sexta-feira, novembro 16, 2012

Festivais, Salões BD e afins - (Amadora) - 23º Amadora BD/2012 - CATÁLOGO (5º de 5 "posts")

Anualmente, em consonância com o Festival Internacional de Banda Desenhada - AmadoraBD, é editado um catálogo - sempre com boa apresentação gráfica -, recheado de textos esclarecedores acerca de autores e obras, com a indispensável componente visual de bandas desenhadas e cartunes, como também informações úteis relacionadas com os prémios nacionais de BD atribuídos no ano transacto. Trata-se, inquestionavelmente, de uma peça de grande utilidade para preservar a memória do evento, ano após ano.

Para se ter uma ideia do interesse global do catálogo deste ano, registam-se os nomes dos autores dos textos, títulos dos artigos e, seguidamente, excertos de alguns desses artigos.
Autores dos textos (pela ordem em que estão incluídos no catálogo):
1. Carlos Pessoa (jornalista do Público) - "Giraud/Moebius, Uma Estrela de Primeira Grandeza na Galáxia da BD";
2. Pedro Mota (advogado, autor de BD e bedéfilo) - I) "Paulo Monteiro Autor em Destaque"; II) "Mike Deodato"; III) "A Cidade dos Espelhos"; IV) "Newborn 10 Dias no Kosovo"; V) "Blacksad O Inferno, O Silêncio"; VI) "Venham + 5 nº 8; VII) "Mathieu Sapin e a Campanha Presidencial";
3. Pedro Moura (bloguista de "Ler BD", crítico e pedagogo de BD) - "Desenhando-me a Mim Mesmo Como Se Fosse Um Outro";
4. Pedro Santos Maia (Mestre em Filosofia Política pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) - "Da Autobiografia. Em Torno de Luigi Pirandello e Manuel Gusmão";
5. Luca Bertuzzi e Alberto Brambilla (Curadores da Mostra de WOW Espaço de Banda Desenhada - Milão, Itália) - "O Homem-Aranha, 50 Anos de um Mito";
6. Melina Gatto (Responsável de Relações Internacionais e Exposições do WOW - Spazio Fumetto, Membro da Direcção da Fundação Franco Fossati) - "Uma Fundação e Um Museu da Banda Desenhada";
7. Luís Salvado (Jornalista e bedéfilo) - I) "A Invasão Brasileira do Homem-Aranha"; II) "As Aventuras do Homem-Aranha no Audiovisual";
8. Pedro Cleto (Bloguista de "As Leituras do Pedro", jornalista free-lancer, crítico de BD) - "Portugal: Ponto de Partida e de Chegada";
9. José de Matos-Cruz (Estudioso e autor de livros sobre Cinema, estudioso de BD) - "O Infante Portugal Origens e Reflexos";
10. João Miguel Tavares (Jornalista, crítico de BD) - "As Viagens Invisíveis";
11. Sara Figueiredo Costa (Bloguista de "Beco das Imagens", crítica de BD) -I)"Contínuo Movimento"; II) "Paris é Uma Festa"; III) "Uma Viagem, Muitos Registos";
12. Philippe Duvanel (Director BD-FIL de Lausanne, Suiça) - "Zep, de Titeuf a Happy Sex";
13. Osvaldo de Sousa (Cantor de Ópera, estudioso e autor de numerosos livros sobre Cartunismo, comissário de diversas exposições de Cartune) - "Prémios Amadora Cartoon 2012";
14. Miguel Peres (Argumentista de BD, e co-editor do fanzine Zona) - "Cinzas de Revolta".


