"Não encontrei uma única conquista pela força que fosse duradoura. O que é que se mantém ainda das conquistas de Alexandre ou de César? Com as conquistas só se conseguem tristes inimizades. Só utilizarei a minha espada em defesa da liberdade e da justiça!".
Estas as belas palavras do Príncipe Valente, herói de gloriosas e fascinantes aventuras. Salpicadas também por episódios pitorescos, elas contribuiram para introduzir na Banda Desenhada o clima lendário dos grandes feitos da cavalaria medieval, e dos elevados princípios dos seus cavaleiros andantes.
Aguar, rei de uma antiga cidade nórdica de existência incerta, chamada Thule, vê-se obrigado a lutar contra os seus implacáveis inimigos, à frente dos quais está o usurpador Slígon. Mais fortes na circunstância, estes empurram-no para o mar. Como única saída, o rei, a rainha e um principezinho chamado Valente, embarcaram num veleiro, com um pequeno séquito de amigos fiéis, procurando refúgio seguro ao longo das falésias da Bretanha.
Assim começava o episódio inicial da saga do Príncipe Valente, em 13 de Fevereiro de 1937. Para as primeiras impressões, esta cena não era muito favorável, mas em breve elas seriam melhoradas, ao ver-se o pequeno grupo, depois dessa viagem marítima bastante acidentada, combater e vencer os semi-selvagens bretões que os haviam atacado.
Após uma tantas peripécias relativamente breves, o pequeno príncipe de Thule cresce no espaço de apenas alguns episódios. Quando se despede do pai, deixando para trás o país pantanoso, Val é já um desenvolvido adolescente.
Esta transformação, que ocupou um curto período da série, verificou-se entre 13/2/1937 e 24/4/1937, no tempo real. Observando-se a última vinheta da décima-primeira prancha, vê-se que Val já adquiriu o aspecto que o iria tornar famoso ao longo dos anos. Sente-se uma certa pressa na transformação, como se o seu criador tivesse acedido, quase a contra-gosto, em debruçar-se sobre essas fases da infância e adolescência do herói.
Apesar de impaciente, Harold Foster, o criador - autor único de ambas as componentes, argumento e desenho -, não deixa de enriquecer as primeiras páginas com imaginosos episódios. O encontro do protagonista principal com Horrit, a feiticeira, mãe do monstruosos Thorg, é um deles:
"Não há para o homem maior infelicidade do que conhecer o seu futuro", diz-lhe ela. Mas a curiosidade de Val desobedece à lúcida advertência, e ouve o que Horrit lhe diz: "Aguarda-te já um grande desgosto. Irás ter muitas aventuras, travarás muitas lutas, e jamais encontrarás a felicidade".
Tais profecias não estão totalmente longe da realidade: quanto às grandes lutas, serão elas o leit motiv da saga do Príncipe Valente. Por outro lado, a sua vida tem tido realmente muitas coisas más, de que a mais marcante terá sido a precoce morte da mãe, que sucumbiu ao clima hostil do país onde se haviam refugiado. O seu exílio, que durou doze anos, e também a morte de Ilene (Helena em versão portuguesa), o seu primeiro amor, foram outros tantos espinhos envenenados de tristeza e revolta.
Mas a vida do príncipe teve, entretanto, momentos de felicidade, de que um dos mais importantes terá sido a participação numa pequena cerimónia que jamais esqueceu: o Rei Artur, tocando-lhe no ombro com a sua famosa espada, armou-o Cavaleiro da Távola Redonda, como reconhecimento da sua bravura e lealdade.
No que se refere às coisas do coração, que são sempre, se não agradáveis, pelo menos emocionantes, Sir Valente também já teve a sua conta. Não é que tenha qualquer semelhança com Sir Gawain, o insaciável conquistador. Mas entre desgostos, desenganos e amores exaltados, de tudo conheceu o coração do príncipe.
É sabido que Ilene, bela jovem de cabelos cor de mel, foi o saboroso primeiro amor de Valente. Todavia, ainda não tinha sido focado o facto de ela ter sido, simultaneamente, o grande amor de Arn. Mas Ilene morreu, como também já se sabe, e os dois príncipes, que apesar de rivais se haviam tornado amigos, construiram um monumento de pedra em sua memória.
Convém ainda referir a sua fugaz atracção amorosa pelas irmãs Sombelene e Melody. Mas Melody apaixonar-se-ia por Hector, e Sombelene por Angor Wrack, ex-captor de valente. Por acaso será com este casal que Valente celebrará os seus dezoito anos.
