paletes dos tijolos para aquele parque que ali vêm"
Digo eu: o Tó e a Kika vêem bem, não vêm mal ensinados da escola...
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7. Troca errónea do pretérito pelo presente do indicativo, coisa que se ouve nos falantes do Norte de Portugal e nos brasileiros, mas que não se justifica na escrita:
a) "Boa! Já poupamos, temos galo ao jantar (Tema 15) Ora, como se trata de facto passado, dever-se-ia escrever "já poupámos";
b) "(...) Foi fantástico" E entramos nas pirâmides (..)" Digo agora eu: Foi? então já se passou há algum tempo, por isso, o correcto é "entrámos".
c) Cá fora foi fixe. Andamos nos navios do deserto (...) Comentário meu: se estamos a falar de algo já passado, então é "andámos" que se deve escrever.
Ambas as trocas dos tempos dos verbos foram verificadas no Tema 38.
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8. Uso muito em voga (talvez para ser fixe e moderno, muito gostamos nós de imitar!) do brasileirismo "Epa" ou, do já algo aportuguesado, "Epá". 
E temos nós a expressão, tão antiga (se calhar é por isso...), "Eh pá", será que soa a demasiado popularucha, comparativamente com "Epa"? É capaz...
"Epa", ou Epá, aparece nos temas 12 e 17 (Epá... Só me faltava esta!, tema 12;) (Epá, foi sorte - tema 17). Neste mesmo tema 17 aparece uma derivação, "Épa! acertou..." claramente uma distracção do legendador relativamente à expressão brasileira.
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Não está aqui tudo, mas já chega para demonstrar a despreocupação em relação às regras ortográficas por parte das numerosas entidades envolvidas na publicação deste álbum, incluindo o jornal Público (que até teve direito a aparecer no Tema 26, reproduzido nas imagens que encimam esta postagem, embora com o título mal escrito "Jornal o Público").
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Só não digo que, dessas entidades, ninguém leu os textos das bandas desenhadas porque, no Tema "Visita à Quinta", que na primeira edição era o "Tema 3", havia um erro crasso, "caiem" ("as estrelas não caiem"), que alguém viu e fez com que fosse corrigido, aparecendo agora esse episódio (no presente álbum como "Tema 5"), com o tempo do verbo bem escrito, ou seja, "caem".
Será que quem fez essa correcção não viu mais nenhum erro, e que dessas entidades responsáveis pela edição, mais ninguém leu os textos das bandas desenhadas? E se leram, e deram pelos erros, ninguém se preocupou em obrigar o desenhador/legendador a corrigi-los? Não têm importância, os erros ortográficos?
Todavia, se eu escrever que 8 vezes 7 são 63, toda a gente me corrigirá, todos ficarão escandalizados com o erro. Porquê esta diferença de critérios?

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As dez imagens iniciais, respeitantes à capa do álbum e a três episódios, foram extraídas do recente álbum, editado no pequeno formato parecido com o A5


As quatro imagens seguintes foram extraídas do primeiro fascículo, formato um pouco maior do que o A4, editado em 2008, num conjunto de 40 temas em 40 fascículos, com três páginas cada.