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Excertos de alguns dos artigos acima mencionados:


Giraud/Moebius, Uma Estrela de Primeira Grandeza na Galáxia da BD
Artigo de Carlos Pessoa
(Excerto)

"Já tudo parece ter sido dito sobre Jean Giraud-Moebius. Contudo, é difícil afastar a impressão de pouco continua a saber-se da essência de um dos mais intuitivos e revolucionários autores da banda desenhada mundial.
"As duas faces de uma mesma veia criadora, cuja exploração norteou toda a sua vida em busca do que há de intangível e imutável na existência humana, são conhecidas de todos. Assinando Gir, Jean Giraud desenvolveu a sua mais popular criação, Forte Navajo (1963, revista Pilote), uma excelente série western que figura na primeira linha das obras do género. (...)
(...) quando o autor francês (que nasceu em Nogent-sur-Marne a 8 de Maio de 1938) conhece Alexandre Jodorowsky, um polifacetado artista de origem chilena com obra em múltiplos domínios. (...)
(...) A cumplicidade estabelecida entre duas personalidades tão fortes é observável em inúmeras criações, desde a saga de O Incal (1980) a Coeur Couronné (1992) ou Depois do Incal (2000) (...)
(...) Numa viagem sem fronteiras 
"(...) Numa viagem sem fronteiras, Giraud-Moebius toca ainda o ponto dos comics, assinando um episódio da série Silver Surfer (argumento de Stan Lee, 1988-89) e colabora com o artista japonês Jiro Taniguchi numa revisitação do mito de Ícaro (1997) (...)
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Paulo Monteiro Autor em Destaque
Artigo de Pedro Mota
(Excerto)
              
(Em cima: Prancha da bd "O Enforcado", pertencente à obra "O Amor Infinito Que Te Tenho e Outras Histórias", e um cartaz, ambas as obras de Paulo Monteiro)
À vigésima terceira edição, o Amadora BD apresenta como responsável pela ilustração do cartaz, e autor nacional em destaque, com uma grande retrospetiva (*) individual, Paulo Monteiro, um autor que viu o seu primeiro álbum ser distinguido com o Prémio Nacional de Banda Desenhada para Melhor Álbum Português de 2011. (...) Paulo Monteiro nasceu em Vila Nova de Gaia em 1967. A partir dos 13 anos começou a ilustrar fanzines de poesia, cartazes e murais. (...) Quando se licenciou, em 1991, foi viver para Beja, onde ainda vive. Tem um filho: Manuel.
Teve (e tem) interesses e atividades muito diferentes: trabalhou nas vindimas, passou filmes de Buster Keaton e Charlot de terra em terra, escreveu para a rádio e para os jornais, trabalhou no Cais Marítimo de Alcântara, compôs músicas, tocou guitarra em lares, foi professor de Geografia e Ciências da Natureza, fez cenários e figurinos para teatro (...)
(...) na introdução que Paulo Monteiro escreveu recentemente para "Sangue Violeta e Outros Contos" (livro de Fernando Relvas publicado pela ElPep) (...) Paulo explica:
"Na verdade aprendi a ler com as revistas Tintin do meu irmão (nasci em 1967, no ano anterior ao da revista). Durante uma boa parte da adolescência deixava-me absorver com toda a facilidade pela atmosfera das histórias. Viajava da selva amazónica  até à Sibéria,passando pelo Alasca sem sair de casa! Lia muito Jacobs, Mézières, Hergé, Hermann, Pratt e dezenas de outros autores. E também muitos escritores: London, Stevenson, Salgari... Em miúdo ia para a escola com a pasta cheia de revistas de banda desenhada. Era uma sensação muito forte, o apelo da aventura. Por isso, desde que me lembro, sempre quis ser autor de banda desenhada (...)"

(*) Pedro Mota escreve de acordo com a nova ortografia do AO90.
Por exclusão de partes, todos os artigos que não tiverem esta informação é porque continuam a usar, tal como eu, o Acordo Ortográfico de 1945 (AO45)
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Autobiografia na Banda Desenhada
Desenhando-me a Mim Mesmo Como Se Fosse Um Outro
Artigo de Pedro Moura
(Excerto)

"A eleição de um tema como o da autobiografia para o FIBDA 2012 é, a um só tempo, sinal não apenas dos desenvolvimentos da própria banda desenhada como meio artístico e expressivo, como da abertura do panorama português a temáticas contemporâneas e do próprio funcionamento do Festival, que pretende cada vez mais abrir formas de reflexão e inquirição sobre esta arte. Se bem que possamos dizer que a autobiografia é um género, ou melhor, "sub-campo" da banda desenhada, a verdade é que o mesmo tem uma exposição e cenários de criação menos consolidados no nosso país do que noutros mais centrais em termos de produção, como a França, os Estados Unidos ou o Japão,incontestáveis "centros". (...)

