Um futuro para além do destino do senhor Oliveira da Figueira, é o título de um artigo de página inteira, no jornal Público (7 Dez. 2012), que remete de imediato para a banda desenhada, mais concretamente para uma caricatural personagem portuguesa pertencente à extensa e rica galeria criada por Hergé.
José Manuel Fernandes (*), o jornalista autor do artigo (que chegou a ser director do acima citado jornal), vem engrossar a numerosa lista de figuras responsáveis em diversas áreas, profissionais e políticas, que conhecem BD, são ou foram leitores de BD, e que a ela recorrem quando consideram que nela se encontram personagens ou situações exemplares para comparações com figuras públicas ou casos concretos da vida sócio-política do nosso país.
Leiamos então o excerto do artigo em que é focado o nosso imaginário compatriota:
"Os árabes chamavam-lhe o 'branco-que-vende-tudo' e Tintin comprovou-o: comprou-lhe um par de esquis, um taco de golfe, um chapéu alto, uma gaiola com um periquito e um despertador, tudo absolutas inutilidades que o deixaram imensamente feliz.
A cena passa-se no livro Os Cigarros do Faraó e o senhor Oliveira da Figueira, que mais tarde reapareceria em No País do Ouro Negro e em Carvão no Porão, é o único português a ter um lugar de destaque nas aventuras criadas por Hergé (há também um cientista português a bordo do Aurora, em A Ilha Misteriosa, mas o seu papel é irrelevante). O histriónico vendedor de bugigangas corresponde a um certo cliché do ser-se português, da generosidade à capacidade de improvisação, da lábia à errância por terras distantes, tudo construído em torno da imagem de um comerciante que até na capacidade de aculturação se revela bem lusitano. Ninguém, nem mesmo Hergé, se lembraria de retratar um português como financeiro ou industrial. (...)"
Claro que seria necessário contextualizar este excerto para se compreender o motivo de o senhor Oliveira da Figueira ter sido trazido à colação num artigo sobre política e economia. Todavia, não seria razoável nem compreensível reproduzir num blogue dedicado à BD a totalidade da análise sócio-política do jornalista.
Mas ainda se justificará a apresentação de mais dois curtos excertos onde a personagem Hergiana é mencionada:
"(...) Para já, tudo indica que os nossos Oliveira da Figueira voltaram a demandar o mundo. Boa parte da expansão das exportações portuguesas deve-se a muitos e muitos empresários que, tendo de enfrentar a contracção do mercado interno, se viraram para o exterior e conseguiram encontrar novos clientes (...)"
"(...) Por isso, numa altura em que começa a crescer a oposição aos cortes nas despesas do Estado, chamem-se ou não "refundação", o essencial é dizer que o que não podemos suportar são estes impostos, ou o que queremos não é um IRC de apenas 10 por cento para os novos investimentos, queremos esse IRC para toda a economia, porque é ela, como um todo, que tem de competir nos mercados abertos da União Europeia e do resto do mundo.
Mas será que seremos capazes de ser mais do que desenrascados e um pouco mais sofisticados Oliveiras da Figueira do século XXI?
(*) Jornalista. Escreve à sexta-feira no jornal Público
jmf1957@gmail.com
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As imagens que ilustram o topo do "post" são da autoria de Antero Valério,
no episódio de bd curta, de prancha única, intitulado "A Mala Azul", que faz parte da obra de BD colectiva "Tintim no Século XXI", publicada no fanzine Efeméride, editado em Janeiro de 2009
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