Pormenor do episódio The Yellow Kid and his new phonograph, impresso no New York Journal, datado de 25 de Outubro de 1896
(A prancha está totalmente reproduzida neste blogue, no "post" com data do passado dia 25 de Outubro, cento e dez anos após a publicação original)
É nesta "sunday page", isto é, página dominical, datada de 25 de Outubro de 1896, reproduzida no New York Journal, que, pela primeira vez (na BD) o protagonista da sequência figurativa fala através de um "balão".
The Yellow Kid takes a hand at golf, assim se titula a prancha reproduzida na página dominical do New York Journal, datado de 24 de Outubro de 1897.
Passou-se um ano menos um dia, após o uso do balão de fala na boca do Yellow Kid. Como se depreende, foi um facto visual perfeitamente esporádico: na prancha que acima se reproduz, o único ser falante (através do "balão") é o papagaio, continuando o "puto amarelo" a expressar-se por falas mostradas no bibe.
Prancha publicada na "sunday page" do jornal American Examiner de 7.Julho.1907.
Intitula-se The Yellow Kid. He meets Tige and Mary Jane and.
A frase é completada pela imagem de outro miúdo chamado Buster Brown.
Quando, finalmente, o autor das personagens Yellow Kid e Buster Brown, usa sistematicamente, numa prancha desta última personagem - o miúdo Buster Brown - o "balão de fala da BD", já se passaram quase onze anos.
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O presente "post" representa a parte "2 de 2" do inicial afixado em 25 de Outubro passado, cento e dez anos após o aparecimento do primeiro balão na BD impressa, ou susceptível de o ser, e publicada (*)
Esta expressão termo "impressa, ou susceptível de o ser, e publicada" fica já aqui como resposta a todos os especialistas (alô Silvares) que sabem da existência das filacteras, antepassadas dos "balões de fala da banda desenhada", aparecidas em ícones religiosos e até gravuras de artistas (Hogarth e Rowland, cito de cor, foram pioneiros nessa área).
Mas há que atender ao consenso a que se chegou, internacionalmente, de apenas considerar Banda Desenhada, ou Figuração Narrativa, as obras impressas, ou susceptíveis de o ser (a BD em baixo relevo na Coluna de Trajano não pode ser impressa) e publicadas (desta forma espalhadas, vendidas ou oferecidas, publicamente).
Chegado aqui, acho que se proporciona reproduzir um texto que escrevi como resposta um inquérito sobre esta obra "The Yellow Kid", em que se punha a questão de se considerar esta obra, e esta data. como sendo o início da Banda Desenhada.
Quem estiver com pachorra para ler um texto mais extenso do que o habitual na maioria dos blogues (excepto aqueles, excelentes, onde escrevem os meus pares Pedro Vieira de Moura
(Ler BD - http://lerbd.blogspot.com)
e Sara Figueiredo Costa
(Beco das Imagens - http://becodasimagens.blogspot.com ),
é favor fazer "scroll down".
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"100 anos de BD: Yes ou Non" (1)
(Inquérito realizado pela extinta Associação do Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto-ASIBDP, em 1996, cem anos após o aparecimento do "balão da BD").
Perguntas:
1ª - Concorda com a data escolhida para comemorar os 100 anos do nascimento da BD, coincidente com apublicação de The Yellow Kid, de Richard F. Outcault? Porquê?
2ª - Acha importante as comemorações dos 100 anos da Banda Desenhada? Porquê?
3ª - Destaque os três momentos que considera mais importantes na História da Banda Desenhada.
As minhas respostas:
1ª - Não concordo.
Reconheço que o Yellow Kid constituiu valiosa contribuição para a divulgação da banda desenhada, visto que a sua publicação nos jornais americanos permitiu atingir camadas vastas e etariamente heterogéneas de leitores. Mas considero ter sido uma decisão artificial e forçada a escolha dessa obra e, por inerência, a respectiva data, para marcar o nascimento da BD.