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Ficha técnica


Tó & Kika. Não ao Acidente
. Autores (desenhador, argumentista, colorista, legendador) desconhecidos, porque não mencionados (o trabalho foi feito por uma Agência, os autores são anónimos... É pena)
. Tipo de publicação: Álbum
. Tipo de encadernação: brochado (capa mole, em cartolina)
. Conteúdo: 120 páginas a cores
. Tiragem: não indicada (a edição em fascículos teve uma tiragem média de 60 mil exemplares)
. Distribuição gratuita com o jornal Público, na edição de 27 Nov.2010
Edição apoiada por:
. POAT-FSE (Programa Operacional de Assistência Técnica, Fundo Social Europeu
. ACT (Autoridade para as Condições de Trabalho)
. QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional
. Governo da República Portuguesa (está escrito "Républica", a baralhada chegou à República, e ninguém deu por isso...).
. União Europeia - Fundo Social Europeu
. Eurisko - Estudos, Projectos
. Sá Souto Consultores
. Manti's Design Ilustração
. Jornal Público
Responsável pelo projecto:
. AEP Associação Empresarial de Portugal.Câmara de Comércio e Indústria
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Há 20 episódios (de um total de 40) desta série no sítio
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Como este site foi feito utilizando as imagens dos fascículos iniciais (o episódio "Visita à Quinta" está no "Tema 3"), o erro ainda está lá bem visível (3ª prancha, 2ª vinheta), quando a Kika diz "As estrelas não caiem", em resposta ao comentário do Tó "Olha uma a cair". Quer dizer: o erro foi corrigido na edição em papel, mas no site continua.
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Aproveito para dizer que tecnicamente o site está estupendo, naquele sistema de bastar clicar-se na ponta direita do fundo da página para ela se movimentar e passar-se a ver a página seguinte.
Muita coisa boa neste projecto com base na BD, só a língua portuguesa foi desleixada.
Lamento muito estar a escrever isto, sinceramente.
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Quem quiser ver as oito postagens anteriores deste tema, pode fazê-lo com facilidade, bastando para isso clicar no item Banda Desenhada infantil portuguesa que aparece no rodapé

3 comentários:

Santos Costa disse...

Olá Lino

Há quem repudie os puristas da língua portuguesa - como tu e eu -, achando que o mais importante é o desenho. Como se engana quem assim julga!
Uma obra em BD é um conjunto de literatura e desenho, pintura,geometria, encenação e demais pormenores artísticos que, mais ou menos e dependendo dos artistas, são aí plasmados para o presente e para a posteridade.
É evidente que o trabalho do guionista (ou escritor, tanto monta)vai engrandecer ou minimizar o trabalho do ilustrador, se aquele não usar devidamente ou utilizar inconvenientemente as ferramentas da língua original. Menos reparo oferece o desenho, porquanto é mais subjectiva a sua apreciação.
Concluindo: quem saiba contar histórias e desenhá-las, não ficaria mal recorrer a um revisor (um amigo que, com seriedade e capacidade) possa apurar o trabalho.
No que tange a esta obra (que desconheço) peca pelo anonimato dos autores, mesmo que tenha sido feito em equipa. Neste caso, a assunção da culpa que (e bem) lhe assacas, quanto ao texto - porque o desenho é, quanto a mim, bom - deve ser assumida pelo órgão difusor - o jornal.
Olha, Lino, pelos vistos e lidos, não é só o acordo ortográfico que dá a volta à língua portuguesa. Custa-me, isso sim, ver o atropelo através da banda desenhada.

Um abraço

Santos Costa disse...

Para cúmulo, lá saiu um parágrafo fora dos carris. Ei-lo corrigido:

"Concluindo: quem saiba contar histórias e desenhá-las, não ficaria mal recorrer a um revisor (um amigo que, com seriedade e capacidade) para que lhe possa apurar o trabalho."

E um género trocado:
"No que tange a esta obra (que desconheço) peca pelo anonimato dos autores, mesmo que tenha sido feita em equipa."

Numa BD, que não é feita com a mesma displicência com que se digita um comentário, estes lapsos, que se transformam em gralhas,não são de todo desculpáveis.

Geraldes Lino disse...

Olá Costa
Todo aquele que critica é sempre acusado de qualquer coisa pelos acusados. É o direito de defesa de quem não admite ser criticado, mesmo que os erros sejam bem visíveis.
No que se refere aos erros que se apontam a quem escreve, quer argumentos/guiões da BD, quer notícias dos jornais, quer legendas dos filmes ou das séries televisivas, há sempre algum visado (que não gosta que lhe apontem falhas), que contra-ataca, chamando puristas, dando à palavra sentido pejorativo, a quem lhe aponta os erros (é o contra-ataque baseado na psicologia barata).
Há quem já esteja habituado a resistir a essas pressões, que começam logo nos bancos da escola, quando os menos dotados (uso o eufemismo para não ofender ninguém) chamam marrões aos que estudam e por isso não dão erros..