Capa do nº 435 da revista Audácia, datado de Novembro de 2006, quando perfaz 4o anos de publicação ininterrupta
A revista Audácia não tem por finalidade publicar BD, mas dedica-lhe algumas das suas páginas, pelo que a classifico como "uma revista com Banda Desenhada", e não como "uma revista de Banda Desenhada" (como seria o caso de o seu conteúdo ser inteiramente direccionado para a publicação de bandas desenhadas).
Índio Errante, uma lenda latino-americana, adaptada literariamente e desenhada por Aldegheri
Apesar desta limitação, a Audácia merece ser referenciada no universo editorial bedéfilo, muito em especial agora que acaba de festejar o seu 40º aniversário de publicação ininterrupta - uma existência invulgarmente longa para qualquer revista -, mas, mesmo assim, praticamente desconhecida de grande parte dos bedéfilos, naturalmente devido à quase inexistente distribuição pelos postos de venda tradicionais, ou quiçá afastados pela sua conotação religiosa, afinal só constatável por alguns artigos escritos pelos seus editores, missionários combonianos.
Ora sendo eu indiferente à religião - a todas as confissões religiosas, considerando-me praticamente agnóstico -, não deixo de manifestar consideração por esta simpática revista de preço extremamente acessível (1€) que, nas suas actuais 68 páginas, reserva cerca de 20% para a BD.
Só é pena que, na componente bedéfila, não haja mais espaço para os autores nacionais.
Neste pormenor, entre os exemplares que possuo, no que se refere a capas, apenas encontro uma de autor português, Agonia Sampaio.
Capa realizada por Agonia Sampaio, talvez a única assinada por desenhador português
É dele também uma banda desenhada, nesse mesmo número, de que abaixo se reproduz a prancha inicial.
"Um Milagre de Natal", banda desenhada da autoria (argumento e desenho) de Agonia Sampaio
Ainda de nacionalidade portuguesa é Ana Cristina, autora da bedê (ver abaixo) publicada no nº 315, datado de Dezembro de 1995.
"A Irmã Maria Susana e a Lepra", banda desenhada realizada por uma desconhecida Ana Cristina
Chega agora o momento de dizer como surgiu a oportunidade de conhecer alguns dos seus editores - padres católicos - que me forneceram vários números antigos.
Como aconteceu isso?
Na Tertúlia BD de Lisboa tenho organizado ciclos de homenagens, um dos quais, decorrido nos últimos anos da década de oitenta do século passado, teve por título "Editores, Directores, Directores Artísticos, Orientadores Gráficos, Responsáveis Gráficos, Chefes de Redacção e Coordenadores de Revistas de Banda Desenhada", onde couberam personalidades ligadas a quase todas as revistas de BD, desde o O Mosquito às Selecções BD, passando por numerosas publicações da especialidade, designadamente Cavaleiro Andante, Mundo de Aventuras, Tintin, Falcão, Jornal da BD, Visão, e muitas outras, incluindo a Audácia.
Capa do nº 1, com data de Novembro de 1966, iniciada em muito pequeno formato (12,3x17,5cm)
Um dos homenageados, no que concerne a esta última, foi Carlos Neves Sobrinho, cujo nome aparece como editor no nº 1, datado de Novembro de 1966, e nessa categoria se mantendo até ao nº 108 de Dezembro de 1976 (informação dada pelo próprio).
Em conversa que mantivemos nesse encontro da acima citada tertúlia, perguntei-lhe se ainda era possível adquirir os números iniciais da revista, que desejava conhecer melhor, e foi ele que me ofereceu um exemplar do primeiro editado.
Prancha da bd Homens Audazes, uma das duas reproduzidas
Aliás, foi devido ao facto de eu já possuir uns tantos exemplares - alguns comprados, por mera curiosidade, há muitos anos, outros encontrados em alfarrabistas, e até alguns números mais recentes, comprados numa livraria que se apresenta como Edições Paulinas (que não faço ideia o que seja...) com que deparei casualmente na rua Morais Soares, onde a Audácia (muito difícil de encontrar!), está à venda - que localizei os nomes de alguns dos directores daquela revista, e os pude incluir no ciclo da Tertúlia BD de Lisboa, que anteriormente mencionei.
Uma bd que alerta para os falsos magos, tratada em registo humorístico, escrita e desenhada por Gigi Aldegheri, um dos autores que, nos números recentes, tem várias colaborações.
Apesar das características sui generis da editora da Audácia, não se pense que as bandas desenhadas impressas nas suas páginas estão muito conotadas com o espírito religioso. A impressão que ressalta, em análise numa amostragem reduzida - como a que eu fiz - é a de que as componentes humor, aventura, princípios ecológicos e de defesa de espécies animais em vias de extinção, são as que prevalecem.
Uma bd, com desenho de Arturo Arnau e argumento de António Árias,
O Comércio do Marfim, título que aponta para um tema onde se ataca o comércio ilegal do marfi,m e se faz a apologia da defesa dos animais em vias de extinção, como é o caso do elefante (de milhões que havia, estão reduzidos a 600 mil).
Ficha técnica
Audácia - revista com banda desenhada
Dimensões:
nº 1 - 12,3x17,5cm
nº 315 - 14,6x20cm
nº 435 - 17x24cm
Nº de páginas:
nº 1 -
nº 435 -
Tiragem:
nº 314 - 5.000 exemplares
nº 435 -
Preço:
nº 1 -
nº 435 - 1€
Director: Manuel Augusto Lopes Ferreira
Editor: Missionários Combonianos
Endereço: Calçada Eng. Miguel Pais, 9 / 1249-120 - Lisboa
3 comentários:
E não é que uma dessas revistas também tem uma capa de Pedro Alves, outro autor nacional de BD???
Olá Toonman! Como digo no texto, tenho apenas umas dezenas de exemplares da Audácia. Obgdo pela informação. Tivesse eu sabido isso e, claro, teria feito referência ao facto de o meu jovem amigo Pedro Alves ter sido, até agora, um dos raros autores portugueses de BD a ter a audácia:-) de colaborar com a homónima revista.
Já agora, diz-me o nº em que colaboraste, para eu ir à redacção da dita cuja tentar comprar esse número!
Abraço e saudações bedéfilas.
Excelente "post" este!
Um abraço, Lino.
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