domingo, julho 07, 2013
Entrevistas antigas a autores de BD (I) - Jorge Colombo
Jorge Colombo foi o grafista com que iniciei, no jornal Diário Popular, um conjunto de entrevistas e publicação das respectivas bandas desenhadas. Foi isto em meados da década de 1980, quando o mais velho dos irmãos Colombo - o outro é o Vasco - era ainda um jovem, e eu - em representação do Clube Português de Banda Desenhada -, tinha conseguido, com grande alegria, convencer os responsáveis do já citado vespertino, a criar um suplemento de duas páginas a que chamaria Tablóide, e que teria início a 21 de Setembro de 1985.
Jorge Colombo era (é) dono de um talento singular. Como pessoa, era igualmente alguém que surpreendia, e foi com ele que decidi estrear aquele suplemento.
Comecei por lhe pedir para fazer o grafismo do título, sugerindo-lhe que escrevesse em maiúsculas as letras B e D do vocábulo tablóide.
Em contrapartida, o Jorge exigiu que fosse dele a primeira banda desenhada do suplemento taBlóiDe, a que acedi com satisfação.
Ao olhar para a colecção de folhas de jornal, impecavelmente preservadas pelo coleccionador Hugo Tiago, ocorreu-me reproduzir as entrevistas feitas àqueles então ainda jovens iniciantes na área da BD.
A acompanhar as entrevistas, no verso da folha, iniciava-se a banda desenhada, da autoria dos entrevistados, que continuava (e, eventualmente, terminava) no Sábado seguinte.
É curioso verificar como as afirmações do entrevistado Jorge Colombo - há muitos anos a viver nos EUA, casado com uma americana, provavelmente já com dupla nacionalidade -, é curioso, repito, como as suas afirmações, feitas há quase três décadas, reflectem uma realidade que não se distancia muito da que existe hoje em dia neste país.
(Reproduzo, em seguida, a entrevista, para facilitar a leitura.
Relembro que tudo aquilo que ali é dito tem de ser lido com a noção cronológica de se estar em 1985)
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Não faço BD
porque não há onde
- diz Jorge Colombo, desenhador
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Jorge Colombo, que aparece na estreia deste "taBlóiDe", começou a tornar-se conhecido no tempo, ainda recente, em que assinava, num conhecido semanário, uma coluna de crítica de banda desenhada, a "BDSete".
Polémico nas suas opiniões, irregular na assiduidade, demonstrou, inequivocamente, uma invulgar capacidade no manejo da escrita. Após um interregno em que parecia ter-se eclipsado, voltou a aparecer, agora no JL, fazendo ilustrações diversas, incluindo o grafismo de primeiras páginas, ramificando-se ainda em textos diversos - críticas de Banda Desenhada e de Cinema, por exemplo.
Dentro da sua versatilidade, Jorge Colombo é também um autor de BD. Para além de algumas experiências desgarradas, foi distinguido com um dos primeiros prémios do concurso da ESBAL, em 1984. A sua mais recente participação neste campo foi a prancha que realizou no programa televisivo "Arroz Doce", dando continuidade às desconcertantes aventuras da Isidriana, personagem de "Godofredo Leite Fresco".
Frequentador esporádico da ESBAL, quisemos saber a sua opinião sobre o ensino ministrado naquela escola superior em relação à Banda Desenhada.
"Uma escola é, normalmente, um ensino do tipo «pronto-a-vestir». Quando uma pessoa lá entra, não se ralam com as suas particulares aptidões ou dificuldades numa ou noutra matéria. Eu aprendi muito mais - quando ainda andava no liceu - ao frequentar o "atelier" de Victor Mesquita, ou o curso de José Garcês, na Galeria de Arte Moderna, ou a trabalhar em publicidade, ou até, simplesmente, a ver com muita atenção filmes e revistas de Banda Desenhada. É preciso é uma pessoa fazer a autópsia daquilo que lhe cai nas mãos, perceber como é que determinados efeitos são conseguidos.