Na realidade, porém, no seu coração havia persistido sempre uma visão, quase irreal, de uma loura jovem que lhe dera água quando, morto de sede e exausto, fora ter a uma misteriosa ilha. A única prova de que não se tratara de uma visão fora o papel que ficara no barco, assinado por Aleta. O encontro seguinte seria bem real, completamente estragado por um mal-entendido. E, finalmente, após raptá-la da sua corte, levado por negras intenções, Valente acabaria por ceder à inteligência, meiguice e infinita paciência de Aleta que, durante a longa viagem imposta pelo príncipe, lhe suportou as injustas afrontas. Casaram por fim, como era de esperar, e desta feliz e inquebrável união nasceram quatro filhos, entre os quais duas gémeas.
Ao fim de todos estes anos, o Príncipe Valente vai tranquilamente envelhecendo. Os seus filhos crescem; e Arn, o mais velho, é já o seu sucessor nas deambulações pelo mundo. As aventuras de Arn são o contraponto aos vários flashbacks provocados pelas recordações de Valente. Aventuras nunca vistas antes na juventude do príncipe, que vão assim permitindo mantê-lo no centro do interesse da série, tornando a sua vida num longo mas nunca fastidioso percurso.
Aguar, rei de uma antiga cidade nórdica de existência incerta, chamada Thule, vê-se obrigado a lutar contra os seus implacáveis inimigos, à frente dos quais está o usurpador Slígon. Mais fortes na circunstância, estes empurram-no para o mar. Como única saída, o rei, a rainha e um principezinho chamado Valente, embarcaram num veleiro, com um pequeno séquito de amigos fiéis, procurando refúgio seguro ao longo das falésias da Bretanha.
Assim começava o episódio inicial da saga do Príncipe Valente, em 13 de Fevereiro de 1937. Para as primeiras impressões, esta cena não era muito favorável, mas em breve elas seriam melhoradas, ao ver-se o pequeno grupo, depois dessa viagem marítima bastante acidentada, combater e vencer os semi-selvagens bretões que os haviam atacado.
Após uma tantas peripécias relativamente breves, o pequeno príncipe de Thule cresce no espaço de apenas alguns episódios. Quando se despede do pai, deixando para trás o país pantanoso, Val é já um desenvolvido adolescente.
Esta transformação, que ocupou um curto período da série, verificou-se entre 13/2/1937 e 24/4/1937, no tempo real. Observando-se a última vinheta da décima-primeira prancha, vê-se que Val já adquiriu o aspecto que o iria tornar famoso ao longo dos anos. Sente-se uma certa pressa na transformação, como se o seu criador tivesse acedido, quase a contra-gosto, em debruçar-se sobre essas fases da infância e adolescência do herói.
Apesar de impaciente, Harold Foster, o criador - autor único de ambas as componentes, argumento e desenho -, não deixa de enriquecer as primeiras páginas com imaginosos episódios. O encontro do protagonista principal com Horrit, a feiticeira, mãe do monstruosos Thorg, é um deles:
"Não há para o homem maior infelicidade do que conhecer o seu futuro", diz-lhe ela. Mas a curiosidade de Val desobedece à lúcida advertência, e ouve o que Horrit lhe diz: "Aguarda-te já um grande desgosto. Irás ter muitas aventuras, travarás muitas lutas, e jamais encontrarás a felicidade".
Tais profecias não estão totalmente longe da realidade: quanto às grandes lutas, serão elas o leit motiv da saga do Príncipe Valente. Por outro lado, a sua vida tem tido realmente muitas coisas más, de que a mais marcante terá sido a precoce morte da mãe, que sucumbiu ao clima hostil do país onde se haviam refugiado. O seu exílio, que durou doze anos, e também a morte de Ilene (Helena em versão portuguesa), o seu primeiro amor, foram outros tantos espinhos envenenados de tristeza e revolta.
Mas a vida do príncipe teve, entretanto, momentos de felicidade, de que um dos mais importantes terá sido a participação numa pequena cerimónia que jamais esqueceu: o Rei Artur, tocando-lhe no ombro com a sua famosa espada, armou-o Cavaleiro da Távola Redonda, como reconhecimento da sua bravura e lealdade.
No que se refere às coisas do coração, que são sempre, se não agradáveis, pelo menos emocionantes, Sir Valente também já teve a sua conta. Não é que tenha qualquer semelhança com Sir Gawain, o insaciável conquistador. Mas entre desgostos, desenganos e amores exaltados, de tudo conheceu o coração do príncipe.
É sabido que Ilene, bela jovem de cabelos cor de mel, foi o saboroso primeiro amor de Valente. Todavia, ainda não tinha sido focado o facto de ela ter sido, simultaneamente, o grande amor de Arn. Mas Ilene morreu, como também já se sabe, e os dois príncipes, que apesar de rivais se haviam tornado amigos, construiram um monumento de pedra em sua memória.