"(...) Portugal tem uma história relativamente similar. A banda desenhada, tendo estado subsumida durante décadas a géneros e a publicações infanto-juvenis com intuitos pedagógicos e moralizantes, se não mesmo catequéticos e propagandísticos, teve de esperar pelo 25 de Abril de 1974 para começar a dar passos disruptivos, desreguladores e libertários até. Mesmo assim, a assunção clara e frontal da autobiografia nunca foi sentida ou explorada de modo sustentado.
Se bem que possamos encontrar em Fernando Relvas, por exemplo, um precursor de uma auto-ficção na qual a exploração do quotidiano urbano, banal, e das angústias de então (que são, a um só tempo, idênticas e diferentes das dos nossos dias), ocupa a matéria central, é apenas com os primeiros gestos de Marcos Farrajota e Pedro Brito no fanzine Mesinha de Cabeceira que se assume, sob a influência sobretudo dos autores norte-americanos, esse sub-campo. Aliás, Farrajota será um dos poucos autores que, quase exclusivamente, continuaria a criar histórias sobre si mesmo.
Se muitos autores terão criado uma história curta ou duas em que se inscrevem nos papéis principais (e muitas vezes esses são gestos "paralelos" às suas obras, ou imbuídos do humor gotlibiano, ou alguma distância), são poucos aqueles que abertamente se inscrevem nesse sub-campo. Não obstante, é nessas tentativas e incursões que vemos surgir trabalhos tão díspares mas tão pertinentes como os de Teresa Câmara Pestana (numa reinvenção do Si numa viagem), João Mascarenhas (que assume o Menino Triste como um avatar ficcional seu, permitindo-lhe cruzar experiências pessoais e efabulação), ou Paulo Monteiro (cuja natureza é próxima da geração francesa da "poesia do quotidiano"). É, contudo, Marco Mendes, que com o seu projecto sustentado Diário Rasgado, que elege a autobiografia como seu território principal, senão mesmo exclusivo, se bem que este autor explore todas as configurações e entrosamentos possíveis ao seu alcance. (...)"
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O Homem-Aranha, 50 Anos de Um Mito
Artigo de Luca Bertuzzi e Alberto Brambilla
(Excerto)

"As pessoas odeiam aranhas". Parece que foi este o motivo pelo qual Martin Goodman, editor da Marvel, tinha dúvidas sobre o sucesso da nova personagem que Stan Lee e Steve Ditko lhe tinham proposto. Relegou assim o Homem-Aranha para o décimo-quinto número de Amazing Fantasy, uma antologia especializada em vias de fechar, saindo o número em Agosto de 1962. O sucesso foi no entanto extraordinário: a revista fechou, mas o Homem-Aranha ganhou uma série só sua.

O lado anticonformista do personagem surge logo na sua primeira aventura, que contribuiu para o seu sucesso. O protagonista tem quinze anos e era aquilo a que hoje em dia se poderia chamar um nerd: usa óculos, é taciturno, franzino, perseguido pelos arruaceiros da escola e invisível aos olhos das raparigas. Peter Parker é fisicamente o oposto dos poderosos super-heróis "clássicos". 
A sua idade é também um elemento de rutura (*): os adolescentes podiam no máximo ser os ajudantes do herói, como é o caso de Bucky para o Capitão América ou de Robin para Batman.