Mas, voltando à polémica que há, se as Belas Artes ajudam quem quer fazer BD, eu acho que sim, porque não ensinando nada sobre BD, impedem as pessoas de se esclerosarem, de pensarem só nisso."
Mas quando um jovem que gosta de desenhar pensa em fazer Banda Desenhada precisa de conhecer autores, analisar-lhes o estilo, treinar nas suas soluções gráficas, Jorge Colombo, por exemplo, manifesta um certo pendor para cultivar o estilo patente nas bandas desenhadas de Loustal, Serge Clerc ...
"Para além de um fascínio, o muito imediato pelo universo revivalista dessas bandas - mas isso é um gosto pessoal - e de achar que qualquer deles desenha com grande perícia, eu encontro sobretudo nos trabalhos conjuntos de desenhista Loustal e do argumentista Paringaux, inovações que nada têm a ver com o plano gráfico. Acontece que esta dupla evita sistematicamente a redundância palavra/imagem, e distante de uma forma inédita o tempo das suas narrativas. Em relação ao desenho, até sou capaz de gostar mais de Mário Botas ou de David Hockney."
Este conhecimento crítico dos novos caminhos da BD, e uma natural convivência com as edições estrangeiras que chegam até nós, não o deveriam induzir a realizar, com maior assiduidade, neste campo?
"Acontece que eu tenho montes de ambições, desde a mais tenra idade: fazer capas de discos ou de livros, filmes, escrever prosa ou poesia, sei lá... e álbuns de banda desenhada. Até agora tenho feito aquilo a que é mais fácil dar sequência. Escrevo porque basta ter papel e caneta, faço grafismos porque a edição portuguesa tem uma certa animação. Mas, por exemplo, não faço filmes por que não há dinheiro, nem BD porque não vejo sítios onde a publicar."
Um panorama sem dúvida pobre o da BD portuguesa. Haverá alguma coisa nela, hoje, que valha a pena destacar?
"As pastas onde o Pedro Morais ou o Pedro Cavalheiro guardam os seus originais são dos meus locais de leitura favoritos. Se eu tivesse uma data de contos para perder, editava-os."
Ter uma data de contos... O que faz Jorge Colombo para ganhar alguns? Onde ocupa ele o seu tempo?
"Ando ocupado a ganhar dinheiro em vários lados. Faço ilustrações para jornais ("JL", "O Jornal"), capas de livros e os grafismos de uma série de discos nacionais. Gosto particularmente dos que fiz para os Heróis do Mar."
Um dia desses fui a uma galeria, no Bairro Alto, ver uma exposição de desenhos de Jorge Colombo. Uma nova experiência?
"Sim, há dois meses experimentei fazer desenhos grandes - eu trabalho sempre em formato minúsculo -, emoldurá-los e colocá-los numa galeria. As pessoas parece terem gostado... Mas não faço muita carreira disso."
Agora, neste «taBlóiDe» que hoje nasce, uma incursão na BD. Experiência isolada, ou novo alento para trabalho mais contínuo?
"Sempre que houver um sítio para que me convidem usarei a minha disponibilidade a trabalhar para ele, embora não se ganhe tanto como na ilustração".
O que terá significado para Jorge Colombo ir à TV participar no «Arroz Doce»?
"Eu devo dizer que fui anunciado na TV antes de ser convidado pessoalmente, embora o Carlos Barradas já me tivesse contactado. Foi engraçado, porque o Júlio Isidro, aparentemente, era o único a não saber que eu não publicava Banda Desenhada. A iniciativa teve, como possível vantagem, homologar publicamente uma série de artesãos da matéria. Foi um prazer ver a minha página ser retomada por tantos colegas."
E desta ideia do «taBlóiDe», que acha dela Jorge Colombo?
"Melhor que aquela horrorosa «Flecha 2000». Pelo menos o título é melhor. E somos poupados aos Lucky Luke requentados."
Sempre polémico, este Jorge Colombo, nascido na Rua da Junqueira, aos 20 de Julho de 1963.
Com vinte e dois anos apenas, ele é bem o retrato de mais uma geração com múltiplos talentos e minguadas oportunidades.
Entrevista e foto por
Geraldes LIno
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