Convém ainda referir a sua fugaz atracção amorosa pelas irmãs Sombelene e Melody. Mas Melody apaixonar-se-ia por Hector, e Sombelene por Angor Wrack, ex-captor de valente. Por acaso será com este casal que Valente celebrará os seus dezoito anos.
Na realidade, porém, no seu coração havia persistido sempre uma visão, quase irreal, de uma loura jovem que lhe dera água quando, morto de sede e exausto, fora ter a uma misteriosa ilha. A única prova de que não se tratara de uma visão fora o papel que ficara no barco, assinado por Aleta. O encontro seguinte seria bem real, completamente estragado por um mal-entendido. E, finalmente, após raptá-la da sua corte, levado por negras intenções, Valente acabaria por ceder à inteligência, meiguice e infinita paciência de Aleta que, durante a longa viagem imposta pelo príncipe, lhe suportou as injustas afrontas. Casaram por fim, como era de esperar, e desta feliz e inquebrável união nasceram quatro filhos, entre os quais duas gémeas.
Ao fim de todos estes anos, o Príncipe Valente vai tranquilamente envelhecendo. Os seus filhos crescem; e Arn, o mais velho, é já o seu sucessor nas deambulações pelo mundo. As aventuras de Arn são o contraponto aos vários flashbacks provocados pelas recordações de Valente. Aventuras nunca vistas antes na juventude do príncipe, que vão assim permitindo mantê-lo no centro do interesse da série, tornando a sua vida num longo mas nunca fastidioso percurso.
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Este "post" insere-se num conjunto focando diferentes quadrantes relacionados com a obra Príncipe Valente ("Prince Valiant In the Days of King Arthur"), considerando a efeméride de 70 anos, número redondo, após o seu início, em Fevereiro de 1937
Ver, por exemplo, referência ao fanzine Nemo que dedicava aos 50 anos do Príncipe Valente no seu nº 4, datado de Fevereiro de 1987. isto no blogue Fanzines de Banda Desenhada, endereço:
5 comentários:
Olha, Lino, este 13 de Fevereiro (eu nasci a 14, alguns anos depois, mais precisamente 14 anos depois)é, de facto, a data da publicação do principezinho Valente. Lembro-me que coleccionava as saudosas páginas dominicais de O Primeiro de Janeiro, onde eram publicadas, com algum atraso obviamente, as mesmas pranchas de domingo dos EUA.
Tenho uma curiosa edição, a p/b, de 1982, com capa do Trigo, onde se fala da Iléne e não da Helena. Deves ter, claro, esta edição de 7.500 exemplares, da Agência Portuguesa de Revistas. É nas primeiras páginas da saga aqui publicada que Valente encontra a bruxa Horrit, em apenas 4 vinhetas de grande qualidade artística, em que predomina o claro escuro, a tenebrosa cabana e as sombras projectadas na parede. "Tira-me essa maldita espada da parede", berrara a bruxa.
Ao fundo de cada prancha, uma espécie de selos coleccionáveis, com a legenda avisadora - "save this stamp", a partir da página 19 da publicação.
Bem sabes como admiro o traço de Foster! Possivelmente ele não vivia entre muralhas e cerca de um castelo, como eu; no entanto, os ambientes que ele desenhou constituem um verdadeiro retrato do medievalismo europeu.
Uma pergunta, se ela é propositada: quando darás vida ao arremedo e aos pastiches do Valente à portuguesa e neste século?
Um grande abraço de amizade e gratidão
Retorno:
A bruxa Horrit "embruxou" o texto: ela não disse "tira-me essa maldita espada da parede", mas sim "tira-me essa maldita espada da frente".
Ainda bem que este lapso não surgiu num balão!
Excelente pergunta, Santos Costa!
J. Abrantes
Olá Santos Costa e José Abrantes:
A pergunta do primeiro, secundada pelo segundo, tem toda a pertinência. Acontece que, apesar de ter havido autores-artistas que cumpriram os prazos (o que aconteceu com ambos os visitantes-comentadores, signatários das perguntas), há ainda quem não me tenha entregue a prancha. A alguns dos retardatários já lhes dei conhecimento da minha desistência em relação à respectiva colaboração, mas há um (autor-artista de prestígio e meu amigo) do qual não prescindo da prancha que me prometeu, promessa que ainda não cumpriu. Em todo o caso, considerando que também o "designer" que se ofereceu para me fazer o "design" da peça (o nº 2 do fanzine "Efeméride") é profissional bastante ocupado, julgo que só lá para fins de Abril terei a edição pronta. De qualquer forma, essa é a data mais propícia para estar disponível para exposição e venda, nos dois eventos que se aproximam: Festival BD de Beja e salão BD de Moura, ambos em Maio.
Quem foi Sombelene???
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