Depois de um vulgar acidente no laboratório, onde é mordido por uma aranha radioativa, Peter dá por si a possuir poderes incríveis. Não vai à caça de criminosos, mas decide tornar-se uma estrela de televisão, buscando o êxito que nunca tinha conseguido na sua vida e pensando assim poder finalmente pagar aos seus tios,Ben e May, que o tinham acolhido com amor depois do desaparecimento dos seus pais.
Apesar dos seus novos poderes, o rapaz deixa escapar um assaltante, que pouco tempo depois mata o seu querido tio Ben, fazendo despertar no frágil Peter um enorme sentido de culpa que a partir desse momento estará na base das suas acções como super-herói.  
(...) Obrigado a ajudar a sua tia May a chegar ao fim do mês, Peter improvisa e torna-se fotógrafo do seu alter ego para J. Jonah Jameson, editor do
Daily Bugle (**) que, convencido de que os super-heróis são apenas aventureiros em busca de glória, inicia uma cruzada pessoal contra o Homem-Aranha.
(...) O outro acrescento femininoimportante ao elenco é Mary Jane Watson, sobrinha de uma boa amiga da tia May, que aparece à porta de casa de Parker com umalnha de diálogo memorável que entrou imediatamente para a história da personagem. A históriaem que surge Mary Jane é uma das primeiras a não ser desenhada por Ditko, que abandona o Homem-Aranha depois de uma série de desentendimentos com Stan Lee.
Com a chegada do novo desenhador John Romita, exímio na arte de desenhar raparigas bonitas, a vida de Peter começa a assemelhar-se cada vez mais a uma novela. Peter abandona a casa da tia May  e, depois de entrar para a universidade, fica noivo de Gwen, enquanto o seu antigo rival Flash Thompson se junta ao exército e parte para o Vietnam. O elenco enriquece com novos personagens, como o chefe de redação do Daily Bugle, Robie Robertson, e novos vilões, como o patrão do crime Kingpin e Silvermane. (...)
"(...) Os enredos começam a tornar-se mais maduros e é dada maior atenção à vida pessoal das personagens. Entre os novos adversários encontramos Morbius, um homem transformado em vampiro sanguinário ao tentar encontrar a cura para uma doença terrível, o Chacal, ex professor de Peter que para vingar a morte de Gwen clona o super-herói, e o Vingador, impiedoso assassino de criminosos, sempre em equilíbrioentre os "bons" e os "maus", para além do seu melhor amigo Harry Osborne, enlouquecido e convertido no segundo Duende que segue as pegadas do pai. Para dar uma ajuda ao Homem-Aranha, surgem a Gata Negra, uma ladra que posteriormente se redime, chegando a tornar-se a noiva de Peter, e Cloak e Dagger, dois justiceiros em luta contra os traficantes de droga. 
Em 1984, a Marvel publica a minissérie "Secret Wars", na qual se defrontam os maiores heróis e criminosos da editora. O Homem-Aranha destrói o seu fato e, para o substituir, encontra um novo, negro, com uma aranha branca no peito. (...)
"(...) Em 1987, Peter casa com Mary Jane, no culminar de uma história de amor que, entre separações e reconciliações, já durava há anos. (...)
"(...) Todd McFarlane inventa uma nova forma de representar as teias do Homem-Aranha e transforma as lentes da máscara que se tornam expressivas como se fossem olhos. (...)
"(...) As histórias do Homem-Aranha estão neste momento profundamente ligadas ao universo da Marvel, de tal forma que o herói milita simultaneamente nos Vingadores e no Quarteto Fantástico, multiplicando-se assim as aventuras e as emoções. (...)       
 (*) A tradutora do texto escrito pelos italianos escreve de acordo com a nova ortografia do AO90, e este bloguista respeitou a opção.
(**) Sim, é Buggle, mas também aqui respeitei o texto
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Uma Fundação e um Museu da Banda Desenhada
Artigo de Melina Gatto
(Excerto)

