quarta-feira, junho 06, 2007

Manuela Torres, autora de BD - 1934-2007

Fotografia recente de Manuela Torres
(Foto cedida por sua filha, a designer
Sílvia Silva)

Prancha da banda desenhada Ciência ou Magia (incluída na obra colectiva Príncipe Valente no Século XXI) reproduzida no nº 2 do fanzine Efeméride.

Esta foi a derradeira obra de figuração narrativa realizada por Manuela Torres, autora de BD, pintora e professora, falecida às 6h da madugada de ontem, dia 5 de Junho, no Hospital I.P.O. de Lisboa.

Maria Manuela Esteves Costa Torres Pereira da Silva (Pereira da Silva é apelido marital), nasceu em Lisboa a 7 de Julho de 1934.
Iniciou-se, entre os dezasseis e dezassete anos, a fazer bandas desenhadas em Moçambique, na cidade de Lourenço Marques (actual Maputo) onde então vivia, para o jornal local Notícias da Tarde.
Alguns dos títulos dessas primeiras histórias, todas a preto e branco, de que era autora completa: "A Pequena Sereia", "A História da Princesa Varinnka" e "O Diabo Verde", publicadas em sistema de continuação, ao ritmo de uma prancha em cada número do jornal.
Regressou a Lisboa para cursar Pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa - ESBAL (actual Faculdade de Belas Artes de Lisboa, FBAUL), onde se licenciou.
Colaborou no suplemento Joaninha da revista Modas & Bordados, com a história "Os Cisnes Selvagens". Executou bandas desenhadas a cores e a preto e branco, nas revistas Fagulha e Girassol, para as quais também fez ilustrações para contos e realizou as capas.

Manuela Torres na época em que colaborava na revista Fagulha
Ilustração de Manuela Torres na capa da revista Fagulha (nº3, 15 Fev. 1958)

Na Fagulha ressalta "A Estreia de Gabriela" (1963) extensa bd a cores, sob argumento de Maria Isabel Mendonça Soares. Menos importantes embora, vale a pena citar "Bigodi, o Gatinho Sábio", "Teseu e o Labirinto" (aqui simplificando a assinatura, identificando-se apenas por Manuela) com legendas didascálicas, e "História Muda para Pensar", episódio sem palavras.
Mas é na revista Girassol onde se encontra a sua mais importante produção na BD. Entre 1960 e 1982 deparam-se-nos numerosas bandas desenhadas de sua autoria - argumento ou adaptação literária, e desenho. Eis uma lista, não total, onde alguns dos títulos dão clara ideia do tema.
Nos anos 1960: "A Caçada dos Gambuzines", "O Fantasma da Torre", "O Conde de Ourém", "A Estrela Polar", "A Peste", "O Rapto", "O Tesouro da Ilha", "LF-34-77 - Carro Roubado", "Trancinhas e Zé Carapinha".
No decurso da década de setenta: "Os Quatro Piratas", "O Príncipe da Sabedoria", "A Ânfora Romana", "A Grande Aventura", "José do Egipto".
Entre 1980 e 1982, já na 2ª série da revista, entre o nº 20 - Out. 1980 e o nº 38 - Jun. 82, é publicada a sua obra mais extensa, "O Eterno Retorno", que abrange quarenta e quatro pranchas (a cores), quantidade suficiente para ser editada em álbum, o que nunca aconteceu na sua longa carreira, embora a autora-artista tenha conservado sempre consigo todos os orginais.
Publicou no Almada BD Fanzine três episódios inéditos: "Avó Maria", "Sobreviver" e "Os Anos de África".
Ainda na BD, teve duas realizações recentes: a primeira destinou- se a um fanálbum editado em Dezembro de 2002, de homenagem a uma dupla da BD portuguesa que tinha sido publicada entre 1920 e 1922, intitulada na reaparição por "Novas 'fitas' de Juca e Zeca", com o episódio "Cavando...", em duas engraçadas tiras a preto e branco; a segunda foi no fanzine Efeméride, com o episódio "Ciência ou Magia?", na obra colectiva "Príncipe Valente no Século XXI", em que a talentosa artista se despediu da Banda Desenhada.
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Nota: Apenas , hoje, dia 5, tive conhecimento, pelo viúvo Afonso Henriques Pereira da Silva, do falecimento de Manuela Torres, talentosa artista e excelente pessoa, sempre disponível para colaborar nas minhas iniciativas editoriais.
O corpo ficará na igreja da Boa-Hora.
Amanhã, 5ª feira, pelas 15h, será realizada missa naquela mesma igreja, indo em seguida para o cemitério do Alto de S.João (Lisboa).
6ª fª, pelas 8h, será efectuada a cremação.

2 comentários:

Mónica disse...

li muitas fagulhas e n era só pela BD eram a colagens e recortes, uma espécie de revista interactiva :D

desconhecia a autora q aqui se enaltece, li e reli muitas fagulhas e nunca me preocupei com autor/es, algo q hoje soa chocante mas no "meu tempo" queriamos lá saber dos autores, queriamos era ler as histórias

Maria Migui disse...

Tenho muitas "Lusitas" e como ando a fazer um trabalho sobre a continuadora desta revista - Fagulha, encontrei o nome desta Grande Senhora.
Bem haja pela criatividade, esperança, pelos sonhos, pela beleza que sempre imprimiu às suas BD.
Lá para o céu, obrigada.
Maria Migui