Porque o processo para se chegar a tal decisão é pouco conhecido, apesar de histórico no âmbito da banda desenhada, julgo imprescindível saber-se quem a tomou, onde, e quando.
Em 1989 reuniu-se em Lucca, Itália, um grupo de especialistas na matéria, expressamente convidados para o efeito. Foram eles:
Álvaro de Moya (Brasil), Claude Moliterni (França), Claude Bertieri (Itália), David Pascal (Estados Unidos da América), Denis Gifford (Inglaterra), Javier Coma (Espanha), Luís Gasca (Espanha), Maurice Horn (E.U.A.), Richard Marschall (E.U.A.), Rinaldo Traini (Itália) e Vasco Granja (Portugal).
Por informação pessoal de Vasco Granja (que inicialmente defendeu os Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro sobre a Picaresca Viagem do Imperador do Rasilb pela Europa) e de Claude Moliterni, na votação final apenas Denis Gifford votou contra o Yellow Kid, defendendo inabalavelmente Ally Slopper, personagem pioneira da BD inglesa.
Ficou portanto decidido, por maioria, que The Yellow Kid passaria a ser a origem histórica da banda desenhada, por ter sido a primeira obra a integrar balões, cumprindo dessa forma todos os requisitos por ele exigidos.
Assim passou a constar, ad eternum, que a BD apenas existe desde 1896, data em que as falas daquela personagem começaram a ser sistematicamente inseridas em filacteras, popularmente designadas por balões.
É muito controverso um purismo deste tipo. Tanto mais que, em dezenas de definições de banda desenhada, elaboradas por estudiosos tão credenciados quanto os de Lucca, não existe nenhuma que indique obrigatoriedade do balão.
Obrigatória tem sido a exigência de existir sequência nas imagens, e serem publicadas (ou susceptíveis de o ser).
A considerar-se o balão como elemento absolutamente indispensável, muitas obras de qualidade deixariam de poder considerar-se bandas desenhadas. Como, por exemplo, o Príncipe Valente. Além disso, seria tão absurdo como se, no que concerne ao Cinema, nos quisessem impor o conceito de que a sua origem seria datada a partir do primeiro filme sonoro.
2ª- Não.
Porque não considero que a banda desenhada tenha passado a existir apenas em 1896.
3ª -
Primeiro:
O ano de 1827, quando o professor, escritor e pintor suiço Rodolphe Töpffer realizou, para os seus alunos, a sua primeira histoire en estampes, intitulada Histoire de M. Vieux Bois. Trata-se, indubitavelmente, da primeira banda desenhada. (Ainda não fora impressa nesse ano, mas era susceptível de o ser, e foi-o, em álbum, em 1837, sob o título Les Amours de M. Vieux Bois.
Segundo:
O ano de 1833, quando, pela primeira vez, foi publicada uma banda desenhada. Intitulou-se Histoire de M. Jabot, era também da autoria de Töpffer, e foi editada sob a forma de álbum.
Terceiro:
O aparecimento do balão na boca do Yellow Kid, em 25 de Outubro de 1896.
Foi isso no episódio The Yellow Kid and his new phonograph. E, por coincidência, é aí que pela primeira vez nesta obra, aparecem imagens em sequência, como é obrigatório na linguagem visual da banda desenhada.
Geraldes Lino
(1) - Esta resposta foi uma das várias publicadas no fanzine QUADRADO (nº 3 - Out. 96) pela ASIBDP.´
Todavia, apareceu bastante truncada, alegadamente devido ao facto de uma passagem do texto (onde se nomeiam as personalidades que decidiram qual foi a primeira banda desenhada, onde e quando isso aconteceu) coincidir nesse ponto com a de Manuel Caldas, estudioso de Póvoa de Varzim, enviada anteriormente.
Considerando discutível (no mínimo) qualquer amputação num texto de outrem, sejam quais forem os motivos invocados, e bastante deselegante o facto de não esclarecerem os leitores das razões dos cortes explicitamente assinalados, reproduzi o texto naíntegra no meu fanzine Tertúlia BDzine, nº 8, Janeiro de 1997.
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