"(...) Concebida como centro de estudos e de documentação internacional sobre banda desenhada, comunicação e imagem, a Fundação Franco Fossati é uma "fundação participativa" estabelecida a 7 de Março de 2007 tendo funcionado como associação de 1997 a 2007.
A Fundação, sem fins lucrativos, tem na sua origem a memória e o património do crítico e jornalista Franco Fossati (1946-1996). (...)
(...) Enciclopédias, volumes de ensaística e de narrativa, manuais técnicos, portefólios de autor, recolhas bibliográficas, álbuns de banda desenhada, desenhos originais (...)
O sítio web da Fundação (http://www.francofossati.eu) oferece desde o ano 2000 uma compilação de documentação internacional que está entre as mais ricas e reconhecidas. (...)
(...) Em 2009 decidiu-se fazer um esforço para que o Museu da Banda Desenhada, local permanente de conservação e valorização, tivesse a sua sede em Milão (...) O museu foi inaugurado em tempo recorde, a 1 de Abril de 2011 (...)
WOW SPAZIO FUMETTO - Museu da Banda Desenhada, da Ilustração e da Imagem de Animação é uma "casa" aberta a toda a cidade, sede museológica atípica que recebe rotativamente mostras e eventos dedicados às várias declinações da banda desenhada, do cinema de animação, da ilustração e da literatura de género. (...)
"(...) Desta forma, WOW Espaço de Banda Desenhada transformou-se num espaço museológico pensado de forma moderna, que alberga exposições permanentes (no piso térreo) e exposições temporárias (no primeiro andar), curadas pela Fundação Franco Fossati com a colaboração dos artistas, desenhadores e encenadores, dos apaixonados e obviamente, dos editores. O acesso é gratuito no caso das exposições do piso térreo, da Biblioteca com escaparates com milhares de tomos que podem ser consultados (...)"
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A Invasão Brasileira do Homem-Aranha
Artigo de Luís Salvado
(Excerto)

Ainda está por fazer a história do impacto das publicações brasileiras no actual consumo de BD em Portugal. A publicação de banda desenhada de super-heróis tem sido muito irregular no nosso país, que tem lido em português as aventuras das personagens mascaradas maioritariamente por via da importação brasileira. O Homem-Aranha tem sido um dos heróis a chegar mais vezes às nossas margens por essa rota, apesar de ser também um dos que foi tendo mais tentativas de edição nacional ao longo das décadas. 
     
Capa do número 1 da revista Homem-Aranha, publicada pela Editora Abril 

Criado em 1962, o herói aracnídeo surgiu no Brasil a partir de 1969, e de lá para cá nunca deixou de ser publicado em terras de Vera Cruz. A Edtora Brasil-América (EBAL) foi a primeira a pegar na personagem, destacando-se com uma série mensal de revistas a preto e branco que duraria até 1975. Daí até 1979, o Homem-Aranha passou para as mãos da Bloch, onde ganhou cor e começou a ser publicado no chamado "formatinho" (cerca de 13x21cm, muito popular no Brasil), prosseguindo praticamente sem interrupções pela RGE até 1983 e depois pela Editora Abril até ao ano 2000.

Com maior ou menor regularidade, algumas dessas edições foram chegando a Portugal, que por essa altura também foi tentando a publicação, com menos fortuna. Algumas histórias pela editora Palirex abriram a década de 70, à frente de duas boas tentativas, que ficaram na memória dos leitores: uma edição de 44 números pela Agência Portuguesa de Revistas que arrancou em Outubro de 1978 (o mesmo mês em que estreou na RTP a série de desenhos animados do Homem-Aranha, o que indicava alguma consequência na publicação) e outra de apenas 10 números em 1983, com algumas das primeiras histórias da personagem.(...)

"(...) hoje em dia, as aventuras do Homem-Aranha em português continuam a ser lidas... por via do Brasil, agora pela Panini (...)"
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Portugal: Ponto de Partida e de Chegada
Artigo por Pedro Cleto
(Excerto)

Portugal, um dos grandes destaques do ano editorial franco-belga em 2011, é a história de Simon Muchat, um desenhador que atravessa um bloqueio criativo, que o leva a colocar tudo em causa, a começar por si, desinteressando-se do trabalho e da sua companheira Claire.
Portugal é também a história - algumas histórias - da família Muchat, centrada em Simon, o neto, mas também em Jean, o pai, e em Abel, o avô. Porque Simon é um luso-descendente, que desde criança não regressa a Portugal.
Tal como o autor, Ciryl Pedrosa, nascido em Poitiers em 1972, que se baseou na sua experiência para imaginar a história de Simon, que embora tenha "um ponto de partida autobiográfico (...) é uma ficção, mas com muitos elementos pessoais".
História que, curiosamente, começou em Portugal em 2006, quando Pedrosa foi convidado para participar no Salão de BD da Sobreda da Caparica, por Luiz Beira (...)"
"(...) Foi aquele primeiro regresso a Portugal que possibilitou a este antigo animador da Disney (...) voltar a um país que em criança visitara (...)
"(...) E onde regressaria, em 2008, para passar três meses numa pequena aldeia perto da Figueira da Foz - a ficcionada Marinha da Costa do livro - de onde o seu avô Abel partira para trabalhar em França e onde nunca mais regressara.(...)
"(...) Três meses passados em contemplação (...) e também a tomar notas, a desenhar, a escrever, a preencher pequenos blocos de apontamentos, um após outro, com impressões, relatos, esboços, desenhos, ideias. Tudo aquilo que depois, já em França, passou ao papel pintando "um Portugal emocional, o das sensações e da afeição por esse país, por esse povo, por essa língua". (...)
"(...) Portugal, o livro, tem assim como ponto de partida (e de chegada) o Portugal país, embora seja justo escrever - por muito contraditório que soe - que se esta história tem este ambiente, estas raízes, esta sombra portuguesa, podia passar-se em qualquer outro lugar, uma vez que os seus temas são Universais: a busca do equilíbrio interior que permite o acto criativo, a procura da identidade pessoal nas raízes familiares, a procura da individualidade para experimentar o sentimento de pertença no grupo.
Por isso, Simon, uma vez regressado do festival de BD que o trouxe a Portugal, sente-se obrigado a repensar, a pôr ordem na sua vida, o que implica assumir a ruptura com Claire e embrenhar-se na descoberta da história do seu avô. (...)
"(...) Obra soberba, madura e densa, tem como sustentáculo tanto os silêncios incómodos, impostos ou reconfortantes, quanto os diálogos, credíveis, sinceros, fortes e sentidos, que combinados, servem para compor um longo romance gráfico - sem princípio nem fim definidos - que prende e seduz o leitor. (...)
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O Infante Portugal Origens e Reflexos
Artigo de José de Matos-Cruz
(Excerto)

Pelo ano de 2003, e na sequência da publicação de Os Entre Tantos - cujo âmbito delimitei por Século XX - Cem Anos, Cem Estórias - a cargo da Editorial Notícias, decidi projectar os seus parâmetros ficcionais noutras vertentes, logo em Os SobreNaturais e visando Uma existência alternativa sobre Portugal através das histórias. Entre os microcontos em causa, estava Com penas de anjo e a expiação do demo - onde, pela primeira vez, aparecia o Infante Portugal em plena mutação para a personalidade secreta de Rui Ruivo, o impecável advogado lisboeta, depois acompanhado no regresso a casa em Cascais.
Nessa breve narrativa, ficaram inseridas as características essenciais do herói e de seu universo vivencial - desde a origem mítica durante uma suposta Exposição 98 (pela Expo '98), até ao monstruoso exorcismo que determinará o seu crepúsculo latente... Também relacionado, entretanto, era o Condestável Lusitano - seu inexorável antecessor, já enlanguescendo sob a identidade dupla de Pereira Dias. Uma saudação ao primeiro e instantâneo super-herói português, o Capitão Portugal por Dias Pereira, publicado em 1970.

"(...) A longa experiência de coordenação do suplemento Quadradinhos (1983-2004), no jornal A Capital, levou-me à criação, em 2004, do Imaginário - uma folha cultural e memorial em formato webzine e com versão newsletter. Aí, e à maneira popularizada pela nossa imprensa desde o Século XIX, passei a incluir, a partir de 2005, um Folhetim Aperiódico - iniciado com O Infante Portugal e as Tramóias Capitais, e em que tomei como matriz a dinâmica ficcional de Com penas de anjo e a expiação do demo.
Uma vez concluída a divlgação d'As Tramóias Capitais no Imaginário, surgiu-me a expectativa de uma edição em livro - a qual se concretizaria em 2007, sob a minha chancela Kafre e num âmbito restrito. Então, foi-me ainda possível expressar as virtualidades inerentes à literatura imaginada que, ao desenvolver a escrita, havia intuído - para tal, contando com o generoso contributo de um naipe de artistas, ligados sobretudo à banda desenhada, e que aceitaram ilustrar as diversas personagens principais. (...)

"(...) Em seus pretextos e alcances, O Infante Portugal deriva - por conseguinte - de um fascínio pessoal de sempre pelas histórias em quadradinhos que, aliado ao apelo da escrita (logo, ficcional) desde a adolescência, acabou - pois - por gerar um universo múltiplo e peculiar. Eivado de referências e expectativas, mais amplas e recíprocas, como a já citada afeição pelos folhetins da imprensa oitocentista ou, ainda, um reflexo das novelas sensacionais sagradas já no Século XX. Conjugando, afinal fenómenos lúdicos e fantasistas com matrizes heróicas e simbólicas - em actualidade simultânea ou sucedânea, da qual se evidenciasse uma alusão crítica e irónica à sociedade vulnerável mas global.
Por outro lado, e para cada uma das três jornadas de O Infante Portugal, fui-me propondo - conceptual e criativamente - desenvolver um distinto, ou significante, processo narrativo, de matriz conjuntural, em As Tramóias Capitais - compondo por capítulo uma explicitação autónoma e circunstancial entre peripécias/protagonistas, de carácter transversal, em A Íntima Capitulação - explorando uma decisiva implicação eventual através dos diversos percalços/intervenientes, de âmbito prospectivo, em As Sombras Mutantes - introduzindo nos distintos focos de acção/incidência uma personagem intrusa ou providencial... Assim, e ao longo da trilogia, articulando/subvertendo a dinâmica factual, quanto aos seus contextos alegóricos. (...)

"(...) Entretanto, o Festival Amadora BD - onde foram apresentadas, em 2010, as duas primeiras Jornadas, por Apenas Livros - surgiu como palco privilegiado para uma exposição integral de O Infante Portugal, em curso da literatura imaginada para a banda desenhada. Tal como em antevisão, ficaria assinalado com Universos Reunidos - cuja publicação foi, simbolicamente assumida por Kafre & Arga Warga, de Daniel Maia. Enfim, para O Infante Portugal e os Signos Perpétuos, tornou-se incontornável a expectativa de uma edição em álbum. Rumos partilhados, a aventura continua...
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MELHOR ÁLBUM DE BD PORTUGUÊS EDITADO NO ESTRANGEIRO
As Viagens Invisíveis
Artigo de João Miguel Tavares
(Excerto)

"(...) Aconteceu assim no Diário de Notícias durante julho e agosto (*) de 2005: em vez do coçado questionário de Proust, o jornal resolveu publicar uma banda desenhada diária. Ela deveria responder a apenas duas condições: ser inédita e ter o verão como tema.
Como eu tinha na altura a nobre responsabilidade de pastorear essas páginas, o nome de José Carlos Fernandes impôs-se muito depressa - ele era evidentemente o autor a desafiar. Por duas razões. Uma, substancial: qualquer pessoa com o cérebro irrigado sabia que ele era o melhor autor de BD português, e por isso sua presença nas páginas do DN, com uma criação inédita, seria sempre uma mais-valia para o jornal. A outra razão era bem mais prosaica, mas não menos importante: José Carlos Fernandes não falha nem se atrasa (...)
"(...) No início, a intenção era apresentar apenas uma tira diáriaem continuação, invocando o espírito dos clássicos, ao jeito de Milton Caniff ou Alex Raymond. Mas o autor discordou. E por isso, não só inventou a sériecomo acabou também por definir o seu formato, optando por duas tiras diárias em vez de uma. Pelo mesmo preço, José Carlos Fernandes decidiu desenhar, por sua própria iniciativa, o dobro do que se lhe tinha pedido, decisão tão absurda em termos económicos quanto visionária em termos criativos - "A Agência de Viagens Lemming" ganhou assim uma consistência que não alcançaria de outra forma.



A ideia para a série - um percurso imaginário pelos mais improváveis destinos turísticos - saiu exclusivamente da cabeça de José Carlos Fernandes, embora ela seja um tributo assumido ao clássico "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, essa magnífica obra-prima de imaginação, inteligência e profundo conhecimento da arquitetura das relações humanas. Tal como Calvino, também José Carlos Fernandes está a falar do que nos é próximo enquanto parece deambular por mundos distantes. E de Dúlia - a cidade que procura desesperadamente ter algum motivo de interesse - à inóspita Manzil, que cresce como um tumor apesar de todos os habitantes a quererem abandonar, de Gallup - cidade de humores volúveis e estátuas apeadas - a Kwinz, a cidade dos cemitérios, é toda uma geografia de lugares longínquos que se revelam demasiado próximos, de cidades nunca vistas que, afinal, conhecemos demasiado bem.
Quem aprecia o José Carlos Fernandes de "A Pior Banda do Mundo" vai encontrar aqui múltiplos pontos de contato, do traço às cores, dos nomes exóticos à ironia venenosa, passando pela alternância exemplar de discurso direto e indireto. Mas "A Agência de Viagens Lemming" tem uma característica única na obra de José Carlos Fernandes: mantendo uma linha condutora, vai alternando ritmos narrativos, mistura o apontamento curto com a história mais prolongada e, sobretudo, em dois ou três casos, afasta-se do remoque malicioso, que é a sua imagem de marca. A narrativa autobiográfica do sr. Zoloft ou a descrição da cidade onde o acaso se transforma em destino estão entre os momentos mais profundos, mais sinceros e mais comoventes de toda a obra de José Carlos Fernandes. (...)

(*) João Miguel Tavares escreve de acordo com a nova ortografia do AO90.

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Ficha técnica do Catálogo (síntese)
Direcção: Nelson Dona
Coordenação editorial: Cristina Gouveia
Consultoria editorial e redacção: Pedro Mota
(...)
Revisão: Filipa Viana
Os textos não assinados são da responsabilidade da equipa redactorial (*)
Relativamente ao acordo ortográfico foi respeitada a vontade dos autores, nos casos em que não aceitem escrever na nova ortografia.

(*) Como também não escrevo de acordo com o AO90, transformei algumas palavras desta ficha técnica - e não só -, como acontece com este vocábulo, que está grafado "redatorial".


Tiragem: 1200 ex.
Preço: €8.50

Nota do bloguista: Por informação que obtive, este livro/catálogo apenas está à venda no
CNBDI - Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem
Av. do Brasil, nº 52A
Amadora

E acrescento pormenores que não constam da ficha técnica:
Volume com capa brochada, com badanas
Dimensões: 22,5x26cm (altura)
Miolo: 176 páginas  

www.amadorabd.com
amadorabd@cm-amadora.pt
  
  
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Para ver as quatro postagens anteriores referentes a este 23º Festival BD da Amadora e também mais antigos de outras edições, bastará clicar no item Etiquetas: Festivais, Salões BD e afins, visível no rodapé

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